Cinco razões para o meu Não
- O que está em causa no referendo ao aborto não é a despenalização. O que está verdadeiramente em causa é a liberalização, pura e simples. Ora é possível despenalizar sem liberalizar. A solução passa por despenalizar o aborto e, ao mesmo tempo, desencorajá-lo. E ainda, apoiar as mulheres em dificuldades, proteger a maternidade no emprego e incentivar a adopção.
- O aborto clandestino não vai terminar, caso o ‘Sim’ vença. Milhares de mulheres vão continuar a abortar de forma clandestina, antes e além das 10 semanas.
- Ao contrário do que afirmam os defensores do ‘Sim’, a experiência dos países europeus onde a prática é legal demonstra que a liberalização conduziu ao aumento do número de abortos. Em Espanha, segundo o insuspeito Eurostat, o número de abortos cresceu 375% (!) nos sete anos após a liberalização. No país em que a pílula do dia seguinte é usada massivamente como meio contraceptivo, nada de bom virá da liberalização do aborto.
- Creio que apenas por excesso de wishfull thinking poderemos esperar moderação no recurso ao aborto, caso o Sim vença, tendo em que conta que não a temos em tudo o resto.
- Há muitas coisas más no mundo, contra as quais nenhuma lei é 100% eficaz. Mas isso não significa que as devemos despenalizar e liberalizar, pois não?
Por fim, creio que o cerne da questão não foi ainda discutido nesta campanha. A verdadeira questão que será colocada aos portugueses no dia 11 de Fevereiro será a seguinte: o que é mais importante? A vida de um ser humano indefeso – ainda que em formação, ou em potência -, ou o bem estar físico e psicológico da mulher que o concebeu? Para quem tiver um mínimo de consciência, este é um terrível dilema (conceito em que existem duas soluções para um determinado problema, sendo que nenhuma delas é aceitável).
A minha esperança é que, dos dois lados da barricada, cada um de nós responda a este dilema de forma reflectida.
2 Comments:
É o destino... tinha este blog guardado nos marcadores e não me lembrava porquê... No dia em que decido averiguar foi exactamente o dia em que me deu a resposta! Ainda bem...
Acho que as 3 perguntas que tinha colocado faziam sentido, as recentes 5 razões para o seu NÃO, não fazem sentido nenhum... não pode ter um visão tão redutora das coisas!
Se, a seu ver, a solução passa pela despenalização do aborto e, ao mesmo tempo, desencorajá-lo, porque não dá o primeiro passo?despenalizar... já que não faz sentido despenalizar e não oferecer condições para serem efectuadas IVGs, quer que as mulheres sejam despenalizadas, mas que façam tudo clandestinamente na mesma?!?!?
Correcto, o aborto clandestino não vai acabar, mas vai reduzir dos números assombrosos que hoje se verificam, para situações esporádicas... Acaba também a verdadeira máfia abortiva portuguesa, com clínicas clandestinas a fazerem rios de dinheiro à custa de abortos sem as mínimas condições médicas.
O número de abortos nos países que legalizaram aumentou... não sabe! primeiro porque ninguém sabe o número exacto de abortos clandestinos efectuados, depois porque é natural que a habituação das mulheres às novas condições, já que é difícil assumir publicamente um aborto, tal como entrar num hospital para o fazer...
E não me venha com as tretas do wishfull thinking, e que o povo português é um coitadinho, analfabeto, burro e com nada, mas mesmo nada moderado! Somos dos povos mais conservadores da Europa...
E, finalmente, nenhuma lei é 100% eficaz, até pode ser, mas poucas são as que apresentam uma eficácia semelhante à que apresenta a actual legislação da IVG! E mesmo que assim não fosse, o facto de haver muitas leis inadequadas não é desculpa para manter uma que não faz sentido se manter... Para quê o facilitismo? Ainda por cima envolvendo não só o trauma psicológico das mulheres, como toda a problemática do aborto clandestino!
Quanto à que aponta como a "verdadeira questão que será colocada aos portugueses" não poderia estar mais errado! O está em questão pouco tem a ver com isso... essa questão não se coloca no referendo, coloca-se todos os dias há muito tempo... quem quer fazer um aborto faz! o aborto só vem alterar as condições...
Já houve um referendo, há 8 anos atrás... o Não ganhou e tudo se manteve na mesma, mal... muito mal... Quer que o Não ganhe outra vez, e tudo se mantenha como até aqui esteve? Não acha que basta de cinismo e hipocrisias?
Sinceramente, continuo a achar muito fácil de perceber...
P.S.-Tinha comentado como anónimo na posta de 2 de janeiro
By Zé Rui Peixoto, at segunda-feira, janeiro 29, 2007 3:39:00 da manhã
Volto a repetir: creio que o que está verdadeiramente em causa neste referendo é responder ao terrível dilema a que aludi (o que é mais importante? a vida intra-uterina ou o bem estar físico e psicológico da mulher grávida?). E um dilema é um problema com duas soluções, sendo que nenhuma delas é 100% aceitável. Compreendo, no entanto, que muita gente que está consciente deste dilema vote 'Sim'. Eu voto 'Não'. O resto são questões laterais, de que os partidários do Sim se servem para conquistar o eleitorado 'moderado' (como o célebre argumento "estamos todos contra o aborto", "ninguém é a favor" - excepto talvez as feministas radicais que gritam desalmadamente "na minha barriga mando eu!"). Além disso, importa desmitificar as coisas: O aborto clandestino não vai acabar ou tornar-se residual (vão continuar a realizar-se aos milhares, após as 10 semanas). O número de abortos vai provavelmente aumentar, à semelhança do que aconteceu no resto da Europa, porque se vai tornar uma coisa fácil e, quiçá, banal. Além disso, é possível despenalizar sem liberalizar (da mesma forma que o consumo de droga está despenalizado, mas não liberalizado). O que o Sim quer, na verdade, é que o aborto não só seja despenalizado, como passe a ser um direito e pago pelo Estado. O que eu gostava é que assumissem o que querem, de uma vez por todas. Se querem que a mulher seja livre de abortar simplesmente porque 'sim', assumam-no. Não venham com argumentos desonestos do ponto de vista intelectual.
By Gabriel Peregrino, at segunda-feira, janeiro 29, 2007 1:47:00 da tarde
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