respublica

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

GUTERRES Quando em Dezembro de 2001 apresentou a demissão, Guterres mostrou que, ao contrário de certos políticos que lutam contra ventos e marés, não estava agarrado ao poder. Aliás, muitos dos que desde então lhe têm censurado a fuga seriam os primeiros a criticá-lo se, após a derrota nas autárquicas, tivesse decidido permanecer no poder. Todavia, e independentemente da dignidade demonstrada nessa ocasião, a verdade é que Guterres fugiu. E com esta sua ignóbil fuga, Portugal depressa caíu num "pântano" político-institucional, como todos sabemos.

De facto, deixando o governo e o seu próprio partido entregues a figuras menores - Barroso era um líder a prazo, e Ferro um líder que não o era -, Guterres traíu não só a confiança dos que o elegeram, como também os interesses do país. Interesses esses que, enquanto Primeiro-Ministro, jurara defender. Se lhe era impossível continuar, devia ter preparado melhor a sua saída.

Bem sei que um homem não é de ferro, e que "guerreiro também quer colo". Mas um político tem que estar preparado para as críticas (justas e injustas), para as intrigas partidárias e para as lutas entre camarilhas palacianas. E se Guterres não estava à altura do desafio - controlar os apetites dos barões socialistas não é nada fácil, reconheçamos -, nunca se devia ter candidatado a um segundo mandato.

Vem tudo isto a propósito da sua participação na campanha de Sócrates. Não vou entrar em especulações sobre se tal apoio renderá votos a Sócrates. A minha preocupação é outra: parece-me que Guterres não tem legitimidade moral para participar nesta campanha eleitoral (ver "Guterres Põe a Sua "Autoridade Moral" ao Serviço de Sócrates"). Afinal, foi ele quem nos lançou no abismo do défice e da alegre irresponsabilidade governativa. Foi Guterres quem desertou do posto, entregando-nos aos figurões que desnorteiam este país. E o seu regresso à luta partidária - ao lado de Coelho, Vitorino e outros-, significa que caso Sócrates vença, regressaremos ao guterrismo. Retornaremos a um país feliz e contente, que gasta mais do que pode, e que na doce vertigem do despesismo, do clientelismo e do facilitismo se considera rico e desenvolvido. Pobre Portugal!

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P.S.: Claro que, por esta óptica, também José Manuel Durão Barroso se poderá classificar como "fugitivo"...