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terça-feira, dezembro 27, 2005

NEM CARNE, NEM PEIXE... A crónica desta semana no "Comum Online", intitulada "Nem carne, nem peixe" pode ser lida aqui.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

BOÇAL Cavaco venceu claramente o debate contra Mário Soares. Foi o único a expôr ideias, foi correcto, educado e demonstrou uma contenção admirável. Soares, por seu turno, foi mal educado, boçal e ridículo, especialmente quando quis fazer crer que também ele é "professor". Bastava Cavaco querer e teria sido humilhado: é que existe uma grande diferença entre um professor universitário convidado e um outro que prestou provas. Soares mostrou as verdadeiras razões porque se candidata: a sua profunda animosidade pessoal contra Cavaco e a (para si) intolerável perspectiva de ver eleito presidente um homem tão diferente de si, "até no discurso", como Cavaco fez questão de referir.

O desespero e as atitudes de grande parte da Esquerda são um óptimo sinal de que Cavaco poderá vir a ser o melhor presidente da República desde 1976, tal como foi também o melhor primeiro-ministro. Pois se não fosse bom, não ficavam tão incomodados.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

ESPÍRITO DE QUINHENTOS Segundo o Público de hoje, Manuel Alegre afirmou que Portugal precisa do "espírito quinhentista". Segundo o candidato, o nosso país precisa de um presidente "que dê valor à cultura, à história, que compreenda que Portugal não conta muito na economia de mercado, mas conta muito na cultura, na história e sobretudo na língua".

É ainda a velha tendência de uma certa esquerda para tratar a economia como uma coisa "que não interessa" e que é possível viver sem tê-la em conta. Alegre e outros não compreendem que da mesma forma que foi a economia a dar origem à expansão da língua e cultura portuguesas, também será a economia a garantir a sua preservação nos séculos vindouros. Ou a não garantir, se as coisas continuarem a dar para o torto.

Se um Presidente da República quiser realmente defender a preservação da língua portuguesa no mundo, deverá estar consciente da necessidade de aproveitarmos as potencialidades da globalização, com uma economia competitiva e aberta a novos desafios.

E o "espírito quinhentista" que Alegre refere é o mesmo que permitiu aos nossos antepassados construírem um poderoso império comercial, através da sua indomável vontade de vencer, da sua ânsia do lucro, da sua capacidade de assumir riscos imensos, de aproveitar as oportunidades e de receberem de braços abertos uma globalização de que foram os pioneiros. Em suma, os portugueses de Quinhentos eram ousados, arrojados, duros, implacáveis, realistas e não tinham medo de arriscar. Ou seja, eram tudo aquilo que a esquerda dita moderna hoje abomina: seres intrépidos, movidos pela ambição e pela ganância do lucro, que fizeram a primeira globalização e que se viam como "homens do mundo" e não como simples reinóis. Não estavam acomodados no seu quintal ou com medo de se abrirem a outros povos e culturas, nem tinham problemas em recorrer à força, se esta fosse necessária para defender os seus interesses. Decididamente, Alegre não sabe do que fala.

GERAÇÃO RASCA O Rui Afonso, co-autor do Respublica e meu amigo e colega de curso, escreveu o seguinte no seu blog:

"(...) Acreditarei, a partir de hoje, sempre, que a apelidada (por Vicente Jorge Silva) geração rasca não era a minha. É esta, que grassa pelas universidades, neste momento. Que eu já sabia desprovida de cultura base (muito menos geral). Que eu já sabia desinteressada, mas não tanto (...) E tentarei esquecer que a universidade de que (ainda) faço parte está cheia de mentecaptos, para não ter que recorrer a palavras menos próprias (para o blogue) mas apropriadas (para os visados)."

Estou completamente de acordo com o Rui. E a título de exemplo, recordo-me que a maioria dos meus colegas (alguns com médias de 15, 16 e 17 valores) achava muito estranho o facto de eu ter o hábito de ir à biblioteca da universidade requisitar livros para ler em casa. Para a esmagadora maioria dos estudantes universitários, as bibliotecas são para estudar durante as épocas de exame e não para consultar e requisitar livros pelo simples prazer de ler. Quem assim age é olhado como um excêntrico, na melhor das hipóteses, ou um "marrão", na pior delas (como nunca fui o "marrão" típico, espero ter ficado rotulado como excêntrico...).

Creio que este simples facto demonstra o nível cultural da maioria dos estudantes universitários.

Pode parecer exagero da minha parte, mas a verdade é que se estão a formar gerações de doutores e engenheiros que em muitos casos nunca leram um único livro (!), o que é extremamente preocupante. E os hábitos de leitura da maioria daqueles poucos que ainda vão lendo alguma coisa, ficam-se por Dan Brown's e afins, ou então pelas obras de leitura obrigatória no ensino secundário e em alguns cursos de Letras.

E interrogo-me como é que um jovem professor poderá incutir nos seus alunos o gosto pela leitura, quando ele próprio é ignorante como uma besta de carga?

domingo, dezembro 18, 2005

CRÓNICAS Foi com muito gosto que aceitei o convite do jornal Comum (com link na coluna da direita), para participar com crónicas semanais. O primeiro fruto dessa minha colaboração com o Comum chama-se "Mitos da nossa pequenez: da idade de Soares à poesia de Alegre", e pode ser lido aqui.

domingo, dezembro 11, 2005

MASOQUISMO O Mil Folhas de ontem traz uma entrevista a Sven Lindqwist, um escritor sueco que considera que a violência foi "a primeira exportação da Europa". Mais uma vez, regressa o velho mito do "bom selvagem" e a diabolização dos "brancos" gananciosos, corruptos e violentos. Sinceramente, começo a perder a paciência para ler estes masoquistas que só conseguem ver coisas negativas na nossa civilização. Além disso, parecem esquecer que a História não começou em 1500. E que a violência, as guerras de conquista, a intolerância religiosa, a escravatura, a tirania e mesmo o genocídio não foram inventados pelos europeus. Aliás, esquecem-se que nós fomos também vítimas de tudo isso por parte de outras civilizações. Parecem não compreender que a condição humana permanece imutável desde a Idade da Pedra... e que de lá para cá pode ter mudado a forma, mas não o conteúdo.

Lindqwist e outros querem fazer crer que o Ocidente é uma espécie de "cancro" que contaminou o resto do mundo, quase dando a entender que antes da expansão europeia, a Ásia, a África e a América desconheciam a opressão e a violência. Mas que dizer da crueldade dos senhores feudais chineses, dos régulos africanos, dos sultões turcos, dos reis incas e dos shoguns japoneses? E os extermínios de povos inteiros perpretados pelos Mongóis, Assírios e Babilónios? E as invasões da Europa e do mundo mediterrânico pelos Árabes, Germanos e Eslavos?

P.S.: Interrogo-me se Lindqwist saberá que os escravos foram uma das "primeiríssimas" exportações da Europa, muitos anos antes da "violência" que refere. Durante séculos, milhares de europeus foram "exportados" como escravos para o Médio Oriente e para o Norte de África.

sábado, dezembro 10, 2005

DISTORÇÕES Chamou-me a atenção um artigo denominado “Distorções”, assinado pela jornalista São José Almeida (SJA) na edição do “Público” de 10 de Dezembro.

No seu texto, SJA insurge-se contra aquilo que considera ser o desrespeito dos preceitos constitucionais sobre a laicidade do Estado. SJA dá como exemplo a presença de altos representantes da Nação numa missa “privada” (sic) e de “homenagem” (sic) a Francisco Sá Carneiro e a Adelino Amaro da Costa.

Antes de mais, não existem missas “privadas” nem tão pouco de “homenagem” a quem quer que seja. Dizer o contrário é que é uma verdadeira “distorção”, que calculo seja própria de alguém completamente ignorante em questões de religião.

Sá Carneiro e Amaro da Costa eram católicos; será por isso natural que uma cerimónia em sufrágio das suas almas conte com a presença de pessoas que lhes fossem próximas, bem como de representantes do Estado que com tanta dedicação serviram. Não há mal algum nisso; da mesma forma que o Presidente da República vai a jogos de futebol, a espectáculos e a outros eventos culturais e sociais, porque não poderá comparecer a cerimónias religiosas? Parece-me que os únicos que se ofendem com isso são os fanáticos anti-clericais, que julgam viver ainda em 1910, no tempo em que os “cientistas” republicanos mediam os crânios dos “degenerados” jesuítas para provar a sua irracionalidade e inferioridade intelectual.

Aliás, é curioso que este tipo de reacções histéricas surgem apenas quando se trata da Igreja Católica, pois nunca ouço coisas deste género quando Jorge Sampaio participa em cerimónias judaicas, muçulmanas ou hindus. É a velha história do politicamente correcto e seus paradoxos: por exemplo, contar anedotas sobre negros e gays é condenado socialmente, mas dizer mal dos católicos é fashion e cai bem.

Porquê esta maneira doentia de ver a religião por parte de tanta gente, alicerçada nos mais bafientos preconceitos e na mais evidente ignorância, como se comprova pelos disparates escritos por SJA?

Não se pode remeter a religião para a esfera do privado, como diz SJA. Os católicos e crentes das demais religiões têm o direito de viver a sua fé de forma pública (o que não significa, concordo, que os edifícios do Estado devam ostentar símbolos religiosos). A religião faz parte da identidade das pessoas e ninguém deve ser obrigado a escondê-la, por muito que isso incomode os anti-clericais fundamentalistas...

A verdade é que as leis de separação entre Igreja e Estado e da liberdade religiosa são cumpridas em Portugal: hoje em dia, a nenhum cidadão português é negado o direito a professar ou não uma fé. A verdade é que já ninguém é perseguido ou discriminado em função das suas crenças ou não crenças. Além disso, as diferentes confissões têm relações harmoniosas entre si. E independentemente da filiação religiosa, os portugueses têm sabido viver em concórdia, respeito pela diferença e harmonia.

Além disso, existe de facto separação entre Igreja e Estado. Embora, como é natural, a Igreja Católica continue a ter muita influência (talvez mais até que durante o antigo regime). E é isso que custa a aceitar a muitas pessoas que gostam de dar lições de democracia, mas que no fundo não respeitam o direito à diferença e que não toleram o facto de a Igreja ousar destoar do discurso dominante.

A Igreja tem direito a exprimir os seus pontos de vista e a procurar influenciar a sociedade, da mesma forma que as restantes confissões religiosas, associações, movimentos cívicos e partidos políticos. Democracia é isso mesmo e não uma tirania de um grupelho de “iluminados” que, à sua maneira, acabam por ser tão “tolerantes” como aqueles católicos que há algumas décadas defendiam a proibição da presença de outras religiões no espaço público português.

Na sua crónica, SJA fez também referência às declarações do arcebispo emérito de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, que criticou os resquícios de “republicanismo primitivo” e que disse recusar participar na homenagem a um certo “corifeu” que perseguiu os seus antepassados. SJA insurge-se contra o prelado, espantando-se por o nosso regime permitir este tipo de declarações (mais uma demonstração de tolerância democrática da parte da jornalista)... realmente, onde já se viu, que descaramento, alguém atrever-se a criticar a sacrossanta 1ª República, esse regime de exemplar tolerância! Deixo um conselho a SJA: informe-se bem sobre esse período da nossa História. E talvez então compreenda as declarações do arcebispo.

CITAÇÃO: É curioso como ninguém consegue combater a religião sem fazer disso uma religião.

terça-feira, dezembro 06, 2005

TRADUÇÕES Um canal por cabo está neste momento a transmitir um documentário sobre a história bíblica do encontro entre o rei Salomão e a Rainha do Sabá. O documentário é norte-americano, baseando-se nas lendas etíopes segundo as quais os imperadores (negus) da Abissínia eram descendentes de Salomão e da rainha. Mas quem fez a tradução cometeu um erro óbvio: traduziu Queen of Sheba como Rainha Sabá. É tão ridículo como traduzir Queen of England como Rainha Inglaterra, em vez de Rainha de Inglaterra.

Assim ficamos a saber que a Rainha de Sabá, cujo nome não é referido em parte alguma na Bíblia, se chamaria Sabá, o que não faz qualquer sentido, uma vez que Sabá era um país situado na península arábica (sobre o qual ela reinava) e não um nome próprio. Os canais temáticos do cabo são bastante melhores que a televisão generalista, mas de vez em quando vê-se cada coisa...

quinta-feira, dezembro 01, 2005

EVOLUÇÕES São muitos os que se interrogam como é que Mário Soares passou de "patriarca da Nação", a quem tudo se perdoava com um sorriso condescendente, para começar a ser visto como uma espécie de avô "gagá", por quem se tem muito respeito mas que já não se leva a sério. De facto, pela primeira vez em 20 anos - durante os quais sempre soube manobrar a comunicação social - Soares começou a ter "bad press". E porquê?

Parece-me que por uma razão em especial: desde que abandonou Belém, Soares radicalizou-se progressivamente. Adoptou um discurso anti-globalização e anti-americano mais próximo do Bloco de Esquerda que do PS; tornou-se arrogante e até mal educado (caso do célebre comentário a respeito de Nicole Fontaine); agiu não raramente como se fosse dono e senhor da democracia portuguesa; e mais grave, deixou de compreender o mundo.

Têm razão aqueles que rejeitam o argumento da idade como obstáculo para Soares ser eleito presidente. De facto, e felizmente, Soares mantém uma vitalidade invejável. O problema é que as suas ideias não acompanharam a evolução dos tempos.