respublica

sexta-feira, dezembro 05, 2003





PARECE-ME QUE A RÚSSIA VIVE CADA VEZ MAIS SOB UM REGIME AUTORITÁRIO, em que se perseguem intelectuais "dissidentes" e se proíbe a chamada "literatura subversiva". Em alguns aspectos, os movimentos juvenis pró-Putin, desejosos de purificar a arte e a literatura de todos os elementos degenerados, lembram-me a juventude hitleriana:

«(...) A mais discutida e polémica das acções desta organização [a "Avançamos Juntos", de apoio ao presidente Putin], criada em 2000 por Vassili Iakemenko, aconteceu há já cerca de um ano. "Foi a troca de livros", diz Konstantin, orgulhoso. "As pessoas traziam-nos livros de Vladimir Sorokin e outros do género, e também de Karl Marx, e em troca nós dávamos-lhes colectâneas de clássicos russos".

Diz estar "profundamente convencido" de que os escritores que a campanha visou "prejudicaram muito a Rússia". E explica: "No que diz respeito a Marx é evidente porquê. Os outros, a quem chamam escritores mas que nós consideramos marginais, estão a parasitar no facto de a cultura que existe neste momento não ter bases sérias". Entusiasma-se: "Sorokin é um pornógrafo, escreve pornografia, mas os livros dele aparecem ao lado de Tolstoi ou de Dostoievski nas prateleiras das livrarias. Um jovem de 15 anos que não sabe o que aquilo é, pega no livro, começa a ler e é terrível".»



(Extraído de uma reportagem de Alexandra Lucas Coelho, do Público de hoje)