respublica

quarta-feira, maio 05, 2004




A DÚVIDA E A FÉ O José reflecte sobre a dúvida e a fé: "(...) Tomé não tem medo das dúvidas, não tem medo de levantar interrogações. E teve a graça de ter tido resposta às suas perguntas, subindo assim para um novo patamar da Fé. Tomé mostra-nos que, tal como na Razão, também na Fé a dúvida tem um papel determinante no caminho da Verdade e da Luz. Por muito que nos doa termos dúvidas devemos dar graças por tê-las. Pois é de dúvida em dúvida que chegaremos a Deus."

Concordo plenamente, caro amigo. Embora a Fé e a Razão se coloquem em planos diferentes, e não se deva misturar ciência com religião e vice-versa, creio que, embora à primeira vista possa não parecer, a dúvida pode ajudar-nos a crescer na fé. Uma coisa não impede a outra: eu creio em Deus, mas tal não significa que não me interrogue sobre os Seus caminhos e desígnios. Deus criou-nos com uma cabeça pensante, para que fôssemos livres de escolher o nosso próprio caminho. Se assim não fosse, que mérito teríamos? Se fôssemos apenas bonecos nas mãos de Deus, se todos os nossos actos se devessem à vontade divina, não seríamos homens. Muita gente aponta como prova da inexistência de Deus o facto de o mundo ser um local intrinsecamente mau. Se Deus existisse - dizem essas pessoas - não existiria fome, doenças e guerra. A esses pergunto eu: se fosse Deus a dirigir todos os nossos passos, que mérito teríamos? Caminharíamos nós no sentido da perfeição, ou seríamos apenas crianças obrigadas a aprender a lição?

Todavia, e embora acredite no livre-arbítrio do Homem - o qual não seria possível se não existissem dúvidas - creio também que, em determinadas alturas, Deus intervém na História da Humanidade. E como? Inquietando os espíritos, inspirando as almas e amparando as débeis obras humanas. "Ajuda-te, e o Céu ajudar-te-á!", diz o provérbio. Deus ajuda-nos, quando nos ajudamos a nós próprios. E ama-nos tanto que não procura impôr a sua vontade pela força, tirando-nos o nosso livre arbítrio.

Recorrendo a uma metáfora bíblica, não veste Ele os lírios do campo com uma magnifiência maior que a de Salomão em todo o seu esplendor? E se procede assim para com os lírios, não será um pai generoso para connosco, amparando-nos nos momentos de queda e respondendo às nossas dúvidas, sem nos tirar a nossa preciosa liberdade?

No entanto, e por outro lado, será também verdade que a dúvida nos pode afastar de Deus. Obviamente, e é o que sucede em muitos casos. Mas não acredito que Deus nos tenha criado para uma fé cega e obediente; pelo contrário, creio que Ele deseja que O venhamos a descobrir pouco a pouco, fazendo uso da nossa capacidade de pensar e de nos interrogarmos sobre os Seus desígnios. Claro que esta é uma opinião pessoal, da qual outros crentes certamente discordarão.