respublica

quarta-feira, dezembro 31, 2003

O ÚLTIMO POST DO ANO vou aproveitar para descansar um pouco nos próximos dias (e festejar, claro...). Volto no sábado, dia 3 de Janeiro; entretanto, estou a preparar posts sobre os mais diversos assuntos: a comunidade portuguesa de Malaca, a questão do Faraó do Êxodo (tema lançado pelo Alex, esse simpático curioso), as presidenciais norte-americanas, a segurança no Euro 2004, etc. Até lá, um grande abraço a todos e votos de um 2004 cheio de sucesso, saúde e felicidade!

INSERI NOVA LIGAÇÃO para a simpática e mágica Fata Morgana. Recomendo!




MUNDO PORTUGUÊS O Causa Nossa reproduziu um post publicado no blog moçambicano Maschamba, a respeito da habitual frase com que José Alberto Carvalho termina as emissões diárias do Telejornal, e que tomei a liberdade de aqui transcrever:

"José Alberto Carvalho é locutor da televisão estatal portuguesa. Nela apresenta o telejornal. Que tenha eu reparado há pelo menos um ano e meio que termina a sua função, algo impante até, com a reclamação de que emitiram para todo "o mundo português". A primeira vez que tal ouvi nem quis acreditar. Foi-o, talvez por coincidência ou talvez não, no momento da conferência de chefes de Estado do CPLP no Brasil. Acredito que entusiasmado por tão magno acontecimento se lembrou ele (ou o editor) de tal expressão: "o mundo português". Terá sido o "inconsciente colectivo"nele(s) brotado, ali a querer apagar a história? (...) este "mundo português" do qual se despede, impante repito, todas aquelas noites é-lhe decerto mais parecido com aquele império que se expôs em 1940."

Também já tinha reparado neste curioso hábito de José Alberto Carvalho. Considero absurdo pensar que ele seja um saudosista do Império, mas não faço ideia do que o leva a finalizar o telejornal com esta frase; talvez lhe tenha achado graça, ou considere cool terminar com tal expressão. Ou talvez se refira às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, e não aos tele-espectadores dos PALOP. Mas em todo o caso, talvez fosse boa ideia substituir "mundo português" por "mundo lusófono", para não se ferirem susceptibilidades.

terça-feira, dezembro 30, 2003




POESIA ÁRABE A culpa é do Marcos, que me despertou uma súbita curiosidade pela cultura islâmica. Encontrei um site sobre poesia árabe medieval - a época áurea do Islão - de onde transcrevi o seguinte poema*, da autoria de Ibn Arabi:

"Dónde están las que yo amo?
por Dios, decidme dónde estan
Ya que vísu forma externa
Me haras tú ver la esencia?
Tanto tiempo ha que las busco
y tanto he pedido la unión
que ya no temo su partida
ni estoy seguro en su presencia.
Quisiera feliz destino,
impedir que se alejen de mi,
para que mis ojos se gocen en ellas
y no pregunte dónde estan!"


(* tradução espanhola)

NÃO CONCORDO com o indulto concedido pelo presidente da República à enfermeira condenada por prática de aborto clandestino. Não sinto por esta enfermeira qualquer compaixão como a que possa sentir pelas mulheres que, pelas mais diversas e dramáticas circunstâncias, são forçadas a recorrer ao aborto. A enfermeira da Maia ganhava dinheiro à custa da desgraça alheia, explorando de forma vil a miséria humana.

Os seus defensores alegam que este indulto é merecido, uma vez que ela "sempre agiu de forma profissional"... mas que cegueira! Se esta enfermeira agiu de forma profissional - leia-se, com todos os procedimentos de segurança e higiene - não fez mais que a sua obrigação. Ainda por cima, os seus serviços eram pagos!




PERSONAGENS (VI) A figura do imperador bizantino Justiniano sempre me fascinou. Não que o admire, longe disso. Foi um governante mesquinho e autocrático, que arruinou Bizâncio e, paradoxalmente - pois ele queria reconstruir o Império -, destruiu o legado romano. Foi intolerante em questões religiosas, acabou com os últimos resquícios da Respublicae (aboliu os consulados e tirou poder ao senado), aumentou a carga fiscal, etc.

O que me fascina em Justiniano é a sua tentativa desesperada de reconstruir o império romano, sem meios para tal. Além disso, os exércitos bizantinos provocaram mais destruição que a causada pelos próprios bárbaros invasores, cem anos antes. No entanto, Justiniano foi, de facto, o último imperador romano, por ter sido o último a influenciar de forma decisiva todo o mundo então conhecido (até porque governou a maior parte dele). Depois de Justiniano, Bizâncio tornou-se um império greco-asiático, o Médio Oriente e o Magrebe tornaram-se islâmicos e a Europa Ocidental entrou na Idade Média.

segunda-feira, dezembro 29, 2003




A FRASE (IV) "Nada demonstra melhor o carácter de um homem que aquilo a que ele acha graça." (Johann Wolfgang von Goethe)




A PAIXÃO DE CRISTO o novo filme de Mel Gibson estreia já em Fevereiro. Com imponentes cenários de época e falado inteiramente em latim e aramaico, o filme transporta o espectador para a Palestina do séc. I. Mel Gibson pretendeu assim narrar a Paixão de Cristo da forma mais fiel possível, vivendo intensamente os momentos dramáticos da Última Ceia, a traição de Judas, as torturas, a humilhação... a morte na cruz e, finalmente, a Ressureição. Adivinha-se um filme magnífico.

NOVA LIGAÇÃO inseri link para o interessante Probabilidade Subjectiva.




ARTE vs. PROPAGANDA No passado fim de semana, a polémica realizadora alemã Leni Riefenstahl foi tema de uma animada conversa com alguns amigos. Discutíamos se a arte pode ser utilizada na propaganda. Um dos meus colegas é da opinião que os filmes de Riefenstahl não eram propaganda nazi, por serem obras de arte. Segundo ele, a propaganda é um conceito redutor que não admite a pluralidade de interpretações que a arte permite. Esta última, enquanto transfiguração da realidade, poderá ser interpretada de forma livre por cada um de nós; a propaganda, por seu turno, consiste na imposição às massas de uma determinada visão do mundo através dos mass media.

Discordei desse meu colega, por entender que um filme pode ser simultaneamente arte e propaganda; uma não elimina a outra. Os filmes de Leni Riefenstahl, enquanto obras de arte - logo, de interpretação livre - estiveram ao serviço da propaganda nazi, na medida em que a interpretação que as massas fizeram deles foi exactamente a que os líderes nazis pretendiam: a exaltação da raça ariana e do regime nacional-socialista.

E vocês, o que acham?




LEITURA DE NATAL estou a ler "Memórias de Adriano", de Marguerite Yourcenar. Escrita na primeira pessoa, é uma interessante reflexão sobre a natureza humana e as vicissitudes do poder.

quinta-feira, dezembro 25, 2003

VOTOS de Feliz Natal e Próspero Ano Novo de 2004! Voltarei dentro de alguns dias...

segunda-feira, dezembro 22, 2003

AINDA A QUESTÃO DO ABORTO A discussão em torno da liberalização do aborto tem sido marcada por atitides radicais de ambos os lados da barricada. A demagogia e a exploração dos sentimentos marcam o discurso dos movimentos pró e contra o aborto, impossibilitando uma discussão racional e assente em evidências científicas. Assim não se vai a lado nenhum.

NOVO TEMPLATE o interessante Arqueoblogo tem um novo template, denominado "Manjaro, em memória da riqueza cultural africana". Gosto!

O REGRESSO DO REI O blog Ilha Perdida, que gosto de visitar com regularidade, dedicou um post ao terceiro e último filme da saga "O Senhor dos Anéis", que recentemente teve estreia mundial. Ao que parece, o autor do blog ficou decepcionado com este "Regresso do Rei". Embora gostos não se discutem, devo dizer que gostei do filme, embora tenham ficado de fora algumas partes importantes da obra. Espero que sejam contempladas na anunciada versão estendida.

quinta-feira, dezembro 18, 2003

PRIMOS DE OURO tenho de aqui agradecer as simpáticas palavras dos Meninos de Ouro, que me incluíram entre os seus primos direitos, enquanto "(...)latinista insigne, que a partir de Bracara Augusta, escreve e divulga como poucos a cultura e história Romanas, temperada por opinião avisada e serena. Livros, Comunicação Social e Jornalismo são também analisados com graça e inteligência."

É bom saber que somos apreciados por aqueles que apreciamos.




PARA QUE SERVE A SOBERANIA? A soberania dos estados-nação só faz sentido quando esses mesmos estados existem para servir os respectivos povos. Os estados existem em função dos povos, e não os povos em função dos estados. Seria o Iraque um país soberano, quando era governado por Saddam? Em minha opinião, não. A soberania reside no povo, e não num ditador sanguinário e respectiva camarilha. A intervenção da coligação anglo-americana permitirá devolver a soberania aos iraquianos.

Claro que não sou ingénuo a ponto de acreditar que a intervenção aliada se deveu a considerações de ordem ética. Mas tenho a certeza que a instauração de um regime democrático – ainda que a América lá tenha de ficar 10 ou 15 anos – será o melhor para o Iraque.

Muitos europeus vivem na utopia do mundo perfeito, culpando os americanos por tudo de mal que acontece. Esquecem-se de todo o bem que a América nos fez: salvou-nos do nazismo e do comunismo estalinista; ajudou-nos na reconstrução, depois da Segunda Guerra Mundial; e, mais importante que tudo o resto, deu-nos paz e segurança durante sessenta anos. Tudo isto não seria possível sem que a América fosse uma superpotência. Sem que investisse em armamento. Sem que possuísse armas nucleares. Sem que intervisse aqui e ali para garantir o controlo dos recursos energéticos. Sem que agisse de forma musculada, quando necessário.

Se estudarmos a História de forma desinteressada – ou seja, sem procurar justificações para teorias de lutas de classes e outras que tais – aperceber-nos-emos de que, ao longo de toda a história da Humanidade, nunca existiram paraísos terrenos nem mundos perfeitos. Sempre existiram potências que, de uma forma ou de outra, exerceram o seu domínio e influência sobre o resto do mundo. E também nos daremos conta de que a actual Pax Americana é, face às alternativas, um mal menor. Por muito que nos custe, em política internacional não podemos agir movidos por idealismo, mas sim por pragmatismo; aliás, as maiores desgraças aconteceram precisamente quando alguns iluminados tentaram à força construir paraísos terrenos.

No entanto, considero que o domínio americano não garante a estabilidade mundial de forma totalmente satisfatória. É necessária outra potência que equibilibre a balança; ora a única que a médio prazo o pode fazer, é precisamente a Europa. E para tal, os europeus têm que compreender a necessidade de investirem a sério na defesa. Mas isso, claro, não é cool. Os manifestantes anti-Bush e anti-globalização não querem saber disso. Não compreendem que o que está em jogo é a própria existência da nossa civilização.

LAST NIGHT BLOGS (II) Só mesmo a força do hábito e a vontade de estar com os meus amigos me fazem ir ao eterno BA. Não aguento o calor intenso, o ar cor de fumo e o incómodo aperto - que até seria suportável não fossem os inevitáveis encontrões de gente mal educada. Mas o BA é e será sempre assim. Até porque se assim não fosse, não seria o BA.

quarta-feira, dezembro 17, 2003




O QUE É A FELICIDADE? Este tema foi já aflorado num anterior post dedicado à questão do aborto. Dizem os apoiantes da legalização do aborto que este deve poder ser praticado sempre que não existam condições para que as crianças venham a ter uma vida feliz. Mas quem é que, de entre o género humano, consegue ser omnisciente a ponto de definir o que é a felicidade e a infelicidade?

Não acredito que o meu conceito de felicidade seja o mesmo do meu vizinho, e vice versa. A definição do conceito de felicidade obedece a critérios de ordem subjectiva, sendo por isso diferente de pessoa para pessoa. Seremos nós dotados da capacidade de adivinhar se uma determinada criança virá a ser feliz? A Rute refere as crianças da Casa Pia como exemplos de seres condenados à infelicidade. Mas será que é mesmo assim? Não tenho a menor dúvida que muitas crianças internadas na Casa Pia sejam mais felizes que outras que tiveram a sorte (ou o azar) de nascer em berços de ouro!

Vivemos numa sociedade consumista e hedonista, em que a juventude, a beleza e o sucesso são tidos como objectivos supremos da nossa existência. A doença, a velhice e a morte são aspectos que preferimos esquecer e esconder da nossa vista, nesta ânsia infinita de viver num mundo perfeito com pessoas perfeitas. As relações pessoais efémeras, a busca incessante do prazer absoluto e a mentalidade do aproveitar enquanto se pode são faces desta realidade.

Se os defensores do aborto consideram que quem não tem condições para ser "feliz" – segundo o conceito vigente na nossa sociedade – não deve viver, então que dizer de todos aqueles que não são ricos, jovens, saudáveis ou belos? Não merecem viver? Não poderão eles ser felizes?

NOVA LIGAÇÃO acrescentei link para o Blog Social Português. Existirá algo mais estimulante que um bom confronto de ideias?

LAST NIGHT BLOGS (I) eu e esta menina fomos a uma conhecida discoteca, onde para nossa supresa nos cobraram dois euros por uma água sem gás... como dizia o filósofo grego Eurípedes (484 a 406 a.C.), , "o dia é para os homens honestos, a noite para os ladrões". Amen to that!

terça-feira, dezembro 16, 2003




A FRASE (III) "In taking revenge, a man is but even with his enemy; but in passing it over, he is superior." (Sir Francis Bacon)




MADAME DE POMPADOUR O Tempore publicou um interessante post sobre esta astuta cortesã do século XVIII.

Mulholland Drive
"Mulholand Drive", primeiro estranham-te,
depois ninguem pode passar sem ti! Um misterio
que vale a pena descobrir.


Se fosses um filme, que filme serias?
brought to you by Quizilla

MAIS UM TESTE ENGRAÇADO que fiz no Quizilla.




A QUESTÃO DE TAIWAN permanece algo esquecida, especialmente quando a atenção dos media e da opinião pública ocidentais se tem voltado quase exclusivamente para o Médio Oriente. O governo do presidente Chen Shui-bian pretende realizar um referendo sobre uma eventual declaração unilateral de independência, a ter lugar no próximo mês de Março.

Refira-se que Taiwan (a designação oficial é "República da China") é, na prática, um estado independente. Até 1969, altura em que os EUA e a generalidade da comunidade internacional reconheceram a República Popular da China (RPC), o executivo taiwanês era reconhecido como o governo legítimo da China.

Refúgio dos nacionalistas de Chang Kai Chek no final da guerra civil chinesa (1949), Taiwan é hoje um país democrático, ao contrário da China continental. A RPC opõe-se terminantemente a uma declaração de independência, ameaçando mesmo com o uso da força. Os EUA têm-se esforçado por manter o status quo, por ser do seu interesse continuar a manter boas relações com a RPC. Mas o que acontecerá se um dia o governo de Beijing decidir invadir Taiwan?





PERSONAGENS (III) o século XIX português foi repleto de figuras fascinantes, cujas vidas dariam um bom romance de aventuras. O Marechal Duque de Saldanha (1790/1876) foi certamente uma delas, e também um das mais esquecidas nos nossos dias. Jovem irrequieto e corajoso, combateu com excepcional bravura na Guerra Peninsular e na campanha de Montevideu, sendo promovido à patente de general com apenas 27 anos. De seguida, participou nas guerras civis entre liberais e absolutistas, como um dos líderes dos primeiros. Nas décadas seguintes, já com o regime liberal estabelecido, tomou parte nas lutas entre as facções liberais e orquestrou vários golpes de estado. Finalmente caído em desgraça, exilou-se em Londres, onde viria a falecer com 86 anos.

Em 1870, Saldanha organizou um golpe militar, de forma a conseguir pelas armas o que não conseguira nas urnas. O octogenário marechal cercou o palácio real, obrigando o tímido D. Luís a demitir o governo do Duque de Loulé. Querendo evitar a eminente guerra civil, e embora a contra-gosto, o monarca nomeou Saldanha presidente do Conselho. Conta-se que, no fim do encontro entre os dois, o marechal pediu autorização ao rei para ir apresentar os seus respeitosos cumprimentos à rainha D.ª Maria Pia. D. Luís aquiesceu ao pedido e deu ordens para conduzirem Saldanha aos aposentos privados da rainha. Quando Saldanha se apresentou perante D.ª Maria Pia, esta, furiosa, disse-lhe: "se fosse eu a mandar, o senhor já teria sido fuzilado!" Poucas semanas depois, o marechal foi derrubado por outro golpe militar, exilando-se em Londres.

Este marechal foi uma figura romanesca da nossa história, entre muitas outras cujas vidas davam um bom filme.




JÁ FALTA POUCO para o Regresso do Rei.




A FRASE (II) "An Englishman is a person who does things because they have been done before. An American is a person who does things because they haven't been done before." (Mark Twain).




ONDE JULGAR SADDAM Depois da captura de Saddam, começou a discussão em torno da questão de saber onde é que ele deve ser julgado. Creio que o melhor seria julgá-lo num tribunal iraquiano ou num tribunal especial nomeado no âmbito da Liga Árabe. E se tal não for possível, num tribunal especial da ONU, mas com juízes árabes, e ao abrigo do direito iraquiano.

Julgar Saddam num tribunal ocidental seria uma enorme afronta aos iraquianos e aos árabes em geral. Seria uma demonstração de superioridade da nossa civilização sobre a deles. Além disso, creio que os países árabes têm capacidade para efectuar um julgamento justo, que conceda a Saddam todas as garantias de defesa.

Para um muçulmano, a Justiça de Haia será sempre a justiça dos ocidentais.

NOVA LIGAÇÃO inseri link para o muito interessante Ilha Perdida.

segunda-feira, dezembro 15, 2003




POUCOS TEMAS SÃO TÃO FRACTURANTES como a questão do direito ao aborto. E a minha posição nesta matéria é simples e clara: sou contra.

Entendo que os direitos da criança que vive no útero da mãe se sobrepõem ao direito desta última a dispôr do seu corpo. Quer queiramos quer não, o feto é um ser humano (e a ciência tem dado importantes passos neste domínio). Ainda em formação, é certo, mas é um ser humano e como tal deve ser tratado. Sei que esta é uma posição fora de moda, na melhor das hipóteses, mas creio ser a mais correcta.

Os defensores do aborto pretendem que o poder legislativo estabeleça um prazo limite durante o qual as mulheres possam interromper livremente a sua gravidez. Esse prazo limite seria o período de tempo compreendido entre a concepção e a formação de um sistema nervoso autónomo, durante o qual o embrião não poderia ser considerado um ser humano. No entanto, se nem a Ciência consegue estabelecer com exactidão o momento da formação do sistema nervoso, como é que o poder legislativo o poderá fazer?

Concordo com o Bispo do Porto, que considera que a liberalização do aborto não porá fim ao aborto clandestino. E também concordo que as mulheres não devem ser julgadas e condenadas por abortarem, pois o acto em si já acarreta um enorme sofrimento. Para quê destruir mais uma vida?

Este não é um tema fácil. Espero os vossos comentários!




LÍDERES, PRECISAM-SE! se há coisa que me aborrece, é a falta de visão dos líderes europeus. Como se costuma dizer na linguagem popular, construíram a casa a começar pelo telhado. Dando mostras de uma extraordinária capacidade visionária, os dirigentes europeus discutiram o alargamento a Leste sem reformarem devidamente as instituições europeias. Graças a isto, a União caminha para o desgoverno total.




A FRASE (I) "When a woman marries again, it is because she detested her first husband. When a man marries again, it is because he adored his first wife. Women try their luck; men risk theirs." (Oscar Wilde).

sábado, dezembro 13, 2003




BEN HUR Estava eu entretido a fazer zapping quando reparei que a TVI passava o clássico Ben Hur. Realizado em 1959 por William Wyler, com Charlton Heston e Jack Hawkins nos papéis principais, Ben Hur recebeu onze óscares da Academia, número apenas igualado pelo recente Titanic. Passei por isso um serão agradável (ou deveria dizer madrugada?), revendo um dos meus filmes preferidos.

A crítica e muitos dos intelectuais da nossa praça não são grandes fãs de "Ben Hur"; é que além de cometer o pecado de ser um filme feito para as "massas" - com toda aquela magnífica grandiosidade dos anos de ouro de Hollywood - Ben Hur transmite valores politicamente incorrectos: coragem, esperança, amor, perdão e redenção (já para não falar do factor religioso)... sentimentos demasiado banais para a nossa crítica cultural, onde, como bem diz o João Pereira Coutinho, "(...) as respectivas luminárias passam o tempo a farejar mutuamente as retaguardas".

sexta-feira, dezembro 12, 2003




BOLSAS DE CRIAÇÃO LITERÁRIA Concordo com o Aviz, para quem "(...) um pouco por todo o lado, sobre as bolsas de criação literária lêem-se coisas espantosas, infelizmente por parte de quem as defende de forma incondicional, como se fosse obrigação do Estado pagar os seus escritores. Não é. Nunca concorri a nenhuma delas e não recebi nenhum subsídio — mas não me incomoda que alguns escritores tenham obtido bolsas por um período determinado. (...) não gosto de juízos morais — e também não gosto desse processo de intenções que faz disto um caso político, até porque acho que, em circunstâncias ideais, o Estado não devia ter nada a ver com o domínio da criação — não gosto do Estado nem da galeria de comissários do gosto (sobretudo quando são vanguardistas, porque têm tendência para se tornarem pequenos ditadores), funcionários da «divisão de estética e metacrítica», pedagogos oficiais e ressentidos com poder. Sobretudo isso — não gosto do Estado nem do seu ressentimento. O desejo de ser pago pelo Estado assusta-me. É uma dependência medíocre."

Além das razões acima referidas, creio que a atribuição de bolsas de criação literária não se traduz num aumento da qualidade das obras. Por outro lado, estas bolsas de criação literária também não aumentam o interesse do público pela literatura. Num país em que, segundo dados recentemente divulgados, a esmagadora maioria dos cidadãos não lê um livro há mais de um ano, o Estado faria bem melhor em investir na formação cultural das pessoas, construindo mais bibliotecas, comparticipando a aquisição de livros, aperfeiçoando os programas escolares ou financiando programas televisivos dedicados à literatura e ao conhecimento, deixando a criação para os criadores.

Muitos bons escritores são-no precisamente porque encontram inspiração para escrever na sua vida profissional - como professores, bancários, funcionários públicos, jardineiros... etc. Os que vivem exclusivamente dos direitos de autor são uma escassa minoria.

NOVAS LIGAÇÕES inseri novos links, para o Nimbypolis, para o Plantar Ideias, e para o divertido JB 15 anos. Recomendo a visita!

quarta-feira, dezembro 10, 2003

DEVANEIOS DE UM EMBRIÃO inseri link para este simpático blog de uma minha colega de curso.





PERSONAGENS (II): CÉSAR Dois mil anos depois da sua morte, César (Caius Iulius Caesar – 100 a 44 a.C.) continua a dividir opiniões. Muitos consideram-no um homem obcecado pelo poder, capaz de tudo para o atingir. Vêem-no como um inimigo da liberdade, um general que derrubou a república romana e instituiu a tirania. Eu, contudo, admiro César pela sua genialidade, coragem e ousadia.

A República que César derrubou não era propriamente uma democracia. Algumas dezenas de famílias aristocráticas – tanto da nobreza patrícia como da nobreza plebeia - controlavam a vida política e económica de Roma, sendo igualmente os principais beneficiários das grandes conquistas do séc. II e I a.C., pelas quais se tornaram proprietárias de gigantescos domínios fundiários na Itália, África e Hispânia. As províncias eram exploradas de forma brutal pelos governadores nomeados pelo senado; não tendo de prestar contas a ninguém, estes procônsules viam as províncias como possessões pessoais que sugavam até ao tutano. Ao fim de contas, a libertas que Bruto e Cícero tão apregoavam era o direito dos poderosos usarem as leis e as instituições em seu próprio proveito.

A enorme extensão do império tornava necessária a instauração de um poder central forte. O império não podia continuar a ser dirigido por um senado dividido por violentas facções rivais e sacudido por sangrentas guerras civis. Este estado de coisas tornava Roma extremamente vulnerável face aos bárbaros, como se pôde ver pela invasão dos Cimbros e Teutões (104 a.C.), que quase destruiu o império.

É verdade que César cometeu actos cruéis: os massacres dos lusitanos (que acabaram definitivamente com a resistência destes ao domínio romano), e das tribos belgas e gaulesas; a mutilação dos dois mil defensores da fortaleza gaulesa de Uxoledonum, para dar o exemplo aos restantes combatentes gauleses; e a execução de Vercingetórix, depois do seu triunfo. No entanto, e por mais condenáveis que nos pareçam tais actos, a verdade é que César agiu conforme a mentalidade da época, dando ao mesmo tempo provas de grande generosidade, honradez e magnanimidade. Recusou decretar proscrições, amnistiando todos os partidários de Pompeu, à excepção dos que, depois de perdoados, pegaram novamente em armas contra ele. Reabilitou os filhos dos proscritos de Sila. Promulgou leis a favor do povo, com a criação de colónias no ultramar para veteranos das legiões e proletários das cidades. Não perseguiu os adversários políticos, por entender que a oposição era necessária para aperfeiçoar o seu governo. Concedeu a cidadania integral aos italianos, tornando-os iguais em direitos e deveres ao habitantes de Roma. Obrigou os governadores provinciais a prestar contas pelos seus mandatos. Pôs em marcha um vasto programa de obras públicas, tanto em Roma como nas províncias.

Do ponto de vista militar, César foi um comandante brilhante. A rapidez com que se deslocava, a consideração que demonstrava pela vida dos seus soldados (chorou os quinhentos homens que perdeu em Gergóvia), e a ousadia das suas campanhas fazem dele um dos melhores generais de sempre. As vitórias de Alésia, Farsália, Alexandria e Munda revelam que a vitória não depende do número ou da logística, mas da capacidade dos comandantes e da qualidade e motivação das tropas.

Paradoxalmente, ao assassinarem César, os conspiradores dos Idos de Março acabaram por dar ainda mais força ao cesarismo. A guerra civil que se seguiu permitiu a instituição do Principado e pôs fim a cinco séculos de república aristocrática. Augusto e os seus sucessores levaram o cesarismo ao extremo, suprimindo as liberdades públicas e instaurando um regime monárquico sob uma fachada republicana.





TOLERÂNCIA E DIVERSIDADE Ainda a propósito do tema do post anterior, encontrei uma interessante entrevista a Flavio Baroncelli, professor de Filosofia Moral na Universidade de Génova. Nesta entrevista, o filósofo interroga-se sobre se resistirá a tolerância "ocidental" ao confronto com culturas e morais alheias ao nosso contexto civilizacional:

"La questione della tolleranza ha attraversato la storia delle società occidentali, ne ha segnato le fasi salienti del progresso, nella sensibilità morale degli individui e nello sviluppo dei saperi e delle istituzioni, sin dagli albori della modernità, nel Cinquecento e nel Seicento, quando l'appello alla tolleranza non significò solo un richiamo al pluralismo delle confessioni cristiane dopo la Riforma, ma costituì anche una crescita interna della religione e della concezione dello Stato. Attraverso l'idea che la fede è un fatto di convincimento interiore, che non si può imporre con la forza, mentre lo Stato può usare forza e sanzioni solo al fine dell'utile pubblico e non per forgiare convinzioni personali. Ma è solo successivamente, con l'Illuminismo e poi con le dottrine liberali del secolo scorso, che la tolleranza si è estesa a includere non solo i comportamenti religiosi difformi, ma gli stili di vita, le concezioni personali del bene, la stessa ricerca della verità. Attraverso la battaglia per la tolleranza diventano più chiari i limiti dei poteri dello Stato e si introducono nuove e importanti distinzioni, tra etica e diritto, tra ciò che gli individui ritengono loro bene e ciò che lo Stato può richiedere loro. Ma un risultato della battaglia per la tolleranza è il concetto stesso di una crescita della conoscenza libera dai dogmi delle autorità, e, in fondo, l'importanza della verità come valore messo al riparo dalle ideologie e dalle manipolazioni. Ma ora che la tolleranza ha acquisito significati così vasti e importanti sembra forse più debole, poiché appare legata ad alcuni valori precisi, quelli dell'individualismo e della libertà occidentale. Resisterà la tolleranza nel confronto con culture e morali lontane da questa tradizione?"




LAICISMO RADICAL O governo francês pretende fazer aprovar uma lei que impeça os alunos das escolas públicas de usarem símbolos religiosos ou políticos. Com esta lei, o governo pretende pôr termo à polémica em torno do uso do véu islâmico nas escolas.

Encontro-me dividido. Por um lado, considero absurdo o laicismo radical que as actuais leis francesas estabelecem. Essas leis, com cerca de um século, dizem que o Estado deve ser agnóstico e inteiramente neutro em questões religiosas; todavia, na prática, o Estado assume-se como ateu, negando à religião qualquer papel positivo. É ainda aquele velho espírito jacobino e anticlerical, desejoso de pôr termo à "superstição" e à influência da Igreja. O Estado iluminado julga-se no direito de interferir nas crenças individuais, violando a liberdade de consciência dos cidadãos.

Por outro lado, deve um país democrático admitir no seu sistema de ensino costumes ofensivos à dignidade das mulheres, ainda que aceites por estas últimas? Como disse o presidente Chirac, na sua recente visita à Tunísia, "(...)a presença do véu tem qualquer coisa de agressivo, que, mesmo sendo minoritária, levanta um problema de princípio. Há nisto uma espécie de contestação das regras nacionais que não pode ser aceite. De uma maneira ou de outra, devemos fazer respeitar os princípios laicos".

Dá que pensar, não dá?

terça-feira, dezembro 09, 2003




SOU LEITOR ASSÍDUO das crónicas de Mário Pinto, no "Público". Além de com ele partilhar vários pontos de vista, admiro a sua lucidez e sensatez. Gostei particularmente da crónica de ontem, pelo que não resisti a aqui transcrever uma parte:

"Mais uma vez, surgiram nos últimos dias com destaque na imprensa declarações caricaturais e ideológicas do que é direita e esquerda. O grave é que sobre essas caricaturas se vai formando um pensamento politicamente correcto, que chega depois a ser arrogante e autoritário - como no caso do deputado do BE que se indignou, no Parlamento, casa das liberdades, com os debates que na Universidade Católica tiveram lugar sobre a teologia do corpo. Tratou-se de um Colóquio para aprofundar as concepções cristãs em matérias que não se reduzem à sexualidade, mas também a incluem. E pelo facto de essas ideias serem contrárias às do Senhor Deputado, embora sejam ideias legítimas, legais, morais e constitucionais, foram por ele no Parlamento violentamente atacadas e caluniadas de fundamentalismo e direitismo. O episódio foi de enorme gravidade, porque teve tons intimidatórios.

Certos políticos de esquerda gostam de se apresentar sempre como tal, implicitando que ser de esquerda é ser bom. E gostam de atacar os adversários chamando-lhes de direita, implicitando que ser de direita é ser mau. Ora, esta classificação assim linear e bipolarizada das posições políticas é um esquema primário e meramente retórico nas artes políticas. Com efeito, toda a gente sabe, e em especial os estudantes de ciência política (a menos que se fiquem por um estudo ideológico) que as várias posições políticas se situam não ao longo de uma linha cujos pólos sejam as posições de direita e de esquerda, mas sim num espaço de dois eixos rectangulares, que permite medir as duas essenciais coordenadas de cada ponto ou posição política.

Um dos eixos é o que tem por pólos: de um lado, o totalitarismo (ou, se se quiser, a ditadura ou o Estado absoluto); e do outro lado as liberdades pessoais (ou, se se quiser, o personalismo, ou o (ou, se se quiser, o personalismo, ou o liberalismo, visto que foi o liberalismo que política e historicamente proclamou primeiro as liberdades individuais contra o estado absoluto).

O outro eixo polariza-se entre as posições extremas de uns, que mantêm as desigualdades sociais impiedosamente, e outros, que defendem a justiça social como não podendo ser menos do que o radical igualitarismo; ou seja, entre o conservadorismo e o progressismo extremos.

Toda a gente conhece posições de direita que foram totalitárias e ditatoriais, e outras posições de direita que foram e são solidamente liberais. Toda a gente sabe que houve posições de esquerda violentamente totalitárias e que há posições doutrinárias de esquerda liberal. Pessoalmente compreendo bem que se possam associar posições de esquerda liberal com o progressismo reformista, mas esse não é o caso das extremas esquerdas. Estas posições acham que não é possível haver progresso de justiça social a não ser através do instrumento do poder político, e por isso estão sempre do lado de tudo que seja centralização de funções e de poderes no Estado (no qual, diga-se, eles esperam vir a poder ter influência) e contra a iniciativa privada e a sociedade civil.

O marxismo-leninismo teve o grande mérito de explicar com toda a clareza e rigor a teorização fundamentante desta acumulação de ditadura e de igualitarismo (sem classes). Mas os nossos políticos de extrema esquerda, hoje, não falam nem rigoroso nem claro. Mantêm o autoritarismo mas preferem a retórica. "


GOSTO MUITO DE VISITAR A BOMBA INTELIGENTE, e por isso não posso deixar de lhe agradecer por me colocar entre os "blogs de visita diária". Só há um senão: o meu blog é "respublica" e não "respública".:)

sexta-feira, dezembro 05, 2003




JORNALISMO E MANIPULAÇÃO Encontrei este artigo num site brasileiro. Embora se trate de uma realidade diferente da nossa, identifico-me com alguns dos pontos de vista do autor (wladymir ungaretti), nomeadamente do que diz respeito à formação cultural dos futuros jornalistas:


"Todas as vezes que ouvi falar em melhoria da qualidade de ensino, pelo menos tem sido assim na área dos cursos de jornalismo, acabei presenciando o aumento dos mecanismos burocráticos - voltados para viciar e punir. A estrutura se reorganiza, sobre a alegação da necessidade de aperfeiçoar os mecanismos de transmissão de conhecimento e, na verdade, institui formas mais "democráticas" de domesticar os alunos e, eventualmente, professores rebeldes. O objetivo é sempre o mesmo: estabelecer o máximo de diferenças entre os bons e os maus. Acentuar a imagem negativa dos problemáticos. Recompensar os considerados bons. Por isso mesmo, todo processo de "melhoria da qualidade" vem acompanhado de sistemas mais sofisticados de avaliação dos alunos e professores. Decorrência lógica é a crescente supervalorização da capacidade de decoreba em detrimento de qualquer-iniciativa-criativa-descontrolada.

Os bons alunos são valorizados e até premiados pelos professores doutores. E, em relação aos maus alunos, a idéia é sempre a de enquadra-los. Quando a rebeldia é demais o indicado é acachapá-los. Em meio a estes mecanismos "educativos" e/ou com parte deles é preciso estimular uma "rebeldia light". Coisa para "inglês ver".

Em tempos de neoliberalismo - que de neo não tem nada - o sistema de educação superior está todo voltado para uma velha idéia produtivista que abarca professores e alunos numa obsessiva competição. É o discurso da eficiência. Não por acaso, as exigências de titulação e a necessidade de resultados é fundamental. Acabou o espaço para os "incapazes".

Os verdadeiros críticos estão amarrados por uma montanha de normas e diretrizes burocráticas. Também são obrigados a serem instrumentos do processo de submissão, cujo objetivo final é impor a ordem e a obediência. Em lugar do prazer pelo estudo e por trabalhar em sala de aula é preciso cumprir os mecanismos de soma de pontos, com o aumento de títulos e dos "trabalhinhos de pesquisa". A sala de aula passa a representar um mal necessário. Dar boas aulas não conta pontos.

Reafirmo: o ensino de Jornalismo está em crise. Os cursos são a reprodução dos preceitos morais e ideológicos de uma sociedade em crise global. Alunos e professores, impregnados pelos valores do individualismo e da competição, são elementos essenciais para a manutenção dos mecanismos de alienação da realidade. De manipulação. O que vale é a autoridade e não a liberdade. O saber criativo é esmagado pela pedagogia dos burocratas. O professor crítico vive na corda bamba. De um lado estudantes pragmáticos ansiosos pelo ingresso no mercado. De outro lado, a pressão dos professores-policiais-censores. Manter um discurso coerente e uma prática correspondente é quase impossível.

(...) O que continua sendo absolutamente essencial para o exercício da profissão de jornalista? Continua sendo necessário que tal profissional tenha uma ampla “enciclopédia", o que significa ter uma sólida formação cultural. E, é claro, um grande amor pela Língua Portuguesa. As técnicas dos diversos meios (jornal, rádio, tv, e nos tempos atuais, jornalismo on line) são de uma gama imensa de variações. É evidente que existem especificidades, tanto da técnica em relação a cada um desses meios, como até mesmo no campo interno de cada um deles. Redigir para o jornal O Globo não é o mesmo que redigir para o JB, assim como não são idênticas as técnicas de redação nas diversas emissoras de rádio e/ou TV.

Quando passei pela faculdade, na condição de estudante, não havia laboratório fotográfico, estúdio de rádio ou tv, e nem por isso saíamos da faculdade sem as condições para o exercício da profissão. Tínhamos uma formação de cidadania muito mais sólida do que os atuais profissionais entregues ao Deus-mercado. Qualquer estudante de Jornalismo, com boa formação cultural, com um domínio da Língua Portuguesa, está preparado para trabalhar em qualquer veículo de comunicação. O conhecimento de aspectos técnicos do meio ou do veículo específico se dá de forma natural."





PERSONAGENS (I): CATÃO DE ÚTICA (Marcus Porcius Cato - 95 a 46 a.C.) foi uma importante figura da história romana. Defensor acérrimo da mos maiorum e conservador fanático, foi um destacado líder da facção dos boni e um dos maiores inimigos de César. Bisneto de Catão, o Censor, herdou as tendências (e paranóias) deste último, quer no que diz respeito à vida pública como à sua intimidade.

Ao longo da História, muitos foram os que confessaram admirar Catão. Por exemplo, os Pais Fundadores dos EUA viram nele um ardoroso combatente da liberdade, que preferiu suicidar-se (na cidade de Útica) a ter que receber o perdão de César, o homem que ele mais odiava.

Não admiro Catão; era mesquinho, vingativo, rancoroso e invejoso. Simboliza todos aqueles que, por vaidade pessoal, incompetência e falta de visão, tudo fazem para impedir a mudança.

Plutarco refere o seguinte, a respeito de Catão:

"It is said of Cato that even from his infancy, in his speech, his countenance, and all his childish pastimes, he discovered an inflexible temper, unmoved by any passion, and firm in everything...to go through with what he undertook. He was rough and ungentle toward those that flattered him, and still more unyielding to those who threatened him. It was difficult to excite him to laughter, his countenance seldom relaxed even into a smile; he was not quickly or easily provoked to anger, but if once incensed, he was no less difficult to pacify."





PARECE-ME QUE A RÚSSIA VIVE CADA VEZ MAIS SOB UM REGIME AUTORITÁRIO, em que se perseguem intelectuais "dissidentes" e se proíbe a chamada "literatura subversiva". Em alguns aspectos, os movimentos juvenis pró-Putin, desejosos de purificar a arte e a literatura de todos os elementos degenerados, lembram-me a juventude hitleriana:

«(...) A mais discutida e polémica das acções desta organização [a "Avançamos Juntos", de apoio ao presidente Putin], criada em 2000 por Vassili Iakemenko, aconteceu há já cerca de um ano. "Foi a troca de livros", diz Konstantin, orgulhoso. "As pessoas traziam-nos livros de Vladimir Sorokin e outros do género, e também de Karl Marx, e em troca nós dávamos-lhes colectâneas de clássicos russos".

Diz estar "profundamente convencido" de que os escritores que a campanha visou "prejudicaram muito a Rússia". E explica: "No que diz respeito a Marx é evidente porquê. Os outros, a quem chamam escritores mas que nós consideramos marginais, estão a parasitar no facto de a cultura que existe neste momento não ter bases sérias". Entusiasma-se: "Sorokin é um pornógrafo, escreve pornografia, mas os livros dele aparecem ao lado de Tolstoi ou de Dostoievski nas prateleiras das livrarias. Um jovem de 15 anos que não sabe o que aquilo é, pega no livro, começa a ler e é terrível".»



(Extraído de uma reportagem de Alexandra Lucas Coelho, do Público de hoje)



A PARANÓIA uma criança de 8 anos foi condenada por assédio sexual (!), por um tribunal norte-americano. O rapaz deverá cumprir uma pena de dois anos em liberdade condicional. Só na América!





A TROCA DE SERINGAS NAS PRISÕES é uma obrigação moral do Estado. Milhares de reclusos - muitos deles detidos preventivamente - estão sujeitos à contaminação por HIV devido aos "princípios morais" da Sr.ª Ministra! Se o que está em causa são questões de moralidade, o que é que pode ser mais imoral que condenar à morte centenas de pessoas?

quinta-feira, dezembro 04, 2003

TAG BOARD Já devem ter reparado que estou com problemas no sistema de feedback... no entanto, consegui encontrar um sistema de tag board que permite aos visitantes deste blog deixarem comentários e falar comigo em tempo real, como se fosse um chat. A tag board está no lado direito, debaixo do guestbook. Espero que gostem!

terça-feira, dezembro 02, 2003

A RECENTE VIAGEM DE BUSH AO IRAQUE foi um acto de política pura. O homem não é tão idiota como se pensava; pode ser mau orador, mas é um político astuto. Com a aproximação das presidenciais de 2004, e sabendo-se que o eleitorado americano aprecia este tipo de gestos, Bush quis simultaneamente mostrar que tem coragem para arriscar a vida, e que não esquece os soldados americanos no Iraque. Passar com eles o tradicional "Thanksgiving" é uma boa forma de o demonstrar...

No entanto, o facto de ter passado apenas duas horas em Bagdad, sem sequer sair do aeroporto, contribuiu para reforçar a ideia que o Iraque não é ainda um país seguro. Além disso, não se chegou a dirigir ao povo iraquiano, o que não ajuda a conquistar a sua simpatia.




"EM NOME DE DEUS, CLEMENTE, MISERICORDIOSO..." Encontrei um site brasileiro muito interessante sobre o Islão. E recordo o editorial do Público, em que J.M.F. lembra que a luta contra o fundamentalismo islâmico deve ser empreendida pelos muçulmanos moderados, apoiados pelo Ocidente. Os fundamentalistas não adoram um Deus clemente e misericordioso...




A PEDRA NEGRA DE MECA o Tempore publicou um interessante post sobre a misteriosa pedra negra de Meca, a Caaba. Devido às restrições impostas pelas autoridades religiosas sauditas - que eu entendo serem, em certa medida, compreensíveis - não se podem efectuar escavações no local, pelo que a origem do santuário continua a ser um mistério. Muito interessante!

PRIORIDADES TROCADAS Li no blog do Alex 54321 que "o Estado gastou 20.000 contos para ir buscar uma jornalista estúpida numa guerra estúpida a mando de um primeiro-ministro… e o INEM deixou um pescador que perdeu um braço no mar porque os gastos para o ir buscar de helicóptero do Montijo (2 a 3 horas de viagem) eram demasiado elevados!"

Embora sem subscrever a parte do "jornalista estúpida", concordo inteiramente com o Alex no que diz respeito ao Estado ter as suas prioridades trocadas. É triste, muito triste.