respublica

quinta-feira, setembro 29, 2005

You are a

Social Moderate
(43% permissive)

and an...

Economic Liberal
(33% permissive)

You are best described as a:

Centrist




Link: The Politics Test on Ok Cupid
Also: The OkCupid Dating Persona Test

quarta-feira, setembro 28, 2005

DESIGUALDADE No excelente blog O Observador, o André Abrantes Amaral citou M. Scott Peck para ilustrar como somos todos desiguais:

"Já explorei um aspecto do “pensamento criminoso” conhecido como a psicologia dos “direitos adquiridos”. Muitas pessoas – sejam ricas ou pobres – tendem a acreditar terem direito a algo em troco de nada, ou a comportar-se como se todo o mundo lhes devesse, e não o contrário.

(...) Somos todos iguais aos olhos de Deus. Para lá disso, porém, somos completamente desiguais. Temos diferentes dons e limitações, diferentes genes, diferentes linguagens e culturas, diferentes valores e estilos de pensamento, diferentes percursos pessoais. Na verdade, a Humanidade poderia ser adequadamente designada como a espécie desigual. Aquilo que mais nos distingue de todas as outras criaturas é a nossa extraordinária diversidade, e a variabilidade dos nossos comportamentos. Iguais? Falando apenas na esfera moral, variamos entre demoníacos e gloriosamente angélicos.

A falsa noção da nossa igualdade empurra-nos para a pretensão de pseudocomunidade – a noção segundo a qual todos são iguais – e quando essa pretensão falha, como tem de falhar se agirmos com o mínimo de intimidade ou autenticidade, conduz-nos à tentativa de atingir a igualdade através da força: a força da persuasão suave, seguida por uma persuasão cada vez menos suave. (...) A missão da sociedade não é a de estabelecer a igualdade. É, sim, a de desenvolver sistemas que lidem de forma humana com a nossa desigualdade – sistemas que, de forma razoável, celebrem e encorajem a diversidade."


Estou de acordo com o André e com o autor em questão. Devemos ser todos iguais perante Deus e perante a lei, mas de resto somos diferentes. Os conceitos de "igualdade" e "justiça social" alardeados nos últimos séculos pela esquerda "continental" europeia pecam por tiques totalitários que desvirtuam os próprios propósitos de quem os defende. Por exemplo, o tão apregoado "modelo social europeu" não garante aquilo que um Estado "justo" deveria conceder aos seus cidadãos: igualdade de oportunidades. Além de que, convém referir, gera menos desenvolvimento humano que o tão criticado modelo "capitalista selvagem" norte-americano.

Mas reparem na última frase do texto supracitado: "desenvolver sistemas que lidem de forma humana com a nossa desigualdade". Ora lidar de "forma humana" com a desigualdade implica, em meu entender, o reconhecimento de determinados direitos (os chamados "direitos humanos"). Além disso, significa que o Estado deve garantir a todos os cidadãos condições para se realizarem enquanto seres humanos e possam ascender socialmente. Por outras palavras, garantir igualdade de oportunidades a todos os cidadãos. Por exemplo, pagando os estudos de quem não o pode fazer por falta de recursos, se as pessoas em causa tiverem capacidade para estudar, evidentemente.

No princípio do século XX, Churchill dizia que "A diferença entre o socialismo e o liberalismo é que o primeiro quer proletarizar a sociedade, enquanto o segundo visa aburguesá-la" (tradução livre), e ainda hoje, cem anos volvidos, o nosso sistema dito "social" não cumpre aquilo que em nome da justiça deveria fazer: conceder igualdade de oportunidades a todos os cidadãos, fazendo com que as circunstâncias de nascimento e origem étnica, social ou religiosa os impeçam de dar o melhor de si.

Não é justo que uma pessoa esteja condenada a uma vida de pobreza e de miséria apenas por ter nascido em circunstâncias que não lhe permitam aprender, trabalhar, gerar riqueza e ascender socialmente. E creio que, se o Estado garantir que isto não aconteça, o liberalismo político e económico será o sistema mais justo, porque dá ao indivíduo liberdade para decidir o seu próprio destino, com a certeza que o trabalho, o esforço e o mérito serão recompensados.

CONSCIÊNCIA Concordo com o post anterior, do Rui Afonso, especialmente quando ele afirma que, infelizmente, muitos jovens consideram "cool" não dizerem "obrigado" ou "se faz favor".

Todavia, penso que mais preocupante que esse abandono de determinadas regras de boa educação será a tendência que muita gente nova (e não só...) tem para ter orgulho em "nunca se arrepender" do que faz. Conheço inúmeras pessoas que se orgulham de não terem "vergonha de nada do que fazem", como se tal fosse sinónimo de uma personalidade forte e segura de si.

A consciência de que se cometeu algo errado é vista como um sinal de fraqueza e uma demonstração de fragilidade. Tal como o arrependimento. E sem este último, também não poderá existir perdão, seja da parte de quem o pede, seja de quem o concede.

Por outro lado, conheço cada vez mais pessoas que se escudam na frase "desculpas não se pedem, evitam-se", como se não fôssemos todos humanos e, por consequência, passíveis de errar.

Neste contexto, a consciência deixa pura e simplesmente de existir; para muitos, o errado não é roubar, mentir, enganar ou trair ("porque o importante é aproveitar a vida"), mas sim o facto de se vir a arrepender desses mesmos erros, pois tal seria encarado como um sinal de fraqueza.

Nada mais errado, porém. A pessoa forte e segura de si é aquela que compreende a natureza humana, que se aceita a si mesmo e aprende com os próprios erros, bem como com os dos outros. E que, por isso mesmo, está disposta a perdoar e a compreender-se a si e aos outros. Isso sim, é fortaleza de carácter.

ESTAMOS NA EUROPA? Segundo o Público de hoje, Avelino Ferreira Torres afirmou ontem que se lhe "entregassem o futebol em Maio, o Amarante no ano seguinte subia", acrescentando que “infelizmente, o futebol não se joga só nas quatro linhas, mas também fora."

E acrescentou: "E aí, como toda a gente sabe, estou à vontade".

Pois deve estar, de facto. Os restantes arguidos do processo "Apito Dourado" que o digam.

PENSAMENTO Não resisto a citar um "pensamento do dia" do Acidental: "Feliz foi Ali Babá, que não viveu em Portugal e só conheceu 40 ladrões!"

sábado, setembro 24, 2005

CRISE DE VALORES ÉTICOS/CÍVICOS O post anterior, do Filipe Alves, embora não se referisse, exclusivamente, às crises de valores, acabou por criar, nos comentários, essa mesma discussão.

Falando no caso português, especificamente, estou perfeitamente de acordo quanto à existência desta crise de valores cívicos, mormente nas camadas mais jovens. Não existe o respeito pelo próximo. Cultiva-se uma cultura de um quase-"umbiguismo", o narcisismo absoluto e aburso.

As causas, se bem que não facilmente elencáveis, por diversas, estão à vista. A primeira de todas, a meu ver, e sabendo que firo algumas susceptibilidades, é a péssima adaptação ao pós Revolução de Abril, a má interpretação que dela se fez. Confundiu-se, desde logo, liberdade com libertinagem, direito à palavra com direito à má-educação, queda do fascismo com queda de hierarquias sociais/familiares/laborais. Os amicismos, antes criticados por pertença exclusiva de uma diminuta parcela social (ligada ao poder), proliferaram por todos os sectores da sociedade. Entrou-se num certo facilitismo, em que todos temos direito a tudo, passando por cima de todos, sem que nada façamos para alcançar esse status. E esta errada interpretação da Revolução, passou da geração que a viveu para a geração seguinte. Os jovens-adultos de hoje cresceram a ouvir em casa, na escola, no café, no grupo de amigos, ser esta a melhor e única e inteligente forma de agir.

Cruzei-me, também, especialmente nos corredores das faculdades, com muitos jovens que, mesmo tendo sido educados com base em valores e princípios éticos/cívicos, por uma questão de pseudo-integração, de pseudo-virilidade, acham absolutamente ridículo que se usem, no dia-a-dia, expressões como "desculpe", "com licença", "obrigado". Expressões maricas, segundo a maioria deles. Depois, temos as raparigas que fazem parte desses grupos que, ao abrigo de um pseudo-feminismo bacoco, são ainda piores, tentativa absurda de demonstração de superioridade.

Por fim, aquilo que refere num dos comentários, e bem, o Carlos Sousa. E passo a citar:"(...) é necessário impôr novos valores éticos e morais às novas gerações. Os jovens estão-se a perder por terem os paizinhos sempre a "amparar o jogo". Têm tudo o que querem, não têm que lutar por nada, vivem uma vida sem moral, princípios e ética e ainda vêm dizer que "estão mais humanos agora do que nunca"." Subscrevo inteiramente.

O mais espantoso de toda esta questão, é que não foi a suposta população iletrada, rural, a adoptar este tipo de postura (e aí, até talvez se compreendesse, embora não se aceitasse, por terem sido, ao longo de anos, os mais subjugados). Assistimos a novo-riquismo desenfreado, pejado desses clichés mal-educados com os quais julgam brilhar. Nos tempos que correm, se se entrar numa qualquer tasca de aldeia, onde sejamos desconhecidos, de imediato cessam as conversas menos próprias. Existe aí um ambiente de respeito. Ouvem-se o por favor e o obrigado. Já nos círculos sociais urbanos, supostamente desenvolvidos, a má-criação grassa de forma desmesurada, e com tendência a piorar. Talvez fosse necessária uma nova ditadura, que levasse a nova revolução, para ver se desta vez se dava o real valor que Abril teve. A capacidade de, livremente, interagirmos em sociedade, sempre com respeito pelo próximo, porque só depois de Abril passámos a fazer parte de um todo. E, com a vossa licença, calo-me por aqui. Está aberta a discussão... Ponto final.

segunda-feira, setembro 19, 2005

ACREDITAR Em conversa com um amigo brasileiro, referia que um dos problemas da Europa reside no facto de muitas pessoas terem deixado de acreditar em algo, seja numa religião, numa ideologia ou num determinado sistema de valores éticos. Depois de concordar comigo, o meu colega respondeu: "Pois é, isso é verdade, cara, mas lá no Brasil o problema é acreditarmos em tudo".

terça-feira, setembro 13, 2005

CANALHICE A destruição das sinagogas dos antigos colonatos israelitas na Faixa de Gaza por militantes do Hamas é mais uma prova da verdadeira natureza daquele grupo.

O Islão condena qualquer acto de violência contra locais de culto. Aliás, o Profeta Maomé pregou que os muçulmanos devem proteger os restantes "povos do livro" (os dimmi) e respectivos locais sagrados. A destruição das sinagogas é, por isso, um acto contrário à religião que os criminosos do Hamas dizem professar e, diria mesmo, um crime contra a humanidade.

Num jornal "popular" português, lê-se o seguinte a respeito da destruição das sinagogas, entre mil e uma referências à "luta de libertação" do Hamas: "A população palestiniana já começou a destruir as sinagogas (...)".

Esta expressão, "já começou", parece-me própria de quem vê a situação com a maior naturalidade, como se fosse uma coisa normal destruir locais de culto. Não se lê na notícia uma única reacção ao sucedido, da parte de líderes políticos ou religiosos palestinianos e israelitas, embora tal se deva à incompetência dos jornalistas e não à ausência de reacções. Já o Público, por exemplo, disponibiliza no seu site uma notícia mais completa.

Evidentemente, fossem judeus a destruir mesquitas, a imprensa daria voz a um tremendo coro de protestos.

segunda-feira, setembro 12, 2005

KATRINA (III) Comentando o meu anterior post sobre o furacão Katrina, Joana Amaral Dias aconselhou-me a rezar a Santa Bárbara:

"(...) Mas como era previsível, a direita portuguesa, acha que o Katrina e Quioto não têm qualquer relação. Por todo lado, entre blogs e opinião na imprensa, desconsidera-se este elo científico. Rezem, então, a Santa Bárbara."

Isto quando a própria, citando o cientista Nicholas Kristof, refere o seguinte:

“True, we don't know whether Katrina was linked to global warming. (...)"

Eu não digo que não possa existir ligação entre o aquecimento global e a ocorrência destes furacões. O que afirmo é que não existem provas científicas que permitam estabelecer tal ligação. E isto é reconhecido até pelos cientistas que, como o citado Kristof, defendem essa teoria.

O pior que se pode fazer é analisar este tipo de fenómenos de um ponto de vista inquinado à partida por preconceitos ideológicos e anti-americanismos primários. Caso contrário, corremos o risco de vestirmos a pele de Padres Malagridas do século XXI.

quinta-feira, setembro 08, 2005

KATRINA (II) A catástrofe provocada pelo furacão "Katrina" na região do Golfo do México deu azo a que se fizessem ouvir um chorrilho de comentários e análises não raramente imbuídas de fanatismo e ignorância.

Dois fanatismos deram um ar de sua graça; por um lado, o dos fanáticos religiosos, que vêem em Nova Orleães uma espécie de Sodoma e Gomorra. Mas esses já não vêm de agora.

Ao mesmo tempo, surgem os fanáticos "seculares", especialmente deste lado do Atlântico. Do alto da sua superioridade moral, estes encaram o desastre como uma prova da falência do capitalismo, dos "pés de barro" do império e da culpa de Bush por não ter assinado o protocolo de Quioto. Para estes, o Katrina foi um acto de justiça poética que devolveu "humildade" aos americanos.

Do alto do seu poleiro de abutres, estes novos moralistas esquecem-se do seguinte:

- Não há quaisquer provas científicas que associem o aquecimento global à ocorrência de furacões desta natureza.

- Além de não existirem provas de tal ligação, os números sugerem exactamente o contrário: nos anos 50, aquela região dos EUA foi afectada por 37 tempestades violentas. Durante a década de 90, quando se tornou alarmante o fenómeno do aquecimento global, essas tormentas foram apenas 19 (números do jornal londrino "Times").

- É completamente impossível evacuar mais de um milhão de pessoas em menos de 48 horas (meio milhão na cidade de Nova Orleães e o resto nos arredores).

- É muito difícil prever com exactidão o rumo que um furacão daqueles vai tomar.

- A região afectada é imensa, cerca de metade do território francês.

- Os EUA, o tal país da "pobreza oculta" e do "capitalismo desumano", é o décimo com mais elevado índice de desenvolvimento humano (IDH), segundo o ranking ontem divulgado pelas Nações Unidas. Muito à frente de países como a Finlândia, Dinamarca, Reino Unido e França, para não falar de Portugal.

- Nenhum país do mundo está preparado para enfrentar uma situação daquelas.

- A incúria que de facto houve em relação aos diques de Nova Orleães, não é exclusiva do sistema americano...

- Os EUA são um país de autoridades sobrepostas. O governo estadual e as autoridades locais foram talvez mais negligentes que as autoridades federais, no que diz respeito à manutenção dos diques.

___________________

P.S.: o artigo de Fernando Rosas publicado na edição de ontem do "Público" é verdadeiramente lamentável. Como é possível que um professor universitário assine semelhante texto!

SENSATEZ É por estas e por outras que digo que este rapaz vai longe!

segunda-feira, setembro 05, 2005

KATRINA Vital Moreira escreveu hoje, no Causa Nossa:

"Nada melhor para verificar o precioso valor do Estado do que as grandes catástrofes naturais. A responsabilidade pública na degradação e insuficiência das defesas de Nova Orleães contra as águas, bem como a indesculpável demora e ineficiência no socorro da cidade após a catástrofe, mostram os efeitos nefastos das políticas de desinvestimento público em infra-estruturas e no serviço público de protecção civil. A principal tarefa de toda a colectividade política organizada - a que chamamos Estado - sempre foi a segurança dos seus membros. A lição do furacão Katrina é a de que o "Estado mínimo" pode ser sinónimo de segurança mínima."

Com todo o respeito que a figura de Vital Moreira me merece, acho extremamente redutor ver no Katrina um pretexto para este tipo de discussões. Antes de mais, porque nenhum país do mundo, por mais rico e poderoso que seja, estaria à altura de enfrentar com 100 por cento de êxito uma tempestade daquelas dimensões. Para termos uma ideia do problema, o furacão afectou uma área semelhante à da Grã-Bretanha. Só o centro da tempestade media quase cem quilómetros de diámetro. Se tivesse ocorrido em Portugal, o nosso país provavelmente desapareceria do mapa... a Baixa de Lisboa, por exemplo, ficaria debaixo de água numa questão de minutos.

Não é, portanto, uma questão de "estado mínimo" vs. "estado social", até porque a função principal do estado liberal - de que os EUA são o maior expoente -, é precisamente a manutenção da ordem e da segurança. Não tenho a menor dúvida que o "estado mínimo" que Vital Moreira refere, os EUA, está melhor preparado para este tipo de situações que a maior parte dos "estados sociais".

sexta-feira, setembro 02, 2005

OPINIÕES O Opinião Pública, da SIC Notícias, é um excelente programa. Mas não consigo deixar de rir com alguns dos comentários que nele se ouvem. Na altura em que escrevo, uma senhora fala das "contrapartidas entre a América e a Alemanha", na 2ª Guerra Mundial, "que estão agora a descobrir-se". Não tarda, começam a acusar os EUA de ter provocado a segunda guerra mundial. Este delírio colectivo começa a ser preocupante.

Num programa que tem como tema a tragédia de Nova Orleães, as pessoas que telefonam só falam de George W. Bush, da guerra do Iraque e dos meios que a América terá para combater este tipo de coisas (como se fosse possível vencer e escapar 100 por cento incólume a fenómenos naturais desta amplitude...).

Se as vítimas de fenómenos naturais são pessoas pobres do Sudeste Asiático, apela-se à solidariedade internacional; se forem americanos, contudo, a atitude é mais do género "eles que são ricos que se arranjem". É ainda a velha visão maniqueia e "rousseauniana" de ricos=patifes, pobres=justos. E em todo o caso, se acontecem tragédias como tsunamis ou furacões, a culpa é apenas da América, essa poluidora descarada, como se as chaminés das fábricas e refinarias da China, da Rússia e da Europa cheirassem a água de rosas.

Se bem me lembro, aquando do tsunami que afectou a Ásia, no ano passado, um certo senhor que é hoje candidato presidencial disse mesmo que era a "vingança da natureza" face às agressões de que é vítima, associando-lhe a não ratificação do tratado de Quioto por parte dos EUA. Evidentemente, um tsunami é um fenómeno natural provocado por um sismo e não pela acção do Homem, esse ser insignificante que, no fundo, é apenas uma pulga no dorso de um elefante. Mas até os tsunamis servem para quem quer acusar a América de tudo e mais alguma coisa.

DISPARATES Depois da tragédia de Nova Orleães, começaram a surgir os primeiros comentários anti-americanos, vindos dos sectores do costume: "gigante de pés de barro", "a sociedade americana está doente", "só na América fazem pilhagens depois de uma catástrofe", "a escumalha do mundo" e "fruto da sociedade em que vivemos", entre outras alarvidades. O que está a acontecer em Nova Orleães foi explicado por Hobbes há vários séculos: quando o direito deixa de existir, passa a vigorar a lei do mais forte. Homens comuns cometem os crimes mais hediondos (o que nos remete também para o conceito de banalidade do mal, enunciado por Arendt), como se viu em Aushwitz ou na guerra da Bósnia, por exemplo.

Em Portugal não seria diferente. Aliás, já aconteceu: quando se deu o terramoto de 1755, deram-se tantas pilhagens e desordens que o Marquês de Pombal ordenou a execução imediata e sem julgamento de saqueadores e outros criminosos apanhados em flagrante delito.

Se o Katrina atingisse o litoral português, multidões enraivecidas saqueariam centros comerciais, escritórios de empresas, bancos e zonas residenciais. Além de que o governo nunca conseguiria evacuar 6 ou 7 milhões de pessoas em 24 horas. Seria o caos total e o colapso de qualquer autoridade estatal. E então, estes que agora deixam escapar "bocas" de satisfação perante a aflição actual da superpotência, seriam os primeiros a bradar aos céus: "onde estão os americanos?"

quinta-feira, setembro 01, 2005



METÁFORAS BÉLICAS É curiosa a forma como muitas figuras da nossa Esquerda, desde políticos a colunistas e bloggers, recorrem amiúde a metáforas bélicas. Expressões como "luta", "combate", "tropas", "general", "comandante", "exército" e outras do género são frequentes neste tipo de discurso, o que não deixa de ser algo paradoxal, tendo em conta a veia pacifista (em muitos casos, extremista) da maior parte da Esquerda europeia.

Vejamos este texto de Luís Osório, publicado no Causa Nossa, e no qual assinalei a negrito as referências "bélicas":

"Soares, na apresentação da sua candidatura, esteve acompanhado de uma parte significativa dos amigos de sempre. Teve algo de tocante assistir ao regresso do velho general e ao reencontro com a maioria dos seus lugares-tenente. Também eles mais velhos, aparentemente sem força para mais uma batalha, mas dizendo presente contra a lógica. No entanto, aquilo que é bonito pode tornar-se num problema delicado. Mário Soares sabe que só poderá ter uma hipótese de ganhar, e é o único candidato à esquerda que a tem, se tiver nas suas mãos as mãos do futuro. Se os seus fiéis soldados de sempre insistirem em estar na primeira fila, em nome de uma amizade de sempre, Soares perderá sem resistência para Cavaco Silva. Mas se ele descer às ruas na companhia de um exército jovem e optimista então o resultado das eleições poderá ser imprevisível para Cavaco Silva."

Parece-me que na origem deste recurso a metáforas bélicas estão vários condicionalismos históricos que continuam a marcar o "espírito" da esquerda europeia, a qual insiste em ver a política como uma espécie de luta entre o Bem e o Mal, entre os que têm objectivos nobres, puros e desinteressados (eles, claro) e os outros, todos os que não pensam como eles. É por isso que a definição de direita existe em função da de esquerda e não o inverso.

Além disso, o uso de metáforas bélicas reforça o sentimento de unidade e de pertença a um corpo superior. Um soldado não questiona, obedece. Um exército luta, não discute.

E depois, claro, permanecem as fantasias românticas ligadas a figuras como "Che" Guevara e outras do género, com a Esquerda europeia a desculpar e a justificar todo o tipo de violências e atrocidades com o pretexto de causas pretensamente nobres e justas.

Vivendo num estado de direito e democrático, não se justifica este tipo de mentalidade de "luta" permanente. Não estamos em 1789, em 1910 ou em 1974.

How You Life Your Life

You have a good sense of self control and hate to show weakness.

You say whatever is on your mind. Other people's reactions don't phase you.

You tend to have one best friend you hang with, as opposed to many aquaintences.

You have one big dream in your life, and you never lose sight of it.

MAIS DO QUE ISTO... A forma como Mário Soares se referiu à importância da economia, citando Pessoa, reflecte a mentalidade de muitos portugueses e explica, em grande parte, o estado a que chegamos:

"(...) A economia é extremamente importante, ninguém o ignora. É uma das chaves do nosso futuro colectivo. Mas a economia está ao serviço das pessoas e não as pessoas da economia. (...) Depois, como escreveu Fernando Pessoa: "Mais do que isto/é Jesus Cristo/que não sabia nada de finanças/nem consta que tivesse biblioteca"

Esta mentalidade de quem diz privilegiar as "pessoas" é a responsável pela irresponsabilidade completa a que se assiste neste país. As derrapagens nos orçamentos das obras públicas, que deviam ser factos excepcionais, são toleradas e aceites com naturalidade. Os "boys" partidários repartem entre si o Estado e tudo quanto é empresa pública, instituto ou "tacho" de acessor principescamente pago. Fala-se muito em conceitos abstractos e genéricos como "diálogo", "igualdade", "justiça" e "repartição da riqueza", mas perpetua-se um sistema pesado, burocrático e ineficaz que faz exactamente o contrário dessas palavras bonitas que os políticos do "combate", da "luta" e das "batalhas" tanto falam. Além de pesado, o nosso sistema "social" é mau e falha naquilo que seria mais importante, dar igualdade de oportunidades a todos os cidadãos.

E Mário Soares foi um dos responsáveis por termos chegado a este estado de coisas. Por isso, nada de novo virá da sua candidatura e eventual vitória. Apenas mais jacobinismo, estatismo, arrogância soarista e ilusão de quem vive acima das suas possibilidades. Além de que, convém não esquecer, Soares presidente não será grande ajuda para qualquer governo que queria reformar a administração pública e controlar o défice.

Merecíamos mais que isto.