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segunda-feira, janeiro 31, 2005

UM ABRAÇO para o Nuno Guerreiro, que em boa hora criou as Janelas da Judiaria, um útil sistema de "frescos" que tem por objectivo espreitar quem vai passando pela blogosfera. O link para as Janelas da Judiaria foi acrescentado na coluna da direita, na secção "Utilitários".

COLOMBO Recebi, via email, a seguinte informação: "Um grupo de académicos concluiu, de forma irrefutável, que Cristovão Colombo era Santanista: partiu sem saber para onde ia, chegou sem saber onde estava, regressou sem saber de onde vinha. Tudo isto à custa do dinheiro dos outros."

LIBERDADE Um dos sintomas de que algo vai mal na bafienta "partidocracia" portuguesa é a falta de democracia interna nos partidos. Claro que existem congressos e eleições internas democráticas, pelo menos em teoria. Mas existirá verdadeira liberdade de pensamento e de expressão? Sendo os partidos actuais compostos por grupos de "amigos" e de interesses mais ou menos claros (ou obscuros?), haverá espaço para a liberdade de pensamento? A pergunta, em si, é ingénua quanto baste, pois é óbvio que não existe verdadeira liberdade de expressão e de pensamento no interior dos partidos políticos.

Creio que é chegado o tempo de os partidos políticos deixarem de ser encarados como exércitos compostos por soldados prontos para o combate - em cujas fileiras se ascende como nas da tropa -, para passarem a ser espaços de liberdade, abertos a todos e ao serviço do país. E para isso há que reformar os estatutos partidários, abrir a política a personalidades independentes, criar círculos uninominais, escolher os candidatos a deputados através de eleições "primárias", exigir verdadeira transparência nas contabilidades partidárias, e pôr em prática muitas outras medidas que, como estas, não são do agrado das actuais élites partidárias. Pois quem está no poder, por mais pequena que seja a sua horta, não gosta que lhe façam sombra.



O HORROR Além do número de vítimas, o que distingue a Shoah de outros genocídios do nosso tempo - o dos arménios, o dos tutsis do Ruanda e o do Darfur, para não falar das purgas estalinistas, da revolução cultural maoísta e dos massacres de Pol Pot -, é a sua frieza científica e "racional": o regime nazi usou a ciência para eliminar metodicamente todos aqueles que via como não-arianos. Milhões de Judeus foram assim assassinados, tal como milhares de ciganos, homossexuais, democratas, comunistas, resistentes ou deficientes.

E é à medida que se vão apagando as vozes das últimas testemunhas da barbárie nacional-socialista, que se torna cada vez mais importante reavivar a memória dos Europeus. É preocupante que o anti-semitismo cresça a olhos vistos, tendo agora como pretexto o problema palestiniano; por outro lado, o ódio aos imigrantes e aos estrangeiros, tal como a crença na superioridade moral da Europa, devem alertar-nos para o perigo de o horror poder um dia regressar.

No início do século XX, quando a Europa era ainda a luz das nações e o farol da civilização, também ninguém julgava possível que um dia viesse a ocorrer tamanha tragédia.

ESTADOS GRIPAIS O que têm em comum Pedro Santana Lopes e o Papa João Paulo II? A resposta é simples: gripe. A diferença entre eles, todavia, é que se o primeiro tem 48 anos e se serve da gripe para inspirar pena - tal como as "dores de costas", aliás -, Karol Woytila tem 84 anos e foi obrigado a repousar pelos médicos.

A vitimização é, de resto, a táctica preferida de Santana. Graças à qual, aliás, a campanha eleitoral se tem transformado numa espécie de combate épico entre o homem e as suas circunstâncias. Ele é vítima da gripe, das dores de costas, dos tabefes dos manos mais velhos, do tempo, da esquerda em geral, das calúnias dos opositores, do Presidente da República, dos intelectuais, dos jornalistas, do país que não o merece, da ingratidão e perfídia dos companheiros de partido... enfim, Santana Lopes é uma vítima da vida e do mundo. E se as legislativas fossem um concurso de coitadinhos, certamente venceria com maioria absoluta - a não ser que tivesse por adversário um mendigo ceguinho, maneta e coxo que eu cá conheço e que costuma pedir dinheiro ali para os lados da Sé de Braga.

Por este andar, nos vinte dias que faltam para as eleições legislativas assistiremos ao lento estertor desta curiosa e patética figura.

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P.S.: as enigmáticas declarações de Santana no jantar com "mil mulheres" que teve lugar em Braga, no passado sábado, mostram o quão desesperado o homem se encontra. Insinuar que Sócrates tem "outros colos" que não o das mulheres é do mais baixo que existe.

DEMOCRACIA Ao contrário do que anunciavam certos comentadores e "jornalistas de hotel" - tal como os habituais profetas da desgraça -, milhões de iraquianos tiveram a coragem de ir às urnas. Desafiando os terroristas - não compreendo como ainda há quem lhes chame "resistentes" -, os iraquianos mostraram que desejam a democracia e que esta é possível no seu país. É nosso dever, enquanto europeus e cidadãos do mundo, apoiar este povo na sua caminhada em direcção a um regime político livre e democrático.

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Adenda posterior: a esquerda anti-americana fundamentalista - a tal que continua a chamar "resistentes" aos terroristas -, desdobra-se em posts sobre o "falhanço" das eleições iraquianas e da "falta de democracia" das mesmas. O pior cego é mesmo aquele que não quer ver, e o ódio irracional impede a análise lúcida dos acontecimentos.

EXEMPLO CHECO A pequena República Checa, que em 1938 foi sacrificada pelos appeasers no altar da real politik, e que durante quarenta anos suportou o jugo comunista, recusa agora deixar de apoiar os dissidentes cubanos:

"O Governo checo não vai deixar de apoiar os dissidentes cubanos, apesar do reatamento dos contactos oficiais da Havana com a União Europeia (UE), disse ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros, Cyril Svoboda: "Continuaremos a apoiar essas corajosas pessoas que lutam pela liberdade, os direitos humanos e a democracia. Para nós, Castro não é um parceiro, mas sim um ditador"." (Público)

A pequena república dá uma lição à Europa.

terça-feira, janeiro 25, 2005

BAIXEZA Tenho recebido vários e-mails, nos últimos dias, contendo ataques à pessoa de José Sócrates. Em alguns casos são cartas de alegados "militantes do PS" e, em outros, são "forwards" reproduzindo boatos a respeito das inclinações sexuais do candidato socialista. Constatei, também, a presença dessas mensagens em vários fóruns da net. Não é difícil, a qualquer pessoa sensata, aperceber-se da origem desses e-mails e mensagens.

Parece-me que quem orquestra este tipo de golpes baixos revela duas coisas: primeiro, uma enorme baixeza moral, do género "monte de esterco" humano; segundo, um enorme medo de perder.

segunda-feira, janeiro 24, 2005



WINSTON Completam-se hoje 40 anos sobre a morte de Sir Winston Spencer Churchill, o homem que desafiou o Nazismo.

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Nota: Recomendo a leitura deste artigo do The Observer, sobre o "fracasso" de Churchill.

PRIVADOS VÍCIOS, PÚBLICAS VIRTUDES... Poderemos exigir aos nossos políticos uma absoluta coerência entre a sua vivência privada e aquilo que defendem publicamente? Enquanto estudante de jornalismo, esta é uma questão que não posso deixar de colocar. Recordo sempre a clássica situação do político moralista que na intimidade faz exactamente o contrário daquilo que prega. Deverão os media, caso estejam por dentro dessa incoerência, revelar a verdade sobre este político?

Em minha opinião, sim, uma vez que foi o próprio político que, com as suas atitudes, trouxe à baila o que se passa no seu foro íntimo, ao arvorar-se em inquisidor da moral alheia. Mas não me parece correcto, em meu entender, que um jornal investigue a vida privada de um político que não se faça de moralista.

Por outro lado, sou completamente contra a evocação da moral privada no debate político. Os populismos, quer de esquerda quer de direita, alimentam-se deste tipo de recursos. Se fulano é bom pai de família, então dará um bom governante; se sicrano não tem filhos, então não pode falar sobre o aborto...

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P.S.: estava a pensar escrever um post sobre a toxicodependência mas, como nunca me droguei, achei melhor não o fazer. Não fosse aparecer por aqui um qualquer Louçã, a inquirir que moral tenho para falar sobre a matéria!

P.S.S.: No domínio do aborto, a alusão à "moral privada" de Portas, por parte de Louçã & Acólitos, só faria sentido se Paulo Portas tivesse, por exemplo, ajudado à realização de um aborto. Ou seja, se tivesse feito em privado aquilo que condena em público.



MULHERES INTELIGENTES É em pequenas coisas, muitas vezes imperceptíveis aos olhos do observador menos atento, que o machismo persiste na nossa sociedade. Não, este post não é - mas podia ser! - sobre as polémicas declarações do reitor de Harvard, a respeito da pretensa superioridade dos homens no que à ciência diz respeito. Peço-vos que vejam este post como um simples desabafo.

Há dias, discutia-se no meu grupo de amigos a importância da inteligência das mulheres. A "importância", entenda-se, no que diz respeito ao nosso interesse por elas.

Nunca compreendi o medo que alguns homens têm das mulheres inteligentes. Fico estupefacto quando ouço amigos meus - indivíduos que supostamente têm formação superior -, dizerem que não querem gajas inteligentes. Quando lhes pergunto o porquê dessa aversão pelo intelecto feminino, invocam a alegada instabilidade das mulheres inteligentes, o que supostamente impossibilita uma relação bem sucedida. Ou seja, a mulher ideal tem que ser burrinha. E quanto mais burrinha, melhor, a bem da estabilidade da relação.

Quando os ouço dizer este tipo de coisas, penso para comigo que, na verdade, eles têm medo que as gajas inteligentes se apercebam de como eles são vulgares e insignificantes. E de que, por essa razão, os deixem ou troquem por outros. Ou então receiam não as conseguir manobrar a seu bel-prazer, como fariam a raparigas menos abonadas intelectualmente.

Não tenho intenção de me casar, pelo menos nos próximos anos. Mas se um dia o fizer, espero que seja com uma mulher inteligente. E que goste de mim, ainda que descubra a minha vulgaridade e insignificância.



CÍRCULOS UNINOMINAIS Com algum atraso, respondo à Laurindinha, do excelente Abrigo de Pastora que, em resposta a um comentário meu, escreveu o seguinte post:

"(...) Parece-me que o processo da criação dos círculos seria, em qualquer caso, feito com "regra e esquadro" de modo a beneficiar os partidos que aprovassem esses círculos, o que contribuiria para a descredibilização da classe política. Há também o perigo de, com os círculos uninominais, levar para o parlamento demagogos e caciques em vez de pessoas preocupadas com o interesse nacional. E há, ainda, porque a proporcionalidade entre votos e eleitos seria menor, a quase inevitalidade da exclusão da Assembleia de pequenos partidos e partidos que não privilegiam protagonismos dos seus militantes. Assim, as eventuais vantagens dos círculos uninominais seriam eclipsadas pelos efeitos políticos a que conduziriam. Idealmente, deveria ser possível criar círculos uninominais que conduzissem, nas primeiras eleições que se seguissem, a resultados semelhantes aos dos partidos com o sistema actual, mas isso não é fácil de conseguir.

Por outro lado, é gritante a evidência de que há pessoas entre os nossos concidadãos de que podemos dizer melhor do que dos partidos. Haverá forma de alcançar um justo equilíbrio?"


Julgo que já aqui exprimi a minha posição sobre os círculos uninominais. Julgo que a adopção desse sistema eleitoral permitiria uma maior ligação entre os eleitores e os deputados, assim como uma efectiva representação dos círculos por onde estes últimos são eleitos.

O sistema actual estimula a ascensão de "yes men", políticos cuja maior "virtude" será a da fidelidade canina às lideranças partidárias. Creio ser esta a principal razão de termos tão maus políticos. As eleições são vistas como "combates", para as quais os políticos se devem prontificar como "soldados", sem que tal signifique que estejam dispostos a assumir os cargos a que se candidatam, no caso de serem eleitos (o inenarrável Luís Filipe Meneses é um dos melhores exemplos dessa magnífica "tropa"). Ou seja, não existe o indispensável "contrato" entre os cidadãos e os seus representantes, uma vez que estes devem a sua lealdade aos líderes e não aos círculos que os elegem.

Penso ainda que a nomeação dos candidatos a deputado por cada partido, em cada círculo uninominal, deveria ser conseguida através de "primárias" locais. Dessa forma, o processo de escolha dos representantes de cada círculo seria o mais democrático possível.

Estou consciente, contudo, do fundamento das objecções levantadas pela Laurindinha. Realmente, a serem criados, os ditos círculos seriam pensados a "regra e esquadro" pelos estrategas dos partidos. Mas isso parece-me um mal menor. Quanto ao segundo "perigo" enunciado pela Laurindinha, o de enchermos S. Bento com "caciques" locais do género Avelino Ferreira Torres ou Fátima Felgueiras, penso que será também um risco que valerá a pena correr. Em todo o caso, o processo de escolha dos deputados será mais democrático que o actual. E convém não esquecer, além disso, que o povo não é tão "burro" como algumas pessoas pensam; esses "caciques" teriam, em todo o caso, de prestar contas pelo seu mandato. Ao contrário dos ilustres anónimos que são hoje deputados "por Viana" ou "por Viseu", esses políticos teriam de efectivamente fazer algo pelas terras que os elegeram. Ora isso seria uma forma muito mais legítima e eficaz da tão falada e necessária descentralização.

Quanto ao perigo de exclusão dos pequenos partidos, concordo com a Laurindinha; todavia, creio que, ao mesmo tempo, o sistema de círculos uninominais poderia dar uma oportunidade a esses partidos de concentrarem os seus esforços em dois ou três círculos mais importantes, conseguindo eventualmente a eleição de um ou dois deputados. Recorde-se, por exemplo, que foi desta forma que o Partido Republicano Português conseguiu eleger deputados por alguns círculos, na segunda metade do século XIX - alguns anos após a criação dos círculos uninominais (que se deu em 1859, salvo erro). Além disso, o novo sistema permitiria a eleição de independentes, o que sem dúvida seria uma refrescante lufada de ar fresco na nossa bafienta "partidocracia".

Este sistema de círculos uninominais comporta riscos, evidentemente. Mas perante a manifesta falência do actual modelo, creio que temos de arriscar inovar no sentido de conseguir uma maior aproximação entre eleitores e eleitos, bem como de democratizar o processo de escolha destes últimos. E, por consequência, melhorar a qualidade dos nossos políticos.

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P.S.: Elucidativa da falta de qualidade dos políticos actuais, é a ausência de currículo académico ou profissional da maioria dos actuais líderes partidários. Desde o tempo das "Jotas" - essas inúteis escolas de vícios -, que estes dirigentes são "profissionais" de uma actividade que não o deveria ser: a política.

ESQUERDA CAVIAR O José que me desculpe, mas não posso deixar de transcrever e de chamar a atenção para o seu excelente post "Caviar House ou o bloco sanitário":

"(...) Ora, precisamente, já passava da meia noite quando pediu ali entrada um grupo de 3 jovens de origem africana: um casalinho aí pelos 15-16 anos, ela em adiantado estado de gravidez, e um rapaz mais velho e muitíssimo magro, aí pelos seus 18 anos. Duma forma quase humilde contaram que tinham fugido das suas casas, em Chelas, e que tendo sabido que aquela casa tinha sido okupada vinham ali pedir um tecto que não sabiam onde mais o arranjar.

Foi então que tive a oportunidade de reparar melhor num rapaz alto e de forte vozeirão, que era sem dúvida o líder e ideólogo daquela operação okupa. Para minha estupefacção e grande embaraço do meu irmão, aquele belo rapaz levantou-se imediatamente e, tomando conta da ocorrência, pôs-se a falar. Disse coisas espantosas: que o movimento okupa era um estilo de vida alternativo, com uma forte matriz ideológica, que a ocupação de casas era uma acção coordenada de afirmação dessa ideologia, que os membros do grupo tinham que ter uma grande afinidade e homogeneidade cultural e ideológica por forma a fazerem os sacrifícios que este modo de vida lhes impunha. E saiu-se com uma pérola inesquecível: “o movimento okupa não se pretende substituír aos planos de realojamento da Câmara de Lisboa”! E logo a seguir, melifluamente, que ali não era o lugar adequado para aqueles três jovens africanos, o que não significava que eles não contassem com a sua total solidariedade! E eles, coitados, lá se levantaram e foram-se dirigindo para fora.

Estava já eu completamente passado com aquilo e disse ao tal grande líder algo mais ou menos assim: “Ó meu cabrão hipócrita, essa conversa da treta da solidariedade e da tolerância não te serve sequer para ajudar quem precisa mesmo de alojamento, muito mais do que estes meninos e meninas que estão aqui só para chatear os ricos paizinhos! Agora o que vou fazer é oferecer 10 contos a estes gajos e dar-lhes uma boleia a uma pensão ou residencial que eles escolham! Bem podes dizer que isso é caridade mas esta caridade vale muito mais que a tua solidariedade de filho da puta!”

Gerou-se um sururu do caraças, tudo aos gritos, fascista, nazi e coisas assim, e o meu irmão empurrou-me dali para fora junto com os três desgraçados. E lá fomos os dois deixá-los na Praça do Chile com os tais 10 contos, o que na altura ainda era dinheiro. (...) Por causa da qual o Bloco nunca me enganou: para mim eles são o maior logro ideológico e intelectual da política portuguesa e nunca irão ter o meu voto."


Aconselho a leitura integral deste post, que ilustra bem a verdadeira essência da esquerda dita "libertária".

sábado, janeiro 22, 2005

O EMPOBRECIMENTO SOCIAL do interior do país é um tema que surge recorrentemente nas notícias, insinuando-se como um ruído irritante que tentamos ignorar. Inevitavelmente este é um problema que vai acabar por nos cair em cima como uma triste realidade irreversível se nada for feito para o impedir.

A par desta questão encontra-se um rápido e inexorável envelhecimento da população, que afecta todo o país, embora se note mais no dito interior empobrecido, com as suas aldeias despovoadas e cafés com idosos a ver passar o tempo ao ritmo lento dos dias sem crianças.

As estatísticas dirão que cada vez nascem menos crianças. Dirão também que cada vez as mulheres têm filhos mais tarde. Igualmente se poderá saber, perguntando por aí, que as pessoas não têm mais filhos porque não têm condições para o fazer. Não há protecção eficaz à maternidade neste país, onde os casais gastam uma considerável parcela do seu rendimento para pôr os filhos num infantário para poderem ir trabalhar, para não falar das outras despesas. Frequentemente as mulheres acabam por não trabalhar para poderem cuidar dos filhos.

Problema grave no país em geral, problema gravíssimo nas regiões do interior, onde ninguém quer viver porque não há trabalho, para além de tudo o que igualmente não há, como assistência médica, oferta cultural, para não falar de coisas mais básicas, como saneamento e rede eléctrica.

Não é preciso muita perspicácia para ver aqui um ciclo vicioso. Mais difícil será cortá-lo e revertê-lo. Ignorar o problema não será, de certeza, a forma correcta de o abordar, mas é o que sistematicamente tem sido feito, quer pelos governantes quer pela sociedade civil.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

MARGENS DE ERRO De entre os vários blogs recém incluídos na listagem da coluna da direita, chamo a atenção para o excelente Margens de Erro. De acordo com o seu autor, Pedro Magalhães, profissional da área das sondagens e dos estudos de opinião, o Margens de Erro tem por objectivo assumir-se como uma fonte de informação sistemática sobre as sondagens que vão sendo publicadas. O que é de saudar, tendo em conta o momento político que atravessamos.

O MEU CARTOON... A campanha eleitoral para as legislativas que, note-se, ainda não começou, está já pejada de lugares-comuns e frases feitas, de ideias repetidas e repetidoras, de falsidades que, à força de tanto serem repetidas, se tornam semi-verdades, para uns, e verdades absolutas, para outros.

Digam o que disserem, parece-me que nunca, como desta vez, tivemos tantos candidatos que, comprovadamente, não sabem sobre o que falam ou, pior, sabendo, preferem omitir ou, pelo menos, escamotear a verdade.

Santana Lopes continua indefinido, sem saber decidir-se entre a direita racional (mas impopular) ou a esquerda populista (mas irracional). José Sócrates, contradiz-se diariamente, não só naquilo que foram as suas tomadas de posição enquanto líder da oposição mas, pior, também naquilo que tinha afirmado veementemente no dia anterior. Paulo Portas, embora com o seu estilo habitual, vai jantando com empresários e feirantes, com banqueiros (os tais que o andavam a perseguir) e desalojados. Nem é centro, nem é esquerda, nem é direita: é populismo demagógico barato. Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, os eternos rebeldes sem causa ou, numa análise mais coerente, os rebeldes cuja causa já expirou o prazo de validade...

É, por isso, extremamente difícil pensar as legislativas de 20 de Fevereiro como algo de grande importância ou, pelo menos, de grande valor. Não que todo este imbróglio não dê que pensar (e dá: desde os poderes presidenciais à legitimização de um governo pela maioria expressa em votos, passando por muitos outros aspectos). O busílis da questão, aqui, reside em saber quem nos trará, num futuro próximo, mais do mesmo (sendo que este mesmo, de há quatro meses a esta parte, tem sido muito pouco). Serenamente, aguardo, enquanto penso se colocarei a minha cruz à frente de algum dos partidos candidatos ou, em alternativa, que cartoon desenharei (e não tenho jeito nenhum para desenho) no boletim, por forma a torná-lo nulo, com piada (a bem do humor sádico que vai grassando na política nacional)...

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Quase um mês depois de ter sido convidado a participar neste espaço e de, reconhecidamente, ter aceitado o convite, só agora publico o primeiro post. Não por falta de vontade; antes, sim, por absoluta falta de oportunidade. A promessa fica feita: uma maior assiduidade, sempre com a acutilância necessária para o despertar de algumas consciências e, claro, para a abertura de acesos debates. Vemo-nos (lemo-nos) por aqui...

quarta-feira, janeiro 19, 2005

UMA QUESTÃO DELICADA O Zun, do blog Renas e Veados, escreveu um post sobre a adopção de crianças por casais homossexuais, no qual se poderá ler o seguinte:

"Instrumentalização e sofrimento

Sempre que esta questão é trazida a debate, e pelo facto de o direito à adopção, bem como ao casamento, estar intimamente ligado à defesa dos direitos LGBTs, surgem acusações de que as crianças estão a ser instrumentalizadas pelo "lobby gay".

Quem se depara com este tipo de acusações pensará que os LGBTs que desejam adoptar crianças têm em mente fazer-lhes uma espécie de lavagem cerebral para que estas crianças se tornem elementos de propaganda ou para que se tornem adultos LGBTs. Na esmagadora maioria dos casos não consigo ver por detrás destas acusações mais que um preconceito básico de que todos os LGBTs são naturalmente perversos, e que só poderiam estar interessados em perverter as ditas crianças. Quem considera LGBTs como as pessoas normais que são, certamente entende que estes têm tanto desejo e capacidade de criar uma criança como outra pessoa qualquer e que não podem impôr a sua sexualidade aos filhos, tal como os casais heterossexuais. (...)"


Antes de mais, e ao contrário de muitos apoiantes da autorização da adopção de crianças por casais homossexuais, admito à partida que possa estar errado o raciocínio que pretendo desenvolver nas linhas que se seguem. É uma questão demasiado delicada, para a qual não existem respostas absolutas. Talvez uma análise "caso a caso" seja a mais adequada à natureza do problema.

Na minha opinião, um casal homossexual poderá ter todas as condições para educar uma criança. E creio, também, que os homossexuais e as lésbicas têm o direito de virem a ser pais e mães, podendo ser excelentes progenitores e educadores. Não é por ser homossexual que alguém deixará de ser um bom pai. Mas não é isso que está em causa, creio eu.

Parece-me que em causa nesta delicada questão não estão os direitos dos homossexuais, por muito legítimos que estes possam ser. É nos direitos das crianças que devemos pensar. Independentemente dos azares e infortúnios de que tenham sido vítimas, todas as crianças têm direito a ter o que a natureza lhes destinou: um pai e uma mãe, e não dois pais ou duas mães. Creio que as instituições públicas que detêm a custódia de crianças orfãs - ou provenientes de meios de "risco" -, devem procurar encontrar-lhes um lar em que disponham de um pai e de uma mãe.

Em meu entender, o instrumentalizar de que o Zun fala neste post não terá a ver com um qualquer receio de que os homossexuais façam uma "lavagem aos cérebros" das criancinhas. Parece-me que esse instrumentalizar tem a ver com o facto de os casais homossexuais se servirem dessas crianças de modo a poderem realizar-se como pais e mães. Desejo legítimo, evidentemente, pois grande parte dos seres humanos encara a paternidade e a maternidade como essenciais à sua realização pessoal. E claro que, de acordo com este ponto de vista, esta "instrumentalização" também ocorre quando um casal heterossexual decide ter filhos ou adoptar uma criança. Mas parece-me que, neste caso, essa "instrumentalização" vai de encontro aos interesses da criança. Ou seja, vir a ter um pai e uma mãe, que lhe proporcionem uma educação o mais saudável e equilibrada possível (embora eu não veja a homossexualidade como "não-saudável" ou como um desiquilíbrio), com base na existência de um modelo masculino (pai) e de um feminino (mãe). O facto de existirem crianças orfãs de ambos os progenitores ou de apenas um deles, e de outras crianças serem maltratadas pelos próprios pais, não justifica que se venha a corrigir um erro com outro erro.

Além disso, e já para não falar de outros factores a ter em conta (por exemplo, a discriminação que essas crianças poderiam vir a ser vítimas), até que ponto teremos nós a certeza de que a educação de uma criança por um casal homossexual não moldará o desenvolvimento da sua personalidade, nomeadamente no que diz respeito à sua orientação sexual? Poderemos nós confiar nos estudos científicos em que os defensores da adopção por gays e lésbicas têm escudado as suas reivindicações? Poderemos nós ter certezas absolutas, ainda para mais numa questão tão delicada como esta? Pessoalmente, confesso que tenho muitas dúvidas sobre esta matéria.

Por muito respeito que tenha pelos homossexuais e pelos seus direitos, parece-me que eles devem assumir plenamente o estilo de vida que escolheram, ainda que isso implique, além do corajoso gesto de "sair do armário", ter de abdicar de certos direitos, como seja usufruir das facilidades de adopção de que dispõem os casais heterossexuais. E isto porque os interesses das crianças devem ser colocados em primeiro lugar.

UM BOM SINAL A hierarquia da Igreja Católica espanhola, uma das mais conservadoras da Europa, manifestou-se a favor do uso de preservaticos como meio de protecção contra a sida: (...) O porta-voz e secretário-geral deste órgão [a Conferência Episcopal Espanhola], Juan Antonio Martínez Camino, citado pelo jornal "El Mundo", sublinhou que as posições da Igreja sobre a doença estão apoiadas em estudos científicos que defendem a abstinência, a fidelidade e o uso de preservativos, a chamada estratégia ABC.

O porta-voz falava à saída de uma reunião com a ministra espanhola da Saúde, Elena Salgado, onde apenas se discutiu a sida. Martínez Camino afirmou que o encontro permitiu desmistificar "determinados preconceitos" que existem sobre a posição da Igreja em relação à prevenção da sida e acrescentou que a posição da Conferência é de apoio à estratégia ABC defendida pelos cientistas. Esta estratégia para a prevenção da transmissão sexual da sida, publicada em Novembro pela revista médica "The Lancet", é apoiada por mais de 150 especialistas oriundos de 36 países.
(Público)

segunda-feira, janeiro 17, 2005

REESTRUTURAÇÃO Agora que o "Respublica" é um blog colectivo, tornou-se necessário alterar alguns componentes da coluna da direita. Assim sendo, a primeira pessoa do singular cedeu o lugar à primeira do plural, e foi modificada a estrutura da listagem de links para outros blogs. Além disso, procedeu-se a uma rigorosa "depuração" na dita listagem, retirando-se as ligações para blogs que entretanto deixaram de existir - ou que entraram num estado vegetativo há largos meses -, e acrescentando-se algumas dezenas de novos links para blogs cuja visita se recomenda.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

FALCONE "A França tem até 15 de Fevereiro para fazer um "gesto significativo" a favor de Pierre Falcone, um negociante de armas amigo do regime angolano perseguido por tráfico de armas pela justiça francesa, ou Luanda priva a companhia petrolífera gaulesa Total de um contrato de 10 mil milhões de dólares, para o dar aos seus concorrentes americanos. Segundo o semanário "Le Nouvel Observateur", que deu esta notícia em exclusivo, o ultimato teria sido proferido pessoalmente pelo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que fez do destino de Falcone um verdadeiro "casus belli". Num artigo intitulado "A França entre a espada e a parede", o jornalista Ary Routier revela que, a título de "aviso", Luanda recusou recentemente renovar um contrato de exploração da Total num valor de mil milhões de dólares."

A chantagem em torno do petróleo continua a permitir que a camarilha que governa Angola adie indefinidamente as eleições, persiga despudoradamente jornalistas, intelectuais e opositores políticos, e viole os direitos do povo do enclave de Cabinda. E agora, pelos vistos, os senhores do MPLA chegam ao ponto de pretender interferir na Justiça de outro país, de modo a proteger o seu "amigo" Falcone. Até quando?

quinta-feira, janeiro 13, 2005



MEMÓRIA CURTA... "O que vem do passado não corresponde às actuais relações entre a China e a União Europeia", disse Sampaio num diálogo com estudantes da Universidade de Comunicação da China, nos arredores de Pequim. "Somos muito claros quanto à necessidade de acabar com este embargo e isto irá acontecer, mais cedo do que mais tarde", acrescentou Sampaio. O embargo foi imposto após a sangrenta repressão militar do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, em Junho de 1989."

Pois é... de 1989 para cá, a China tornou-se uma democracia respeitadora dos direitos humanos, não é verdade? O que vem do passado não importa para o presente!



ANTI-TABAGISMO Na sua coluna no jornal brasileiro Folha Online, João Pereira Coutinho (JPC) escreveu o seguinte:

"Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis. Miseráveis mas realizadas: no mundo moderno, não fumar é marca de saúde física, mental --e, atenção, gente, moral também. Basta ver as medidas sanitárias que a Europa pretende aplicar. A curto prazo, os pacotes de cigarros dos europeus terão imagens-choque para afastar fumantes ativos ou passivos, presentes ou futuros. Como no Brasil. Mas pior, muito pior que o Brasil: corpos mutilados pelo câncer, cadáveres putrefatos. E, claro, a imagem triste de um pênis triste, precocemente arruinado. A idéia não é prevenir. Os fanáticos querem mais: querem humilhar o fumante, enfiar o fumante numa jaula de circo e dizer: "Olhem só como é decadente! Olhem só como é impotente!" Hitler não faria melhor."

Acredito que JPC conheça não-fumadores "infelizes". Confesso que também eu conheço, embora em número inferior ao dos não-fumadores aparentemente felizes com quem tenho tido a sorte de privar - digo "aparentemente", porque nunca poderemos ter certezas quanto à "felicidade" dos outros. Conheço, por outro lado, muitos fumadores que diria "infelizes". E, também, fumadores que morreram vítimas de cancro do pulmão... parece-me óbvio, portanto, que os fumadores saem a perder desse estranho "cômputo da felicidade".

Este artigo de João Pereira Coutinho reproduz uma opinião muito em voga entre certos fumadores: aquela segundo a qual os "fanáticos" anti-tabagistas têm um gosto especial em perseguir e punir os prevaricadores que não resistem a "dar umas passas". Acredito que existam casos desses (já vi um pouco de tudo, nesta vida!), mas não creio que seja essa a motivação da generalidade das pessoas que, como eu, são a favor da proibição do tabaco em locais públicos. Nós não queremos castigar ninguém, ou impôr à força a nossa forma de pensar. Nem tão pouco queremos "que os outros não fumem". Apenas pretendemos ver respeitados os nossos direitos. A nossa liberdade termina quando começa a dos outros.

Se os fumadores querem continuar a inalar veneno, que o façam livremente, pois estarão no seu pleno direito. Mas que, por favor, não nos obriguem a fazer-lhes companhia. Aliás, esta proibição de fumar em locais públicos não tem por objectivo reduzir o número de fumadores, como faz crer JPC. O que se pretende é, antes de mais, proteger os fumadores passivos. E se o Estado se vê obrigado a recorrer ao "papão" da repressão - o último argumento dos reis, como a guerra de antanho -, é porque muitos fumadores não respeitam as mais elementares regras de boa educação e sã convivência social. Por esta óptica, fumar na presença de outras pessoas sem a necessária autorização será tão anti-social como o é permitir que um animal de estimação deixe "cócó" nos passeios públicos.

Quanto à analogia com a política de Hitler contra o tabaco, penso que serve apenas para adornar a prosa do autor e para banalizar ainda mais as comparações com o Nazismo. Comparações essas que, cada vez mais, adquirem o condão de relativizar a monstruosidade e o horror do regime nazi.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

MEIAS-MEDIDAS Bem sei que muitos fumadores se queixam do "fundamentalismo anti-tabagista". Bem sei que a repressão não é, geralmente, a melhor medida para combater um determinado problema. Bem sei, também, que o exagero nunca é razoável...

Todavia, e não obstante as considerações acima tecidas, sou a favor da proibição total do tabaco em locais públicos, sejam estes repartições estatais, hospitais, escolas, locais de trabalho, cafés, restaurantes, bares ou discotecas. E se sou a favor deste "exagero", é porque estou consciente do perigo que o tabaco constitui para a saúde pública.

Creio que a distinção que o governo pretende estabelecer entre locais onde "todos têm direito de ir" e sítios "onde só vai quem quer" - sendo que nos primeiros não se poderá fumar mas nos segundos sim -, atenta contra a saúde pública. Como não fumador, tenho o direito de poder frequentar bares, restaurantes e cafés sem ser forçado a respirar fumo de tabaco. E penso que se os fumadores querem fumar nesses locais - desejo legítimo, desde que não prejudiquem a saúde dos outros -, se devem criar espaços próprios para eles, dentro ou fora dos referidos estabelecimentos.

O governo afirma que caberá aos proprietários desses espaços proibir ou não o consumo de tabaco no seu interior... como se isso fosse possível!

terça-feira, janeiro 11, 2005

"QUEIXINHAS" E "JUSTICEIROS" O Rodrigo Moita de Deus, do Acidental, escreveu sobre a "Boaventura dos movimentos Anti-Praxe". Bem sei que o post tem por pano de fundo a polémica em volta do artigo de Maria Filomena Mónica a respeito de Boaventura Sousa Santos - polémica essa sobre a qual não me pretendo pronunciar -, mas não posso deixar de comentar o que o Rodrigo Moita de Deus escreveu:

"Quando entrei para o Liceu levava imensos calduços. Devia ser dos óculos grossos ou do meu ar enfezado, convencido que sabia mais do que os outros. Os dois anos de praxe, tiveram em mim um efeito pedagógico. Aprendi que nem sempre sabia mais que os outros, ou pelo menos aprendi a não exibir os meus eventuais talentos.

Ao fim de algum tempo o corpo encheu, os óculos desapareceram e mesmo havendo alguém com mais argumentos, subitamente ganhei o direito de distribuir os meus calduços entre os “putos” que tinham a mania que sabiam mais que os outros. “É a ordem natural das coisas. É a cadeia alimentar” li algures num livro de biologia."


E qual é o mal de "saber mais que os outros"? Porque é que nós, portugueses, cultivamos essa falsa modéstia e essa "cultura do demérito", que exalta os idiotas e lisonjeia os incompetentes, ao mesmo tempo que castiga os que se esforçam? Porque temos tanto medo das pessoas que se procuram distinguir?

A "praxe" nada mais é que uma forma de os mais velhos - os "instalados" que não querem ver ameaçada a sua posição -, conservarem o poder. E estou convencido que esta mentalidade - partilhada por largos sectores da nossa sociedade -, é em grande parte responsável pelo atraso do nosso país. E isto porque nas nossas escolas, universidades, partidos e empresas, quem se esforça e se procura distinguir pelo seu mérito e competência, é imediatamente taxado de "sacana" ou de "olha-me-este-tem-a-mania-que-é-inteligente". Quando se nivelam as coisas por baixo, o resultado não pode ser magnífico.

Só é "bom rapaz" quem não levanta ondas, se rebaixa perante os superiores hierárquicos, e não se atreve a questionar e a ter sentido crítico. Quanto aos outros, há que os fazer "baixar a crista". E para isso nada melhor que uns bons "calduços".

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Adenda posterior: Peço desculpa ao Rodrigo Moita de Deus, por ter compreendido mal o propósito do seu artigo e o significado da sua metáfora. E embora sem renegar uma única palava do que acima escrevi, devo dizer que estou de acordo com ele no que diz respeito aos "queixinhas": não é com vitimizações ridículas que nos conseguimos realizar pessoal e profissionalmente - por exemplo, a "manifestação de desagravo" que dedicaram ao Prof. Boaventura Sousa Santos acabou por ser um gesto ridículo da parte de meia de dúzia de "tolas bem pensantes".



TERRA DA ALEGRIA Ontem foi dia de Terra da Alegria, com dois excelentes textos do Zé Filipe e do Lutz.



O QUE A CIA PENSA DE NÓS Encontrei a seguinte descrição da nossa situação económica, no site do factbook elaborado anualmente pela Central Intelligence Agency (CIA). Para a CIA, o atraso de Portugal deve-se, antes de mais, ao pobre sistema educativo:

"Portugal has become a diversified and increasingly service-based economy since joining the European Community in 1986. Over the past decade, successive governments have privatized many state-controlled firms and liberalized key areas of the economy, including the financial and telecommunications sectors. The country qualified for the Economic and Monetary Union (EMU) in 1998 and began circulating the euro on 1 January 2002 along with 11 other EU member economies. Economic growth has been above the EU average for much of the past decade, but fell back in 2001-03. GDP per capita stands at 70% of that of the leading EU economies. A poor educational system, in particular, has been an obstacle to greater productivity and growth. Portugal has been increasingly overshadowed by lower-cost producers in Central Europe and Asia as a target for foreign direct investment. The coalition government faces tough choices in its attempts to boost Portugal's economic competitiveness and to keep the budget deficit within the 3% EU ceiling." (in "CIA - The World Factbook")



ERROS JORNALÍSTICOS Num post intitulado "RTP na Palestina: os erros de Paulo Dentinho", o Nuno Guerreiro registou a forma errada como este jornalista se refere às forças armadas israelitas:

"Em todas as suas reportagens que vi (as dos dois últimos dias e as do funeral de Arafat, em Novembro), o jornalista da RTP raramente – nunca de forma directa – se referiu aos soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) como “soldados israelitas”, optando invariavelmente por classificá-los como “soldados judaicos”. Dando de barato o erro gramatical da última expressão – o correcto aqui seria “soldados judeus” –, a ininterrupta insistência de Dentinho vai além do erro simples: é uma profunda deturpação recheada de segundos sentidos óbvios.

Antes de mais, convém esclarecer que as Forças Armadas de Israel não são compostas unicamente por judeus. Muitos dos seus soldados – e oficiais – pertencem às várias minorias étnicas e religiosas do país: são também muçulmanos, beduínos, druzos e cristãos, ou simplesmente emigrantes naturalizados chamados ao serviço militar (cidadão israelita, o meu sogro, por exemplo, fez a tropa, entre as décadas de 70 e 80, no mesmo batalhão com um soldado japonês não-judeu que simplesmente emigrara para Israel e se naturalizara)."


Concordo com o Nuno Guerreiro. De facto, chamar "judaicos" aos militares das FDI fará tanto sentido como apelidar os soldados portugueses de "católicos". E isto não obstante o carácter não inteiramente secular do Estado de Israel - onde, apesar disso, existe uma efectiva liberdade religiosa.

Já me tinha dado conta deste e de outros erros ou faltas de isenção nas reportagens de Paulo Dentinho. Aliás, quase todas as reportagens sobre questões internacionais que passam nos nossos telejornais costumam padecer das mais diversas "maleitas", como a falta de isenção e de rigor, a ignorância do repórter a respeito do contexto social, político e histórico da região em que elabora a reportagem, a parcialidade e a falta de objectividade. Creio que Paulo Dentinho até é dos melhorzitos; de facto, parece-me que a qualidade da generalidade das reportagens sobre questões internacionais deixa muito a desejar. Com algumas excepções, evidentemente, como os trabalhos de profissionais como Carlos Fino ou Mário Crespo, entre outros.

Como o público tende a não se preocupar muito com questões internacionais, por não lhe dizer directamente respeito, muitos jornalistas dão-se ao luxo de emitir opiniões pessoais, acrescentar reacções emotivas e de sonegar determinados factos. Claro que não conseguiriam fazer isto numa reportagem sobre política nacional, pelo menos de forma tão ostentatória.

O mesmo se poderia dizer a respeito da imprensa escrita; com excepção de jornais como o "Público", o "DN" ou o "Expresso", quase todos os nossos periódicos dão pouca importância à actualidade internacional, e a cobertura que dela fazem é na maior parte das vezes parcial e pouco rigorosa.

OLHA O DÉFICE! "A dívida pública da Madeira continua a subir vertiginosamente, de forma mais controlada a directa e desmesuradamente a indirecta, devendo ultrapassar no conjunto o montante do Orçamento da região, que em 2005 atinge 1500 milhões de euros."

segunda-feira, janeiro 10, 2005

NOVA LIGAÇÃO Inseri link para o excelente blog Abrigo de Pastora. Recomendo a visita!

domingo, janeiro 09, 2005

AS ELEIÇÕES PARA O LÍDER PALESTINIANO são hoje, e não haverá grandes surpresas, pois parece certo que Mahmoud Abbas será o eleito (no sentido eleitoral democrático do termo). Embora estas eleições sejam denominadas históricas, apenas o são porque surgem na sequência da morte do líder histórico, Yasser Arafat, e não porque à frente delas se prevejam grandes mudanças no rumo do conflito entre Israel e a Palestina. Ontem vi um documentário relatado na primeira pessoa por um ex-soldado Israelita. Nele se percebe como a guerra, em particular esta guerra, para além da luta territorial e dos motivos que estão na sua base é alimentada à custa de jovens soldados inexperientes, que crescem a ouvir os sons da guerra, treinados para atacar preventivamente o inimigo e a obedecer cegamente, sem qualquer réstia de auto-determinação, aos seus superiores. Enfim, são soldados, para quem ignorar uma afronta equivale a uma declaração de cobardia e desonra militar e pessoal. Que o ser humano é capaz de violência, disso ninguém tem dúvida. Que essa capacidade seja utilizada como rastilho para manter acesa uma guerra, ao comprometer sistematicamente as negociações para a paz já me parece algo diferente de mera estratégia militar. E claro que não tenho dúvidas de que isto se passa dos dois lados do conflito, deste e de outros.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

AS MEMÓRIAS DE MARGUERITE Foi apenas no Natal de 2001 que li o magnífico livro "Memórias de Adriano" da escritora Marguerite Yourcenar. Nascida em Bruxelas no ano 1903, emigrou para os Estados Unidos na segunda guerra mundial, e viria a falecer no estado do Maine em 1987.

O livro foi concebido como um registo autobiográfico, que o imperador romano Adriano (r. 117-138) teria legado ao futuro imperador Marco Aurélio (r.161-180). A história foi baseada em documentos estudados pela autora, aos quais acrescentou uma excelente imaginação, pois é Marguerite quem faz as reflexões do próprio Adriano. E foram tão bem feitas, que eu quero acreditar que eram assim os pensamentos do meu imperador romano favorito.

Após algumas reflexões no primeiro capítulo, somos transportados, no segundo, para a Hispânia pagã do século I. O avô de Adriano representa um mundo que não tinha a força espiritual do Cristianismo, mas que possuia uma magia inigualável, repleta de mistérios e fenómenos fantásticos. Adriano era um provinciano, e já a nossa escritora Agustina Bessa-Luís descreveu no seu livro "Sebastião José" a solidez e a determinação férrea deste tipo muito especial de políticos.

A educação do jovem, em Roma, tem assombrosas semelhanças com o tipo de ensino que se pratica nas Universidades portuguesas. Foi nesse ambiente que se iniciou a relação íntima entre o jovem e a cultura Grega. O trabalho num tribunal foi seguido pelo serviço militar. E sem ele Adriano nunca teria sido imperador, pois foi na guerra que ganhou o respeito do imperador Trajano (r.98-117).A conquista sangrenta da Dácia e a guerra na Ásia estão entre as melhores descrições que o livro possui.
Foi no rescaldo desta que Adriano se tornou imperador.

Os capítulos seguintes oferecem lições de poder, felicidade e inevitabilidade. A última guerra de Adriano acabaria por ser o momento mais sombrio do seu próspero reinado. Este livro fantástico deu-me a conhecer um homem admirável, que teve uma vida literalmente do tamanho do mundo. E a maior lição que dele obtive é extremamente simples: Carpe diem.

terça-feira, janeiro 04, 2005



ATEÍSMO E TOLERÂNCIA O Sr. Carlos Esperança, do blog Diário Ateísta, respondeu ao meu artigo publicado na edição de 3 de Janeiro da Terra da Alegria. Ou melhor, não respondeu; o dito senhor limitou-se a evocar fantasmas do passado e a recorrer aos argumentos “do costume”. Não respondeu às questões que levantei no meu artigo anterior e interpretou mal o que então escrevi.

Visto que ele estruturou o seu discurso “por pontos”, também eu o farei. Reproduzi o seu discurso a itálico, sendo cada ponto seguido de um comentário meu:

“1 - O nome, Carlos Esperança, corresponde efectivamente ao «blogger» cuja foto, idade e morada aparecem clicando no nome que se encontra na lista de colaboradores do DA e é o mesmo que deu a entrevista à Agência Lusa sobre a criação da Associação Ateísta Portuguesa de que é activista.”

Sim, senhor.

“2 - O Diário Ateísta (DA) existe baseado na liberdade de expressão, direito recente em Portugal, aparecido há 30 anos sobre os escombros de uma ditadura cuja longevidade a cumplicidade da ICAR prolongou. Convém referir que o ensino da religião católica era obrigatório nas escolas do Estado e a sua prática severamente exigida e fiscalizada pelos Directores das Escolas do Magistério aos futuros professores.”

Agradeço a lição de História - embora não me esteja a “ensinar” nada de novo -, mas não compreendo o porquê da evocação de fantasmas do passado. Ao fazê-lo, o Carlos Esperança não responde às questões que coloquei no meu artigo. Nada tenho a ver com a Igreja do tempo do Estado Novo ou com a da época da Inquisição, tal como calculo que você não tenha nada a ver com regimes políticos que em nome do ateísmo – e de outros “ismos” - cometeram todo o tipo de atrocidades e genocídios.

“3 -Na opinião de Filipe Alves, o DA integra pessoas «moderadas e bem educadas», donde parece excluir-me, mas, na sua diversidade, o DA não inclui ninguém que não aceite a «Declaração Universal dos Direitos Humanos», frequentemente postergada por todas as religiões, como um conjunto de princípios que é dever observar.”

Quando disse que o Diário Ateísta integra algumas pessoas moderadas e bem educadas, não pretendi exclui-lo à partida; tão somente quis dizer que algumas pessoas que escrevem nesse blog fazem-no de forma bem educada. Outros não o fazem, ao passo que sobre outros não me posso pronunciar por não ter ainda opinião formada (que é o seu caso). Quanto à Declaração Universal dos Direitos Humanos, não compreendo o porquê da sua referência neste contexto; não creio que a boa educação e o trato gentil estejam incluídos entre os direitos enunciados nessa célebre e ditosa Declaração. Infelizmente, devo dizer.

“4 - Não tenho legitimidade para falar em nome do DA, mas, na qualidade de ateu praticante e militante, garanto que me empenho para que os homens e mulheres de todo o mundo possam abraçar qualquer religião, tenham a permissão de mudar e o direito de não professarem qualquer uma.”

Fico contente com isso, até porque partilho desse louvável ideal. Mas não quererá isso dizer que se empenha para que homens e mulheres de todo mundo possam abraçar uma forma de “violência”, uma vez que é esse o seu conceito de religião? E repare, enquanto “ateu praticante”, o que é que “pratica”? Não me estará a dar razão? Não será o ateísmo “militante” uma espécie de religião, com os seus “dogmas”?

“5 - A violência que atribuo às religiões baseia-se na perseguição e penas infligidas aos que as abandonam ou que as não praticam de acordo com a vontade do clero. A apostasia e a blasfémia são «crimes» exclusivamente de natureza religiosa que todos os credos se esforçam por criminalizar e que só a vitória da laicidade subtraiu ao braço da lei. Mas, de violência, estão a Tora, a Bíblia e o Alcorão cheios.”

Quanto à apostasia e à blasfémia, interrogo-me se os senhores aceitariam na vossa associação ateísta pessoas que acreditem em Deus... calculo que não o façam, obviamente. E não será isso também uma "violência" sobre os apóstatas e blasfemos - para usar os termos por si escolhidos - da vossa parte? No mundo desenvolvido, só integra uma comunidade de crentes ou uma corrente filosófica quem o deseja. E se o faz, é porque partilha das crenças, valores e princípios defendidos por essa mesma comunidade (claro que não pretendo defender ou justificar, de forma alguma, os regimes e sociedades em que não existe liberdade religiosa).

“6 - Não pretendo «converter» ninguém ao ateísmo. O proselitismo é uma tara exclusiva da evangelização a que as religiões se dedicam. Chegam ao ponto de baptizar crianças recém-nascidas sem o mínimo respeito pela autodeterminação religiosa das pessoas, entrando em concorrência pela hegemonia, sem hesitarem no recurso à guerra. Não falo da Idade Média, falo do milénio que há pouco começou, da Europa, do catolicismo, do islão, do protestantismo e da Igreja Ortodoxa.”

Ora vejamos: se não pretende “converter” ninguém ao ateísmo, então porquê apregoar as suas ideias? Não será porque gostaria que mais pessoas as adoptassem e difundissem?

“7 - Dizer que não há publicações católicas fundamentalistas é ignorar centenas de publicações paroquiais que pululam pelo país e cuja leitura faz corar de vergonha qualquer crente urbano ou alfabetizado. Falo de publicações actuais e não no diário «Novidades», órgão do patriarcado de Lisboa que desapareceu após o 25 de Abril. Podia ainda referir as posições do poderoso cardeal Joseph Ratzinger da cúria romana.”

Eu não disse que não existem publicações católicas fundamentalistas. Apenas disse que o vosso blog é muito semelhante – em termos de tom “militante” e atitude fundamentalista –, a essas publicações! O que vos coloca exactamente ao mesmo nível dos Ratzinger’s que temos na Igreja, embora do outro lado da “barricada”.

“8 - Reconheço que também há crentes tolerantes mas, apesar da linguagem vigorosa que uso, fui incapaz de referir às autoridades democráticas o padre da Covilhã que em 1961 me denunciou à PIDE e era incapaz de ficar indiferente à prisão ou ao assassinato de um crente. Ao contrário, a Igreja portuguesa silenciou crimes desses, cometidos durante a ditadura, com a excepção honrosa de um único bispo, António Ferreira Gomes, que pagou com o exílio a honradez.”

Mais uma vez, obrigado pela lição de História. Eu não tenho relatos dessa época para contar, porque ainda não era nascido; mas o meu pai e o meu avô – também católicos praticantes -, sempre lutaram pela liberdade política e religiosa, pagando caro por isso. A luta contra a tirania não era exclusiva dos ateus, como o senhor bem deve saber…

“9 - A tolerância existe mais nas atitudes do que nas palavras. Pode considerar-se tolerante uma igreja que exige uma concordata que reserva para si privilégios que nega às outras religiões? Que pretende servir-se das escolas públicas para se promover? Que reservou direitos para a sua Universidade que nenhuma outra, particular, possui?”

Cabe à Igreja defender os seus interesses e, por outro lado, cabe ao Estado conceder direitos iguais a todas as religiões. Além disso, a Igreja Católica tem levado a cabo numerosas e louváveis iniciativas de cariz ecuménico e de diálogo com outras religiões.

“10 - Acerca de Deus, sobre quem os crentes fazem recair a suspeita de ter criado o mundo, não há o mais leve indício da sua existência nem o mais insignificante esforço da sua parte para provar que, depois disso, tenha feito o que quer que seja. Assim, não é possível provar a sua não existência mas cabe-lhe a ele fazer prova de vida.”

Com certeza. Nem eu pretendo provar a existência de Deus, com Razão ou sem ela. Mas não acredito que o Ateísmo consiga explicar a origem da Vida e do Cosmos, ou provar sem sombra de dúvida que somos apenas produto do “acaso” e que não existe, de facto, um Ser Criador. Se pretendermos explicar o Sagrado com recurso à Razão, então creio que chegaremos à conclusão que o Agnosticismo será mais “racional” que o Ateísmo, uma vez que o Agnosticismo prefere não se pronunciar sobre um assunto que a Razão não consegue explicar – quer pela imperfeição dos seus instrumentos, quer pela limitações inerentes à nossa condição humana.

“Correcção: «A religião quer-se como o sal na comida, nem de mais nem de menos» são palavras de António Alves Martins, bispo de Viseu no reinado de D. Luís, palavras frequentemente apagadas da sua estátua, durante a ditadura salazarista, e de novo repostas clandestinamente por anónimos. Para mim, a religião está como o sal para os hipertensos - a mais pequena dose é prejudicial, mas o bispo acreditava em Deus. Ninguém é perfeito.”

Agradeço a correcção e peço desculpa pelo lapso. Mas mais uma vez não vejo em que é que respondeu a algumas das questões colocadas no meu artigo anterior. E tem razão: ninguém é perfeito, e ninguém consegue explicar o mistério da origem da Vida e do Cosmos. Nem os Ateus, com toda a sua Razão.

segunda-feira, janeiro 03, 2005



TERRA DA ALEGRIA Hoje é dia de Terra da Alegria, que esta semana conta com um artigo meu.

NOVAS "CONTRATAÇÕES" Depois da vinda da formosa Gabriela, o "Respublica" contará agora com dois novos colaboradores, que em breve aqui deixarão o seu primeiro "post": o Rui Afonso (do "Verbeteiro") e o Ricardo Manuel (dos "Meninos de Ouro"). O "Respublica" estará também aberto à participação dos leitores, que para tal devem escrever para o email respublica@portugalmail.pt.