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quarta-feira, janeiro 05, 2005

AS MEMÓRIAS DE MARGUERITE Foi apenas no Natal de 2001 que li o magnífico livro "Memórias de Adriano" da escritora Marguerite Yourcenar. Nascida em Bruxelas no ano 1903, emigrou para os Estados Unidos na segunda guerra mundial, e viria a falecer no estado do Maine em 1987.

O livro foi concebido como um registo autobiográfico, que o imperador romano Adriano (r. 117-138) teria legado ao futuro imperador Marco Aurélio (r.161-180). A história foi baseada em documentos estudados pela autora, aos quais acrescentou uma excelente imaginação, pois é Marguerite quem faz as reflexões do próprio Adriano. E foram tão bem feitas, que eu quero acreditar que eram assim os pensamentos do meu imperador romano favorito.

Após algumas reflexões no primeiro capítulo, somos transportados, no segundo, para a Hispânia pagã do século I. O avô de Adriano representa um mundo que não tinha a força espiritual do Cristianismo, mas que possuia uma magia inigualável, repleta de mistérios e fenómenos fantásticos. Adriano era um provinciano, e já a nossa escritora Agustina Bessa-Luís descreveu no seu livro "Sebastião José" a solidez e a determinação férrea deste tipo muito especial de políticos.

A educação do jovem, em Roma, tem assombrosas semelhanças com o tipo de ensino que se pratica nas Universidades portuguesas. Foi nesse ambiente que se iniciou a relação íntima entre o jovem e a cultura Grega. O trabalho num tribunal foi seguido pelo serviço militar. E sem ele Adriano nunca teria sido imperador, pois foi na guerra que ganhou o respeito do imperador Trajano (r.98-117).A conquista sangrenta da Dácia e a guerra na Ásia estão entre as melhores descrições que o livro possui.
Foi no rescaldo desta que Adriano se tornou imperador.

Os capítulos seguintes oferecem lições de poder, felicidade e inevitabilidade. A última guerra de Adriano acabaria por ser o momento mais sombrio do seu próspero reinado. Este livro fantástico deu-me a conhecer um homem admirável, que teve uma vida literalmente do tamanho do mundo. E a maior lição que dele obtive é extremamente simples: Carpe diem.