respublica

sábado, novembro 25, 2006

OS FUNDAMENTALISTAS turcos sentiram-se ofendidos com a citação, por parte do Papa Bento XVI, de um texto medieval em que o Islão é considerado violento. Ironia das ironias, a melhor forma que encontraram para mostrarem o seu descontentamento foi proferindo ameaças de morte contra o Sumo Pontífice. Violentos??? Na, que ideia...

segunda-feira, novembro 20, 2006

McCAIN (II) Aliás, a vasta constelação de grupos anti-bush, anti-américa, anti-ocidente, anti-globalização e anti-capitalismo começa a ficar "desactualizada". O 'império' maldito parece recuar em todas as frentes: na Ásia e na África, a influência chinesa cresce a olhos vistos; no Médio Oriente, além do pântano iraquiano, o Irão assume-se cada vez mais como uma potência regional; e na América Latina, o populismo regressa em força, com o patético Chavez cada vez menos sozinho. Se esta tendência se mantiver, não tarda todos esses grupos 'anti alguma coisa' serão forçados a dirigir os seus esforços no sentido inverso. Ou seja, a exigir do Ocidente que faça alguma coisa para impedir o retrocesso da democracia, as violações dos direitos humanos e as guerras regionais. Uma coisa parecida aconteceu durante a crise que se seguiu ao referendo em Timor Leste: os mesmos que tanto criticaram a Guerra do Kosovo foram os mesmos que exigiram a intervenção dos EUA para impedir o massacre de timorenses.

Quanto ao senador John McCain, compreendeu perfeitamente que a solução para o Iraque passa por reforçar a presença ocidental, sem a qual não será possível desarmar as milícias e esmagar os terroristas. A alternativa será deixar que a aventura iraquiana se transforme em algo semelhante à crise do Suez. E isso não seria bom para ninguém.

domingo, novembro 19, 2006

McCAIN No meio da "gritaria" a respeito do Iraque, uma voz sensata tem-se feito ouvir: refiro-me à do senador John McCain, que foi um dos favoritos das eleições primárias de 2000 e que tem boas hipóteses de ser eleito presidente dos EUA em 2008. McCain considera que a solução no Iraque passa por reforçar o contingente norte-americano, passando dos actuais 150 mil para 500 mil homens. McCain sabe perfeitamente que as consequências de um retirada do Iraque seriam terríveis. Ao contrário do que possam pensar os pacifistas bem intencionados que pululam pela Europa e pelos EUA, a retirada do Iraque seria uma catástrofe:

1. Uma guerra civil entre xiitas, sunitas e curdos destruíria o país (e refiro-me a uma guerra a sério, não a confrontos e atentados a que temos assistido).

2. O Irão, a Turquia, a Síria e a Arábia Saudita procurariam tirar o maior proveito possível da situação, gerando ainda mais caos e instabilidade.

3. A retirada do Iraque provocaria um segundo "síndroma do Vietname", com os EUA a adoptarem uma política isolacionista durante os próximos anos. Tendência essa que já se manifestava antes do 11 de Setembro, como comprovam iniciativas como a "guerra das Estrelas" (a estratégia isolacionista por excelência). E qualquer pessoa com um sentido de realidade compreende que, com todos os seus defeitos, os EUA são necessários para manter a estabilidade internacional. Se os Americanos desistissem do papel de "polícias do mundo", começaria de imediato uma corrida ao armamento entre potências como a Índia, Paquistão, China, Irão, Venezuela, Argentina, Brasil ou o Japão.

(continua)

SARAMAGO continua igual a si mesmo, ou seja, insuportável. As recentes entrevistas ao Público e ao Sol mostram um homem desencantado com a vida, com o mundo e com a própria espécie humana («a raça humana não é de fiar»). Passando uma esponja sobre as décadas em que defendeu para Portugal um regime de estilo soviético, o nosso nóbel diz que o «comunismo nunca existiu, o que houve foi capitalismo de Estado». Diz que não perdoa a Cavaco a «censura» do seu Evangelho, mas nunca o ouvi levantar a voz contra as violações da liberdade de expressão por parte dos regimes comunistas. Nem tão pouco o vi reagir contra a violência fundamentalista que veio à tona durante a recente polémica dos cartoons dinamarqueses (pelo contrário, só faltou apoiar a rua árabe). Por tudo isto, parece-me que este homem que aponta o dedo ao «totalitarismo da globalização» é, na verdade, alguém que não conhece o verdadeiro significado da palavra liberdade.

terça-feira, novembro 07, 2006

IRONIA Sem querer, Jerónimo de Sousa elogia Sócrates: «Este Orçamento de Estado é filho do Pacto de Estabilidade».

FRASES INTEMPORAIS III «Don't go around saying the world owes you a living. The world owes you nothing. It was here first.» (Mark Twain)

O BICHO PAPÃO Há quem se mostre muito surpreendido por Cavaco Silva se ter pronunciado contra a aplicação da pena de morte a Saddam Hussein. A ingenuidade destas almas suscita um misto de pena e perplexidade. Pouco a pouco, a Esquerda começa a descobrir que o Presidente de direita não é o bicho-papão que pensavam. Talvez um dia descubram que há gente inteligente, bem intencionada e esclarecida fora da Esquerda.

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P.S.: JPH alude neste post à alegada duplicidade de critérios dos "bushistas" portugueses que apoiam a pena de morte, mas que ao mesmo tempo são contra o aborto. Em primeiro lugar, não creio que existam "bushistas" portugueses. Em segundo lugar, é possível ser-se atlantista e anti-pena de morte (Blair é um bom exemplo).

segunda-feira, novembro 06, 2006

CAPELÕES Que Fernanda Câncio não saiba para que serve um capelão, não será de espantar. O que é de espantar é que a dita senhora não seja capaz de compreender que há quem, nos hospitais, nas prisões, nos hospícios e nos quartéis, saiba o que é um capelão e para que serve. E que essas pessoas têm direito a praticar a sua religião e a receber o apoio espiritual que merecem. Se o Estado paga a psicólogos, médicos e enfermeiros para trabalharem nesses locais, porque não pagar também a profissionais que satisfaçam as outras necessidades - em alguns casos até mais urgentes - das pessoas? Se a presença de um sacerdote der esperança a um doente, que mal há nisso? Se o conforto de um sacerdote incutir bons princípios (oops, políticamente incorrecto!) num criminoso, que mal há nisso?

A única coisa que me parece mal na actual lei é o facto de os sacerdotes de outras religiões não terem os mesmos direitos. Mas isso não é culpa da Igreja, como Fernanda Câncio e companhia gostam de fazer crer.

Tanto ódio anti-clerical já enjoa. Definitivamente, há quem pense que vivemos em 1910. Já cheira a recalcamento.

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P.S.: A forma como Fernanda Câncio (FC) começa o post revela muita coisa, a meu ver. Senão vejamos: «O folhetim do padre júlio (é júlio, não é?), sequestrado na capela de pinheiro da cruz por dois reclusos, contado pelas televisões, é um prodígio». Este «é Júlio, não é?» é uma forma de dizer que o sacerdote é um serzinho insignificante. Duvido que FC começasse um dos seus artigos sobre um qualquer casal de lésbicas com algo do género «ana e helena (é ana e helena, não é?), querem casar".

BANCA Em Portugal, poucos sectores têm tão má imagem pública como a banca. Do parlamento ao café da esquina, não há quem não se queixe dos "lucros escandalosos" dos bancos. Quanto a isto, devo dizer três coisas:

1. Os bancos portugueses têm ainda muito que evoluir no que diz respeito à transparência da sua relação com os clientes.

2. Ao contrário de outras entidades reguladoras nos respectivos sectores de actividade, o Banco de Portugal raramente se pronuncia contra os interesses da banca. Por exemplo, porque é que a entidade liderada por Vítor Constâncio não cria um simulador de custos, de forma a que os clientes possam comparar a oferta dos vários bancos? Neste domínio, o simulador criado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários , é um bom exemplo.

3. Desiludam-se os Louçãs e demais puritanos da nossa praça: os bancos portugueses são rentáveis porque são bem geridos. Se todos os sectores fossem como a banca, o país estaria muito melhor! E além disso, a boa situação dos bancos portugueses é uma "almofada" para muitas famílias vítimas da crise. Se esses bons elementos fundamentais não existissem, o financiamento no exterior seria ainda mais dispendioso para os bancos e para os consumidores. Haja, por isso, menos demagogia.

FRASES INTEMPORAIS II «Having been poor is no shame, but being ashamed of it, is.» Benjamin Franklin

Luís Rainha, do Aspirina B, escreveu o seguinte: «O santo Helder [do Insurgente] está mesmo convencido de que colossos industriais como a Toyota se dão ao trabalho alterar processos de fabrico, investigar novas tecnologias, criar e comercializar produtos menos nocivos para o Ambiente... apenas movidos pela bondade intrínseca desses actos! Já encontrei testemunhas de Jeová menos crédulas em milagres e outras divinas intervenções.»

Mas quem falou na "bondade intrínseca desses actos"? A Toyota apostou no fabrico de automóveis híbridos, que em parte funcionam à base de energia eléctrica, por puro interesse capitalista. Para fazer o bem não é preciso agir de forma desinteressada; e o bem comum é muitas vezes conseguido através da prossecução dos interesses de cada indivíduo. Mas a Esquerda, que julga ter morto Deus, não perdeu ainda a sua vocação messiânica: continua a acreditar no triunfo da causa (recordemos a fé religiosa do nonagenário Cunhal na vitória final do comunismo), vê o mundo a preto e branco e esquece-se que os homens não são anjos.

FRASES INTEMPORAIS «One ought never to turn one's back on a threatened danger and try to run away from it. If you do that, you will double the danger. But if you meet it promptly and without flinching, you will reduce the danger by half.» (W. Churchill)

CURRÍCULOS Eduardo Pitta escreveu o seguinte, a respeito da entrevista do líder do PSD na SIC Notícias:

«O enfado de Maria João Avillez era tanto e tão indisfarçável que, face à legítima expectativa de Mendes vir um dia a candidatar-se a primeiro-ministro, não teve pejo em perguntar pelo currículo. Qualquer coisa como, «mas o que é que o senhor fez fora dos corredores partidários para que os portugueses confiem em si...?» Disfarçando quanto pôde o embaraço, Mendes retorquiu «eu tenho o meu curso, eu tenho o meu curso». Foi penoso.»

Penoso ou não, a verdade é que não consta que o currículo profissional do actual inquilino de São Bento seja muito extenso. Mas a Marques Mendes tudo se exige.

domingo, novembro 05, 2006

RELATIVISMOS O Público de hoje fala do aumento dos casos de infanticídio em França. Toda a ênfase do artigo é colocada no desespero das assassinas: a jornalista cita alguns especialistas que falam do "grande sofrimento" em que se encontram as mães que matam os seus bébés, por alegadamente sentirem que não são capazes de criar os seus rebentos. Porquê esta tendência para a desculpabilização? Porque não falar também no desespero do marido que mata a mulher para casar com outra, ou do "grande sofrimento" do assalariado que um dia perde a cabeça e mata o patrão autoritário? Claro que cada caso é um caso, e os juízes devem ter em conta as circunstâncias, mas tirar uma vida não pode ter perdão possível. Nem é um acto que possa ser relativizado ou desculpabilizado em nome de um qualquer sentimentalismo políticamente correcto.

IBERISMO Uma sondagem recente do Sol trouxe à baila o eterno tema do iberismo. Que se desenganem os 27% de portugueses que defendem a união com Espanha, julgando que com isso teríamos um país mais rico e desenvolvido. Deixaríamos de ser o país mais pobre da Europa Ocidental para passar a ser a região mais pobre de Espanha. Além disso, da última vez que os castelhanos nos governaram, o resultado não foi muito famoso. É o resultado de vender a honra por um prato de lentilhas!

MAIS UMA VEZ, O ABORTO... Sou contra o aborto. Sim, sei que corro o risco de ser apelidado de hipócrita ou de ver apoucada a minha inteligência por parte de certos senhores que se dão ares de grande superioridade moral e intelectual. Mas acredito sinceramente que o acto de abortar é profundamente errado. E muito mal vai uma sociedade que tem como meta civilizacional promover a morte e não a vida.

“Somos todos contra o aborto, mas..."


A fazer fé nas palavras do nosso primeiro-ministro, não serei o único a considerar que o aborto é um mal. Segundo Sócrates, o governo não tem como objectivo liberalizar o aborto, mas apenas fazer com que este deixe de ser crime e que possa ser realizado em hospitais públicos, a pedido da mulher. É o astucioso argumento do “ninguém é a favor do aborto, mas já que se fazem tantos, então que sejam realizados em condições de higiene e segurança”. Mas este argumento, que tem sido habilmente utilizado pelos partidários do ‘Sim’ de forma a convencer o eleitorado moderado, não resiste a uma análise mais cuidada. Até porque poderia ser facilmente transposto para outras coisas de que “ninguém é a favor”. Tomemos o exemplo do roubo: já que ocorrem tantos roubos em Portugal, geralmente em péssimas condições de higiene e segurança, porque não passar a realizá-los a pedido do ladrão, em instalações do Estado? Dessa forma, a vítima não sentiria qualquer dor ou desconforto, além de que o crime seria realizado em melhores condições do que numa qualquer viela escura. O Estado­-sempre-atento que temos até poderia criar um fundo especial para compensar as vítimas, bem como uma taxa moderadora a cobrar ao ladrão. Creio que este reductio ad absurdum demonstra a irracionalidade de pretender tornar aceitável algo que é errado, com o pretexto de minorar as suas consequências. E digam o que disserem, o aborto é um mal que causa profundas cicatrizes psicológicas e físicas na mulher. Ao invés de procurar liberalizá-lo, o Estado devia preocupar-se em fazer com que as nossas mulheres não precisem de abortar.

Além disso, a legalização até às dez semanas de gravidez, como pretende o Governo, não conduziria ao fim do aborto clandestino. Muitas mulheres continuariam a abortar de forma ilegal além desse prazo (à semelhança do que acontece na maioria dos países europeus). E então o que se seguiria? A legalização do aborto até aos sete meses de gravidez? O infanticídio?

Quanto à questão dos julgamentos das mulheres, creio que a solução passa por despenalizar sem liberalizar. É de facto uma injustiça julgar uma mulher nestas condições. Mas daí a financiarmos a realização de abortos com o dinheiro dos nossos impostos ou a encará-los como eticamente aceitáveis, vai uma grande diferença.

O aborto em Portugal

E quem aborta hoje em Portugal? Longe vão os tempos dos abortos em massa, da pobreza endémica e da completa ausência de planeamento familiar. Os meios anti-concepcionais estão ao alcance de qualquer um, mesmo na mais remota aldeia do interior. Os números deste flagelo não são os de há vinte ou trinta anos, felizmente.

Na sua maioria, quem aborta actualmente são jovens mulheres que encaram a gravidez como um obstáculo à concretização dos seus sonhos. Ou então, mulheres que serão prejudicadas profissionalmente, se decidirem levar a gravidez avante. Ora a natalidade devia ser protegida e acarinhada. O Estado devia legislar de forma a que a gravidez deixasse de ser vista como uma tragédia ou uma doença. E fazer isso não é assim tão difícil como possa parecer à primeira vista. Basta que exista vontade política. Até porque a actual crise demográfica é sem dúvida o mais sério desafio que se coloca a Portugal e à Europa.

Crianças indesejadas


A necessidade de evitar a vinda ao mundo de crianças indesejadas é outro argumento dos pró-aborto. Mas quem somos nós para dizermos à partida que uma criança será infeliz? Aliás, quem somos nós para dizermos quem é ou não feliz? Mais uma vez, façamos um exercício de reductio ad absurdum: se para os “infelizes” era melhor não terem nascido, então seria lícito legalizar a eutanásia para todos os que não são belos, ricos ou jovens? E é mesmo necessário ser uma destas coisas para conquistar a felicidade, como nos “vendem” todos os dias? A História apresenta-nos inúmeras pessoas que, crescendo na pobreza e passando por mil e uma privações na infância, não só conseguiram ascender socialmente como se souberam distinguir nas mais diversas áreas. E que foram felizes!

”Aqui mando eu!”

Finalmente, resta o argumento do “aqui mando eu”, utilizado por aqueles que consideram que a mulher deve poder decidir livremente se quer ou não dar à luz. Tem ou não o feto direito à vida? Quando é que passa a ser uma pessoa humana? Quando começa a sentir dor, ou antes disso? É certamente uma questão complicada, do ponto de vista ético e moral (a não ser que não se tenha nem ética, nem moral). E sempre desconfiei daqueles que aparentam ter todas as respostas.

Ter a liberdade de interromper a gravidez pode ser mais cómodo para as mulheres? Naturalmente que sim. Mas será correcto, do ponto de vista ético? Sinceramente, creio que não.