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terça-feira, setembro 09, 2003

ANÍBAL, O CARTAGINÊS Já devem ter reparado na minha paixão pela Antiguidade. Devoro todo o tipo de livros sobre as civilizações romana, grega, egípcia, etc. Uma personagem dessa altura que sempre me fascinou é Aníbal, o general cartaginês que, na 2ª Guerra Púnica (221/202 a.C., salvo erro), atravessou os Alpes e invadiu a Itália. Daí que "Hannibal", do escritor escocês Ross Lockie, me tenha chamado a atenção. É uma biografia do general, escrita na primeira pessoa, desde o nascimento e infância em Cartago, à morte, sessenta e cinco anos depois, na longínqua Bitínia.

Aníbal era filho do grande Amílcar, comandante cartaginês na Primeira Guerra Púnica. Depois da derrota cartaginesa, ajudou o pai na conquista da Hispânia, de todo o território entre o Gades (Cadiz) e o Ebro. Quando o pai morreu, assumiu o comando do exército da Hispânia e preparou a invasão de Itália através dos Alpes. Quando finalmente o fez, após anos de preparação, surpreendeu os romanos e aniquilou 60 mil legionários em Canae. De seguinda, e durante 16 anos, vagueou por Itália, impedido que estava de atacar a própria Roma devido à táctica que Fábio, o comandante romano, adoptou: seguir Aníbal como uma sombra, mas sem entrar em combate. Fábio sabia que Aníbal era invencível em campo aberto, pelo que simplesmente lhe cortou a retaguarda. Dessa forma, Aníbal não conseguia lançar-se sobre Roma (pois correria o risco de ficar entalado entre as forças de Fábio e as que defendiam a Urbs), e foi forçado a retirar de Itália. Pouco depois, Cipião derrotou-o em Zama, perto de Cartago.

Depois da guerra, Aníbal tornou-se o magistrado supremo em Cartago, mas os romanos temiam o homem que desde a mais tenra infância tinha jurado "ódio eterno a Roma". Sabiam que, mais tarde ou mais cedo, Aníbal daria início a outra guerra. Conspiraram então com os inimigos cartagineses de Aníbal, de modo a que este teve que fugir do seu país. Durante 13 anos vagueou pela Ásia, até que os romanos o localizaram na Bítinia (noroeste da actual Turquia), sob protecção do rei Prúsias; Roma enviou então uma força 500 homens para o prender, mas ele preferiu suicidar-se a cair nas mãos dos seus inimigos.

Sabe-se muito pouco sobre a civilização cartaginesa, e os únicos dados bibliográficos de que dispomos são precisamente dos seus inimigos gregos e romanos. Mas embora os autores gregos e romanos pudessem ter uma visão algo deturpada dos factos, é indesmentível que a sociedade cartaginesa era bastante cruel. Os castigos aplicados aos condenados, a "justiça" que castigava os generais vencidos como criminosos ou traidores, a "estripação" dos prisioneiros de guerra, os sacríficios de crianças, etc, mostram uma sociedade extremamente violenta, talvez porque, como é dito da referida obra, "Cartago não tem amigos". Estavam isolados num mundo hostil, entre sociedades muito diferentes, num mediterrâneo grego-romano. Para sobreviver, os maiores sacríficios eram exigidos.