respublica

terça-feira, maio 31, 2005



DUNQUERQUE Hoje à noite, na Dois, passa o último episódio de uma magnífica série da BBC.

GRANDE "REPORTAGEM" Há muito que, em meu entender, a revista "Grande Reportagem" perdeu a qualidade que em tempos a caracterizou. Nela proliferam artigos de opinião disfarçados de "reportagens", textos de "análise" que se limitam a repetir os clichés do "politicamente correcto" ou a reproduzir os chavões da esquerda "libertária", etc, etc.

Na última edição da GR, encontrei uma carta de um leitor que aconselhava o jornalista Luís Faria a "abordar apenas temas que lhe sejam familiares". Ao que parece, a carta do leitor surgiu em protesto contra uma "reportagem" do referido jornalista a respeito do Papa Bento XVI.

O leitor insurgia-se contra o facto de, na tal "reportagem", o jornalista criticar a postura de Josef Ratzinger a respeito da comunhão entre católicos e protestantes (o Papa manifestou-se contra). Ora como o dito leitor bem explicou, não pode haver comunhão entre uns e outros, pois o significado que os primeiros dão à Eucaristia é muito diferente daquele que os segundos lhe outorgam. Aliás, o próprio termo remete para a comunhão entre fiéis (no caso dos católicos, em torno do Papa). E, como bem sabemos, os católicos e os protestantes não comungam da mesma visão da fé cristã. Seria tão absurdo como o Partido Comunista convidar o Partido Popular para uma cerimónia de elogio a Karl Marx ou a Lenine.

Não li a dita "reportagem", mas a resposta que o jornalista deu ao leitor esclareceu-me por completo: num curto texto, Luís Faria aconselhou o leitor a "informar-se antes de se pronunciar" (olha quem fala!), acrescentando ainda que alguns padres alemães "celebram comunhão" com protestantes. O uso desta expressão, "celebram comunhão", mostra bem o quanto este jornalista percebe de cristianismo.

Se querem escrever sobre religião, escolham alguém que perceba do assunto!

ESTRANGEIRISMOS Os espanhóis são conhecidos por traduzirem para a sua língua materna (refiro-me aos castelhanos, naturalmente), todas as palavras estrangeiras que por alguma razão entram no seu vocabulário quotidiano. Nem os nomes de bandas estrangeiras escapam a esta castelhanização: os Piedras Rolantes ou as Chicas Picantes que o digam.

Penso que essa atitude espanhola peca por excesso, tornando-se até ridícula. Mas julgo que não menos ridícula será a tendência lusa de assimilar automaticamente, com os ares de superioridade próprios de quem se julga conhecedor do "mundo", todos os termos estrangeiros que cá chegam. Por exemplo, na área da gestão de empresas este fenómeno é particularmente evidente: pululam expressões como technology-push, demand-pull, e-learning, spin-off, outsoursing, etc, como se o seu uso por parte dos nossos gestores e empresários fosse sinónimo de modernidade, dinamismo e crescimento económico. Não vêem estes pobres provincianos que se assim fosse, há muito que teríamos ultrapassado os nossos irmãos ibéricos, no que ao desenvolvimento económico e social diz respeito!

IMPULSO SUICIDA A conclusão mais importante que retiro da vitória do "Não" em França é simples: o eleitorado francês preferiu enfiar a cabeça na areia e agarrar-se ao passado, ao invés de se adaptar a um Mundo Novo e de com garra apanhar o combóio do futuro. A continuarem estas tendências suicidas - no seguimento de outras que tantas tragédias provocaram no século passado -, a Europa terá o mesmo destino que o Islão e a China dos séculos XII e XIII: o inexorável declínio.

sexta-feira, maio 20, 2005

O VOTO DO RICARDO O meu amigo Ricardo Manuel, co-blogger do Respublica, explica no seu blog pessoal (o excelente "Os Meninos de Ouro"), o porquê da sua opção pelo "Não" no referendo sobre o Tratado Constitucional Europeu. Embora pretenda votar "Sim", compreendo perfeitamente a posição de pessoas como o Ricardo. Não obstante o facto de ser um europeísta convicto, o Ricardo não se revê neste projecto de Constituição.

Por outro lado, o "Respublica" dá mais uma vez provas de um muito necessário pluralismo de opiniões. Já só falta a do Rui Afonso. Cá a aguardamos!



FÉ (II) O post anterior, do Filipe, surge na altura exacta, quando todos tentam teorizar acerca da Igreja "Instituição" (mormente os que dela não fazem parte) e ninguém se lembra que a Igreja é, precisamente, isso: Fé. E haverá maior pureza do que essa Fé inquestionável que as "velhinhas beatas" ostentam? Não estão a agredir ninguém, não estão a pedir a ninguém que as acompanhe - estão, tão somente, a agir de acordo com aquilo que são os seus ideais (goste-se, ou não). É interessante, aliás, reflectir sobre este ponto: quando colocamos em causa os ideais de um partido, de uma organização não-governamental (vulgo ONG), de um clube de futebol (também os terá?), enfim, de uma outra qualquer instituição, a resposta, não argumentativa e anti-argumentatória é, invariavelmente, a de que, estando de fora, não nos devemos imiscuir em processos e ideologias internas. Porque insistem, então, os detentores de fés (por vezes bem absurdas) mais mundanas, em criticar, insistentemente, a Igreja Católica? Julgo dever deixar-se a discussão sobre a (não) evolução da Igreja para o foro interno da Instituição, para aqueles que dela fazem parte. Custa-me, aliás, que os arautos da Verdade critiquem, de forma insistente, uma Fé que, pelo menos, se mais não quiserem reconhecer, tem o seu valor histórico, e caiam no erro de defender fundamentalismos, como o islâmico, por exemplo - esse sim, desprovido de toda e qualquer hipótese de diálogo ou discussão, interna ou externa, acerca da sua descontextualização na sociedade global em que vivemos.

Deixem, pois, que a nossa Igreja Católica prossiga o seu caminho, que nós discutamos, entre nós, sobre a sua necessária adaptação à evolução da sociedade. Deixem que as "velhinhas beatas" se martirizem, se assim o entenderem (e relembre-se, aqui, que a Igreja não tem orientações ideológicas nesse sentido), já que não passa de auto-flagelação (estará para vir o dia em que uma qualquer septuagenária, a caminho de Fátima, faça rebentar os explosivos que traz amarrados à roupa interior por sobre um qualquer grupo de esquerdistas radicais). Assim sendo, o espaço à discussão está aberto... entre nós.

______________
PS - Para que dúvidas não restem, não existe qualquer cegueira seguidista (gostei deste encadeamento de sons) entre nós. Muito pelo contrário, o Filipe Alves e eu, católicos convictos e assumidos, protagonizamos, não poucas vezes, acesos debates sobre o tema. Em suma: nós podemos.

quinta-feira, maio 19, 2005

Num post muito interessante sobre Fátima, o José escreveu o seguinte, entre outras coisas:

"(...) Não. Em toda aquela gente que faz uma coisa com que não me identifico mas que eu nunca seria capaz de fazer, o que eu vejo é gente que sofre e que é imensamente digna no seu sofrimento. O que eu vejo é uma Fé, que pode ser pouco esclarecida, um pouco grotesca até, mas que é uma enorme Fé no Deus em que ambos acreditamos. E estou certo que o Deus da Graça, como alguns O preferem chamar, se compraz naquela gente, reconhece a sua grandeza e se apieda das suas dores. E isso, por si só, justifica Fátima. Acredite-se ou não. Concorde-se ou não."

Estou completamente de acordo com o José. Na Igreja há espaço para todos, desde os mais doutos teólogos às velhinhas "beatas", que vivem a sua fé de forma muito simples. Além de que, convém não esquecer, Jesus se revelou aos simples e ignorantes, e não aos grandes ou aos sábios da terra. Pois o Seu Reino não é deste mundo.

NOVO LINK Encontrei um interessante site que disponibiliza documentos e mapas históricos de cidades europeias e mediterrânicas. Acrescentei-o na coluna dos links, na secção "Utilitários".



O SENTIDO DA HISTÓRIA Depois de muito pensar na questão, e embora permanencendo reticente quanto a certos aspectos do Tratado Constitucional Europeu - demasiado volumoso e complicado -, decidi votar "Sim" no referendo que se avizinha.

Creio que está na altura de a Europa se reencontrar, superando as divisões surgidas aquando do advento do Estado-Nação. É chegada a hora de a Europa se voltar a unir, desta feita não através do gládio dos legionários romanos ou das espadas carolíngias, mas da vontade expressa dos seus muitos e diversos povos. Partilhamos a mesma civilização. Partilhamos o mesmo húmus cultural e religioso. Partilhamos o mesmo destino. E quer queiramos quer não.

É chegado o momento de a Europa assumir as suas responsabilidades para consigo própria e para com o resto do mundo. O que apenas será possível se procedermos à formação de um novo estado federal supra-nacional, que respeite as características de cada nação e cultura. Um novo estado formado através da união voluntária dos seus povos e não através da força das armas.

A maior ameaça aos direitos e à independência política e económica dos pequenos países não advém do federalismo. Pelo contrário, o federalismo é a melhor forma de defender os interesses de países como Portugal, perante o desmesurado e muitas vezes súbtil poder dos "grandes".

Tenhamos coragem de romper com um passado caduco. Tenhamos a audácia de partir em busca de algo nunca antes conseguido.

_________________________________

P.S.: a este respeito, recomendo a leitura do Abrupto e do Sítio do Não (cujo autor, José Pacheco Pereira, a quem agradeço a gentileza de nos ter "linkado", tem apelado ao voto no "Não") do Causa Nossa e do Blasfémias. Recomendo também a leitura deste ensaio do então Cardeal Josef Ratzinger, hoje Papa Bento XVI.

terça-feira, maio 10, 2005



DAR A QUEM PEDE Nos tempos que correm, torna-se frequente ouvir muitas pessoas dizerem que recusam dar esmolas a pedintes. Algumas dizem que preferem contribuir para alguma instituição de caridade, onde sabem que o seu dinheiro será “bem empregue”. Outras afirmam que dar esmolas a pedintes e “arrumadores” os habitua à mendicidade, quando o que eles “precisam é de trabalhar”.

Ainda consigo compreender que estas afirmações partam de pessoas alheias à Igreja. Mas fico muito preocupado quando são cristãos a falar assim – em especial, jovens da minha geração ou mais novos, como tenho ouvido frequentemente.

Vivemos numa sociedade que, em nome do relativismo moral, tudo “perdoa” às pessoas – mentiras, vaidades, invejas, traições, falsidades e egoísmos -, mas que não lhes perdoa o facto de não poderem, não souberem ou não quererem produzir riqueza. Na nossa sociedade do consumo e das maravilhas da técnica, alguém que não trabalhe torna-se indigno de compaixão, sendo votado ao mais atroz dos ostracismos.

Em relação ao primeiro argumento acima apresentado, o daquelas pessoas que se recusam a dar dinheiro a pedintes por estes alegadamente o gastarem em vícios, devo dizer que me parece extremamente falacioso. Imaginemos um “arrumador” toxicodependente que, ao longo de um dia de mendicidade, recolhe 75 euros (estimativa minha). Dessa quantia, certamente que a maior parte será dispendida na dose diária de droga. Mas um toxicodependente também precisa de comer, e é nisso que devemos pensar quando lhe damos esmola. Estaremos a dar-lhe dinheiro para se alimentar e não para se drogar. Além de que, ao recusarmos-lhe esmola, por mais parca que seja, estaremos a empurrá-lo para a criminalidade. E é nosso dever, enquanto cristãos, tudo fazer no sentido de que um irmão nosso não caia em desespero, pois caso contrário poderemos vir a ser também responsáveis pelas loucuras que ele cometer.

Evidentemente que todos os cristãos devem contribuir com donativos para instituições de caridade. Todavia, quantas vezes não será isso uma forma de “alívio de consciência”? Não será isso uma maneira de dizer: “já contribuí com a minha parte e agora que essas instituições os ajudem”?

Imagine o caro leitor que, de um momento para o outro, uma catástrofe natural, uma guerra ou uma qualquer perturbação económica e política o atira a si e aos seus para o mais absoluto estado de necessidade. Imagine que tudo o que o hoje possui, o fruto do seu trabalho e das suas poupanças, se perde nessa inesperada e inglória convulsão. Imagine também, caro leitor, que todo o seu mundo se desmorona e que, de um dia para outro, passa a depender da caridade alheia. Como se sentiria o leitor se, erguendo as mãos junto de um camião carregado de ajuda humanitária, o repelissem com pontapés, recusando-lhe auxílio e aconselhando-o a trabalhar para sobreviver? Numa situação dessas, como se sentiria o leitor se lhe visse negada a mais pequena ajuda por parte de outra pessoa?

Quero com isto ilustrar que, no mundo incerto e perigoso em que vivemos, todos estamos sujeitos a caírmos um dia na mais abjecta das misérias. Hoje são os “arrumadores” que se encontram nessa triste situação, mas amanhã poderemos ser nós.

Devemos por isso pensar duas vezes antes de repelirmos um irmão que passa necessidades, evitando fazer julgamentos morais. Até porque seremos julgados exactamente na medida em que julgarmos os outros.

O segundo argumento referido, segundo o qual dar esmolas a pedintes e “arrumadores” os habitua à mendicidade, parece-me igualmente falso. Evidentemente, melhor que lhes dar o peixe, será ensiná-los a pescar; mas um homem com fome consegue pescar? Conseguirá uma pessoa que não tem dinheiro para se alimentar e para se vestir decentemente, regressar ao convívio da sociedade, encontrar emprego e começar a trabalhar? Pode um homem que se encontra no fundo de um escuro poço, envolto nas densas trevas do desespero, construir uma escada para dele sair, se não for nisso ajudado por quem se encontra fora?

Além disso, quantas pessoas que se recusam a dar-lhes o peixe os procuram ensinar a pescar? Por ter lavado as mãos, Pôncio Pilatos não foi menos culpado que Caifás.

Quando damos esmola a um miserável, estamos a entregar-lhe apenas o que lhe pertence. Todos têm direito a sobreviver de forma digna, independentemente de quererem ou não trabalhar. A dignidade do Homem deve estar acima de qualquer teoria económica, direito à propriedade ou código moral. A economia, o direito e a moral devem ter como fundamento a promoção e defesa da dignidade humana, e não o oposto. Caso contrário, servirão apenas para perpetuar a dominação de uns sobre outros, bem como para defender os privilégios dos primeiros em detrimento dos segundos.

____________________________

P.S.: este texto foi publicado na edição de ontem da revista-blog Terra da Alegria, cuja visita recomendo, como sempre!

quinta-feira, maio 05, 2005

DÚVIDA Talvez seja verdade que se apanham mais moscas com mel que com vinagre... mas a quem interessa apanhar moscas?

AI DOS DOENTES! No site dos Serviços Académicos da Universidade do Minho (SAUM), lê-se o seguinte, a respeito da realização de exames na época especial:

"Têm acesso à época especial de exames, a realizar em Outubro, numa única chamada: (...) Os alunos autorizados individual ou colectivamente por despacho. Só serão autorizados no corrente ano lectivo situações muito excepcionais e devidamente comprovadas. Serão indeferidos requerimentos a invocar motivos de doença por parte dos alunos, mesmo que comprovados, independentemente destas de terem ou não interferido com o seu normal aproveitamento escolar nas épocas normais ou de recurso."

É um absurdo que, ao mesmo tempo que se autorizam dirigentes associativos -essa numerosa "classe" que tão diligentemente trabalha em prol dos interesses dos estudantes... -, a realizar exames nesta época especial, o mesmo não seja permitido aos alunos que sofrerem o infortúnio de adoecer. Dá que pensar!