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segunda-feira, setembro 15, 2003

AS "ALMINHAS" sempre me chamaram a atenção ("olha do que ele se foi lembrar!", dirão alguns). Desde miúdo que sempre me interroguei o porquê da existência desses pequenos "santuários" nas encruzilhadas dos caminhos. Encontram-se "alminhas" em todo o tipo de vias, desde as movimentadas ruas de Braga aos lugarejos mais reconditos das montanhas. Ao que parece - e se alguém tiver mais informações sobre este assunto, agradeço que mas envie - as nossas "alminhas" descendem dos pequenos santuários que os romanos e outros povos da Antiguidade construíam nas encruzilhadas das vias e caminhos, como forma de espantar os maus espíritos e apaziguar os "deuses das encruzilhadas", i.e., os bons espíritos que as habitavam. Na Roma Antiga, aliás, existiam "congregações das encruzilhadas", espécie de confrarias responsáveis pela manutenção dos santuários. No entanto, com o passar dos séculos foram-se transformado em verdadeiras máfias (em Itália, é um modo de vida com milhares de anos...), que ofereciam "protecção" aos comerciantes, executavam assassinatos, alimentavam discórdias e violências no fórum, etc, de modo a que se sucederam várias tentativas de as extinguir.

Com o advento do Cristianismo, os santuários pagãos foram ocupados pela Igreja, incluindo os santuários das encruzilhadas, que doravante se tornaram "alminhas". É engraçado como o termo "alminhas" vai de encontro ao significado original dos santuários em honra dos "bons espíritos" do lugar. Embora a religião tenha mudado, a crença popular sobreviveu. Aliás, em muitas vilas e aldeias do Centro e Norte do País (não sei se no Sul também se passa o mesmo), permanecem velhas crenças supersticiosas relacionadas com as encruzilhadas; várias vezes ouvi idosos da minha vila dizerem que os "cruzamentos" são "lugares ruins". É curioso como velhas crenças se perpetuam no tempo, ao longo de milhares e milhares de anos.