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quinta-feira, setembro 08, 2005

KATRINA (II) A catástrofe provocada pelo furacão "Katrina" na região do Golfo do México deu azo a que se fizessem ouvir um chorrilho de comentários e análises não raramente imbuídas de fanatismo e ignorância.

Dois fanatismos deram um ar de sua graça; por um lado, o dos fanáticos religiosos, que vêem em Nova Orleães uma espécie de Sodoma e Gomorra. Mas esses já não vêm de agora.

Ao mesmo tempo, surgem os fanáticos "seculares", especialmente deste lado do Atlântico. Do alto da sua superioridade moral, estes encaram o desastre como uma prova da falência do capitalismo, dos "pés de barro" do império e da culpa de Bush por não ter assinado o protocolo de Quioto. Para estes, o Katrina foi um acto de justiça poética que devolveu "humildade" aos americanos.

Do alto do seu poleiro de abutres, estes novos moralistas esquecem-se do seguinte:

- Não há quaisquer provas científicas que associem o aquecimento global à ocorrência de furacões desta natureza.

- Além de não existirem provas de tal ligação, os números sugerem exactamente o contrário: nos anos 50, aquela região dos EUA foi afectada por 37 tempestades violentas. Durante a década de 90, quando se tornou alarmante o fenómeno do aquecimento global, essas tormentas foram apenas 19 (números do jornal londrino "Times").

- É completamente impossível evacuar mais de um milhão de pessoas em menos de 48 horas (meio milhão na cidade de Nova Orleães e o resto nos arredores).

- É muito difícil prever com exactidão o rumo que um furacão daqueles vai tomar.

- A região afectada é imensa, cerca de metade do território francês.

- Os EUA, o tal país da "pobreza oculta" e do "capitalismo desumano", é o décimo com mais elevado índice de desenvolvimento humano (IDH), segundo o ranking ontem divulgado pelas Nações Unidas. Muito à frente de países como a Finlândia, Dinamarca, Reino Unido e França, para não falar de Portugal.

- Nenhum país do mundo está preparado para enfrentar uma situação daquelas.

- A incúria que de facto houve em relação aos diques de Nova Orleães, não é exclusiva do sistema americano...

- Os EUA são um país de autoridades sobrepostas. O governo estadual e as autoridades locais foram talvez mais negligentes que as autoridades federais, no que diz respeito à manutenção dos diques.

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P.S.: o artigo de Fernando Rosas publicado na edição de ontem do "Público" é verdadeiramente lamentável. Como é possível que um professor universitário assine semelhante texto!