respublica

sexta-feira, outubro 31, 2003




NO PAÍS MAIS POBRE DA UNIÃO, é difícil ter esperança. Por muito que o presidente Jorge Sampaio apele ao pensamento positivo e à postura "de ataque", é difícil ter esperança num país mergulhado na incerteza em relação ao futuro e na descrença nas instituições. E nós, jovens, temos cada vez mais vontade de sair daqui para fora... de emigrar em busca das oportunidades que este país não nos concede.




A AMNÉSIA ESTÁ NA MODA Depois da amnésia de Bibi, é vez do Partido Socialista. Quem o diz é Fátima Felgueiras, que considera que "[o PS] é um partido em amnésia constante de há um ano para cá". Terá Fátima Felgueiras pedido conselho a Rui Fra(u)de, de modo a poder fazer este diagnóstico?

quinta-feira, outubro 30, 2003




FINALMENTE, saiu a edição portuguesa de "O Cavalo de Outubro", o sexto e último volume da série "O Primeiro Homem de Roma", da australiana Colleen McCullough. Não é nenhuma obra prima da literatura, mas é bastante razoável para quem gosta de romances históricos baseados no mundo clássico.




AINDA NO EGIPTO, Eça escreveu o seguinte a respeito de Alexandria: "Havia velas riscadas de vermelho e o sol batia nos grandes edifícios brancos de Alexandria. [...] O enorme palácio do Paxá, no gosto italiano, assentava ao longe, na areia a sua massa monótona. Um céu imóvel, infinito, profundo, deixava cair uma luz magnífica. ("O Egipto: notas de viagem", 1869)






MANTENHO A ESPERANÇA de um dia visitar o Egipto, terra das pirâmides, dos faraós, do Nilo e dos paxás. Adorava conhecer Alexandria, outrora centro da filosofia e das ciências; tomar chá nos bazares das movimentados soukhs do Cairo, sentindo os sabores e odores desse país milenar.

Embora o Nilo seja a via de comunicação por excelência, desde o século XIX que existe caminho de ferro no Egipto. Quando Eça de Queirós visitou o país, por volta de 1870, viajou de combóio entre Port Said e Suez, onde assistiu à inauguração do Canal. Eça escreveu depois, a respeito dessa viagem: "Demais, os caminhos de ferro egípcios não têm uma velocidade fixa. Vão aos caprichos do maquinista, que, de vez em quando, para a máquina, desce, acende o cachimbo, ri com algum velho conhecimento de estrada, sorve minuciosamente o seu café, torna a subir bocejando e faz partir distraidamente o combóio." ("De Port-Said a Suez", Janeiro de 1870)

Será que os caminhos de ferro egípcios continuam a funcionar desta forma? Saberei um dia, se lá andar de combóio.

quarta-feira, outubro 29, 2003

NUMA ALTURA EM QUE O BIG BROTHER já anda pelos manuais escolares, a sugestão do Meu Pipi, de inserir o livro dele no programa do Secundário, faz algum sentido. Segundo ele, "por isso é que certas passagens foram suavizadas, para que o Ministério da Educação não tenha qualquer prurido em fazer d’ O Meu Pipi obra de leitura obrigatória."

Que triste país é o nosso. E não digo isto pelas alarvidades bem dispostas do Meu Pipi, mas pelas alarvidades do nosso sistema de ensino.





OS "POPULARES" que vão ao tribunal da Boa Hora apupar e insultar Carlos Silvino, são os herdeiros directos das multidões que na Idade Média assistiam deliciadas ao suplício dos condenados.

Mais do que simples castigos, as execuções públicas eram demonstrações do poder real. Fazendo uso de uma variadíssima gama de torturas, os carrascos medievais puniam os criminosos perante multidões entusiastas. Os dias de execuções eram de festa; milhares de visitantes acorriam às vilas e cidades onde estas tinham lugar, levando consigo centenas de vendedores ambulantes.

A multidão aplaudia a actuação do carrasco, sempre que este desempenhava "bem" a sua função. Ao mesmo tempo, existem relatos de multidões enfurecidas que trucidaram carrascos incompetentes. Simultaneamente executor e entertainer, o carrasco era responsável pelo apaziguamento dos demónios colectivos.

A multidão apupa o condenado porque este carrega sobre si o pecado colectivo; toda a gente em Lisboa sabia que os miúdos da Casa Pia se prostituíam no Parque Eduardo VII, mas nunca ninguém se importou. Todos, incluindo políticos, polícias, responsáveis da instituição e vulgares cidadãos, eram conhecedores da pouca vergonha que ali se passava. Mas ninguém fez nada. E dai que o Zé Povinho, desejoso de remir essa culpa e esquecer o sombrio passado do qual foi cúmplice por omissão, queira agora vexar e punir os responsáveis directos pelos crimes. É a única forma de ficar com a consciência tranquila.

Aqueles que vão à Boa Hora com o propósito de apupar "Bibi" fazem-no tanto por compaixão pelas vítimas como por má consciência.




A NORMALIDADE E A VULGARIDADE SEMPRE ME ASSUSTARAM, pelo que não posso deixar de concordar com o Virtualidades, quando este refere que "(...) a normalidade da vida é algo que aborrece e fatiga, a diferença e a originalidade é sem dúvida uma causa gloriosa que somente alguns procuram atingir!"

O Ser Humano precisa de construir uma identidade própria. As ideologias que nivelam tudo e todos por uma pretensa igualdade destroem o mérito individual. Numa sociedade democrática, tem que existir igualdade de oportunidades, na medida em que ninguém deve ser impedido de chegar onde as suas capacidades o permitem. Dificuldades de natureza económica ou social não devem obstar ao pleno desenvolvimento do Ser Humano. Ao Estado cabe zelar pela igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos, para que ninguém fique "tolhido" por não ter meios para crescer enquanto Ser Humano.

No entanto, isso não significa que todos tenham as mesmas capacidades. As pessoas são diferentes entre si. Mais do que natural, a diferença é saudável.

Aplicando estas noções à actual situação do Ensino Superior - do qual faço parte, por ser estudante universitário - não posso deixar de concordar com a lei das prescrições. Se um indivíduo não consegue fazer um curso de 4 anos e menos de 9, por alegadas "dificuldades de aprendizagem", talvez não deva seguir esse curso... sob pena de se baixarem os padrões de qualidade e de mais tarde vir a ser um mau profissional, o que os prejudicará a si mesmo e a toda a sociedade.




domingo, outubro 26, 2003




ESTA PINTURA DE JOY, intitulada "General Gordon's last stand" mostra o momento final do célebre Charles Gordon, militar britânico morto no cerco de Cartum, em 1885.

Além de ser um militar de renome, Charles "Chinese" Gordon dedicava-se também à arqueologia e à escrita. Protestante convicto, ficou célebre pelas suas pesquisas na Terra Santa.

Em 1883, o governo britânico encarregou-o de liderar a evacuação de Cartum, então ameaçada pelo exército de Mohammed Ahmed, chamado o "Mahdi" (messias). Este místico do deserto, uma das personagens históricas mais misteriosas dos últimos séculos, vencera meses antes uma bem preparada força anglo-egípcia de onze mil homens. O Sudão era então um condomínio anglo-egípcio, governado conjuntamente por Londres e pelo Paxã do Cairo. O Mahdi surgiu com uma mensagem de integrismo islâmico anti-ocidental, muito semelhante às actuais doutrinas dos talibans, Bin Ladens e afins. Reuniu um exército de vários milhares de homens, composto principalmente por nómadas do deserto, e avançou contra Cartum. O governo inglês decidiu-se pelo abandono do território, uma vez que os custos da guerra seriam maiores que os proveitos da ocupação. Mas antes era necessário evacuar os cerca de 15 mil europeus que viviam na capital sudanesa, e Gordon foi o homem escolhido para a missão:

"In I882 there arose in the Soudan, a province of Upper Egypt, one Mohammed Ahmed, who called himself the Mahdi or Messiah, and invited all true believers to join in a holy war against the Christians. Thousands of wild tribesmen flocked to his banner, and in the following year he annihilated an army of eleven thousand English and Egyptians that had attempted to subdue the revolt. Rather than send more soldiers to die in the deserts of the Upper Nile, England decided to abandon the province. But first the thousands of Europeans who had taken refuge in Khartoum and other towns of the Soudan must be rescued from their perilous position. In this crisis the Government turned to the one man who could effect the withdrawal if it was still possible, and in January, 1884, appointed General Gordon to superintend the evacuation of the Soudan." (Eva March Tappan, ed., The World's Story: A History of the World in Story, Song and Art, [Boston: Houghton Mifflin, 1914], Vol. III: Egypt, Africa, and Arabia, pp. 240-249.)


Gordon conseguiu evacuar as mulheres e as crianças, enviando-as para o Egipto protegidas por uma forte escolta. Conseguiu ainda vencer o Mahdi em vários recontros armados. O encontro entre os dois líderes ditaria o destino de ambos:

"A very determined attack upon one of the steamers coming up from Berber, at the Salboka Pass, was beaten off with great slaughter, Gordon's men firing no fewer than fifteen thousand rounds of Remington ammunition. Meanwhile, his efforts to negotiate with the Mahdi failed. "I will make you Sultan of Kordofan," he had said on arrival to the Mahdi. "I am the Mahdi," replied Mahomet Ahmet, by emissaries who were "exceedingly cheeky," keeping their hands upon their swords, and laying a filthy, patched dervish's coat before him. "Will you become a Mussulman?" Gordon flung the bundle across the room, canceled the Mahdi's sultanship, and the war was renewed. From that day to the day of the betrayal no day passed without bullets dropping into Khartoum." (idem, ibidem)

O Mahdi sitiou Cartum, mas Gordon defendeu a cidade com grande eficácia. Depois de um combate especialmente violento de que saiu derrotado, o Mahdi retirou-se para um caverna durante três dias, para meditar sobre o que fazer. Sairia da caverna munido de uma estranha profecia, que por cálculo humano ou acaso do destino cumprir-se-ia na íntegra:

"After his defeat before Omdurman, the Mahdi is said to have made a very remarkable prophecy. He retired into a cave for three days, and on his return he told his followers that Allah had revealed that for sixty days there would be a rest, and after that blood would flow like water. The Mahdi was right. Almost exactly sixty days after that prophecy there was fought the battle of Abu Klea." (idem, ibidem)


Não obstante os esforços de Gordon, a traição de um dos seus oficiais egípcios entregaria Cartum ao Mahdi. O general foi trespassado por uma lança, quando procurava refúgio no consulado austríaco:

"On January 26, Faraz Pasha opened the gates of the city to the enemy, and one of the most famous sieges in the world's history came to a close. It had lasted from March 12 to January 26---exactly three hundred and twenty days. When Gordon awoke to find that, through the treachery of his Egyptian lieutenant, Khartoum was in the hands of the Mahdi, he set out with a few followers for the Austrian consulate. Recognized by a party of rebels, he was shot dead on the street and his head carried through the town at the end of a pike, amid the wild rejoicings of the Mahdi's followers. Two days later the English army of relief reached Khartoum." (idem, ibidem)

O exército britânico de socorro chegou dois dias depois da queda de Cartum. O Mahdi e os seus correligionários foram destruídos.


quinta-feira, outubro 23, 2003

PARECE-ME CLARO QUE AS VIOLAÇÕES DO SEGREDO DE JUSTIÇA no âmbito do processo "Casa Pia" obedecem a uma estratégia concertada de desacreditação do líder socialista e dos seus mais próximos colaboradores. Acho que isso é óbvio para toda a gente. Mas Quem fornece as informações? A que propósito? E porque é o faz sempre nos momentos certos, de modo a desgastar pouco a pouco a imagem da direcção do PS?

Em minha opinião, as respostas a estas questões são as seguintes:

Quem fornece as informações? Elementos ligados à investigação, quer na PJ quer na Procuradoria.

A que propósito? Para derrubar a direcção de Ferro Rodrigues.

E quem está por trás disto tudo? A resposta é óbvia: quem tiver mais interesse em derrubar Ferro... e tendo em conta que para os partidos da maioria, a actual direcção do PS se deveria manter à frente do partido por muitos e bons anos (é como um adepto do FCP desejar que Vale e Azevedo ainda estivesse à frente do Benfica...), parece-me que a origem da tal "cabala" se encontra bem no seio do próprio Partido Socialista. Alguém no PS quer derrubar Ferro.

Face a isto, e depois da forma atabalhoada como o líder socialista tem lidado com todo este caso, politizando a justiça, procurando fazer pressões para parar as investigações e manifestando um total desrespeito pela lei (tou-me cag....."), o melhor para o PS será a demissão de Ferro e a convocação de um congresso para eleger um novo líder. E desta vez, que se proceda a uma eleição democrática e não a uma nomeação.

Ana Gomes tem assumido também um papel importante em todo este folclore. Fala de "cabala" contra Pedroso e o PS, quando se sabe que existem 5 ou 6 testemunhas contra o seu correligionário, ao mesmo tempo que dá crédito a rumores publicados num jornal francês. E os rumores contra o próprio Ferro Rodrigues, Drª Ana Gomes? Não merecem ser investigados?

O facto de realmente existir alguém que procura "queimar" a direcção do PS não significa que todo o processo seja uma montagem. Existem demasiados indícios e testemunhas, pelo que só o julgamento poderá provar a inocência de Paulo Pedroso. A revogação da medida de coacção a que o deputado foi sujeito não significa que esteja inocente, mas sim que não existe necessidade o deter. Ainda pode ser constituído arguido. E o PS, pela mão de Ferro Rodrigues, uniu o seu destino ao de Paulo Pedroso, dependendo agora do desfecho deste processo.

Em tudo isto, não deixa de existir uma certa justiça poética: Ferro Rodrigues tanto clamou contra Paulo Portas por este ser uma simples testemunha num processo de colarinho branco, e agora, quando ele próprio foi ouvido no âmbito de uma investigação de dezenas de crimes de pedofilia, recusa demitir-se e fala numa conspiração contra o PS.

Uma última nota: que moral têm a SIC e outros meios de comunicação social para criticarem - se não de forma explícita, pelo menos de maneira súbtil - as afirmações de Ferro Rodrigues a respeito do segredo de justiça, quando os media são os primeiros a desrespeitar a lei?







NÃO RESISTI A TRANSCREVER parte de um post do blog Lapsus Calami, a respeito de Tirésias, célebre adivinho da mitologia grega:

"O jovem Tirésias, passeando nos montes de Cilene, intervém para separar duas cobras que estavam a copular. Esta iniciativa valeu-lhe o acidente de se transformar em mulher. Passados sete anos, ao passar no mesmo local, voltou a encontrar as duas cobras a copular, e mais uma vez se intormeteu no meio delas, o que teve por consequência retomar o seu género de nascença.

Esta dupla vivência tornou-o habilitado a resolver uma disputa entre Zeus e a sua ciumenta mulher Hera, os quais debatiam sobre se seria o homem ou a mulher quem teria mais prazer no amor. Tirésias, sem qualquer hesitação, afirmou que se o amor se pudesse dividir em dez partes, a mulher tinha nove e o homem apenas uma. Tal resposta ecolerizou Hera (protectora das mulheres casadas), uma vez que Tirésias acabara de revelar o segredo do sexo feminino, pelo que o castigou cegando-o. Zeus para compensá-lo ofereceu-lhe o dom da profecia e uma vida longa."



Parece-me que a fábula de Tirésias nos ensina uma coisa muito simples: que saber demais pode ser perigoso, especialmente quando se trata de contrariar uma mulher ciumenta...;)

segunda-feira, outubro 20, 2003

O VELEIRO MAIS RÁPIDO DO MUNDO Apodrece nas águas da baía de Cascais, 86 anos depois de ter sido torpedeado numa demonstração naval organizada em honra do rei D. Carlos. O blog naufrágios conta a história do lendário "Termopylae", o rival do também mítico "Cutty Sark".

O jornal Público dedicou também uma notícia a esta questão, na edição do passado dia 16 de Outubro.

Não consegui encontrar modelos do "Termopylae", mas encontrei do seu grande rival, o "Cutty Sark", que era considerado o segundo clipper mais rápido do mundo, e que foi conservado até aos nossos dias:





ROMULUS AUGUSTULUS Esta é uma das poucas moedas existentes do reinado do último imperador romano, o jovem Rómulo Augustulo ("Romulus Augustulus"), i.e., o pequeno Augusto. A sua deposição, em 476 d.C., foi mais tarde considerada o marco final da existência do Império Romano do Ocidente. Encontrei um site que fala da sua ascenção ao trono imperial, da sua deposição ainda criança, e da sua vida como mero privatus numa villa da Campânia, que em tempos pertencera a Lúculo e a Tibério:

"On 28 August 476, Orestes was captured and killed by Odovacar near Piacenza -- the site of the defeat of the emperor Avitus in 456. Odovacar then occupied Ravenna, where on either 31 August or 4 September he killed Orestes' brother Paulus. As for young Romulus, the Anonymous Valesianus (8.38) reports, "Entering Ravenna, Odovacar deposed Augustulus from the rule, and taking pity on his youth he granted him his life, and because he was comely he even granted to him an income of six thousand solidi and sent him to Campania to live freely with his relatives." The chronicler Count Marcellinus painted a rather less rosy picture of Romulus' fate: "Odovacar, king of the Goths, occupied Rome. Odovacar immediately killed Orestes. Odovacar condemned Augustulus, the son of Orestes, to exile in the castle of Lucullus in Campania" ("Odoacar rex Gothorum Romam obtinuit. Orestem Odoacer ilico trucidavit. Augustulum filium Orestis Odoacer in Lucullano Campaniae castello exilii poena damnavit": s.a.476). And Jordanes similarly related, "After Augustulus had been established as emperor at Ravenna by his father Orestes, not long afterward Odovacer, king of the Torcilingi, who had with him the Scirians, Heruls, and auxiliaries from diverse peoples, occupied Italy and, after killing Orestes, deposed his son Augustulus from the rule and condemned him to exile in the Lucullan castle in Campania" ("Augustulo vero a patre Oreste in Ravenna imperatore ordinato non multum post Odoacer Torcilingorum rex habens secum Sciros, Herulos diversarumque gentium auxiliarios Italiam occupavit et Orestem interfectum Augustulum filium eius de regno pulsum in Lucullano Campaniae castello exilii poena damnavit": Getica 242). This castellum has sometimes been identified as the estate of the late-Roman Republican general Lucullus."

Segundo parece, foi a compaixão de Odoacro que salvou a vida do pequeno imperador ("Odovacar deposed Augustulus from the rule, and taking pity on his youth he granted him his life, and because he was comely he even granted to him an income of six thousand solidi and sent him to Campania to live freely with his relatives").

A deposição de Rómulo deve ter passado despercebida à maioria dos seus contemporâneos. O Senado continuou a existir, e o bárbaro Odoacro governava a Itália em nome do imperador romano do Oriente, Zenão.

Antes da sua abdicação, Augustulo teve ainda de enviar uma carta a Zenão, em que lhe entregava as insígnias imperiais e confiava a Itália a Odoacro:

"The Byzantine historian Malchus, moreover, suggests that Romulus was required to perform one final official act before going into retirement: the dispatching of a "letter of resignation" to the eastern emperor Zeno returning the imperial regalia and saying that the empire now needed but a single emperor, in Constantinople.

"When Augustus, the son of Orestes, heard that Zeno, having expelled Basiliscus, had again gained the kingship of the east, he caused the Senate to send an embassy to tell Zeno that they had no need of a separate empire but that a single common emperor would be sufficient for both territories, and, moreover, that Odovacar had been chosen by them as a suitable man to safeguard their affairs, since he had political understanding along with military skill; they asked Zeno to award Odovacar the patrician honor and grant him the government of the Italies. The men from the Senate in Rome reached Byzantium carrying these messages. On the same day messengers from Nepos also came to congratulate Zeno on the recent events concerning this restoration, and at the same time to ask him zealously to help Nepos, a man who had suffered equal misfortunes, in the recovery of his empire. They asked that he grant money and an army for this purpose and that he co-operate in his restoration in any other ways that might be necessary. Nepos had sent the men to say these things. Zeno gave the following answer to those arrivals and to the men from the Senate: the western Romans had received two men from the eastern Empire and had driven one out, Nepos, and killed the other, Anthemius. Now, he said, they knew what ought to be done. While their emperor was still alive, they should hold no other thought than to receive him back on his return. To the barbarians he replied that it would be well if Odovacar were to receive the patrician rank from the emperor Nepos and that he himself would grant it unless Nepos granted it first. He commended him in that he had displayed this initial instance of guarding good order, suitable to the Romans, and trusted for this reason that, if he truly wished to act with justice, he would quickly receive back the emperor [sc. Nepos] who had given him his positon of honor. He sent a royal epistle about what he desired to Odovacar and in this letter named him a patrician. Zeno gave this help to Nepos, pitying his sufferings because of his own, and holding to the principle that the common lot of fortune is to grieve with the unfortunate. At the same time Verina also joined in urging this, giving a helping hand to the wife of Nepos, her relative" (fr. 10: Gordon trans., pp.127-128)"


sábado, outubro 11, 2003




Esta é uma estátua do imperador romano Antonino Pio, leiloada recentemente pela Sotheby's. Não é dos Césares mais conhecidos, porque não foi um ditador notório. O seu serviço como cônsul na Itália e pró-cônsul na Ásia, levou o imperador Adriano a adoptá-lo como filho e sucessor em 138 D.C.. A estátua tem a face um homem maduro, nos seus 50 anos. Tem longos cabelos cacheados, barba cheia e bigodes, olhos profundos e testa sulcada.

Como o seu predecessor, Adriano, Antonino Pio é retratado com a barba de um filósofo, um sinal de que queria ser visto como um pensador.

Os imperadores romanos são, às vezes, tidos como tiranos, mas Antonino estava longe disso. Ele foi um administrador hábil e retraído, que evitava conscenciosamente o luxo e o desperdício e acreditava nas regras da lei. Teve uma equipa de especialistas em leis que o guiaram na revisão da legislação romana e é-lhe creditado o princípio de que todo o homem deve ser considerado inocente até prova em contrário.

Diferente da maioria dos imperadores romanos, Antonino amava loucamente a sua mulher. Um dos mais bem preservados monumentos do Fórum, em Roma, é o Templo de Antonino e Faustina, que foi construído em 141 A.C., em honra da sua esposa. Foi depois dedicado ao imperador na data de sua morte, em 161.

Num império de 150 milhões de pessoas, Antonino Pio foi capaz de manter a ordem através de todo o seu vasto território. Os historiadores, a começar por Gibbon ("Declínio e Queda do Império Romano"), são unânimes nos seus elogios ao carácter de Antonino Pio e ao sucesso do seu reinado. O seu reinado foi, inquestionavelmente, o mais pacífico e próspero da história de Roma.

Preparando a sua sucessão, ele deu a sua filha, também chamada Faustina, em casamento a Marco Aurélio, em 145. E designou o genro como sucessor. Marco Aurélio, que viria ter uma carreira lendária como um imperador-filósofo, tinha grande amor e respeito por Antonino. O catálogo da Sotheby´s cita um trecho das Meditações, de Marco Aurélio, que poderia servir como guia para um líder de qualquer era:

"Mantenha-se simples, bom, puro, sério, livre de afectação, um amigo da justiça, um adorador dos deuses, gentil, afectuoso, vigoroso nos actos bons", aconselha as ainda populares Meditações. "Faça tudo como um discípulo de Antonino. Lembre-se da sua constância em todos os actos que estavam conformes com a razão e sua imparcialidade em todas as coisas, e sua piedade, e a serenidade de sua tranquilidade, e sua doçura e seu desapreço pela fama vazia e seus esforços por entender as coisas."

A Sotheby´s vendeu esta estátua por cerca de 250 mil dólares americanos.

sexta-feira, outubro 10, 2003

SCHWARZENEGGER a vitória do austríaco nas eleições para governador da Califórnia teve pelo menos um lado positivo: Schwarzenegger anunciou a sua intenção de deixar de fazer filmes, enquanto ocupar o cargo. ;)

quinta-feira, outubro 02, 2003

O ESTADO DE SAÚDE DO PAPA Tem-se agravado nos últimos tempos. Com 83 anos, João Paulo II é um homem extremamente debilitado do ponto de vista físico. No entanto, conserva intactas as suas faculdades mentais. Apesar de minado pela doença e pela fadiga, mantém uma agenda de trabalho capaz de meter inveja a muitos jovens de 20 ou 30 anos.

Admiro o Papa. É um homem digno, bom e honesto. É coerente naquilo que acredita; não oscila consoante modas ou tendências. Abriu a Igreja ao diálogo com as outras religiões; assumiu um papel extremamente activo na defesa da paz e dos direitos humanos; pediu desculpa pelos erros da Igreja, transformando num ponto forte aquilo que antes era uma fraqueza.

O que o mundo não perdoa ao Papa é o facto de ser um pontífice conservador em termos de moral sexual. Mas o Papa não é um homem de modas, pois a doutrina católica não pode oscilar consoante as tendências do tempo. A Igreja sempre soube aculturar-se, mas sem nunca ceder em termos de doutrina. Não se pode esperar que moral judaico-cristã, com três mil anos de tradição, mude de um dia para o outro, só porque o Maio de 68 trouxe a liberdade sexual. O Papa é o chefe da Igreja, pelo que as suas posições são tomadas em nome da fé católica. Não é Karol Woytila quem fala, mas João Paulo II, Bispo de Roma e Sucessor de Pedro.

É curioso verificar que os maiores críticos de certos aspectos internos da Igreja são, na sua maioria, pessoas alheias ao catolicismo. Só é católico quem quer, e se é verdade que a Igreja tem que rever determinados aspectos da sua organização e da sua postura (por ex., a não ordenação das mulheres, a visão da sexualidade como meramente reprodutiva), também é verdade que esta é uma discussão e uma reflexão reservadas aos católicos. Quem está de fora não deve procurar interferir em questões que não compreende.

Existem muitos preconceitos contra a Igreja, na sua maioria derivados da falta de informação e de cultura. Muitos desses preconceitos são visíveis nos media, que carecem de profissionais realmente conhecedores do que se passa no seio da Igreja. Como exemplo, posso referir um caso que sucedeu há alguns anos, e que só de si é bastante elucidativo: num jornal diário de circulação nacional, a acompanhar a foto de três padres recém-ordenados prostrados em adoração ao Santíssimo, uma legenda dizia: "novos padres em adoração ao Papa"...

Outro exemplo reside nas acusações lançadas à Igreja, segundo as quais esta ajuda a propagar a SIDA por se opôr ao uso do preservativo. Outra falácia baseada no preconceito. As recomendações da Igreja destinam-se aos católicos que, supostamente, são pessoas que não levam uma vida sexual promíscua. E note-se que para aqueles "católicos" que mais facilmente cedem às tentações da carne (e que não são assim tão poucos!), a recomendação da Igreja é outra: se têm relações com várias pessoas, então que usem preservativo.

Sou católico praticante, mas admito que não concordo com determinadas posturas e atitudes da Igreja. Mas a Igreja sempre evoluiu segundo o seu próprio ritmo, o que explica o facto de ser a mais antiga instituição da mundo (apenas o Estado chinês é mais antigo que a Igreja).

AS PROPINAS Na minha Universidade, hoje foi dia de Reunião Geral de Alunos para discussão da questão das propinas. O nosso Reitor apresentou um projecto que estipula 600 euros de propinas para este ano lectivo. Os estudantes estão divididos: uns querem a demissão do reitor e a universidade fechada a cadeado. Outros, talvez com pouco interesse em ferir susceptibilidades na Reitoria, culpam o governo e aceitam a decisão do reitor.

Concordo com o facto de serem as universidades a fixar o valor das propinas, e que cursos mais caros tenham propinas mais caras. As Universidades têm que se responsabilizar pelos serviços que prestam, e de gerar receitas próprias. Só assim se consegue qualidade de ensino e evitar desperdícios. Concordo que todos tenhamos de pagar propinas, pois o país não tem condições para continuar a manter um ensino superior massificado, mal gerido e dispendioso.

No entanto, é necessário que o governo cumpra aquilo que prometeu: mais e melhor acção social (nada de "truques" na fórmula de cálculo das bolsas, como já se fala...), mais justiça social, mais investimento na qualidade, igualdade de oportunidades no acesso e frequência do ensino superior, garantias sérias de que ninguém ficará de fora por falta de meios económicos...

Sem isto, criar-se-ão ainda mais injustiças e situações de má gestão no ensino superior.