respublica

quinta-feira, maio 13, 2004




DUPLICIDADE DE CRITÉRIOS (IV) Assusta-me este ódio primário aos EUA, tão em voga em certos círculos, como se os americanos fossem os culpados por todos os males do mundo. Preocupa-me imenso essa cegueira ideológica que leva os mais insuspeitos cidadãos a defender - ou a branquear - regimes brutais como o de Saddam.

O Iraque de Saddam era uma nação oprimida por um regime brutal. Os opositores eram cruelmente perseguidos - assim como todos aqueles que, por qualquer motivo, não estavam nas boas graças do ditador. Eram habituais os julgamentos fictícios (quando existiam!), as torturas e as execuções sumárias. Centenas de milhar de pessoas foram executadas durante o governo de Saddam. E quem o afirma são insuspeitas ONG's internacionais.

Quando um homem era preso ou morto pelo regime, toda a sua família era castigada; até os primos em segundo grau sofriam. Era um método de controlo extremamente eficaz, numa sociedade clânica como a iraquiana, claro está; e mais uma prova da brutalidade daquele regime.

Para gáudio do ditador, chegavam a lançar pessoas aos cães que ele mantinha nos seus palácios presidenciais; e enquanto os desgraçados eram devorados pelos cães, Saddam sorria, deliciado com o espectáculo. E isto não se trata de propaganda anti-Saddam, mas sim de factos relatados por agências noticiosas internacionais com base nos relatos de várias organizações humanitárias internacionais.

Parece-me, por isso, extremamente disparatado dizer que antes da invasão aliada se vivia melhor no Iraque, por muito confusa que a actual situação seja.

Em resposta ao meu post anterior sobre este mesmo tema, o Alex escreveu o seguinte:

"1º O problema humanitário foi criado pelos Estados Unidos com o embargo pós-Guerra do Kuwait. Até agora, só resolveram o problema humanitário dos milhares que mataram. Os mortos não têm fome."

Lembra-te dos números Alex; 300 mil mortos causados pela repressão interna, e vários milhões devido à invasão do Irão (a mais longa guerra convencional do século passado) e do Koweit.

"Pobreza? Ignorância? Num país rico de petróleo e com um razoável sistema de ensino? E Portugal, como está nesses aspectos?"

Sim, pobreza e ignorância. Basta consultar os relatórios da ONU e organizações afiliadas.

"Fundamentalismo? Saddam tinha o país bem controlado, os fundamentalistas da Al-Qaeda entraram com os americanos. Quanto aos que vão pegar em armas para expulsar as americanos do Iraque, que começaram por pilhar as riquezas arqueológicas do Iraque e agora se dedicam a matar e maltratar iraquianos inocentes, não lhes chamo fundamentalistas, mas sim patriotas."

Sim, claro, Alex... são patriotas que se fazem explodir junto de cidadãos inocentes. São patriotas que se instalam em bairros civis, de maneira a terem escudos humanos que os protejam a si e aos seus arsenais.

E Saddam tinha o país bem controlado? Pois tinha! Mas a que custo, Alex? À custa de quantas vidas inocentes? À custa de quanta opressão, quanta miséria, quanto obscurantismo? E para proveito de quem? Do Iraque? Dos povos do Iraque? Ou dele e respectiva camarilha? Era o Iraque um país soberano? Não.