segunda-feira, maio 31, 2004
NOVO LINK Acrescentei ligações para o promissor Iluminações. para os interessantíssimos Povo de Baha e A Bordo.
AINDA A DÚVIDA E A FÉ... Como se devem ter apercebido, há algum tempo atrás subscrevi o serviço de citações do Citador, que actualiza o meu blog com citações diárias. A de hoje, do espanhol Miguel de Unamuno, trouxe-me à memória o que escrevi recentemente sobre a forma como as dúvidas nos podem ajudar a crescer na fé: "Uma fé que não duvida, é uma fé morta."
Independemente das ideias de Unamuno, personagem contraditória e por vezes polémica, creio que a sua frase vai de encontro ao que eu penso a este respeito.
sexta-feira, maio 28, 2004
UMA BOA NOTÍCIA Foi retirada a imunidade ao ex-ditador chileno, Augusto Pinochet, que poderá agora responder pelos seus crimes.
ESPÍRITO DEMOCRÁTICO... Em declarações ao "Expresso", a eurodeputada Ilda Figueiredo (CDU) terá considerado "perigoso" um eventual reforço dos poderes do Parlamento Europeu. E porquê? Porque não existe qualquer "garantia em relação à composição da Câmara"... segundo a cabeça de lista comunista, não se pode "arriscar" a atribuição de poderes a um Parlamento que poderá vir a ser controlado por uma "maioria de direita apostada no aprofundamento do neoliberalismo".
O PCP no seu melhor... estão sempre disponíveis para educar o povo, estes senhores, ainda que tenham que decidir por ele...
segunda-feira, maio 24, 2004
A ASCENSÃO DE JESUS O meu amigo Ricardo Manuel, dos Meninos de Ouro escreveu o seguinte:
"(...) Após a ressurreição, Jesus podia perfeitamente ter ficado entre nós, a espalhar o seu amor infinito e as suas preciosas parábolas. Em vez disso, foi ter junto do Pai que o chamou dos céus. Suponho que ao longo da história milhares de brilhantes homens e mulheres da Igreja tenham encontrado as mais brilhantes justificações para tal acontecimento. Eu não encontro, pelo que pessoalmente vivi este dia da Ascenção como qualquer outro Domingo cristão.(...)"
Também não sou teólogo, caro Ricardo, mas permite-me que dê a minha leiga opinião sobre este assunto. Creio que Jesus não ficou no mundo porque, como Ele disse, "o Seu Reino não é deste mundo". O seu Reino é espiritual, muito acima deste pobre mundo carnal, frágil e imperfeito.
Além disso, foi com a sua morte que Ele nos ensinou o verdadeiro significado do amor ao próximo e do perdão. E que fé seria a nossa se O pudéssemos ver ou tocar-Lhe todos os dias?
OS PARABÉNS ATRASADOS para o excelente blog Almocreve das Petas, que comemorou recentemente um ano de vida. Tenho andado afastado da blogosfera (estamos a chegar ao fim do ano lectivo...), e esqueci-me de assinalar a efeméride. Parabéns!
VIVAM OS "PATRIOTAS"! Para quem ainda não compreendeu que não podemos abandonar o Iraque, aqui fica um pequeno excerto de uma notícia do "Público" de hoje:
"(...) Com os olhos vendados, as cabeças rapadas, os troncos nus, as costas marcadas pelas chicotadas, quatro "vendedores de álcool" foram exibidos ontem em duas carrinhas de caixa aberta na cidade sunita de Falluja, no Iraque, rodeados por combatentes de rostos tapados.
De cabeças baixas, as costas dobradas, gritavam "Allah Akbar" (Deus é grande) ao mesmo tempo que os seus guardas, mas estes acrescentavam que se tratava da "punição dos ímpios". Em cada viatura, ao lado dos mujahedin, estava um polícia.
Apenas três semanas depois do fim dos combates e a retirada dos "marines", esta foi a primeira lição dada pelos islamistas, os novos senhores da situação, aos habitantes para que estes percebam que a partir de agora é impossível ignorar a "sharia" (lei islâmica)."
TERRA DA ALEGRIA O meu amigo José honrou-me com um convite para colaborar na edição desta semana da excelente revista-blog Terra da Alegria, com um artigo sobre a conversão ao cristianismo do imperador romano Constantino, e das consequências de tal facto, consequências essas que ainda hoje se fazem sentir. Recomendo a leitura do artigo, intitulado "O Constantinismo", assim como uma visita atenta a esta belíssima Terra.
segunda-feira, maio 17, 2004
DESCOBERTA A BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA Uma boa notícia para todos os estudiosos e amantes da Antiguidade: a célebre Biblioteca de Alexandria, o maior templo do saber dos tempos clássicos, foi finalmente redescoberta. Os arqueólogos descobriram uma estrutura com treze salas, com espaço para 5.000 estudantes.
Incendiada por duas vezes, em 48 a.C. e 390 d.C., pela turba alexandrina que cercava César e por grupos de fanáticos cristãos, respectivamente, a Biblioteca de Alexandria sobreviveu ainda mais alguns séculos. Até que, aquando da conquista árabe de Alexandria (641 d.C.), foi totalmente destruída.
A este respeito existe uma pequena lenda, que exemplifica na perfeição a forma como o fanatismo e a intolerância podem cegar as pessoas: na sequência da retirada bizantina e da conquista árabe de Alexandria, foi perguntado ao comandante da força invasora o que fazer à biblioteca e às centenas de milhar de pergaminhos que constituiam o seu recheio. Este respondeu: "Se os livros contêm ensinamentos contrários ao sagrado Corão, não fazem falta e devem ser destruídos; se, por outro lado, contêm ensinamentos que o Corão já contém, não fazem falta e devem igualmente ser destruídos". E assim foi: durante vários meses, os banhos públicos de Alexandria foram aquecidos com a combustão de centenas de milhar de pergaminhos, muitos deles únicos e insubstituíveis. Foi um fim trágico e lamentável para documentos até então cuidadosamente preservados ao longo de séculos ou mesmo milénios, por governantes egípcios, babilónios, assírios, macedónios e romanos.
quinta-feira, maio 13, 2004
DUPLICIDADE DE CRITÉRIOS (IV) Assusta-me este ódio primário aos EUA, tão em voga em certos círculos, como se os americanos fossem os culpados por todos os males do mundo. Preocupa-me imenso essa cegueira ideológica que leva os mais insuspeitos cidadãos a defender - ou a branquear - regimes brutais como o de Saddam.
O Iraque de Saddam era uma nação oprimida por um regime brutal. Os opositores eram cruelmente perseguidos - assim como todos aqueles que, por qualquer motivo, não estavam nas boas graças do ditador. Eram habituais os julgamentos fictícios (quando existiam!), as torturas e as execuções sumárias. Centenas de milhar de pessoas foram executadas durante o governo de Saddam. E quem o afirma são insuspeitas ONG's internacionais.
Quando um homem era preso ou morto pelo regime, toda a sua família era castigada; até os primos em segundo grau sofriam. Era um método de controlo extremamente eficaz, numa sociedade clânica como a iraquiana, claro está; e mais uma prova da brutalidade daquele regime.
Para gáudio do ditador, chegavam a lançar pessoas aos cães que ele mantinha nos seus palácios presidenciais; e enquanto os desgraçados eram devorados pelos cães, Saddam sorria, deliciado com o espectáculo. E isto não se trata de propaganda anti-Saddam, mas sim de factos relatados por agências noticiosas internacionais com base nos relatos de várias organizações humanitárias internacionais.
Parece-me, por isso, extremamente disparatado dizer que antes da invasão aliada se vivia melhor no Iraque, por muito confusa que a actual situação seja.
Em resposta ao meu post anterior sobre este mesmo tema, o Alex escreveu o seguinte:
"1º O problema humanitário foi criado pelos Estados Unidos com o embargo pós-Guerra do Kuwait. Até agora, só resolveram o problema humanitário dos milhares que mataram. Os mortos não têm fome."
Lembra-te dos números Alex; 300 mil mortos causados pela repressão interna, e vários milhões devido à invasão do Irão (a mais longa guerra convencional do século passado) e do Koweit.
"Pobreza? Ignorância? Num país rico de petróleo e com um razoável sistema de ensino? E Portugal, como está nesses aspectos?"
Sim, pobreza e ignorância. Basta consultar os relatórios da ONU e organizações afiliadas.
"Fundamentalismo? Saddam tinha o país bem controlado, os fundamentalistas da Al-Qaeda entraram com os americanos. Quanto aos que vão pegar em armas para expulsar as americanos do Iraque, que começaram por pilhar as riquezas arqueológicas do Iraque e agora se dedicam a matar e maltratar iraquianos inocentes, não lhes chamo fundamentalistas, mas sim patriotas."
Sim, claro, Alex... são patriotas que se fazem explodir junto de cidadãos inocentes. São patriotas que se instalam em bairros civis, de maneira a terem escudos humanos que os protejam a si e aos seus arsenais.
E Saddam tinha o país bem controlado? Pois tinha! Mas a que custo, Alex? À custa de quantas vidas inocentes? À custa de quanta opressão, quanta miséria, quanto obscurantismo? E para proveito de quem? Do Iraque? Dos povos do Iraque? Ou dele e respectiva camarilha? Era o Iraque um país soberano? Não.
quinta-feira, maio 06, 2004
DUPLICIDADE DE CRITÉRIOS (III) O Alex respondeu ao meu post:
"1º O Iraque invadiu o Kuwait há 10 anos, se o queriam invadir era nessa altura. Convém deixar o passado no passado."
E acreditas mesmo que se Saddam não se encontrasse manietado pela ONU e pelos anglo-americanos, não teria voltado a invadir o Koweit, o Irão ou mesmo a Arábia Saudita? E se vamos "deixar o passado no passado" - com o que concordo - deixemos também o habitual argumento dos anti-americanos, que consiste em dizer que Saddam e Bin Laden foram em tempos apoiados pelos EUA. Não o fazer será mais um prova da tal duplicidade de critérios... não é verdade?
"2º Saddam era completamente inofensivo e estava completamente neutralizado. As armas só existiam na imaginação de quem as usou como pretexto."
Saddam não era inofensivo; era sim como um vulcão adormecido, que assim que pudesse voltaria a constituir uma ameaça.
"3º Fez-me rir esta parte: "O governo de Saddam foi o primeiro e único a usar armas químicas, desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1918)". Porquê? Assim de repente lembro-me dos EUA no Vietname, e quem sabe noutros países, e de um país bem mais próximo de nós... Portugal! É sabido que usámos armas químicas em África. Aliás, pelo menos uma vez por ano falam disso nos jornais."
Não, não é sabido que usamos armas químicas (de destruição maciça), embora haja quem o afirme. Usamos napalm e produtos do género, mas não há provas de tenhamos usado VX, Sarin ou gas mostarda (armas com efeitos muito mais devastadores). Até prova em contrário, claro.
"4º Qualquer pessoa? Só quem repete o que diz Bush. Qualquer comparação com os Talibã, que mesmo assim são melhores que a Al-Qaeda, é mera coincidência."
Então responde-me: gostavas de viver no Iraque de Saddam ou no Afeganistão Talibã?
"5º Sobre a opinião pública árabe e revolta basta ver na TV e nos jornais"
E já pensaste que a maioria dos nossos jornalistas são profundamente anti-americanos? Acontecimentos isolados são apresentados como factos generalizados; meras interrogações são apresentadas como verdades infalíveis, e a História é analisada apenas de um ponto de vista, ideologicamente motivado, claro está. Acredita que assim é; conheço muitos, como deves calcular. E vejo também que, entre os meus colegas estudantes de comunicação social, o anti-americanismo e o anti-semitismo estão em franca expansão, o que não deixa de ser preocupante.
"1º O Iraque invadiu o Kuwait há 10 anos, se o queriam invadir era nessa altura. Convém deixar o passado no passado."
E acreditas mesmo que se Saddam não se encontrasse manietado pela ONU e pelos anglo-americanos, não teria voltado a invadir o Koweit, o Irão ou mesmo a Arábia Saudita? E se vamos "deixar o passado no passado" - com o que concordo - deixemos também o habitual argumento dos anti-americanos, que consiste em dizer que Saddam e Bin Laden foram em tempos apoiados pelos EUA. Não o fazer será mais um prova da tal duplicidade de critérios... não é verdade?
"2º Saddam era completamente inofensivo e estava completamente neutralizado. As armas só existiam na imaginação de quem as usou como pretexto."
Saddam não era inofensivo; era sim como um vulcão adormecido, que assim que pudesse voltaria a constituir uma ameaça.
"3º Fez-me rir esta parte: "O governo de Saddam foi o primeiro e único a usar armas químicas, desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1918)". Porquê? Assim de repente lembro-me dos EUA no Vietname, e quem sabe noutros países, e de um país bem mais próximo de nós... Portugal! É sabido que usámos armas químicas em África. Aliás, pelo menos uma vez por ano falam disso nos jornais."
Não, não é sabido que usamos armas químicas (de destruição maciça), embora haja quem o afirme. Usamos napalm e produtos do género, mas não há provas de tenhamos usado VX, Sarin ou gas mostarda (armas com efeitos muito mais devastadores). Até prova em contrário, claro.
"4º Qualquer pessoa? Só quem repete o que diz Bush. Qualquer comparação com os Talibã, que mesmo assim são melhores que a Al-Qaeda, é mera coincidência."
Então responde-me: gostavas de viver no Iraque de Saddam ou no Afeganistão Talibã?
"5º Sobre a opinião pública árabe e revolta basta ver na TV e nos jornais"
E já pensaste que a maioria dos nossos jornalistas são profundamente anti-americanos? Acontecimentos isolados são apresentados como factos generalizados; meras interrogações são apresentadas como verdades infalíveis, e a História é analisada apenas de um ponto de vista, ideologicamente motivado, claro está. Acredita que assim é; conheço muitos, como deves calcular. E vejo também que, entre os meus colegas estudantes de comunicação social, o anti-americanismo e o anti-semitismo estão em franca expansão, o que não deixa de ser preocupante.
UM ANO DE ABRUPTO O Abrupto, um dos mais emblemáticos espaços da blogosfera portuguesa, completa agora um ano de existência. Além das claras afinidades políticas e ideológicas que me levam a visitar (com agrado) o blog de José Pacheco Pereira (JPP), aprecio ainda o grafismo, a escolha dos temas abordados e a clareza do raciocínio do autor. Tendo nascido e alcançado a fama muito antes do boom dos blogs de jornalistas, o Abrupto soube sempre evitar cair na tentação de se deixar levar pelos assuntos que abrem os telejornais ou fazem as manchetes dos jornais. Com efeito, com o nascimento de tantos blogs de profissionais da comunicação social - que assim podem dizer livremente o que pensam - criou-se uma espécie de obrigação de escrever sobre os temas que marcam a actualidade. Acontecimentos como a trágica morte de Miklós Fehér ou os recentes atentados de Madrid, foram disso exemplo; e evocando a minha experiência pessoal, recordo a censura que me foi em tempos feita por um blogger anónimo, aparentemente surpreendido por eu não postar mais um elogio fúnebre do futebolista húngaro, entre os muitos ecos de dor que então ressoavam na blogosfera lusa. Esta quase obrigação de escrever sobre os temas ditos "actuais" acaba por, perversamente, limitar a liberdade na blogosfera.
Além de escapar a esta tendência crescente, o Abrupto distingue-se dos demais blogs portugueses - de desconhecidos ou de celebridades - por uma outra razão: é talvez o único que desde o início se excluíu dos círculos de amigos e afilhados da blogosfera portuguesa e, ao mesmo tempo, das lutas e querelas virtuais entre bloggers, não obstante tenha sido, por várias vezes, alvo de provocações. Ao visitar o Abrupto, fico com a impressão que JPP escreve para fora e não para dentro, ou seja, escreve para o mundo real. O que, na verdade - e embora nada tenha contra a interacção entre bloggers - acaba por ser uma agradável lufada de ar fresco.
Além de escapar a esta tendência crescente, o Abrupto distingue-se dos demais blogs portugueses - de desconhecidos ou de celebridades - por uma outra razão: é talvez o único que desde o início se excluíu dos círculos de amigos e afilhados da blogosfera portuguesa e, ao mesmo tempo, das lutas e querelas virtuais entre bloggers, não obstante tenha sido, por várias vezes, alvo de provocações. Ao visitar o Abrupto, fico com a impressão que JPP escreve para fora e não para dentro, ou seja, escreve para o mundo real. O que, na verdade - e embora nada tenha contra a interacção entre bloggers - acaba por ser uma agradável lufada de ar fresco.
DUPLICIDADE DE CRITÉRIOS (II) O Alex escreveu o seguinte, a respeito do meu post "Duplicidade de Critérios": "(...) O regime era mau, mas era dos mais "democráticos" dos Países Árabes, então se compararmos com a Arábia Saudita. Acima de tudo, era um problema deles a ser resolvido por eles. Assim como nós tivémos um 25 de Abril eles podiam ter um!"
Primeiro, gostava de comentar a comparação com as restantes ditaduras da região. Países como a Síria, a Arábia Saudita, o Egipto e a Líbia são, como todos sabemos, ditaduras ferozes. Mas nenhum destes regimes fez o que Saddam fez: invadir países vizinhos, usar armas químicas sobre o seu próprio povo, e executar sumariamente mais de 300 mil concidadãos. Além de ser uma ameaça para os seus vizinhos, o Iraque de Saddam era um perigo para o seu próprio povo. Era um regime muito mais brutal que o da Arábia Saudita.
Em segundo lugar, a expressão o "problema deles a ser resolvido por eles", tão do gosto dos anti-americanos, também poderia ser aplicada na presente situação. Pela tua lógica, a ocupação e os distúrbios no Iraque seriam também um problema deles a ser resolvido por eles. Certo, Alex? Assim sendo, nem tu, nem eu nem nenhum português tem alguma coisa a ver com o que lá se passa!
E agora dir-me-ás tu, Alex, que isto passou a ter que ver connosco, porque a situação no Iraque deu mais força aos terroristas (o que é discutível...) e tornou o mundo mais perigoso. Mas não acontecia precisamente o mesmo com Saddam no poder? De facto, ele podia não ter armas de destruição maciça na altura da invasão (ou passou-as para a Síria), mas já as teve no passado, e chegou a usá-las! O governo de Saddam foi o primeiro e único a usar armas químicas, desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1918). Por muito que se discorde da invasão, penso que qualquer pessoa lúcida reconhece que um regime daqueles era um perigo para todos nós, tal como o era o dos talibans do Afeganistão.
O Alex escreveu ainda o seguinte, a respeito de um recente texto de José Pacheco Pereira:
"Haverá algo mais anedótico do que tentar defender George W. Bush? Pacheco Pereira tentou: «Outro caso dessa manipulação é a notícia de que a "opinião pública árabe", que não se sabe muito bem o que é, tinha ficado "revoltada" com a divulgação destes abusos de soldados americanos. Se tal aconteceu, é muito positivo porque talvez os leve a serem mais exigentes com a sistemática prática de torturas que ocorrem na maioria dos seus próprios países» (Público, 6/5/04: 5)
1º Não sabe o que é a opinião pública árabe que coloca entre aspas! 2º Coloca dúvidas a que tenha ficado revoltada! 3º Positivo? 4º Próprios países, bem dito, deviam ter pensado nisso antes de começarem a invadir países só para roubar petróleo e relíquias arqueológicas!"
Ao que eu comento: 1º - De facto, não se sabe se existe uma verdadeira opinião pública árabe, pelo menos uma que seja livre de manipulação por parte da censura e de outros métodos de controlo aplicados por aquelas velhas ditaduras. 2º - Terá ficado revoltada? Saberemos nós isso? Ou será mera especulação dos nossos media, com o tipo de declarações tendenciosas que todos os dias se ouvem nas nossas televisões generalistas? Podemos, com certeza, supôr que a revelação de tais factos tenha contribuído para um recrudescer dos sentimentos anti-americanos. Mas, em boa verdade, ninguém pode afirmar tal coisa com absoluta certeza. E de facto, será positivo se tal servir para que essa tal "opinião pública árabe" (que é mais heterogénea do que se possa pensar, tal como as próprias sociedades muçulmanas) se comece a interrogar sobre a situação - mil vezes pior - dos seus próprios países.
quarta-feira, maio 05, 2004
A DÚVIDA E A FÉ O José reflecte sobre a dúvida e a fé: "(...) Tomé não tem medo das dúvidas, não tem medo de levantar interrogações. E teve a graça de ter tido resposta às suas perguntas, subindo assim para um novo patamar da Fé. Tomé mostra-nos que, tal como na Razão, também na Fé a dúvida tem um papel determinante no caminho da Verdade e da Luz. Por muito que nos doa termos dúvidas devemos dar graças por tê-las. Pois é de dúvida em dúvida que chegaremos a Deus."
Concordo plenamente, caro amigo. Embora a Fé e a Razão se coloquem em planos diferentes, e não se deva misturar ciência com religião e vice-versa, creio que, embora à primeira vista possa não parecer, a dúvida pode ajudar-nos a crescer na fé. Uma coisa não impede a outra: eu creio em Deus, mas tal não significa que não me interrogue sobre os Seus caminhos e desígnios. Deus criou-nos com uma cabeça pensante, para que fôssemos livres de escolher o nosso próprio caminho. Se assim não fosse, que mérito teríamos? Se fôssemos apenas bonecos nas mãos de Deus, se todos os nossos actos se devessem à vontade divina, não seríamos homens. Muita gente aponta como prova da inexistência de Deus o facto de o mundo ser um local intrinsecamente mau. Se Deus existisse - dizem essas pessoas - não existiria fome, doenças e guerra. A esses pergunto eu: se fosse Deus a dirigir todos os nossos passos, que mérito teríamos? Caminharíamos nós no sentido da perfeição, ou seríamos apenas crianças obrigadas a aprender a lição?
Todavia, e embora acredite no livre-arbítrio do Homem - o qual não seria possível se não existissem dúvidas - creio também que, em determinadas alturas, Deus intervém na História da Humanidade. E como? Inquietando os espíritos, inspirando as almas e amparando as débeis obras humanas. "Ajuda-te, e o Céu ajudar-te-á!", diz o provérbio. Deus ajuda-nos, quando nos ajudamos a nós próprios. E ama-nos tanto que não procura impôr a sua vontade pela força, tirando-nos o nosso livre arbítrio.
Recorrendo a uma metáfora bíblica, não veste Ele os lírios do campo com uma magnifiência maior que a de Salomão em todo o seu esplendor? E se procede assim para com os lírios, não será um pai generoso para connosco, amparando-nos nos momentos de queda e respondendo às nossas dúvidas, sem nos tirar a nossa preciosa liberdade?
No entanto, e por outro lado, será também verdade que a dúvida nos pode afastar de Deus. Obviamente, e é o que sucede em muitos casos. Mas não acredito que Deus nos tenha criado para uma fé cega e obediente; pelo contrário, creio que Ele deseja que O venhamos a descobrir pouco a pouco, fazendo uso da nossa capacidade de pensar e de nos interrogarmos sobre os Seus desígnios. Claro que esta é uma opinião pessoal, da qual outros crentes certamente discordarão.
NOVOS LINKS Inseri ligações para os interessantes Timshell e O Acidental, que acaba de anunciar a contratação de Vasco Rato para o seu plantel.
O MAL MENOR A vida é feita de escolhas, e nem sempre fáceis. Por vezes, as circunstâncias obrigam-nos a optar entre dois males. "Venha o diabo e escolha!", diz o povo. Ou então, fazendo apurado uso da Razão, vemo-nos forçados a optar pelo mal menor, aquele que nos causa menor prejuízo.
Para mim, a política internacional é uma das áreas em que melhor se aplica esta teoria do mal menor. Porque nem tudo o que parece é, e porque, não raras vezes, Deus escreve certo por linhas tortas.
Fui contra a invasão do Iraque. Não porque entendesse que Saddam não deveria ser derrubado, mas porque discordava do método escolhido para atingir esse fim. E isto por quatro razões essenciais: primeiro, os elevados prejuízos humanos e materiais causados por qualquer conflito armado; segundo, porque existiam outras formas de lidar com o problema, ainda que demorasse mais tempo (um "putsh" apoiado pelo Ocidente, a eliminação física do próprio Saddam, etc); terceiro, porque as opiniões públicas ocidentais não estavam preparadas para os custos morais da intervenção; e, last but not the least, porque a guerra me causa profunda aversão. Ninguém no seu perfeito juízo defende de ânimo leve o despoletar de uma guerra, com todo o cortejo de horrores que a acompanha.
No entanto, creio que uma vez disparado o primeiro tiro, as consequências de uma retirada ocidental seriam mil vezes piores que os reveses da guerra. A América e a Europa não podem abandonar o Iraque, ainda que isso signifique manter uma guerra sangrenta durante longos anos. Fugir do Iraque seria, no mínimo, catastrófico para aquele país e para a própria estabilidade e segurança mundiais. Seria a vitória do terrorismo, dos falsos pacifistas - os mesmos que há alguns anos atrás, defendiam o desarmamento unilateral face ao colosso soviético - e das forças fundamentalistas e anti-democráticas que, cada vez mais, minam o desenvolvimento económico e social dos países muçulmanos.
Não acredito em mundos perfeitos ou sociedades ideais. Creio que a ocasião faz o ladrão, e nada corrompe mais que o poder. Não foi por mero acaso que as maiores atrocidades da História humana foram cometidas por regimes que pretendiam construir a sociedade perfeita, sacrificando os interesses (e as vidas) dos indíviduos no altar da ditadura do proletariado ou do Reich.
Com todos os seus defeitos, a democracia representativa continua a ser o mais perfeito sistema político alguma vez concebido pelo Homem. E porquê? Porque garante liberdade de pensamento e de expressão. Porque permite a todos os homens - pelo menos em teoria - alcançarem o poder político e trabalharem para o bem das respectivas sociedades. Porque retirou os espartilhos da mente e os véus obscurantistas que durante tanto tempo subjugaram a Humanidade. Porque consagra o estado de direito, com igualdade perante a lei e protecção contra os abusos de poder.
Não se trata de dizer que a nossa cultura é melhor que a dos outros; trata-se de dizer, e isto sem qualquer sombra de dúvida, que o nosso sistema político é mais avançado que o de países como o Iraque de Saddam, a Cuba de Fidel, a Líbia de Khadafi ou a Coreia de Kim Il Sung. E porquê? Porque é tão livre - e, logo, promovendo a realização do Homem enquanto pessoa humana - que até permite que os seus detractores falem livremente contra ela. "Não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito a dizê-lo!"
É óbvio que não foram considerações filantrópicas ou humanitárias que estiveram na origem da intervenção aliada. Só um ingénuo pensaria isso. Mas não tenho qualquer dúvida de que, por mais negros e imperialistas que sejam os desígnios dos estrategas do Pentágono, os iraquianos vivem agora melhor que no tempo de Saddam. Não acredito que, por ser árabe ou muçulmano, um homem deixe de aspirar à liberdade. Não acredito, ao contrário da nossa esquerda, que os iraquianos sejam todos uma cáfila de pobres de espírito, sem capacidade para disporem de si próprios e do seu futuro enquanto nação soberana. O que eu sei - e só não vê isso quem não quer- é que, pela primeira vez na sua história milenar, os iraquianos poderão finalmente eleger os seus governantes e viver num verdadeiro estado de direito. E isso só foi possível com a intervenção anglo-americana, digam o que disserem os críticos.
Nesta era de tristes políticos pepsodent, tornou-se muito frequente citar Sir Winston Churchill, um homem sólido, de convicções inabaláveis e astuto sentido político. E é isso mesmo que vou fazer, recorrendo a uma velha história que li algures. Não posso atestar a sua veracidade, é certo, mas aqui fica a parábola: aquando da intervenção franco-britânica no Suez (1956), e da humilhação que daí adveio para as duas potências europeias, perguntaram ao velho leão o que ele faria no lugar de Anthony Eden, então primeiro-ministro britânico e que lhe sucedera em Downing Street: "Em primeiro lugar, - respondeu Sir Winston - nunca nos meteria naquele sarilho. Mas se o fizesse, nunca saíria de lá daquela maneira".
terça-feira, maio 04, 2004
DUPLICIDADE DE CRITÉRIOS Os recentes acontecimentos nas prisões americanas no Iraque foram, sem qualquer dúvida, lamentáveis. Espero que se faça justiça, e o mais depressa possível. Mas custa-me ver tanta histeria por causa de acontecimentos isolados, passíveis de sucederem no sistema prisional de qualquer país do mundo, e ao mesmo tempo tanta indiferença e hipocrisia perante a opressão, a tortura e o genocídio generalizados, praticados pelo regime de Saddam...
segunda-feira, maio 03, 2004
NOVO BLOG Inaugurei hoje um novo blog, intitulado "Cadernos Minhotos", totalmente dedicado a questões ligadas ao Ensino Superior e à Universidade do Minho, da qual sou aluno há cerca de 4 anos, no curso de Comunicação Social. Tal como escrevi no primeiro post daquele novo espaço, "serão abordadas questões relativas ao Ensino Superior em geral, pelo que os Cadernos Minhotos estarão abertos à participação de todos aqueles que sonham com um ensino superior verdadeiramente de qualidade, sem políticas estatais demagógicas, corporativismos ultrapassados e irresponsabilidades legalmente consagradas."
Conto com a visita e o contributo dos bloggers que, como eu, são estudantes universitários, e de todos aqueles que, já licenciados, conhecem as dificuldades do mercado de trabalho e os problemas do Ensino Superior Português.
Conto com a visita e o contributo dos bloggers que, como eu, são estudantes universitários, e de todos aqueles que, já licenciados, conhecem as dificuldades do mercado de trabalho e os problemas do Ensino Superior Português.
MIÚDAS GIRAS (II)O João Ricardo concluiu com chave de ouro o seu "pensamento do dia": "(...) Uma miúda que ande sempre bem vestida e arranjada, com gosto, que saiba estar, que seja inteligente, dada e divertida, está sempre bem em todo o lado. Independentemente das suas características "genéticas". Independentemente de ter os olhos da cor "errada", de não ter a altura "certa", de já não ter "aquela" idade. Uma rapariga só é "vulgar" se quiser. As miúdas que se sabem arranjar sobrevivem ao tempo. Sobrevivem às modas. Têm classe. E a classe é profundamente humana. A genética é fascista. A classe é uma superação. É uma conquista diária. Uma miúda "sempre gira" é uma vitória do humano sobre a genética. Sobre a moda. Sobre o que não dura. Sobre a morte."
Estou completamente de acordo, meu caro!
Estou completamente de acordo, meu caro!