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sexta-feira, setembro 02, 2005

DISPARATES Depois da tragédia de Nova Orleães, começaram a surgir os primeiros comentários anti-americanos, vindos dos sectores do costume: "gigante de pés de barro", "a sociedade americana está doente", "só na América fazem pilhagens depois de uma catástrofe", "a escumalha do mundo" e "fruto da sociedade em que vivemos", entre outras alarvidades. O que está a acontecer em Nova Orleães foi explicado por Hobbes há vários séculos: quando o direito deixa de existir, passa a vigorar a lei do mais forte. Homens comuns cometem os crimes mais hediondos (o que nos remete também para o conceito de banalidade do mal, enunciado por Arendt), como se viu em Aushwitz ou na guerra da Bósnia, por exemplo.

Em Portugal não seria diferente. Aliás, já aconteceu: quando se deu o terramoto de 1755, deram-se tantas pilhagens e desordens que o Marquês de Pombal ordenou a execução imediata e sem julgamento de saqueadores e outros criminosos apanhados em flagrante delito.

Se o Katrina atingisse o litoral português, multidões enraivecidas saqueariam centros comerciais, escritórios de empresas, bancos e zonas residenciais. Além de que o governo nunca conseguiria evacuar 6 ou 7 milhões de pessoas em 24 horas. Seria o caos total e o colapso de qualquer autoridade estatal. E então, estes que agora deixam escapar "bocas" de satisfação perante a aflição actual da superpotência, seriam os primeiros a bradar aos céus: "onde estão os americanos?"