respublica

quinta-feira, outubro 23, 2003

PARECE-ME CLARO QUE AS VIOLAÇÕES DO SEGREDO DE JUSTIÇA no âmbito do processo "Casa Pia" obedecem a uma estratégia concertada de desacreditação do líder socialista e dos seus mais próximos colaboradores. Acho que isso é óbvio para toda a gente. Mas Quem fornece as informações? A que propósito? E porque é o faz sempre nos momentos certos, de modo a desgastar pouco a pouco a imagem da direcção do PS?

Em minha opinião, as respostas a estas questões são as seguintes:

Quem fornece as informações? Elementos ligados à investigação, quer na PJ quer na Procuradoria.

A que propósito? Para derrubar a direcção de Ferro Rodrigues.

E quem está por trás disto tudo? A resposta é óbvia: quem tiver mais interesse em derrubar Ferro... e tendo em conta que para os partidos da maioria, a actual direcção do PS se deveria manter à frente do partido por muitos e bons anos (é como um adepto do FCP desejar que Vale e Azevedo ainda estivesse à frente do Benfica...), parece-me que a origem da tal "cabala" se encontra bem no seio do próprio Partido Socialista. Alguém no PS quer derrubar Ferro.

Face a isto, e depois da forma atabalhoada como o líder socialista tem lidado com todo este caso, politizando a justiça, procurando fazer pressões para parar as investigações e manifestando um total desrespeito pela lei (tou-me cag....."), o melhor para o PS será a demissão de Ferro e a convocação de um congresso para eleger um novo líder. E desta vez, que se proceda a uma eleição democrática e não a uma nomeação.

Ana Gomes tem assumido também um papel importante em todo este folclore. Fala de "cabala" contra Pedroso e o PS, quando se sabe que existem 5 ou 6 testemunhas contra o seu correligionário, ao mesmo tempo que dá crédito a rumores publicados num jornal francês. E os rumores contra o próprio Ferro Rodrigues, Drª Ana Gomes? Não merecem ser investigados?

O facto de realmente existir alguém que procura "queimar" a direcção do PS não significa que todo o processo seja uma montagem. Existem demasiados indícios e testemunhas, pelo que só o julgamento poderá provar a inocência de Paulo Pedroso. A revogação da medida de coacção a que o deputado foi sujeito não significa que esteja inocente, mas sim que não existe necessidade o deter. Ainda pode ser constituído arguido. E o PS, pela mão de Ferro Rodrigues, uniu o seu destino ao de Paulo Pedroso, dependendo agora do desfecho deste processo.

Em tudo isto, não deixa de existir uma certa justiça poética: Ferro Rodrigues tanto clamou contra Paulo Portas por este ser uma simples testemunha num processo de colarinho branco, e agora, quando ele próprio foi ouvido no âmbito de uma investigação de dezenas de crimes de pedofilia, recusa demitir-se e fala numa conspiração contra o PS.

Uma última nota: que moral têm a SIC e outros meios de comunicação social para criticarem - se não de forma explícita, pelo menos de maneira súbtil - as afirmações de Ferro Rodrigues a respeito do segredo de justiça, quando os media são os primeiros a desrespeitar a lei?