ANTI-TABAGISMO Na sua coluna no jornal brasileiro Folha Online, João Pereira Coutinho (JPC) escreveu o seguinte:
"Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis. Miseráveis mas realizadas: no mundo moderno, não fumar é marca de saúde física, mental --e, atenção, gente, moral também. Basta ver as medidas sanitárias que a Europa pretende aplicar. A curto prazo, os pacotes de cigarros dos europeus terão imagens-choque para afastar fumantes ativos ou passivos, presentes ou futuros. Como no Brasil. Mas pior, muito pior que o Brasil: corpos mutilados pelo câncer, cadáveres putrefatos. E, claro, a imagem triste de um pênis triste, precocemente arruinado. A idéia não é prevenir. Os fanáticos querem mais: querem humilhar o fumante, enfiar o fumante numa jaula de circo e dizer: "Olhem só como é decadente! Olhem só como é impotente!" Hitler não faria melhor."
Acredito que JPC conheça não-fumadores "infelizes". Confesso que também eu conheço, embora em número inferior ao dos não-fumadores aparentemente felizes com quem tenho tido a sorte de privar - digo "aparentemente", porque nunca poderemos ter certezas quanto à "felicidade" dos outros. Conheço, por outro lado, muitos fumadores que diria "infelizes". E, também, fumadores que morreram vítimas de cancro do pulmão... parece-me óbvio, portanto, que os fumadores saem a perder desse estranho "cômputo da felicidade".
Este artigo de João Pereira Coutinho reproduz uma opinião muito em voga entre certos fumadores: aquela segundo a qual os "fanáticos" anti-tabagistas têm um gosto especial em perseguir e punir os prevaricadores que não resistem a "dar umas passas". Acredito que existam casos desses (já vi um pouco de tudo, nesta vida!), mas não creio que seja essa a motivação da generalidade das pessoas que, como eu, são a favor da proibição do tabaco em locais públicos. Nós não queremos castigar ninguém, ou impôr à força a nossa forma de pensar. Nem tão pouco queremos "que os outros não fumem". Apenas pretendemos ver respeitados os nossos direitos. A nossa liberdade termina quando começa a dos outros.
Se os fumadores querem continuar a inalar veneno, que o façam livremente, pois estarão no seu pleno direito. Mas que, por favor, não nos obriguem a fazer-lhes companhia. Aliás, esta proibição de fumar em locais públicos não tem por objectivo reduzir o número de fumadores, como faz crer JPC. O que se pretende é, antes de mais, proteger os fumadores passivos. E se o Estado se vê obrigado a recorrer ao "papão" da repressão - o último argumento dos reis, como a guerra de antanho -, é porque muitos fumadores não respeitam as mais elementares regras de boa educação e sã convivência social. Por esta óptica, fumar na presença de outras pessoas sem a necessária autorização será tão anti-social como o é permitir que um animal de estimação deixe "cócó" nos passeios públicos.
Quanto à analogia com a política de Hitler contra o tabaco, penso que serve apenas para adornar a prosa do autor e para banalizar ainda mais as comparações com o Nazismo. Comparações essas que, cada vez mais, adquirem o condão de relativizar a monstruosidade e o horror do regime nazi.
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