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terça-feira, janeiro 11, 2005



ERROS JORNALÍSTICOS Num post intitulado "RTP na Palestina: os erros de Paulo Dentinho", o Nuno Guerreiro registou a forma errada como este jornalista se refere às forças armadas israelitas:

"Em todas as suas reportagens que vi (as dos dois últimos dias e as do funeral de Arafat, em Novembro), o jornalista da RTP raramente – nunca de forma directa – se referiu aos soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) como “soldados israelitas”, optando invariavelmente por classificá-los como “soldados judaicos”. Dando de barato o erro gramatical da última expressão – o correcto aqui seria “soldados judeus” –, a ininterrupta insistência de Dentinho vai além do erro simples: é uma profunda deturpação recheada de segundos sentidos óbvios.

Antes de mais, convém esclarecer que as Forças Armadas de Israel não são compostas unicamente por judeus. Muitos dos seus soldados – e oficiais – pertencem às várias minorias étnicas e religiosas do país: são também muçulmanos, beduínos, druzos e cristãos, ou simplesmente emigrantes naturalizados chamados ao serviço militar (cidadão israelita, o meu sogro, por exemplo, fez a tropa, entre as décadas de 70 e 80, no mesmo batalhão com um soldado japonês não-judeu que simplesmente emigrara para Israel e se naturalizara)."


Concordo com o Nuno Guerreiro. De facto, chamar "judaicos" aos militares das FDI fará tanto sentido como apelidar os soldados portugueses de "católicos". E isto não obstante o carácter não inteiramente secular do Estado de Israel - onde, apesar disso, existe uma efectiva liberdade religiosa.

Já me tinha dado conta deste e de outros erros ou faltas de isenção nas reportagens de Paulo Dentinho. Aliás, quase todas as reportagens sobre questões internacionais que passam nos nossos telejornais costumam padecer das mais diversas "maleitas", como a falta de isenção e de rigor, a ignorância do repórter a respeito do contexto social, político e histórico da região em que elabora a reportagem, a parcialidade e a falta de objectividade. Creio que Paulo Dentinho até é dos melhorzitos; de facto, parece-me que a qualidade da generalidade das reportagens sobre questões internacionais deixa muito a desejar. Com algumas excepções, evidentemente, como os trabalhos de profissionais como Carlos Fino ou Mário Crespo, entre outros.

Como o público tende a não se preocupar muito com questões internacionais, por não lhe dizer directamente respeito, muitos jornalistas dão-se ao luxo de emitir opiniões pessoais, acrescentar reacções emotivas e de sonegar determinados factos. Claro que não conseguiriam fazer isto numa reportagem sobre política nacional, pelo menos de forma tão ostentatória.

O mesmo se poderia dizer a respeito da imprensa escrita; com excepção de jornais como o "Público", o "DN" ou o "Expresso", quase todos os nossos periódicos dão pouca importância à actualidade internacional, e a cobertura que dela fazem é na maior parte das vezes parcial e pouco rigorosa.