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segunda-feira, dezembro 19, 2005

ESPÍRITO DE QUINHENTOS Segundo o Público de hoje, Manuel Alegre afirmou que Portugal precisa do "espírito quinhentista". Segundo o candidato, o nosso país precisa de um presidente "que dê valor à cultura, à história, que compreenda que Portugal não conta muito na economia de mercado, mas conta muito na cultura, na história e sobretudo na língua".

É ainda a velha tendência de uma certa esquerda para tratar a economia como uma coisa "que não interessa" e que é possível viver sem tê-la em conta. Alegre e outros não compreendem que da mesma forma que foi a economia a dar origem à expansão da língua e cultura portuguesas, também será a economia a garantir a sua preservação nos séculos vindouros. Ou a não garantir, se as coisas continuarem a dar para o torto.

Se um Presidente da República quiser realmente defender a preservação da língua portuguesa no mundo, deverá estar consciente da necessidade de aproveitarmos as potencialidades da globalização, com uma economia competitiva e aberta a novos desafios.

E o "espírito quinhentista" que Alegre refere é o mesmo que permitiu aos nossos antepassados construírem um poderoso império comercial, através da sua indomável vontade de vencer, da sua ânsia do lucro, da sua capacidade de assumir riscos imensos, de aproveitar as oportunidades e de receberem de braços abertos uma globalização de que foram os pioneiros. Em suma, os portugueses de Quinhentos eram ousados, arrojados, duros, implacáveis, realistas e não tinham medo de arriscar. Ou seja, eram tudo aquilo que a esquerda dita moderna hoje abomina: seres intrépidos, movidos pela ambição e pela ganância do lucro, que fizeram a primeira globalização e que se viam como "homens do mundo" e não como simples reinóis. Não estavam acomodados no seu quintal ou com medo de se abrirem a outros povos e culturas, nem tinham problemas em recorrer à força, se esta fosse necessária para defender os seus interesses. Decididamente, Alegre não sabe do que fala.