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sexta-feira, julho 04, 2003

Hobbes, Kagan e Kant


No seu "Paradise and Power: America and Europe in the New World Order" (2003), Kagan usa uma frase que acabou por ficar célebre: "os americanos são de Marte e os Europeus são de Vénus". Para Kagan, os europeus vivem no sonho da paz perpétua entre as nações, um tema recorrente no pensamento político europeu, desde o Abade Saint Pierre, Rousseau e Kant (Zum Ewigen Frieden, 1795/96). Esse paraíso sem guerra está a ser construído pela União Europeia, através da instituição de tratados internacionais que regulam as relações entre os estados membros como se regulasse as relações entre cidadãos. Ou seja, os estados europeus ultrapassaram já o "estado de natureza" descrito por Hobbes (século XVII), em que não existiam leis imanadas por um poder superior que garantissem a segurança dos cidadãos. Nesse estado de natureza, "o homem era lobo do homem", pois o que interessava era a sua sobrevivência. Nenhuma norma moral ou ética se sobrepunha a essa necessidade de sobrevivência.

Os americanos, enquanto Estado, vivem ainda nesse estado de natureza. Para eles (e para o resto do mundo, à excepção da UE), as relações internacionais regem-se por essa regra que diz que não há regras! Se queremos refrear os instintos predatórios dos falcões de Washington, a bem de um mundo mais justo, pacífico e equilibrado, devemos procurar entender as regras do jogo e ganhar importância no contexto internacional. Isso consegue-se com a afirmação da nossa política externa e segurança comuns, de modo a conseguirmos um mundo multipolar, sendo as relações internacionais reguladas por organismos superiores, como a ONU. Os problema dos governos europeus é que falam muito mas fazem pouco! As palavras não correspondem aos actos, pois não existe vontade política. A Europa tem que assumir a posição político-militar que lhe é devida pela sua importância económica. É altura de a Europa assumir as suas responsabilidades, a bem de um mundo mais equilibrado, justo e pacífico.