respublica

quinta-feira, maio 06, 2004

UM ANO DE ABRUPTO O Abrupto, um dos mais emblemáticos espaços da blogosfera portuguesa, completa agora um ano de existência. Além das claras afinidades políticas e ideológicas que me levam a visitar (com agrado) o blog de José Pacheco Pereira (JPP), aprecio ainda o grafismo, a escolha dos temas abordados e a clareza do raciocínio do autor. Tendo nascido e alcançado a fama muito antes do boom dos blogs de jornalistas, o Abrupto soube sempre evitar cair na tentação de se deixar levar pelos assuntos que abrem os telejornais ou fazem as manchetes dos jornais. Com efeito, com o nascimento de tantos blogs de profissionais da comunicação social - que assim podem dizer livremente o que pensam - criou-se uma espécie de obrigação de escrever sobre os temas que marcam a actualidade. Acontecimentos como a trágica morte de Miklós Fehér ou os recentes atentados de Madrid, foram disso exemplo; e evocando a minha experiência pessoal, recordo a censura que me foi em tempos feita por um blogger anónimo, aparentemente surpreendido por eu não postar mais um elogio fúnebre do futebolista húngaro, entre os muitos ecos de dor que então ressoavam na blogosfera lusa. Esta quase obrigação de escrever sobre os temas ditos "actuais" acaba por, perversamente, limitar a liberdade na blogosfera.

Além de escapar a esta tendência crescente, o Abrupto distingue-se dos demais blogs portugueses - de desconhecidos ou de celebridades - por uma outra razão: é talvez o único que desde o início se excluíu dos círculos de amigos e afilhados da blogosfera portuguesa e, ao mesmo tempo, das lutas e querelas virtuais entre bloggers, não obstante tenha sido, por várias vezes, alvo de provocações. Ao visitar o Abrupto, fico com a impressão que JPP escreve para fora e não para dentro, ou seja, escreve para o mundo real. O que, na verdade - e embora nada tenha contra a interacção entre bloggers - acaba por ser uma agradável lufada de ar fresco.