respublica

segunda-feira, fevereiro 28, 2005



AMNISTIA Faleceu Peter Benenson, advogado britânico fundador da Amnistia Internacional (AI). Católico de ascendência judaica, Benenson fundou a AI em 1961, sensibilizado pelo drama de dois estudantes portugueses condenados a sete anos de prisão por, à mesa de um café lisboeta, ousarem brindar à liberdade.

Procurando alertar a opinião pública para o problema dos prisioneiros de consciência, Benenson publicou um artigo na edição do "Observer" de 27 de Maio de 1961, no qual chamava a atenção para as violações de direitos humanos que tinham lugar um pouco por todo o mundo:

"Open your newspaper any day of the week and you will find a report from somewhere in the world of someone being imprisoned, tortured or executed because his opinions or religion are unacceptable to his government. There are several million such people in prison - by no means all of them behind the Iron and Bamboo Curtains - and their numbers are growing. The newspaper reader feels a sickening sense of impotence. Yet if these feelings of disgust all over the world could be united into common action, something effective could be done.

In 1945 the founder members of the United Nations approved the Universal Declaration of Human Rights. Article 18: Everyone has the right to freedom of thought, conscience and religion; this right includes freedom to change his religion or belief, and freedom, either alone or in company with others and in public or private, to manifest his religion or belief in teaching, practice, worship and observance. Article 19: Everyone has the right to freedom of opinion and expression; this right includes freedom to hold opinions without interference and to seek, receive and impart information and ideas through any media and regardless of frontiers."


O artigo completo pode ser lido aqui.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

A DIGNIDADE DE SANTANA Foi bonito assistir à declaração sensata de Pedro Santana Lopes, onde informou que não se recandidatará à liderança do PSD. O partido agradece e prepara-se para uma necessária revitalização onde a palavra chave será "qualidade". Sem ser precisa uma "guerra civil", o que vai beneficiar a unidade do partido após o congresso de Abril.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

CONTAGEM DE ESPINGARDAS: Pedro Santana Lopes prepara uma guerra civil no seio do seu partido, e vai tê-la, pois muitos dos melhores sociais-democratas tencionam enfrentá-lo sem tréguas até ter terminado o próximo congresso extraordinário. E creio que o velho PSD reformista e competente vai vencer o "Grande luso pequenino", pois por um lado o Santanismo já demonstrou não ter qualidades para governar o país, por outro muitos militantes são avessos ao populismo a que foram habituados, e por fim todos sabem que com Santana e companhia a liderarem o partido, a derrota será certa nas próximas autárquicas e presidenciais.
Espero com paciência a hora de pessoas como Manuela Ferreira Leite, António Borges ou António Mexia restaurarem os valores deste partido tão importante para a democracia portuguesa.

PREOCUPANTE Muito se poderia dizer sobre as eleições de ontem - a derrota do populismo santanista, a falta de ombridade de Santana ao recusar demitir-se, a vitória "esmagadora" do Bloco (só não percebo quem é que eles "esmagaram", sendo ainda a quinta força política e não a terceira, como pretendiam vir a ser), o "cheque em branco" passado ao PS, etc, etc -, mas que outros mais "sabedores" se pronunciem.

No entanto, não posso deixar de reparar que, apesar de a votação dos "partidos de Esquerda" equivaler a cerca de dois terços do total de votos expressos, tal não significa que 65% dos portugueses sejam agora de Esquerda. O PS perdeu votos para o BE e para a CDU - de eleitores desiludidos com Sócrates ou com receio de uma maioria absoluta do PS -, ao mesmo tempo que conquistou votos ao centro e no centro-direita. Ou seja, entre os sociais-democratas que não se revêem na liderança do Guerreiro Menino.

Assim, parece-me óbvio que o PS conseguiu a sua primeira maioria absoluta não por mérito próprio, mas pela repulsa que a figura de Santana provoca em grande parte do eleitorado tradicional do PSD. Vejo por isso com grande receio e estupefacção a forma como grande parte do PSD se agarra ao líder, como ele justificando a derrota com a governação de Barroso ou com o complot organizado contra a sua pessoa, por parte de eminentes corrilegionários, dos media, das empresas de sondagens e de todos esses "invejosos" que dizem mal de Pedro Santana Lopes. O PSD prepara-se para trilhar o caminho do suicídio.

O Guerreiro Menino naufraga, mas ameaça levar com ele um partido fundador da nossa democracia. E tudo em nome do seu ego.

A DÍVIDA A democracia portuguesa tem uma enorme dívida para com Santana: apenas uma personagem daquele calibre dramático poderia fazer com que a abstenção diminuísse. Mais eficiente que qualquer apelo presidencial ou que qualquer spot publicitário da Comissão Nacional de Eleições, a personagem trágico-cómica que é Santana conseguiu finalmente chamar os eleitores às urnas.

sábado, fevereiro 19, 2005

DÚVIDA em relação à questão irmã Lúcia, que me é praticamente indiferente, como aliás o é o suposto milagre de Fátima, tenho que ter dúvidas, como tem a Laurindinha, acerca da verdadeira vontade de reclusão da religiosa. Questão que nunca me tinha incomodado os neurónios. Bastou-me ouvir alguém (não me lembro o nome, mas era alguém da Igreja com conhecimento de causa) falar na televisão dizendo que ela tinha sido, para seu próprio bem e para o bem da Igreja, persuadida ou convencida ou outro termo com o mesmo significado, pela Igreja, naturalmente, de que estaria melhor em reclusão. O que aliás, segundo essa mesma pessoa que a conhecia aparentemente bem, teria condicionado algum sofrimento à religiosa, pessoa muito comunicativa. Claro que ela não foi arrastada em prantos, mas não me custa nada acreditar que o poder persuasor da autoridade da Igreja tenha sido exercido com alguma intensidade para a motivar, para o próprio bem dela, dizem. Sendo ela uma pessoa simples e altamente devota não deve ter sido difícil convencê-la dos supostos benefícios, mas será isso suficiente para dizermos que foi por sua livre e espontânea vontade?

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

RECLUSÃO, CONSENTIMENTO & SUPOSIÇÕES A Laurindinha comentou o meu post sobre a Irmã Lúcia:

"Caro Filipe, pode querer-se viver afastado do mundo por variadíssimas razões, de entre as quais a fé é apenas uma. Não tenho razões para não as respeitar e posso até compreender algumas delas, embora não esqueça que o ser humano é, por natureza, um animal social... O que não é certo é que o "consentimento" da irmã Lúcia tenha sido um "consentimento informado."

Cara Laurinda, ao contrário do que à primeira vista se possa pensar, viver em reclusão num convento não significa que não se tenha vida social. Dentro do convento, é certo, mas tem-se alguma vida social. Quanto mais não seja porque a vida religiosa é, de resto, uma existência em comunidade.

Quanto às suposições a respeito do "consentimento informado" e ao eventual "sequestro" da vidente, parece-me que são isso mesmo, suposições. Nada faz crer que ela tenha sido forçada ao que quer que seja. Por outro lado, não acredito que uma mulher de 40 anos - sim, porque ela tinha 40 anos quando escolheu viver em clausura -, se deixe sequestrar num convento, e que ainda para mais fique nessa mesmíssima condição durante 57 anos. Custa a crer!



LIBERDADE & IGUALDADE (II) O André respondeu ao meu post anterior. Foi um boa resposta, André, mas tenha em conta o seguinte:

Eu disse que “(...) o Estado deve ainda zelar para que todos os cidadãos possam realizar-se pessoal e profissionalmente (...)”. Repare que eu disse "possam realizar-se" e não "se realizem". Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! O Estado tem obrigação de ajudar os cidadãos a superarem eventuais circunstâncias que os impeçam de se realizar profissionalmente, como sejam o nascimento num meio pobre e desfavorecido, o sexo, a orientação sexual, o credo religioso, a etnia, etc. O sistema capitalista puro não garante que uma pessoa tenha êxito por ser inteligente, capaz e trabalhador. Quer exemplos? Um jovem inteligente e estudioso que só consegue frequentar e concluir um curso superior se tiver apoio financeiro do Estado, ou um doente canceroso que só poderá salvar a sua vida se o Estado financiar uma terapia dispendiosa. Não me diga que considera que uma pessoa deve deixar de estudar por não ter posses ou que deve morrer por não poder pagar a cura!

O André escreveu ainda que “(…) afirma o Filipe que tudo isto é um mito idêntico ao que inspirou o comunismo, acrescentando (numa crítica à Revolução Industrial que foi fruto do liberalismo económico então surgido) que, “o camponês inglês “médio” do século XVII vivia mais e melhor do que o operário “médio” dos séculos XVIII e XIX”. O que o Filipe não explica, é porque razão o camponês do século XVII se tornou no operário do século XVIII e XIX. Como ninguém foi obrigado ao quer que seja, só podemos concluir que foi aquela a melhor solução pelo simples facto que quem fosse trabalhar nas fábricas viveria melhor que aqueles que se mantinham nos campos. Este pequeno pormenor explica toda a diferença com o comunismo e é exemplificativo de algumas ideias pré - concebidas que por vezes temos.”

Em relação às migrações de camponeses ingleses para as grandes cidades industriais, devo recordar o André de que nas décadas que se seguiram à Glorious Revolution, a gentry tomou o poder em Inglaterra. E com o Parlamento a autorizar a divisão das terras comunais e os encercamentos das propriedades (enclosures), beneficiando a gentry e deixando milhares de camponeses sem terra, aumentou exponencialmente o número daqueles que migravam para as cidades industriais. Aliado a este facto, o aumento da população verificado ao longo do século XVIII (de seis milhões em 1700 para nove milhões em 1790), fez com que existisse um excesso de mão de obra nos campos. Mão de obra essa que, privada de terras para cultivar, viu-se obrigada a migrar para as grandes urbes industriais. Aliás, este afluxo de mão de obra desempregada (e barata) foi um dos factores que contribuiram para a consolidação da Revolução Industrial.

Parece-me, portanto, que não foram propriamente as (hipotéticas) melhores condições de vida nas cidades que fizeram com que centenas de milhares de camponeses abandonassem as suas terras ancestrais. Foi a necessidade pura e dura de quem se viu privado dos meios necessários ao seu sustento, quer devido às enclosures, quer devido ao aumento populacional nas zonas rurais, que conduziu ao êxodo maciço para as cidades.

Bem sei que, com o passar dos anos, a Revolução Industrial possibilitou a melhoria das condições de vida das populações. Mas a verdade é que, na sua primeira fase, conduziu à destruição da classe dos artesãos urbanos, bem como a uma diminuição da qualidade de vida das classes populares. E tudo isto porque assentava num capitalismo selvagem e verdadeiramente desumano, que nos nossos dias existe ainda na China e nos chamados "Tigres Asiáticos", entre outros países cuja performance económica os neo-liberais tanto louvam. Trabalho infantil, salários miseráveis e situações de escravatura "encapotada" ou semi-legal são produzidos por esse tipo de capitalismo sem quaisquer preocupações sociais. Porque em nome da liberdade e da competitividade cometem-se todo o tipo de abusos sobre os mais fracos.

_________________

P.S.: neste momento, não disponho de elementos concretos sobre a comparação entre o nível de vida e a esperança média de vida dos camponeses do século XVIII e dos operários do século XIX. Assim que puder, disponibilizarei esses dados.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

LÚCIA Sou católico praticante, mas a minha opinião sobre as Aparições de Fátima é algo agnóstica. Aliás, a crença em Fátima não é condição essencial para que alguém se afirme como cristão católico apostólico romano.

Tenho lido os comentários da esquerda "bem pensante" à morte da Irmã Lúcia. Na sua maioria escritos por não-crentes, colocam em causa o percurso de vida da vidente.

Por exemplo, o Rui Tavares, do Barnabé, escreveu o seguinte:

"(...) Hoje em dia há muita conversa acerca de como os valores do Ocidente são mais correctos, mais respeitadores da liberdade, do que os outros. E de como o cristianismo é todo ele sobre a "dignidade humana". Mas aqui temos uma história do Ocidente, do cristianismo – uma miúda de 14 anos que passa a viver às ordens de autoridades religiosas porque "viu" coisas. É tão escura e tão perturbante como as outras histórias, as que não são do Ocidente, e revela tão pouco respeito pela dignidade humana como elas. Aconteceu em Portugal, com uma pessoa, durante décadas do século XX e do XXI. Parece coisa do século VIII. Mas aparentemente não faz confusão a muita gente, que de repente fica temerosa de chocar as convicções de terceiros. Para mim o respeito pelas convicções dos outros ainda não me levou ao ponto de ser insensível à lavagem cerebral, ao sequestro e ao silenciamento (mesmo legal e com bom aspecto)."

Terá a pequena Lúcia sido raptada pela Igreja? Terá a vidente de Fátima sido silenciada e manipulada pela hierarquia católica durante décadas?

Em primeiro lugar, a Igreja de 1917 não tinha a força e a influência política de que viria a gozar durante o Estado Novo. Era uma Igreja perseguida pelos governos republicanos, que não tinha poder para sequestrar uma jovem. Acredito, contudo, que a tenham influenciado - com a ajuda da família e dos amigos, que temiam a perseguição por parte dos republicanos -, no sentido de se recolher à vida religiosa. Mas Lúcia deve ter demonstrado alguma vontade em abraçar tal vocação. Tal como deve ter escolhido viver como religiosa durante as oito décadas seguintes. Não acredito que se tenha deixado "aprisionar". Refira-se, ainda, que Lúcia apenas começou a viver em regime de clausura em 1948, aos 40 anos de idade.

Quem não compreende a religião e a vocação de pessoas como Lúcia - refiro-me à sua vocação como religiosa carmelita e não como vidente -, não entende que nem toda a gente tem como objectivo viver de forma hedonista e consumista. E então efabulam cabalas, não aceitando a hipótese de uma pessoa mentalmente sã desejar voluntariamente afastar-se do mundo.

_______________________

P.S.: o aproveitamento político que Santana Lopes e Paulo Portas fizeram da morte de Lúcia é realmente deplorável. Foi uma falta de respeito pelos eleitores, pela democracia e, antes de mais, pela própria vidente. Só mesmo quem interpreta as campanhas eleitorais como "festas" poderá pensar que estas seriam desrespeitosas à memória de Lúcia.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005



LIBERDADE & IGUALDADE André, não me parece que numa sociedade liberal e num mundo capitalista "estejam abertas as melhores possibilidades para qualquer pessoa, com esforço, singrar na vida". Penso que este é um pressuposto tão teórico e utópico como o será, por outro lado, o ideal comunista da sociedade sem classes.

Igualmente "mitológica", em minha opinião, será a crença de que "quanto maior for o índice de liberdade, maior será a riqueza criada e, quanto maior for riqueza, mais existirá para todos". E isto porque que quem detém o poder económico tudo fará para o partilhar o menos possível. Ora isso faz com que nem toda a gente possa ter uma vida digna. E as pessoas têm o direito a viver de forma digna, pelo simples facto de serem pessoas. A verdadeira liberdade só existe quando o Homem pode comer, vestir e habitar decentemente. Caso contrário, o conceito de liberdade não passará de linda prosápia na boca de filósofos e pensadores bem intencionados.

A título de exemplo, vejamos o que sucedia na Inglaterra da Revolução Industrial: devido às inovações tecnológicas e à mentalidade burguesa de dedicação ao trabalho, a economia britânica cresceu vertiginosamente, atingindo patamares nunca antes imaginados, pelo que nessa época muitas pessoas enriqueceram e ascenderam socialmente. Mas o nível de vida das classes operárias desceu, bem como a própria esperança média de vida. Contra o que à primeira vista se poderia pensar, o camponês inglês "médio" do século XVII vivia mais e melhor do que o operário "médio" dos séculos XVIII e XIX.

Quero com isto dizer que o liberalismo económico puro produz desigualdades sociais a que não se pode fechar os olhos. As pessoas têm direitos pelo simples facto de serem pessoas. E o Estado, assumindo um papel regulador, deve zelar para que todos os cidadãos possam usufruir de condições mínimas de bem estar.

Penso que o Estado deve ainda zelar para que todos os cidadãos possam realizar-se pessoal e profissionalmente, bem como ascender socialmente, mercê do seu mérito, das suas capacidades e do seu esforço. E creio que isso passa por garantir que todos dispõem das mesmas oportunidades. No entanto, tal não significa que não possa haver quem disponha de mais oportunidades que outros. Passo a explicar o aparente paradoxo: por exemplo, A e B podem ter ambos as mesmas oportunidades (expressas em "X"), ainda que A tenha mais "X" que B. E caberá ao Estado fazer com que B, embora tenha menos "X" que A, possa dispôr das mesmas oportunidades de ter êxito profissional e social. Não se nivela por baixo, mas por cima.

Por exemplo, tal não deve significar que o filho de um milionário não tenha mais facilidades em atingir posições de destaque na política ou na vida empresarial, que o filho de um operário. Deve sim querer dizer que o Estado deve fazer com que este último, se tiver mérito e capacidade para tal, possa atingir os mesmos objectivos que o filho do milionário, ou até superá-lo. Desse modo, a liberdade e as especifidades de cada um serão respeitadas, ao mesmo tempo que se consegue dar oportunidades de ascensão social àqueles que um sistema capitalista puro excluíria.

Ou seja, não é necessário prejudicar os ricos em benefício dos pobres - estilo "Robin Hood" moderno -, mas sim "olear" o sistema de maneira a que estes últimos possam ascender socialmente e realizarem-se pessoal e profissionalmente.

Daí que entenda que o Estado tem ainda um importante papel moderador a desempenhar.



A ERA DE CÉSAR Até à promulgação de uma lei por D. João I, a 22 de Agosto de 1422, adoptando a Era Cristã, em Portugal os anos contavam-se pela Era de César, também chamada Era Hispânica.

A Era de César, a que as inscrições nos antigos monumentos religiosos e os textos dos concílios das Espanhas (das quais o Arcebispo de Braga é ainda o Primaz) fazem frequentes menções, começou a contar-se a partir do ano 715 da Fundação de Roma, ou seja, 38 anos e 11 dias antes da nossa Era. Desconhece-se a efeméride a partir da qual se iniciou, mas pensa-se que a adopção deste método de contagem dos anos pretendesse consagrar o reconhecimento da autoridade de Caio Júlio César Octaviano (o futuro imperador Augusto), na Península. Recorde-se que, durante o ano anterior (39 a.C.), o Triúnviro tinha empreendido uma vitoriosa campanha na Hispânia.

A Era de César começou a ser abandonada lentamente; pouco a pouco, deixou de ser usada para datar os documentos e monumentos. E é precisamente pelas inscrições que ainda se conservam, em Igrejas e outros edifícios, que constatamos o seu abandono gradual: na Catalunha foi abandonada por volta do ano 1180; em Navarra deixou de ser referida em 1234, em Aragão em 1350 e em Valência em 1358. Por seu turno, em Castela e Leão vigorou até às cortes de Segóvia (1387), nas quais o rei João I ordenou que doravante se contassem os anos pela Era de Cristo. Refira-se, não obstante, que até ao início do século XVII o uso da Era Cristã não se generalizou por completo em todo o território da Península.

Em Portugal, como acima referi, a Era de César foi substituída pela de Cristo no reinado de D.João I, por lei de 22 de Agosto de 1422.

Assim sendo, e recorrendo a métodos de outros tempos, poderíamos dizer que actualmente estamos no ano 2043 da Era de César, ou Era Hispânica.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

JERÓNIMO Num post intitulado "Rendido", o Timoteo escreveu o seguinte, a respeito da entrevista de Jerónimo de Sousa à RTP:

"A partir de um dado momento deixei de sentir qualquer capacidade crítica. Primeiro pensei que fosse piedade e depois descobri que era outra coisa. Uma extraordinária humildade. Uma grande simplicidade e honestidade. A entrevista a Jerónimo de Sousa estava a ser uma verdadeira lição para os políticos "profissionais". Era um homem simplório sem dúvida mas um grande homem que ficava muito acima dos outros políticos sofisticados que eu tinha escutado até aí. Não era a conversa do costume. Não era a conversa da arrogância e do autoritarismo intelectual pseudo-vanguardista de Louçã que seduz todos os idiotas frágeis nas suas convicções e no seu saber. A parte final da entrevista essa foi notável. A moral de um comunista não é a moral das causas fracturantes. Essas que fiquem para as calendas gregas e para os intelectuais do Bloco de Esquerda. A moral de um comunista é a moral dos operários que têm filhos para criar numa família que é a deles e que se preocupam com a sua felicidade futura."

Penso que de todos os líderes partidários, Jerónimo de Sousa aparenta ser a melhor pessoa. Não sou comunista, nem tão pouco tenho simpatia pelos ideais marxistas, mas partilho, contudo, das preocupações sociais do PCP, pois enquanto cristão entendo que a economia deve beneficiar todos os cidadãos - embora no âmbito de um sistema de mercado, evidentemente. E de todos os cabeças de lista que concorrem nestas eleições, Jerónimo de Sousa parece de facto ser o mais bem intencionado. Com um discurso e uma ideologia ultrapassada, é certo, mas bem intencionado, humilde, trabalhador e honesto.

Basta ver a postura de Jerónimo em campanha: quando visita fábricas e se encontra rodeado de operários, os olhos brilham-lhe com aquele sentimento característico de quem se sente em casa e rodeado pelos seus. Ao contrário dos outros líderes partidários, não mostra desconforto ao contactar com o país real. Além de que um operário metalúrgico que, a grande custo e através de uma aprendizagem autodidacta, ascende ao Parlamento e à chefia de um grande partido, só me pode merecer respeito e admiração.

HOMILIAS O Bloco de Esquerda e o Partido Comunista sentiram-se revoltados com uma homilia em que se pregou contra o aborto e a eutanásia, considerando que o sermão seria um apelo ao voto no PSD e PP. Para estes senhores, os padres podem falar de certos aspectos da sua fé, por vezes ligados à política - a luta contra a pobreza, a urgência de um mundo mais justo e solidário, etc -, mas não de outros!

A LER A entrevista de Loïc Wacquant, Professor da Universidade da Califórnia e da New School for Social Research, ao "Público":

(...) Estamos no início do desenvolvimento de um agressivo Estado penitenciário, mas ainda vamos a tempo. Os cidadãos têm de perceber que isto é uma opção política: que tipo de Estado Portugal quer construir? Um Estado Social que providencia os meios de vida e de apoio (saúde, educação, habitação) para todos? Ou um Estado que abandona a sua missão social e se transforma num Estado policial, que limpa as ruas e mantém a ordem nos bairros pobres?"

GUTERRES Quando em Dezembro de 2001 apresentou a demissão, Guterres mostrou que, ao contrário de certos políticos que lutam contra ventos e marés, não estava agarrado ao poder. Aliás, muitos dos que desde então lhe têm censurado a fuga seriam os primeiros a criticá-lo se, após a derrota nas autárquicas, tivesse decidido permanecer no poder. Todavia, e independentemente da dignidade demonstrada nessa ocasião, a verdade é que Guterres fugiu. E com esta sua ignóbil fuga, Portugal depressa caíu num "pântano" político-institucional, como todos sabemos.

De facto, deixando o governo e o seu próprio partido entregues a figuras menores - Barroso era um líder a prazo, e Ferro um líder que não o era -, Guterres traíu não só a confiança dos que o elegeram, como também os interesses do país. Interesses esses que, enquanto Primeiro-Ministro, jurara defender. Se lhe era impossível continuar, devia ter preparado melhor a sua saída.

Bem sei que um homem não é de ferro, e que "guerreiro também quer colo". Mas um político tem que estar preparado para as críticas (justas e injustas), para as intrigas partidárias e para as lutas entre camarilhas palacianas. E se Guterres não estava à altura do desafio - controlar os apetites dos barões socialistas não é nada fácil, reconheçamos -, nunca se devia ter candidatado a um segundo mandato.

Vem tudo isto a propósito da sua participação na campanha de Sócrates. Não vou entrar em especulações sobre se tal apoio renderá votos a Sócrates. A minha preocupação é outra: parece-me que Guterres não tem legitimidade moral para participar nesta campanha eleitoral (ver "Guterres Põe a Sua "Autoridade Moral" ao Serviço de Sócrates"). Afinal, foi ele quem nos lançou no abismo do défice e da alegre irresponsabilidade governativa. Foi Guterres quem desertou do posto, entregando-nos aos figurões que desnorteiam este país. E o seu regresso à luta partidária - ao lado de Coelho, Vitorino e outros-, significa que caso Sócrates vença, regressaremos ao guterrismo. Retornaremos a um país feliz e contente, que gasta mais do que pode, e que na doce vertigem do despesismo, do clientelismo e do facilitismo se considera rico e desenvolvido. Pobre Portugal!

____________________________

P.S.: Claro que, por esta óptica, também José Manuel Durão Barroso se poderá classificar como "fugitivo"...

O PODER DA COMUNICAÇÃO SOCIAL O PSD sabe, através de todos os estudos de opinião e sondagens que têm sido divulgadas, que o PS parte para a campanha com uma clara vantagem. Mas sabe também que lá vai o tempo em que as eleições se ganhavam no terreno, terra a terra, casa a casa, porta a porta, em contactos com as populações e sessões de esclarecimento. Sabe igualmente o quanto hoje a política se joga no palco da comunicação social e como é determinante não a forma como corre a jornada de campanha em si, mas como a imagem que passa na televisão desse dia de campanha ou desse evento de campanha.

O excerto é deste artigo, na edição online do Público, e reflecte, de alguma forma, uma preocupação que tenho vindo a ter, nos últimos tempos - tendo a comunicação social o poderio na gestão de opiniões que tem, será lícito bombardeá-la, diariamente, com os comentários dos pseudo-analistas, supostamente pessoas bem informadas, bem pensantes e isentas, quando sabemos, de antemão, que estes pendem para determinado quadrante político e que vão, inevitavelmente, influenciar o sentido de voto de algumas pessoas? Pior, muitas vezes, estes (não) isentos comentadores são, basbaque, jornalistas no activo!

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

CHURCHILL Via O Observador, fiquei a conhecer um site que contém histórias Churchillianas, incluindo muitos das frases célebres e episódios famosos da vida do excêntrico estadista britânico. Recomendo a visita.