respublica

segunda-feira, setembro 29, 2003

NOMES BRASILEIROS Eduardo Jorge Madureira, num artigo do "Público" de hoje, desfiou um interessante rol de nomes brasileiros:


"Alfredo Prazeirozo Texugueiro, Bom Filho Persegonha, Excelsa Teresinha do Menino Jesus da Costa e Silva, José Amâncio e Seus Trinta e Nove, Jovelina Ó Rosa Cheirosa, Ressurgente Monte Santos, Sudene Fátima Machado ou Trazíbulo José Ferreira da Silva. (...) Quem consultar as listas telefónicas do Brasil, pode tropeçar em mulheres e homens com nomes tão extraordinários como Abrilina Décima Nona Caçapava, Amado Amoroso, Amin Amou Amado, Antonio Dodói, Antonio Pechincha, Arnaldo Queijo, Asteroide Silverio, Barrigudinha Seleida, Boaventura Torrada, Cafiaspirina Cruz, Chananeco Vargas da Silva, Comigo é Nove na Garrucha Trouxada, Devercilirio Silveira da Costa, Dezecencio Feverencio Delegas, Esparadrapo Clemente de Sá, Faraó do Egito Sousa, Fedir Lenho, Fordência da Silva, Fridundino Eulâmpio, Gravitolina Pereira, Horinando Pedroso Ramos, Maria de Seu Pereira, Naida Navinda Navolta Pereira, Pelumendia Loureiro, Presolpina Furtado, Rocambole Simionato, Rolando Escadabaixo, Rômulo Reme Remido Rodó, Serdeberão dos Anjos Pereira Vargas, Sete Chagas de Jesus e Salve Patria ou Voltaire Rebelado de França."

Criatividade é coisa que não falta por terras de Vera Cruz...

quinta-feira, setembro 25, 2003




HÁ COISAS QUE NUNCA MUDAM e a estupidez parece ser uma delas. Encontrei o seguinte texto num site brasileiro criado durante a guerra do Kosovo. É um exemplo do anti-americanismo primário:


"(...) a recuperação econômica que Roosevelt estava tentando conseguir não avança. A única maneira de pôr a economia fora da depressâo era meter os E. U. em uma guerra importante. Roosevelt e seus mentores, os banqueiros internacionais, queriam a guerra. Uma sondagem Gallup pre-guerra, 1940, mostrou 88 por cento opostos à participação americana na guerra européia. Os cidadãos compreenderam que a participação dos E. U. na I guerra mundial não tinha feito um mundo melhor. Em 1940 (ano de eleiçôes), em um discurso Roosevelt diz tipicamente: " eu tenho dito isto antes, mas eu di-lo-ei repetidas vezes mais : Seus filhos não irâo ser enviados em nenhumas guerras extrangeiras. " A melhor maneira enganar as massas seria portanto provocar um ataque.

Provocar a Alemanha não resultou - durante os primeiros dias da II guerra mundial, o presidente ofereceu numerosas provocações à Alemanha : congelando seus recursos; enviando 50 destroyers à Grâ Bretanha; e carregando submarinos de profundidade. Mas os alemães não retaliaram. Sabiam que a entrada de América na I guerra mundial tinha deslocado a o peso da balança contro eles, e evitavam uma repetição desse cenario.
provocar o Japão - começou com os boicotes e os embargos de Japão (aço, carvão e petróleo). Os E. U. encurralaram Japão em um canto e Japão não viu nenhum outro escape do que o imperialismo. Assim tentaram tomar as minas de ferro de Manchuria e os campos de petróleo e do carvão de Indonésia para fazer-se auto-suficientes. 26 de Novembro -- apenas 11 dias antes do ataque japonês -- os E. U. fazem um ultimatum que exige, como pré-requisitos recomeçado do comércio, que Japão retira todas as tropas de China e de Indochina, e revogam de fato seu tratado tripartido com Alemanha e Italia.

Pearl Harbor - a isca oferecida ao Japão foi a armada dos E. U. no Pacífico. 1940 - Decisão de Roosevelt para basear permanentemente a frota em Havaí em vez do seu berço normal na costa ocidental dos E. U.. Pearl Harbor era vulnerável ao ataque, sendo abordável de todos os lados. Os E. U. decifraram o código diplomatico secreto de Japão em 1940. Roosevelt soube que os japoneses estavam para atacar Pearl Harbor. Washington fêz tudo para facilitar o assalto japonês, à exceção das armas estratégicas: os porta-aviões foram postos em segurança. 2500 vidas foram sacrificadas para fazer os carneiros aceitar a guerra."



É curioso como o anti-americanismo faz com que certas pessoas defendam a Alemanha Nazi e o Japão imperial ("O Japão não viu nenhum outro escape do que o imperialismo" ... coitadinhos dos japoneses!)...

Quanto a Pearl Harbour, não creio que o governo americano estivesse disposto a sacrificar a maior parte da frota do Pacífico, apenas para ter um pretexto para a guerra. Há formas mais simples de o conseguir (por ex., o chamado "incidente do golfo de Tonkim", em 1965, ou as tão faladas provas falsificadas das armas químicas do Iraque), embora, como se sabe, a opinião pública americana fosse contra a guerra. Porque não provocar um pequeno incidente em alto mar, que seria imediatamente considerado um casus belli? Seria muito mais fácil, para não referir que se poupariam 2500 vidas e a maior parte da armada americana do Pacífico...


Em relação aos porta aviões, estavam em manobras no alto mar... mas nem por isso menos indefesos em relação aos caças japoneses. Aliás, estavam até mais desprotegidos. O que se passou é que o estado maior nipónico sempre deu mais importância aos couraçados que aos meios aeronavais. A batalha de Midway provou como os japoneses estavam enganados.

Teorias da conspiração há muitas, e com a vaga anti-americana que atravessa a intectualidade europeia, as teses mais absurdas acabam por ganhar terreno. Independentemente dos erros que a administração Bush cometa, não podemos confundir o governo americano com a nação que representa.

Para saber mais sobre Pearl Harbour, podem visitar um site que encontrei. Quanto ao célebre filme homónimo, acho que não passa de um grande dramalhão mal concebido, com imprecisões históricas graves.

quarta-feira, setembro 24, 2003




PIERRE FALCONE escapou à justiça francesa, através de um vergonhoso estratagema urdido pelo governo de Luanda. O traficante de armas, acusado de venda ilegal de armas ao governo angolano, foi nomeado representante daquele país na UNESCO, organização internacional com sede em Paris. Ironicamente, uma organização que procura auxiliar as vítimas inocentes de conflitos alimentados por indivíduos como Falcone...

Munido do seu passaporte diplomático, Falcone pôde embarcar tranquilamente para os Estados Unidos. É triste...

quinta-feira, setembro 18, 2003















O MEU NOME EM HIEROGLIFOS EGIPCIOS O arqueoblogo descobriu este site em que podemos escrever o nosso nome em hieroglifos. Fantástico.

quarta-feira, setembro 17, 2003

A EXPULSÃO DE ARAFAT Israel mantém a intenção de expulsar o líder palestiniano, admitindo mesmo a possibilidade de o "eliminar" (termo soft que significa "assassiná-lo"). Considero esta posição do governo de Sharon um enorme erro, pelo menos na perspectiva daqueles que querem uma solução pacífica para o problema israelo-palestiniano.

Expulsar Arafat não terá o efeito pretendido de reduzir o terrorismo. Mesmo que Arafat seja o responsável máximo pelos atentados, o facto de o mandarem de volta para a Tunísia não lhe retirará esse papel. Basta ver o exemplo de Bin Laden, que das grutas afegãs atacou de forma realmente destruidora o próprio coração do mundo ocidental.

Além disso, quem poderá ocupar o lugar de Arafat? Um dos "jovens" líderes do Hamas, nascido já depois de 1948, imbuído do espírito verdadeiramente extremista e sequioso de sangue hebraico? Algum dos velhos compagnons de route do velho líder, daqueles que há décadas integram o secretariado da OLP e que não fazem um único movimento sem a permissão de Arafat? Ou pior, um dirigente escolhido pelos israelitas e, logo, sem qualquer legitimidade e capacidade de liderar os palestinianos, por ser visto como colaboracionista?

Por tudo isto, parece-me óbvio que afastar Arafat não é uma solução viável. Quanto à hipótese de o abaterem, parece-me ainda mais contraproducente. Matar Arafat poderia despontar tais ódios entre os palestinianos, que uma solução pacífica (mesmo que por tal se entenda uma submissão aos interesses israelitas) se poderia tornar inviável nos próximos anos.

Não quero com isto defender Arafat. O homem não é flor que se cheire. Arafat dirige o movimento independentista com verdadeira mão de ferro, não hesitando em eliminar os potenciais rivais internos. Só assim se explica que desde os anos 50 esteja à frente dos independentistas. Ordenou actos terroristas contra civis inocentes, desviou aviões, etc.

(CONTINUA)

O DERRUBE DE KUMBA YALA (II) Passaram ontem na RTP imagens do ex-presidente guineense, em amena cavaqueira com os militares golpistas. Ao que parece, não eram imagens de arquivo; segundo a RTP, Kumba Yala ainda não se apercebera que fora derrubado, quando todo o mundo já o sabia. Uma tragicomédia guineense.

terça-feira, setembro 16, 2003

O BLOG "GUERRA E PAS" - assim mesmo, com "s" - terminou com um singelo "The End". Chegaram ao fim quatro meses de vida do Guerra e Pas na blogosfera. É pena, porque tinha (tem) post's muito interessantes. Chamo a vossa atenção para os post's 169 e 170 (estão ordenados numericamente), em que se dão respostas à seguinte questão: porque é que os nossos telejornais são tão longos?

O DERRUBE DE KUMBA YALA já se esperava há muito. O ex-presidente guineense, embora tenha sido eleito há três anos por uma expressiva percentagem de 72 % dos votos, cedo demonstrou não estar à altura das responsabilidades. Para além de seguir políticas ineficazes ou mesmo desastrosas - num país em que o rendimento per capita anda à volta de 160 euros - Kumba Yala tornou-se internacionalmente célebre pelos seus comentários absurdos, já para não falar do seu inseparável barrete vermelho...

No entanto, não posso concordar com o derrube de um presidente eleito democraticamente, por muito incompetente e por muitos tiques ditatoriais que este possua. Numa democracia, não há nada mais desaconselhável que o recurso ao "putch" militar. Esperemos que o novo auto-proclamado "presidente-interino", mais um veterano do PAIGC, cumpra a promessa de realizar eleições o mais brevemente possível.

Recordo-me que há alguns meses atrás, o então presidente publicou um livro com "pensamentos filosóficos". Pelos excertos publicados na imprensa, deu imediatamente para ver que o dito livro "filosófico" era apenas um rol de disparates. Num desses pensamentos, Kumba Yala dizia qualquer coisa deste género, se a memória não me atraiçoa:

"Se eu fosse rico, teria um grande carro. Se tivesse um grande carro, teria problemas nas costas. Por isso, prefiro ser pobre".

Suponho que a finalidade desta sentença seria ensinar aos guineenses as virtudes da pobreza, num país em que impera a fome e a miséria.

segunda-feira, setembro 15, 2003

AS "ALMINHAS" sempre me chamaram a atenção ("olha do que ele se foi lembrar!", dirão alguns). Desde miúdo que sempre me interroguei o porquê da existência desses pequenos "santuários" nas encruzilhadas dos caminhos. Encontram-se "alminhas" em todo o tipo de vias, desde as movimentadas ruas de Braga aos lugarejos mais reconditos das montanhas. Ao que parece - e se alguém tiver mais informações sobre este assunto, agradeço que mas envie - as nossas "alminhas" descendem dos pequenos santuários que os romanos e outros povos da Antiguidade construíam nas encruzilhadas das vias e caminhos, como forma de espantar os maus espíritos e apaziguar os "deuses das encruzilhadas", i.e., os bons espíritos que as habitavam. Na Roma Antiga, aliás, existiam "congregações das encruzilhadas", espécie de confrarias responsáveis pela manutenção dos santuários. No entanto, com o passar dos séculos foram-se transformado em verdadeiras máfias (em Itália, é um modo de vida com milhares de anos...), que ofereciam "protecção" aos comerciantes, executavam assassinatos, alimentavam discórdias e violências no fórum, etc, de modo a que se sucederam várias tentativas de as extinguir.

Com o advento do Cristianismo, os santuários pagãos foram ocupados pela Igreja, incluindo os santuários das encruzilhadas, que doravante se tornaram "alminhas". É engraçado como o termo "alminhas" vai de encontro ao significado original dos santuários em honra dos "bons espíritos" do lugar. Embora a religião tenha mudado, a crença popular sobreviveu. Aliás, em muitas vilas e aldeias do Centro e Norte do País (não sei se no Sul também se passa o mesmo), permanecem velhas crenças supersticiosas relacionadas com as encruzilhadas; várias vezes ouvi idosos da minha vila dizerem que os "cruzamentos" são "lugares ruins". É curioso como velhas crenças se perpetuam no tempo, ao longo de milhares e milhares de anos.

quinta-feira, setembro 11, 2003

11 DE SETEMBRO (II) O terrorismo tem que ser eliminado, e isso só se consegue de duas formas: primeiro, destruíndo os seus mentores e executores (não se pode negociar com esta gente); segundo, criando condições para que a democracia se instale nos países do Médio Oriente, de modo a melhorar as condições de vida das populações, com estados de direito que lhes garantam a igualdade de oportunidades e as liberdades cívicas.

No caso de Israel/Palestina, parece-me claro que a única forma de resolver a questão é dividir o território e instalar uma força internacional de manutenção de paz. Os EUA terão de aceitar isso, mais tarde ou mais cedo... e no dia em que isso acontecer, também Israel aceitará.

No caso do Iraque, uma retirada da coligação seria desastrosa, deixando o país entregue à guerra civil. Há que vencer os partisans de Saddam e instalar um regime democrático, nem que isso demore 20, 30 ou 40 anos. Mais que o futuro do Iraque, é o futuro do Ocidente que ali se joga. Uma retirada americana e a instalação de um regime hostil geraria duas coisas: instabilidade internacional, pelo facto de a principal potência voltar ao isolacionismo; controlo dos recursos energéticos (que pertencem aos iraquianos, mas para usufruto de toda a Humanidade) por um regime hostil.

No caso do Afeganistão, creio que têm sido dados passos importantes para a normalização da vida no país. Já esteve pior, embora muito tenha que ser feito.

E agora me vou, que tenho exame amanhã:)

11 DE SETEMBRO Seria impossível deixar de falar nisto. Há coisas que, por muito que tentemos, não podemos ignorar.

Temos assistido aos mais diversos comentários a respeito deste assunto. Uns falam em "Cruzada contra o Mal", vendo na origem do atentado a mão (in)visível do Mal Absoluto, que existe em cada muçulmano. Misturam islamismo com terrorismo, como se em cada muçulmano existisse um terrorista. Esquecem que a civilização islâmica, no seu apogeu (séc. IX a XII), era aberta, tolerante e muito desenvolvida. Bagdad já tinha hospitais e universidades, quando Londres e Paris eram simples aldeolas. Esquecem que foram os cruzados europeus que primeiro desencadearam guerras de religião (à excepção claro, da Guerra Santa proclamada pelo Profeta Maomé no século VII).

Outros, no extremo oposto (e mais visibilidade no nosso espaço mediático), acusam a América por tudo o que acontece de mal no mundo, incluindo as suas próprias desgraças; senão vejamos:

- Pearl Harbour foi atacada pelos japoneses e metade da frota americana destruída? Foi culpa dos americanos, que quiseram molhar os pés no Pacífico! E o presidente americano - essa suprema entidade maléfica - sabia com antecedência do ataque, e que milhares de americanos morreriam para que ele tivesse pretexto para, de forma imperialista, atacar o Japão (essa grande nação democrática e respeitadora do direito internacional).

- Os EUA interviram no Vietname de forma errada. Mais uma vez, os imperialistas atacam povos indefesos que queriam ser livres. Afinal, Ho-Chi-Min era um grande democrata, com o apoio de outras grandes democracias, como a China e a URSS. Aliás, os EUA deviam seguir o exemplo desta última, intervindo em defesa da liberdade dos povos, como fez no Afeganistão, em 1979!

- Os EUA são os culpados do problema afegão. É que é mentira que a URSS tenha invadido este país; simplesmente, interviu para o libertar. E os resistentes eram apenas criminosos anti-democráticos, que tinham o apoio dessa ditadura que são os EUA. Se estes não tivessem ajudado os resistentes, os afegãos eram hoje um povo feliz, à semelhança de outros povos felizes, como os vietnamitas, os cambojanos e os norte-coreanos.

- Deu-se o 11 de Setembro? A culpa foi da América, esse Grande Satã que quer impôr ao mundo a sua vontade. Saddam, Bin Laden, Mullah Omar e outros que tais, são apenas combatentes pela liberdade, que têm pena das criancinhas esfomeadas. São grandes líderes que defendem as nobres tradições dos seus povos, como o uso da burkha e a imposição da sharia - não nos cabe a nós dizer se é certo ou errado, porque para a extrema esquerda o bem e o mal são conceitos relativos; aliás, só existe um mal absoluto que é o da livre iniciativa capitalista.



Parece-me que os problemas do mundo radicam nestas duas visões antagónicas. Ambas são redutoras e mesquinhas; ambas esquecem a História e as suas lições; e ambas justificam o Mal com a necessidade de defender o Bem, esquecendo que o Bem até pode por vezes abarcar conceitos relativos, mas o MAL é igual tanto no oriente como no ocidente. Só o desprezo pela vida humana e pela liberdade podem fazer com que ódios ideológicos triunfem sobre a causa comum que é o Bem da Humanidade.

Os mentores e os executores do terrorismo interncional não são os esfoemados das favelas do Cairo ou Aman. São homens como Bin Laden e Mohamed Atta, de classe média urbana ou mesmo milionários, com alta formação e cultura cosmopolita, que atacam o Ocidente em nome da intolerância, do ódio e da falsa interpretação da lei islâmica. Aliás, ainda não vi uma única alocução de Bin Laden e seus sequazes em que este fale da pobreza do Médio Oriente, ou da falta de democracia.

Nada pode justificar a morte de civis inocentes. E é pena que algumas pessoas esqueçam isso, em nome de um antiamericanismo primário.

quarta-feira, setembro 10, 2003

A IMUNIDADE DE BERLUSCONI O juíz Di Pietro, célebre pelo seu papel no combate à máfia e à corrupção,anunciou que o seu movimento recolheu o meio milhão de assinaturas necessárias à realização de um referendo para retirar a imunidade do chefe de governo, o polémico Sílvio Berlusconi. "As pessoas têm o direito de saber se estão a ser governadas por um cavalheiro ou por um patife", disse o juíz. Se for avante, uma vitória da democracia.

A IMUNIDADE DE BERLUSCONI O juíz Di Pietro, célebre pelo seu papel no combate à máfia e à corrupção,anunciou que o seu movimento recolheu o meio milhão de assinaturas necessárias à realização de um referendo para retirar a imunidade do chefe de governo, o polémico Sílvio Berlusconi. "As pessoas têm o direito de saber se estão a ser governadas por um cavalheiro ou por um patife", disse o juíz. Se for avante, uma vitória da democracia.

"VIRIATO - A LUTA PELA LIBERDADE" É o título da biografia do célebre líder lusitano, da autoria do Prof. Maurício Pastor Munõz, professor de História Antiga da Universidade de Granada. Já vai na quarta edição, e devo dizer que vale a pena ler. Pela primeira vez - e depois de muitas versões romanceadas ou contaminadas por ideais patrioteiros - surge uma biografia de Viriato sustentada por estudos científicos, provenientes tanto da análise das fontes antigas (Políbio, Posidónio, etc) como das mais recentes descobertas arqueológicas.

Sabe-se muito pouco sobre Viriato. Os únicos dados bibliográficos existentes provêm de autores greco-romanos, que pretendem glorificar a figura do "bom selvagem", imputando-lhe virtudes que escasseavam no luxuoso mundo romano, como a honra, a coragem e o espírito de sacrifício - de forma a moralizarem os seus concidadãos. No entanto, e como Pastor Muñoz assinala, o que essas fontes dizem de Viriato (sobre a sua honestidade, capacidade de resistência, capacidade estratégica, etc) devem ter algum fundo de verdade, pois só assim se explica os seu sucesso durante tantos anos seguidos... até ser assassinado pelos seus melhores amigos.

A PSICOSE COLECTIVA DA PEDOFILIA O escândalo da pedofolia chegou à estação pública. Embora haja muita coisa mal contada em toda a história das cassetes (uns dizem que são de pedofilia, outros que não), parece-me que não haverá fumo sem fogo. No entanto, considero lamentável a forma como a concorrência pegou no assunto - parecem chacais a cravar os dentes numa carcaça. Agora que a RTP começa a ser de novo concorrência séria, as televisões de Queluz e de Carnaxide fazem uso de tudo o que possa denegrir a imagem da estação pública.

Gente má há em todo o lado, independentemente de partidos, empresas, clubes, igrejas, associações... e a comunicação social, em vez de criar e alimentar toda esta verdadeira "psicose" nacional à volta da questão da pedofilia, devia procurar informar as pessoas de forma isenta e serena.

Esta psicose colectiva à volta da pedofilia começa a atingir níveis caricatos, se não mesmo preocupantes. Vou-vos contar uma história que aconteceu no mês passado com um conhecido meu, e que disto é ilustrativo: Esse meu conhecido comprou recentemente uma máquina fotográfica digital, e sendo ele fotógrafo de um orgão de comunicação social, aproveitou uma tarde solarenga para tirar umas fotos à infraestrutura de uma piscina municipal. As fotos em questão reverteriam para o arquivo do jornal onde ele trabalha. Estava ele ocupado nesta tarefa, quando o funcionário da piscina lhe pediu para o acompanhar até à entrada, ao que ele, surpreendido, acedeu prontamente. Mas mais surpreendido ficou quando viu que dois polícias o esperavam! Entretanto, os utilizadores da piscina - na sua maioria crianças e adolescentes - agruparam-se em redor, para verem o que se passava. Os polícias questionaram-no a respeito das fotos que estava a tirar, pois uma senhora que ali estava presente tinha chamado a polícia porque "estava um pedófilo a tirar fotos às crianças". Como era uma máquina digital, o meu colega mostrou as fotos e o equívoco desfez-se imediatamente. No entanto, as dezenas de crianças em redor apupavam-no constantemente com epítetos tipo "Bibi", "Carlos Cruz" (com todo o respeito que ainda tenho pela presunção da inocência destes senhores), ao mesmo tempo que a dita senhora continuava a insultá-lo, mesmo depois de ver as fotos inocentes que ele tinha tirado. Concluindo, depois desta humilhação pública, acho que tão cedo o meu colega não volta a pôr os pés numa piscina...

Vivemos uma altura de psicose colectiva, em que as condutas mais inocentes podem ser interpretados como os mais vis comportamentos.


terça-feira, setembro 09, 2003

ANÍBAL, O CARTAGINÊS Já devem ter reparado na minha paixão pela Antiguidade. Devoro todo o tipo de livros sobre as civilizações romana, grega, egípcia, etc. Uma personagem dessa altura que sempre me fascinou é Aníbal, o general cartaginês que, na 2ª Guerra Púnica (221/202 a.C., salvo erro), atravessou os Alpes e invadiu a Itália. Daí que "Hannibal", do escritor escocês Ross Lockie, me tenha chamado a atenção. É uma biografia do general, escrita na primeira pessoa, desde o nascimento e infância em Cartago, à morte, sessenta e cinco anos depois, na longínqua Bitínia.

Aníbal era filho do grande Amílcar, comandante cartaginês na Primeira Guerra Púnica. Depois da derrota cartaginesa, ajudou o pai na conquista da Hispânia, de todo o território entre o Gades (Cadiz) e o Ebro. Quando o pai morreu, assumiu o comando do exército da Hispânia e preparou a invasão de Itália através dos Alpes. Quando finalmente o fez, após anos de preparação, surpreendeu os romanos e aniquilou 60 mil legionários em Canae. De seguinda, e durante 16 anos, vagueou por Itália, impedido que estava de atacar a própria Roma devido à táctica que Fábio, o comandante romano, adoptou: seguir Aníbal como uma sombra, mas sem entrar em combate. Fábio sabia que Aníbal era invencível em campo aberto, pelo que simplesmente lhe cortou a retaguarda. Dessa forma, Aníbal não conseguia lançar-se sobre Roma (pois correria o risco de ficar entalado entre as forças de Fábio e as que defendiam a Urbs), e foi forçado a retirar de Itália. Pouco depois, Cipião derrotou-o em Zama, perto de Cartago.

Depois da guerra, Aníbal tornou-se o magistrado supremo em Cartago, mas os romanos temiam o homem que desde a mais tenra infância tinha jurado "ódio eterno a Roma". Sabiam que, mais tarde ou mais cedo, Aníbal daria início a outra guerra. Conspiraram então com os inimigos cartagineses de Aníbal, de modo a que este teve que fugir do seu país. Durante 13 anos vagueou pela Ásia, até que os romanos o localizaram na Bítinia (noroeste da actual Turquia), sob protecção do rei Prúsias; Roma enviou então uma força 500 homens para o prender, mas ele preferiu suicidar-se a cair nas mãos dos seus inimigos.

Sabe-se muito pouco sobre a civilização cartaginesa, e os únicos dados bibliográficos de que dispomos são precisamente dos seus inimigos gregos e romanos. Mas embora os autores gregos e romanos pudessem ter uma visão algo deturpada dos factos, é indesmentível que a sociedade cartaginesa era bastante cruel. Os castigos aplicados aos condenados, a "justiça" que castigava os generais vencidos como criminosos ou traidores, a "estripação" dos prisioneiros de guerra, os sacríficios de crianças, etc, mostram uma sociedade extremamente violenta, talvez porque, como é dito da referida obra, "Cartago não tem amigos". Estavam isolados num mundo hostil, entre sociedades muito diferentes, num mediterrâneo grego-romano. Para sobreviver, os maiores sacríficios eram exigidos.


AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ No mesmo dia em que Ali Alatas diz estar "feliz" pela independência timorense, o exército indonésio anuncia que vai ajudar a treinar o exército timorense.