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quinta-feira, setembro 01, 2005



METÁFORAS BÉLICAS É curiosa a forma como muitas figuras da nossa Esquerda, desde políticos a colunistas e bloggers, recorrem amiúde a metáforas bélicas. Expressões como "luta", "combate", "tropas", "general", "comandante", "exército" e outras do género são frequentes neste tipo de discurso, o que não deixa de ser algo paradoxal, tendo em conta a veia pacifista (em muitos casos, extremista) da maior parte da Esquerda europeia.

Vejamos este texto de Luís Osório, publicado no Causa Nossa, e no qual assinalei a negrito as referências "bélicas":

"Soares, na apresentação da sua candidatura, esteve acompanhado de uma parte significativa dos amigos de sempre. Teve algo de tocante assistir ao regresso do velho general e ao reencontro com a maioria dos seus lugares-tenente. Também eles mais velhos, aparentemente sem força para mais uma batalha, mas dizendo presente contra a lógica. No entanto, aquilo que é bonito pode tornar-se num problema delicado. Mário Soares sabe que só poderá ter uma hipótese de ganhar, e é o único candidato à esquerda que a tem, se tiver nas suas mãos as mãos do futuro. Se os seus fiéis soldados de sempre insistirem em estar na primeira fila, em nome de uma amizade de sempre, Soares perderá sem resistência para Cavaco Silva. Mas se ele descer às ruas na companhia de um exército jovem e optimista então o resultado das eleições poderá ser imprevisível para Cavaco Silva."

Parece-me que na origem deste recurso a metáforas bélicas estão vários condicionalismos históricos que continuam a marcar o "espírito" da esquerda europeia, a qual insiste em ver a política como uma espécie de luta entre o Bem e o Mal, entre os que têm objectivos nobres, puros e desinteressados (eles, claro) e os outros, todos os que não pensam como eles. É por isso que a definição de direita existe em função da de esquerda e não o inverso.

Além disso, o uso de metáforas bélicas reforça o sentimento de unidade e de pertença a um corpo superior. Um soldado não questiona, obedece. Um exército luta, não discute.

E depois, claro, permanecem as fantasias românticas ligadas a figuras como "Che" Guevara e outras do género, com a Esquerda europeia a desculpar e a justificar todo o tipo de violências e atrocidades com o pretexto de causas pretensamente nobres e justas.

Vivendo num estado de direito e democrático, não se justifica este tipo de mentalidade de "luta" permanente. Não estamos em 1789, em 1910 ou em 1974.