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quarta-feira, setembro 17, 2003

A EXPULSÃO DE ARAFAT Israel mantém a intenção de expulsar o líder palestiniano, admitindo mesmo a possibilidade de o "eliminar" (termo soft que significa "assassiná-lo"). Considero esta posição do governo de Sharon um enorme erro, pelo menos na perspectiva daqueles que querem uma solução pacífica para o problema israelo-palestiniano.

Expulsar Arafat não terá o efeito pretendido de reduzir o terrorismo. Mesmo que Arafat seja o responsável máximo pelos atentados, o facto de o mandarem de volta para a Tunísia não lhe retirará esse papel. Basta ver o exemplo de Bin Laden, que das grutas afegãs atacou de forma realmente destruidora o próprio coração do mundo ocidental.

Além disso, quem poderá ocupar o lugar de Arafat? Um dos "jovens" líderes do Hamas, nascido já depois de 1948, imbuído do espírito verdadeiramente extremista e sequioso de sangue hebraico? Algum dos velhos compagnons de route do velho líder, daqueles que há décadas integram o secretariado da OLP e que não fazem um único movimento sem a permissão de Arafat? Ou pior, um dirigente escolhido pelos israelitas e, logo, sem qualquer legitimidade e capacidade de liderar os palestinianos, por ser visto como colaboracionista?

Por tudo isto, parece-me óbvio que afastar Arafat não é uma solução viável. Quanto à hipótese de o abaterem, parece-me ainda mais contraproducente. Matar Arafat poderia despontar tais ódios entre os palestinianos, que uma solução pacífica (mesmo que por tal se entenda uma submissão aos interesses israelitas) se poderia tornar inviável nos próximos anos.

Não quero com isto defender Arafat. O homem não é flor que se cheire. Arafat dirige o movimento independentista com verdadeira mão de ferro, não hesitando em eliminar os potenciais rivais internos. Só assim se explica que desde os anos 50 esteja à frente dos independentistas. Ordenou actos terroristas contra civis inocentes, desviou aviões, etc.

(CONTINUA)