PERSONAGENS (III) o século XIX português foi repleto de figuras fascinantes, cujas vidas dariam um bom romance de aventuras. O Marechal Duque de Saldanha (1790/1876) foi certamente uma delas, e também um das mais esquecidas nos nossos dias. Jovem irrequieto e corajoso, combateu com excepcional bravura na Guerra Peninsular e na campanha de Montevideu, sendo promovido à patente de general com apenas 27 anos. De seguida, participou nas guerras civis entre liberais e absolutistas, como um dos líderes dos primeiros. Nas décadas seguintes, já com o regime liberal estabelecido, tomou parte nas lutas entre as facções liberais e orquestrou vários golpes de estado. Finalmente caído em desgraça, exilou-se em Londres, onde viria a falecer com 86 anos.
Em 1870, Saldanha organizou um golpe militar, de forma a conseguir pelas armas o que não conseguira nas urnas. O octogenário marechal cercou o palácio real, obrigando o tímido D. Luís a demitir o governo do Duque de Loulé. Querendo evitar a eminente guerra civil, e embora a contra-gosto, o monarca nomeou Saldanha presidente do Conselho. Conta-se que, no fim do encontro entre os dois, o marechal pediu autorização ao rei para ir apresentar os seus respeitosos cumprimentos à rainha D.ª Maria Pia. D. Luís aquiesceu ao pedido e deu ordens para conduzirem Saldanha aos aposentos privados da rainha. Quando Saldanha se apresentou perante D.ª Maria Pia, esta, furiosa, disse-lhe: "se fosse eu a mandar, o senhor já teria sido fuzilado!" Poucas semanas depois, o marechal foi derrubado por outro golpe militar, exilando-se em Londres.
Este marechal foi uma figura romanesca da nossa história, entre muitas outras cujas vidas davam um bom filme.
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