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quarta-feira, setembro 28, 2005

DESIGUALDADE No excelente blog O Observador, o André Abrantes Amaral citou M. Scott Peck para ilustrar como somos todos desiguais:

"Já explorei um aspecto do “pensamento criminoso” conhecido como a psicologia dos “direitos adquiridos”. Muitas pessoas – sejam ricas ou pobres – tendem a acreditar terem direito a algo em troco de nada, ou a comportar-se como se todo o mundo lhes devesse, e não o contrário.

(...) Somos todos iguais aos olhos de Deus. Para lá disso, porém, somos completamente desiguais. Temos diferentes dons e limitações, diferentes genes, diferentes linguagens e culturas, diferentes valores e estilos de pensamento, diferentes percursos pessoais. Na verdade, a Humanidade poderia ser adequadamente designada como a espécie desigual. Aquilo que mais nos distingue de todas as outras criaturas é a nossa extraordinária diversidade, e a variabilidade dos nossos comportamentos. Iguais? Falando apenas na esfera moral, variamos entre demoníacos e gloriosamente angélicos.

A falsa noção da nossa igualdade empurra-nos para a pretensão de pseudocomunidade – a noção segundo a qual todos são iguais – e quando essa pretensão falha, como tem de falhar se agirmos com o mínimo de intimidade ou autenticidade, conduz-nos à tentativa de atingir a igualdade através da força: a força da persuasão suave, seguida por uma persuasão cada vez menos suave. (...) A missão da sociedade não é a de estabelecer a igualdade. É, sim, a de desenvolver sistemas que lidem de forma humana com a nossa desigualdade – sistemas que, de forma razoável, celebrem e encorajem a diversidade."


Estou de acordo com o André e com o autor em questão. Devemos ser todos iguais perante Deus e perante a lei, mas de resto somos diferentes. Os conceitos de "igualdade" e "justiça social" alardeados nos últimos séculos pela esquerda "continental" europeia pecam por tiques totalitários que desvirtuam os próprios propósitos de quem os defende. Por exemplo, o tão apregoado "modelo social europeu" não garante aquilo que um Estado "justo" deveria conceder aos seus cidadãos: igualdade de oportunidades. Além de que, convém referir, gera menos desenvolvimento humano que o tão criticado modelo "capitalista selvagem" norte-americano.

Mas reparem na última frase do texto supracitado: "desenvolver sistemas que lidem de forma humana com a nossa desigualdade". Ora lidar de "forma humana" com a desigualdade implica, em meu entender, o reconhecimento de determinados direitos (os chamados "direitos humanos"). Além disso, significa que o Estado deve garantir a todos os cidadãos condições para se realizarem enquanto seres humanos e possam ascender socialmente. Por outras palavras, garantir igualdade de oportunidades a todos os cidadãos. Por exemplo, pagando os estudos de quem não o pode fazer por falta de recursos, se as pessoas em causa tiverem capacidade para estudar, evidentemente.

No princípio do século XX, Churchill dizia que "A diferença entre o socialismo e o liberalismo é que o primeiro quer proletarizar a sociedade, enquanto o segundo visa aburguesá-la" (tradução livre), e ainda hoje, cem anos volvidos, o nosso sistema dito "social" não cumpre aquilo que em nome da justiça deveria fazer: conceder igualdade de oportunidades a todos os cidadãos, fazendo com que as circunstâncias de nascimento e origem étnica, social ou religiosa os impeçam de dar o melhor de si.

Não é justo que uma pessoa esteja condenada a uma vida de pobreza e de miséria apenas por ter nascido em circunstâncias que não lhe permitam aprender, trabalhar, gerar riqueza e ascender socialmente. E creio que, se o Estado garantir que isto não aconteça, o liberalismo político e económico será o sistema mais justo, porque dá ao indivíduo liberdade para decidir o seu próprio destino, com a certeza que o trabalho, o esforço e o mérito serão recompensados.