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quinta-feira, julho 03, 2003

A resistência iraquiana (I)

Têm-se sucedido os ataques da guerrilha iraquiana às forças da coligação anglo-americana. A guerrilha é a solução clássica a que recorrem os povos mais fracos quando ocupados por exércitos de povos mais poderosos. Tem sido assim desde a Antiguidade mais remota; já os faraós do Império Novo lutavam contra guerrilheiros núbios. Os romanos também enfrentaram guerrilhas durante muitos anos (Hispânia, Trácia, etc). O termo "guerrilha" provém do espanhol "guerrilla", tendo sido usado pela primeira vez no seu actual sentido durante a Guerra Peninsular (1808/1812). Os generais franceses queixavam-se que não conseguiam pacificar a Península porque os espanhóis e os portugueses realizavam constantes ataques de guerrilha contra posições francesas. Nos relatórios que enviou para Paris, o General Massena - que invadiu Portugal em 1811(?) e a quem Napoleão apelidava de "l'enfant cherie de la victoire" - queixava-se que não conseguiria atingir a cidade do Porto na data prevista, porque desde a fronteira de Chaves que grupos de "fanáticos" se lançavam sobre as tropas, saltando dos desfiladeiros ou fazendo fogo de cima dos penhascos. Massena temia mais os guerrilheiros que o já vencido exército português. A guerrilha peninsular contribuiu muito para aquela que foi a primeira guerra perdida por Napoleão e o prenúncio da sua queda em 1814.

No Iraque passa-se a mesma coisa; o exército foi derrotado rapidamente, mas grupos de resistentes realizam ataques de guerrilha contra as forças ocupantes. Não lhes chamo "terroristas", como os americanos fazem, pois estão na terra deles. Os nazis também chamavam "terroristas" aos membros da Resistência Francesa...

A condição essencial para o sucesso de uma guerra de guerrilha é esta contar com o apoio das populações civis. Espero sinceramente que os resistentes iraquianos sejam apenas membros dos "Fedayin de Saddam" e do Partido Baas, sem genuíno apoio da população. Ou que, não o tendo actualmente por terem estado ligados ao regime de Saddam, não o venham a ter no futuro, devido a erros cometidos pelos Americanos.

Fui contra a invasão do Iraque. Publiquei artigos nesse sentido, por considerar tal invasão um grave atentado ao direito internacional. No entanto, a partir do momento em que as hostilidades tiveram início, só pude esperar que Saddam fosse vencido o mais depressa possível, para bem do Iraque, do Médio Oriente e da própria segurança mundial. A pior coisa que poderia acontecer seria a América abandonar o Iraque de "rabo entre as pernas" e retomar o perigoso isolacionismo dos anos 20, que Bush anunciara antes do 11 de Setembro.

Winston Churchill continua a ser muito citado, desde frases célebres a pequenos episódios da sua longa carreira política. É um desses pequenos momentos que vou agora recordar: as ameaças soviéticas e a falta de ajuda americana ditaram o fracasso da invasão anglo-francesa do Egipto, durante a crise do Suez (1956); os ingleses foram particularmente humilhados por Nasser. O Império já não era o que era! Questionado sobre a questão do Suez, Churchill limitou-se a dizer o seguinte: "em primeiro lugar, se fosse eu o PM, jamais me teria metido naquela embrulhada. Mas se o tivesse feito, jamais teria fugido daquela forma".

(Continua)