respublica

terça-feira, julho 15, 2003

HERMAN SIC Não costumo ver o programa do Herman José. Não gosto do estilo que tem caracterizado os seus programas desde o "Herman 98". É um homem inteligente, sem dúvida, e um artista talentoso. Adorava os fantásticos "Hermanias", "Tal Canal", "Herman Enciclopédia", etc... mas não gosto dos talk shows do Herman. Baseiam-se na bajulação e culto da personalidade das figuras públicas. É triste ver como políticos, artistas, desportistas ou figuras do nosso provinciano jet set quase fazem fila para ir ao programa do Herman. Irrita-me esse ambiente reverencial em que meia dúzia de medíocres elogiam o trabalho medíocre de outros tantos medíocres. O Eça ficaria maravilhado.

Também não gosto de certas atitudes do Herman, como dizer que "(...) a Justiça devia ter em conta o facto de muitas pessoas atestarem o bom carácter do Carlos Cruz". Não sabe ele que a Justiça deve ser cega? E que num país de compadrios e lobbies, os mais poderosos têm sempre quem lhes ateste o seu bom carácter?

Mais se poderia dizer sobre o programa (piadas de mau gosto, etc), mas este post tem outra razão de ser. Contaram-me que no passado domingo o Herman Sic teve a presença do indivíduo conhecido pela alcunha de "emplastro", que ficou célebre por aparecer em todos os directos, "colando-se" aos repórteres. Pelo que me contaram e segundo o blog virtualidades, o Herman terá amplamente gozado o homem. Conseguir audiências à custa da ridicularização de deficientes mentais é triste. Mais que triste, é baixo.

segunda-feira, julho 14, 2003

A FENIX No mesmo site encontrei uma descriçao da fenix, a lendaria ave que renasce das cinzas:

"Ovídio nos fala da seguinte maneira sobre a Fênix: "A maior parte dos seres nasce de outros indivíduos, mas há uma certa espécie que se reproduz sozinha. Os assírios chamam-na de fênix. Não vive de frutos ou de flores mas de incenso e raízes odoríferas. Depois de ter vivido quinhentos anos, faz os ninhos nos ramos de um carvalho ou no alto de uma palmeira. Nele ajunta cinamomo, nardo e mirra, e com essas essências constrói uma pira sobre a qual se coloca, e morre, exalando o último suspiro entre os aromas. Do corpo da ave surge uma jovem fênix, destinada a viver tanto quanto a sua antecessora. Depois de crescer e adquirir forças suficientes, ela tira da árvore o ninho (seu próprio berço e sepulcro de seu pai) e leva-o para a cidade de Heliópolis, no Egito, depositando-o no templo do "Sol".

Tal é a narrativa de um poeta. Vejamos a de um narrador filosófico. «No consulado de Paulo Fábio (34 de nossa era), a milagrosa ave conhecida no mundo pelo nome de fênix, que havia desaparecido há longo tempo, tornou a visitar o Egito» - diz Tácito. «Era esperada em seu vôo por um grupo de diversas aves, todas atraídas pela novidade e contemplando maravilhadas tão bela aparição». Depois de uma descrição da ave, que não difere muito da antecedente, embora acrescente alguns pormenores, Tácito continua: «O primeiro cuidado da jovem ave, logo que se empluma e pode confiar em suas asas, é realizar os funerais do pai. Esse dever, porém, não é executado precipitadamente. A ave ajunta uma certa quantidade de mirra, e, para experimentar suas forças, faz freqüentes excursões, carregando-a nas costas. Quando adquire confiança suficiente em seu próprio vigor, leva o corpo do pai e voa com ele até o altar do Sol, onde o deixa, para ser consumido pelas chamas odoríferas.» Outros escritores acrescentam alguns pormenores. A mirra é compacta, em forma de um ovo, dentro do qual é encerrada a fênix morta. Da carne da morta nasce um verme, que quando cresce se transforma em ave. Heródoto descreve a ave, embora observe: «Eu mesmo não a vi, exceto pintada. Parte de, sua plumagem é de ouro e parte carmesim; quanto a seu formato e tamanho são muito semelhantes aos de uma águia.»

O primeiro escritor que duvidou da crença na existência da fênix foi Sir Thomas Brownw, em seus «Erros Vulgares», publicado em... 1646. Suas dúvidas foram repelidas, alguns anos depois, por Alexander Ross, que diz, em resposta à alegação de que a fênix aparecia tão raramente: «Seu instinto lhe ensina a manter-se afastada do tirano da criação, o homem, pois se fosse apanhada por ele, seria sem dúvida devorada por algum ricaço glutão, até que não houvesse nenhuma delas no mundo." No livro V do «Paraíso Perdido», Milton compara a uma fênix o Anjo Rafael descendo à terra:


Assim, cortando o céu, voa ligeiro,

Entre mundos e mundos navegando,

Ora os ventos polares enfrentando,

Ora cortando, calmo, o róseo espaço,

Até que alcança as altaneiras águias,

Crêem ver neles as aves uma fênix

Que cortasse os espaços, solitária,

Em procura da Tebas egipciana,

Para os restos mortais no radioso

Templo do Sol guardar."

APOLO, DEUS SOLAR Encontrei uma descriçao do deus Apolo num site sobre mitologia greco-romana:


"Esplendente é o epíteto que se dá a Apolo, considerado deus solar. Apolo atira ao longe as suas setas, porque o sol dardeja ao longe os seus raios. É o deus profeta, porque o sol ilumina na sua frente e vê, por conseguinte, o que vai suceder; é o condutor das Musas e o deus da inspiração, porque o sol preside às harmonias da natureza; é o deus da medicina, porque o sol cura os doentes com o seu benéfico calor.

Apolo, o Sol, o mais belo dos poderes celestes, o vencedor das trevas e das forças maléficas, tem sido representado pela arte sob vários aspectos. Nos tempos primitivos, um pilar cônico, colocado nas grandes estradas, bastava para lembrar o poder tutelar do deus. Quando nele se pendem as armas, é o deus vingador que premia e castiga; quando nele se pendura uma cítara, torna-se o deus cujos harmoniosos acordes devolvem a calma à alma agitada.

O Apolo de Amicleu, reproduzido em medalhas, pode dar uma idéia do que eram, na época arcaica, as primeiras imagens do deus, sensivelmente afastadas do tipo que a arte adotou mais tarde. Em bronzes de data menos antiga, mas ainda anteriores à grande época. Apolo está representado com formas mais vigorosas do que elegantes, e os anéis achatados da sua cabeleira o aproximam um pouco das figuras de Mercúrio.

No tipo que tem dominado, Apolo usa cabelos longuíssimos, separados por uma risca no meio da cabeça e afastados de cada lado da testa. Às vezes, eles se prendem atrás, na nuca, mas, outras, flutuam. Vários bustos e moedas nos mostram tais diferentes aspectos.

Apolo é sempre representado jovem e emberbe, porque o sol não envelhece. Algumas das suas estátuas o mostram até com os caracteres da adolescência, por exemplo o Apollino de Florença. No Apolo Sauróctone, o jovem deus está acompanhado de um lagarto, que ele sem dúvida acaba de excitar com a flecha para o arrancar ao torpor e obrigá-lo a caminhar. Apolo, sem caráter, é considerado o sol nascente, ou o sol da primavera, porque a presença do lagarto coincide com os seus primeiros raios."

MORREU COMPAY SEGUNDO Embora ja nao fosse novo (95 anos), a sua o morte surpreendeu-me. Ainda ha uns dias vi-o na Euronews, rijo como sempre, em que dizia que tentaria chegar aos 116 anos. A musica esta de luto.


quinta-feira, julho 10, 2003

CERCA DE 290 MIL MORTOS É o balanço de vítimas dos vinte e cinco anos da ditadura de Saddam Hussein. Desenganem-se os anti-americanistas, pois quem avança esta soma é a insuspeita Human Rigths Watch. Este número refere-se a opositores políticos (xiitas, comunistas e curdos), e não inclui as vítimas da guerra Irão-Iraque (1980/1988), o mais longo conflito convencional do século XX, e que teve origem na pretensão de Saddam conquistar ao Irão o Chat-Al-Arab. Ainda segundo a mesma organização, foram encontradas até agora 65 valas comuns.



OS DESCENDENTES DE THOMAS JEFFERSON continuam envolvidos em polémicas. Os exames de ADN provaram que Jefferson, um dos pais fundadores dos EUA e terceiro presidente do país, teve um filho de uma das suas escravas negras. Mas as discussões continuam entre as várias centenas de descendentes "legítimos" e "ilegítimos", devido ao direito destes últimos a serem sepultados no jazigo familiar de Monticello. Lucian K. Truscott IV, descendente de Thomas Jefferson por via de um dos seus filhos "legítimos", narra as discussões familiares num artigo publicado no "New York Times".

A CRISE NÃO CHEGOU À LÍBIA Mohamar Khadafi dispendeu a módica soma de 13 milhões de dólares para reconstruir o Hotel Avenida, em Maputo, simplesmente porque era para si imperativo permanecer num hotel de 5 estrelas. O líder líbio participa na cimeira de chefes de estado e de governo da União Africana.

quarta-feira, julho 09, 2003

PARALELISMOS HISTORICOS É frequente comparar os Estados Unidos à Roma Imperial. Tal como o império dos césares impôs ao mundo a Pax Romana, os states impõe ao mundo a Pax Americana. As semelhanças entre os dois impérios sao imensas, entre as quais podemos referir: domínio das rotas comerciais e dos pontos estratégicos; supremacia militar sobre todos os rivais e aliados; capacidade de intervenção global; domínio do poder político por parte de uma minoria poderosa e esclarecida (creio que a república americana é quase tao oligárquica como a respublica romana); vanguarda da tecnologia.

Mas ao mesmo tempo que podemos comparar a América à Roma Imperial, podemos tambem estabelecer uma analogia entre a Europa actual e a Grécia dos seculos III, II e I a.C. A Grécia estava dividida em inúmeras cidades-estado, pelo que era presa fácil para os seus vizinhos orientais (persas, sírios, macedónios e pônticos). Roma interviu em defesa das liberdades gregas, quando os selêucidas e os macedónios invadiram a Grécia. Expulsos os invasores, voltaram as divisões e as insurreições, pelo que os romanos se viram forçados a anexar o pais.

Claro que o interesse romano era, antes de mais, impedir o avanço dos orientais na direcção da Itália e manter intactos os seus interesses comerciais na Grécia e Ásia Menor. Tal como os americanos vieram em defesa da Europa contra os Nazis por saberem que uma Europa dominada pelos alemães seria mais tarde uma séria ameaça.

MUITO LONGE DA DEMOCRACIA Andrew Nathan, sinólogo e professor de Ciencia Politica da Columbia University, esteve em Lisboa para uma conferência no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas (ISCSP). O sinólogo concedeu uma entrevista ao Publico, em que considera que a China continua muito afastada da democracia, mas que já esteve mais longe de se tornar um Estado de Direito.


"GENETIC AGRICULTURE TO FEED THE RICH, NOT THE WORLD" Um interessante artigo publicado no conceituado jornal australiano "Sydney Morning Herald", assinado por Gyorgy Scrinis, a respeito dos produtos agricolas geneticamente modificados.

"WILL THE WORLD LEARN TO LOVE PRESIDENT BUSH?" Um interessante ensaio publicado na revista "Foreign Policy". Aqui fica um excerto:

"Editorials worldwide denounced the U.S. president for attacking Iraq. In Britain, The Financial Times deemed the attack «hard to justify in terms of international law, or any conception of a new world order.» In Jordan, Al Dustur called it a «cheap attempt» to divert attention from the White House’s failed economic plan. In Italy, La Stampa said the president «finds himself at the center of a domestic and international debate over his personality and his capacity for decision-making, in other words, his leadership.» Harsh words for an American president. Or more specifically, harsh words for Bill Clinton. Those editorials were published following a U.S. airstrike against Iraqi President Saddam Hussein in 1993. Ten years later, the international community waxes nostalgic about Clinton, often forgetting that during the early part of his presidency they routinely derided him as inexperienced, indecisive, and obsessed with the U.S. economy at the expense of global affairs."

TÃO AMIGOS QUE ELES ERAM Depois da polémica causada pelos comentários de Berlusconi no Parlamento Europeu, agora foi a vez do seu ministro do Turismo insultar os turistas alemães e de o chanceler Schroeder, em represália, anunciar o cancelamento das suas férias em Itália... continuam assim as confusoes entre Berlusconi e Schroeder.

No blog "Lapsus Calami" encontrei uma interessante reprodução dos mitos greco-romanos referentes às origens da Europa, e que ajudam a explicar o comportamento dos europeus:

"Europa era uma bela jovem síria filha de um rei fenício, que foi raptada por Júpiter quando passeava à beira mar. Júpiter, assolado de uma grande paixão, raptou-a disfarçando-se de um boi manso (para fugir à ciumenta mulher Juno) e lambeu os pés de Europa ganhando-lhe a sua confiança. Europa acariciou o boi, adornou os seus cornos com flores e subiu-lhe para o dorso e este correu para longe vindo a parar na praia de Creta onde revelou a sua forma natural. Do amor dos dois consumado sobre um leito de flores silvestres nasceram dois filhos: Minos e Radamanto.

Tanto Minos com Radamanto foram juízes dos infernos. Contudo enquanto Minos (Rei de Creta) na vida terrena foi uma personagem maléfica que após a conquista de Atenas exigia como tributo sete rapazes e sete raparigas para alimentar o Minotauro (no seu labirinto) e Radamanto, rei da lícia, era justo, integro virtuoso e imparcial.

A figura da Europa fruto da união do Deus maior do Olimpo com uma mortal de que resultaram filhos de carácter oposto, é uma boa lenda que encerra as contradições que ainda hoje se vivem no nosso continente. A ideia de superioridade cultural (vinda da ascendência divina) e os frutos contraditórios - justo-Radamanto e o discricinário Minos - (vinda talvez da ascendência mortal), explicam os imprevisíveis destinos dos descendentes de Europa, que dificilmente se acharam como iguais."

A ESTUPIDIFICAÇAO Foi anunciado que os programas "Bombordo" e "O Lugar da História" serão retirados da grelha de programação da RTP2, assim que este se transformar no "Canal Sociedade". Vão acabar com os melhores programas da televisão portuguesa. Cada vez mais, o cabo é a solução para quem quer ver televisão de qualidade. E o chamado "Canal Sociedade" será afinal um espelho fiel da nossa sociedade mesquinha e provinciana.


terça-feira, julho 08, 2003

PRETENDENTES AO TRONO DO CRISÂNTEMO Segundo o "The Japan Times", investigadores modernos dizem que Nara, a cidade do primeiro imperador japonês (Jimmu, séc. VI/VII), teria sido fundada por coreanos... o que significa que a primeira dinastia imperial - da qual ainda há descendentes na zona de Nara, e que há séculos reclamam o trono - seria de origem coreana. Para alguns japoneses, a notícia não é das mais simpáticas.

A SUBIDA (II) O Brasil também subiu no ranking do IDH... o país irmão subiu 4 pontos percentuais, sendo também a nação que mais subiu no dito ranking, desde a sua criação em 1975. Quem o diz é o conceituado jornal "Estado de S. Paulo", na sua edição de hoje.

BEST FRIENDS (II) Tony Blair concedeu uma entrevista ao Le Monde (publicada na edição de hoje do jornal parisiense), em que explica o porquê da sua opção por uma forte relação transatlântica.



BEST FRIENDS A Ministra dos Negocios Estrangeiros espanhola, Ana Palacio, tornou-se amiga pessoal do Secretário de Estado Colin Powell, devido à crise do Iraque. Leiam a coluna Diplomatic Dispatches do "Washington Post", assinada por Nora Boustamy...


SÓ AGORA? As autoridades internacionais da Bósnia-Herzegovina decidiram congelar os bens do ex-presidente da República Sérvia da Bósnia, Radovan Karadzic. Acusado de crimes contra a humanidade e ha anos varios procurado pelas forças da ONU, Karadzic permanece escondido em algum local remoto, protegido pelos seus partidários.


A RESISTÊNCIA IRAQUIANA (III) Operações pontuais ou guerrilha organizada? Sobre esta questão recomendo a leitura de um excelente artigo de análise, da autoria da jornalista Alexandra Prado Coelho.

A SUBIDA Portugal subiu no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Passámos do 28º para o 23º lugar, num total de 175 paises avaliados.

AO QUE ELES CHEGARAM A Argentina, outrora o celeiro do mundo, tem problemas graves de subnutriçao. Cerca de 17 por cento dos agregados familiares sofrem uma "penuria aguda" de alimentos. O novo presidente lançou agora um plano contra a fome, com um orçamento inicial de 190 milhoes de euros.

segunda-feira, julho 07, 2003

EXECUTIVO DE HONG KONG NAO CONSEGUIU APROVAR O ARTIGO 23 O infame "artigo 23", uma proposta de alteração à Lei Básica do Território, previa restrições às liberdades cívicas, incluindo a possibilidade de o governo liderado por Tung Che Wa intervir na actividade dos media.

A referida alteração à lei Básica contou com a oposição dos movimentos democráticos e da população em geral, que teme a instauração de um regime repressivo semelhante ao da China continental. O Executivo acabou por retirar o projecto, embora a oposição democrática veja esta decisão como uma "retirada estratégica". Para saber mais, visite o site da Asia News.



MOEDAS ANTIGAS Para quem se dedica à numismática: um site dedicado a moedas romanas. Contém exemplares da República, Alto e Baixo Império e ainda imitações do período bárbaro que se seguiu à Queda de Roma.

VALE E "BIBI" O advogado de Carlos Silvino, arguido no processo Casa Pia e mais conhecido pela alcunha de "Bibi", denunciou pressões da parte de João Vale e Azevedo e de José Braga Gonçalves para que não revelasse determinados pormenores a respeito do envolvimento de Carlos Cruz no referido processo. Isto parece-me uma completa idiotice... deixem o Vale e Azevedo em paz, que ele já tem muitos processos com que se entreter...

Calculo que como Vale e Azevedo e Braga Gonçalves são os bibliotecários da prisão da PJ (é uma forma de terem certos privilégios), devem tê-lo ameaçado com a "cassação" do cartão de leitor...

sexta-feira, julho 04, 2003

Hobbes, Kagan e Kant


No seu "Paradise and Power: America and Europe in the New World Order" (2003), Kagan usa uma frase que acabou por ficar célebre: "os americanos são de Marte e os Europeus são de Vénus". Para Kagan, os europeus vivem no sonho da paz perpétua entre as nações, um tema recorrente no pensamento político europeu, desde o Abade Saint Pierre, Rousseau e Kant (Zum Ewigen Frieden, 1795/96). Esse paraíso sem guerra está a ser construído pela União Europeia, através da instituição de tratados internacionais que regulam as relações entre os estados membros como se regulasse as relações entre cidadãos. Ou seja, os estados europeus ultrapassaram já o "estado de natureza" descrito por Hobbes (século XVII), em que não existiam leis imanadas por um poder superior que garantissem a segurança dos cidadãos. Nesse estado de natureza, "o homem era lobo do homem", pois o que interessava era a sua sobrevivência. Nenhuma norma moral ou ética se sobrepunha a essa necessidade de sobrevivência.

Os americanos, enquanto Estado, vivem ainda nesse estado de natureza. Para eles (e para o resto do mundo, à excepção da UE), as relações internacionais regem-se por essa regra que diz que não há regras! Se queremos refrear os instintos predatórios dos falcões de Washington, a bem de um mundo mais justo, pacífico e equilibrado, devemos procurar entender as regras do jogo e ganhar importância no contexto internacional. Isso consegue-se com a afirmação da nossa política externa e segurança comuns, de modo a conseguirmos um mundo multipolar, sendo as relações internacionais reguladas por organismos superiores, como a ONU. Os problema dos governos europeus é que falam muito mas fazem pouco! As palavras não correspondem aos actos, pois não existe vontade política. A Europa tem que assumir a posição político-militar que lhe é devida pela sua importância económica. É altura de a Europa assumir as suas responsabilidades, a bem de um mundo mais equilibrado, justo e pacífico.

A demissão de Charles Taylor

O polémico presidente da Libéria, Charles Taylor, anunciou a sua futura demissão, assim que uma força da ONU entre no país. A demissão de Taylor, acusado de crimes de contra a humanidade, é resultado das pressões americanas. Recorde-se que a Libéria é um estado fundado no século XIX por escravos americanos libertados. Mais uma vez, o Império em acção!


O regresso de Saddam


A Al-Jazeera divulgou uma mensagem radiofónica do ex-presidente iraquiano, Saddam Hussein. Na dita alocução, Saddam apelava à resistência contra as tropas anglo-americanas, referindo ainda que a luta será levada a cabo através de "células de Jihad" espalhadas por todo o país.

Este regresso de Saddam parece-me extremamente preocupante. E se ele se aguentar anos e anos a fio na clandestinidade? Uma resistência prolongada por parte dos partidários de Saddam pode atrasar a esperada constituição de um governo legítimo e a retirada das forças da coligação. E quanto mais tempo estas permanecerem no Iraque, mais perigo existe de se afundarem no pântano de um novo Vietname...

quinta-feira, julho 03, 2003

Misteriosa criatura descoberta no Pacífico

Uma misteriosa massa de carne gelatinosa com cerca de 12 metros deu à costa no sul do Chile, demonstrando que o mar poderá estar ainda cheio de criaturas por descobrir.

O artigo é da National Geographic Society.

O papel da Europa na Nova Ordem Mundial: Eu, federalista, me confesso!

Estou desiludido com a anunciada Constituição Europeia. Parece ter sido feita para agradar a gregos e a troianos! Além disso, os convencionais são obrigados a lidar com polémicas menores e mesquinhices que não lembram ao diabo! Como resultado disso, teremos uma constituição europeia ambígua e dada a interpretações dúbias, quando o que se queria era sintetisar ao máximo o "tecido" jurídico comunitário.

Federalismo versus Directório

Sou federalista. Acredito que a Europa deve ocupar uma posição política e militar adequada ao seu poder comercial e económico. Creio também que o federalismo é a melhor solução para países como Portugal; somos aquilo a que se chama uma "potência média" na Europa (e não um "país pequeno", como muitos julgam), a quem o federalismo garante a defesa dos seus interesses. Ao contrário do que muitos pensam, a maior ameaça à nossa independência nacional provém da instituição de um directório dos grandes e não da criação de uma confederação de estados-nação em que os direitos e prerrogativas dos estados estejam bem defendidas. E reparem que digo confederação de estados-nação e não federação.

Bem sei que será muito difícil caminhar nesse sentido, e por uma simples razão: as grandes potências (R.U., França e Alemanha) só aceitarão uma perda da sua importância mundial em detrimento da União Europeia se forem elas a conduzi-la. Enquanto funcionou o "motor" da Europa, através do eixo Paris-Bona, interessava aos franceses e aos alemães a criação de uma federação por si dirigida. Eram eles que condiziam, logo, não perdiam nada. O problema foi quando Blair entrou no "jogo" europeu, depois do afastamento voluntário do britânicos no tempo dos governos Tatcher e Major; aos ingleses não interessa uma Europa Federal, mas sim uma comunidade económica onde possam exercer a sua influência mercê de alianças estratégicas com países como Portugal, a Alemanha, a Holanda, a Itália e os países que entrarão para a UE em 2004. Quanto mais influência tiverem no contexto europeu, mais importância terão aos olhos de Washington, o que é o mesmo que dizer no resto do mundo.

A defesa europeia

É curioso ver como os principais anti-americanistas são também os maiores opositores ao aumento do investimento na defesa, por parte dos países europeus. São contra o imperialismo americano, mas ao mesmo tempo são contra o reforço da posição diplomático-militar da Europa. É impossível ter peso diplomático sem força militar. É uma regra básica da política internacional. Além de que o nosso atraso em relação aos EUA pode pôr em causa a própria sobrevivência dos países europeus; o que acontecerá quando os americanos deixarem de nos defender? A resposta é simples: seremos presa fácil dos nossos vizinhos asiáticos e mesmo norte-africanos... acham que exagero? Basta recordar que a história da Europa foi toda ela feita de invasões vindas de Leste e Sul. E que daqui a 100 anos o panorama estratégico será muito diferente. É pela segurança dos nossos netos que temos de investir na defesa. Antes que seja tarde demais.

Para terem uma ideia das carências europeias em termos de defesa, basta lembrar o seguinte:

- a percentagem do PIB europeu investido na defesa é metade da percentagem investida pelos EUA.

- os países europeus têm uma capacidade de projecção de forças extremamente reduzida. O próprio R.U., que juntamente com a França é a maior potência militar da Europa Ocidental, precisa de fretar vôos charter para transporte de tropas e materiais. Os países europeus teriam mesmo dificuldade em intervir no seu próprio continente, como ficou provado pelas intervenções na Bósnia e no Kosovo.

- Temos um atraso de 30 anos em relação aos EUA, em termos de investigação e investimento em novas tecnologias.

- Alguns especialistas calculam que bastava um aumento de 1% do IVA para que os países europeus pudessem investir na defesa em termos satisfatórios que permitam, dentro de 15 ou 20 anos, tratar os EUA numa relação de igualdade. No entanto, não existe vontade política para fazer aquilo que tem de ser feito!


Ninguém gosta da guerra nem quer a guerra. Mas para a evitar, temos que ter capacidade de dissuadir todos os eventuais inimigos. A máxima romana "Si vis pacem, para bellum", aplica-se hoje mais que nunca. E repito que se os EUA têm hoje um poderio desmesurado que lhes permite fazer tábua rasa dos organismos internacionais e agir unilateralmente, é por desleixo dos europeus. Não adianta nada chorar e protestar contra as intervenções americanas se não fizermos o mais importante: adquirir força diplomática mercê de um investimento redobrado na defesa, que nos permita a construção de um mundo multipolar e equilibrado.

A importância da relação transatlântica

Temos de ter a consciência que a "Europa Potência" nunca poderá sê-lo numa relação de rivalidade com os EUA. A estabilidade do mundo depende da aliança entre a Europa e a América, para não dizer que precisamos tanto deles a nível económico, como eles de nós. E uma relação entre iguais só se consegue com igualdade de forças.

A resistência iraquiana (II)


É claro que os anti-americanistas rejubilam com os ataques dos fedayin. Esfregam as mãos de contentes! São os mesmos que durante a guerra esperavam uma resistência prolongada de Saddam, ainda que isso custasse a vida de milhares de civis inocentes. Perante este argumento, dizem que os culpados pela morte de civis são os americanos, e que a América precisa de uma "lição" que a faça desistir dos seus propósitos imperialistas. A "lição" seria dada pelos valentes iraquianos que defendiam o solo pátrio... que cegueira! Até que ponto o anti-americanismo pode fazer certas pessoas apoiar ditadores sanguinários! É patético!

A invasão foi ilegal e imprópria. É verdade. Mas também é verdade que, uma vez começada a guerra, não servia de nada pedir que os americanos retirassem. Isso só pioraria as coisas. Para o Iraque, para o Médio Oriente e para o Mundo.

Sejamos intelectualmente honestos: alguém acreditará mesmo que o Iraque estava melhor com Saddam no poder? Desta vez, pelo menos, os americanos derrubaram um ditador, em vem de o apoiarem! Independentemente do método usado - com o qual, volto a salientar, não concordei - devemos estar contentes com a queda de Saddam. Aqui vemos outra contradição dos anti-americanos primários: protestaram contra as guerras do Kosovo e do Iraque, mas foram os primeiros a criticar os EUA por não intervirem directamente na questão timorense, aquando dos massacres de Setembro de 1999. Do mesmo modo que sempre fizeram vista grossa às invasões soviéticas da Checoslováquia e do Afeganistão, à situação dos presos políticos cubanos, etc.

Até que ponto a soberania dos Estados-Nação deve constituir uma desculpa para que o mundo permita que ditadores como Milosevic, Saddam e Kim-Il-Sung continuem a massacrar os seus próprios povos?

Não quero com isto dizer que os EUA são os paladinos da liberdade e da democracia. Não o são, e se o forem, será apenas porque isso convém aos seus interesses imperiais. Sim, os EUA são o único "império" mundial; a sua política é nitidamente imperialista, tal como nós mesmos o fomos em tempos. Mas racicionemos: haverá algum outro império capaz de impôr a paz e a estabilidade em todo o mundo? E o que será melhor, a hegemonia dos EUA ou a de grandes democracias como a Rússia e a China?

Creio que a única potência capaz de equilibrar a balança no sentido de criar um mundo mais pacífico, democrático e próspero é a Europa. Só com uma relação transatlântica de parceria e igualdade permitirá um mundo mais equilibrado, sem estarmos dependentes dos falcões de Washington. Mas isso é tema para o post seguinte.

A resistência iraquiana (I)

Têm-se sucedido os ataques da guerrilha iraquiana às forças da coligação anglo-americana. A guerrilha é a solução clássica a que recorrem os povos mais fracos quando ocupados por exércitos de povos mais poderosos. Tem sido assim desde a Antiguidade mais remota; já os faraós do Império Novo lutavam contra guerrilheiros núbios. Os romanos também enfrentaram guerrilhas durante muitos anos (Hispânia, Trácia, etc). O termo "guerrilha" provém do espanhol "guerrilla", tendo sido usado pela primeira vez no seu actual sentido durante a Guerra Peninsular (1808/1812). Os generais franceses queixavam-se que não conseguiam pacificar a Península porque os espanhóis e os portugueses realizavam constantes ataques de guerrilha contra posições francesas. Nos relatórios que enviou para Paris, o General Massena - que invadiu Portugal em 1811(?) e a quem Napoleão apelidava de "l'enfant cherie de la victoire" - queixava-se que não conseguiria atingir a cidade do Porto na data prevista, porque desde a fronteira de Chaves que grupos de "fanáticos" se lançavam sobre as tropas, saltando dos desfiladeiros ou fazendo fogo de cima dos penhascos. Massena temia mais os guerrilheiros que o já vencido exército português. A guerrilha peninsular contribuiu muito para aquela que foi a primeira guerra perdida por Napoleão e o prenúncio da sua queda em 1814.

No Iraque passa-se a mesma coisa; o exército foi derrotado rapidamente, mas grupos de resistentes realizam ataques de guerrilha contra as forças ocupantes. Não lhes chamo "terroristas", como os americanos fazem, pois estão na terra deles. Os nazis também chamavam "terroristas" aos membros da Resistência Francesa...

A condição essencial para o sucesso de uma guerra de guerrilha é esta contar com o apoio das populações civis. Espero sinceramente que os resistentes iraquianos sejam apenas membros dos "Fedayin de Saddam" e do Partido Baas, sem genuíno apoio da população. Ou que, não o tendo actualmente por terem estado ligados ao regime de Saddam, não o venham a ter no futuro, devido a erros cometidos pelos Americanos.

Fui contra a invasão do Iraque. Publiquei artigos nesse sentido, por considerar tal invasão um grave atentado ao direito internacional. No entanto, a partir do momento em que as hostilidades tiveram início, só pude esperar que Saddam fosse vencido o mais depressa possível, para bem do Iraque, do Médio Oriente e da própria segurança mundial. A pior coisa que poderia acontecer seria a América abandonar o Iraque de "rabo entre as pernas" e retomar o perigoso isolacionismo dos anos 20, que Bush anunciara antes do 11 de Setembro.

Winston Churchill continua a ser muito citado, desde frases célebres a pequenos episódios da sua longa carreira política. É um desses pequenos momentos que vou agora recordar: as ameaças soviéticas e a falta de ajuda americana ditaram o fracasso da invasão anglo-francesa do Egipto, durante a crise do Suez (1956); os ingleses foram particularmente humilhados por Nasser. O Império já não era o que era! Questionado sobre a questão do Suez, Churchill limitou-se a dizer o seguinte: "em primeiro lugar, se fosse eu o PM, jamais me teria metido naquela embrulhada. Mas se o tivesse feito, jamais teria fugido daquela forma".

(Continua)

O Primeiro Homem de Roma (II)

Terminei hoje a leitura do primeiro volume da série "O Primeiro Homem de Roma" (ver post da passada segunda feira), de Collen McCulough. Só consegui encontrar o primeiro volume depois de já ter lido o segundo:)

Fantástico. Recomendável a todos os que gostam de História, em especial da Antiguidade Clássica. E também a quem gosta de um bom enredo com aventura, drama e romance.

Quem desejar conhecer melhor o enquadramento histórico do romance, pode clicar aqui.