respublica

sexta-feira, dezembro 12, 2003




BOLSAS DE CRIAÇÃO LITERÁRIA Concordo com o Aviz, para quem "(...) um pouco por todo o lado, sobre as bolsas de criação literária lêem-se coisas espantosas, infelizmente por parte de quem as defende de forma incondicional, como se fosse obrigação do Estado pagar os seus escritores. Não é. Nunca concorri a nenhuma delas e não recebi nenhum subsídio — mas não me incomoda que alguns escritores tenham obtido bolsas por um período determinado. (...) não gosto de juízos morais — e também não gosto desse processo de intenções que faz disto um caso político, até porque acho que, em circunstâncias ideais, o Estado não devia ter nada a ver com o domínio da criação — não gosto do Estado nem da galeria de comissários do gosto (sobretudo quando são vanguardistas, porque têm tendência para se tornarem pequenos ditadores), funcionários da «divisão de estética e metacrítica», pedagogos oficiais e ressentidos com poder. Sobretudo isso — não gosto do Estado nem do seu ressentimento. O desejo de ser pago pelo Estado assusta-me. É uma dependência medíocre."

Além das razões acima referidas, creio que a atribuição de bolsas de criação literária não se traduz num aumento da qualidade das obras. Por outro lado, estas bolsas de criação literária também não aumentam o interesse do público pela literatura. Num país em que, segundo dados recentemente divulgados, a esmagadora maioria dos cidadãos não lê um livro há mais de um ano, o Estado faria bem melhor em investir na formação cultural das pessoas, construindo mais bibliotecas, comparticipando a aquisição de livros, aperfeiçoando os programas escolares ou financiando programas televisivos dedicados à literatura e ao conhecimento, deixando a criação para os criadores.

Muitos bons escritores são-no precisamente porque encontram inspiração para escrever na sua vida profissional - como professores, bancários, funcionários públicos, jardineiros... etc. Os que vivem exclusivamente dos direitos de autor são uma escassa minoria.