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sexta-feira, novembro 25, 2005

25 DE NOVEMBRO DE 1975: UM DIA FELIZ
Foi o dia em que a democracia venceu todas as utopias não-democráticas em Portugal.


General Ramalho Eanes
RM

quinta-feira, novembro 24, 2005

MEMÓRIAS DE ESTRASBURGO Fiz um estágio de dois meses em França, no âmbito de um programa Europeu, o Da Vinci II. Além de um curso de Francês, tive a possibilidade de estagiar por cinco semanas numa moderna clínica veterinária da cidade.
Foi uma excelente experiência, tanto a nível cultural quanto a nível técnico.
Deixo-vos para já esta bonita imagem da Petite France, uma zona típica com os seus edifícios de madeira e pedra bem conservados. A cidade é plana, o que me proporcionou passeios muito agradáveis através das ruas, praças e parques.



La Petite France, Strasbourg

RM

segunda-feira, novembro 21, 2005

SISTEMAS DE ENSINO Há alguns dias, uma espanhola estudante de Literatura Portuguesa quis convencer-me que Portugal fez parte de Espanha durante sessenta anos. Além disso, queria também convencer-me que durante esse período o português não era falado e que, do Minho ao Algarve, se hablaba español. Fazia-o num tom condescendente, como se estivesse a ensinar-me algo que até uma criança saberia.

Tentei explicar-lhe que Portugal nunca fez parte do reino de Espanha. Existia uma união pessoal das coroas ibéricas nas pessoas de Filipe II e seus sucessores, mas Portugal nunca foi uma província espanhola (apesar de algumas tentativas de centralismo castelhano que surgiram durante o reinado dos Filipe III e IV). Aliás, tal como os Países-Baixos, certas regiões da França ou o Reino de Nápoles, que embora sob domínio da corte de Madrid, nunca foram integradas no reino de Espanha.

As Cortes de Tomar, que proclamaram rei de Portugal a Filipe II, estipularam entre outras coisas que os cargos públicos em Portugal e nas Colónias seriam ocupados exclusivamente por portugueses. Em Macau, por exemplo, a bandeira dos Filipes nunca foi hasteada durante esses sessenta anos, apesar da proximidade da colónia espanhola das Filipinas.

Procurei também fazer-lhe ver que o português já existia como língua mais de duzentos anos antes da criação do Estado espanhol, mas em vão. A espanhola estudante de Literatura Portuguesa continua convencida que Portugal é uma província renegada de Espanha e que o Português só começou a ser falado no século XVII. Decididamente, o nosso sistema de ensino não é o único que padece de graves problemas...

sexta-feira, novembro 18, 2005

INJUSTIFICÁVEL Segundo o Público, Francisco Louçã considera injustificável a presença de forças portuguesas no Afeganistão:

"Registo que é uma situação trágica e quero manifestar o meu pesar em particular à família enlutada, mas também a todas as famílias dos militares no Afeganistão", afirmou Francisco Louçã, defendendo que a missão portuguesa naquele país é "injustificada e injustificável", "um erro”, e que “continuará a ser um erro enquanto se mantiver".

Como escreveu um leitor do Público no sistema de comentários da edição online, para Francisco Louçã justificava-se que os Talibans continuassem no poder. Talvez para que ele depois pudesse organizar marchas em defesa dos direitos negados às mulheres afegãs a exigir a intervenção do "império"...

SENTIDO DE HUMOR Quem disse que Cavaco não tem sentido de humor? A fazer fé nesta notícia, não só o tem como se afigura de uma fina ironia:

«Não me senti insultado. Há determinadas afirmações a que nós não devemos prestar muita atenção, principalmente quando são de uma pessoa como ele [Mário Soares], que faz política de uma forma séria, pouco retórica e não com palavras sem conteúdo»

quinta-feira, novembro 17, 2005

MÁRIOS Mário Soares parece-se cada vez mais com o outro Mário, aquele que na Roma Antiga foi cônsul seis vezes consecutivas e que, obcecado por sê-lo uma sétima vez, perdeu por completo a noção da realidade.

COMPARAÇÕES Segundo o "Público" de hoje, Mário Soares disse que Portugal não está assim tão mal, porque o défice público é igual ao da França e em muitos aspectos não ficamos atrás dos franceses. E diz isto como se a França fosse um exemplo de dinamismo, desenvolvimento, crescimento económico e finanças públicas saudáveis...

terça-feira, novembro 15, 2005

EQUIDADE DE JULGAMENTO Escreveu a Joana: "Nunca percebi como é que se pode apoiar um país com armas químicas que decide atacar outro porque este tem armas químicas."

A resposta é simples: é preferível que essas armas estejam na posse dos nossos aliados, com quem partilhamos afinidades civilizacionais e culturais, do que nas mãos de um ditador semi-louco que ameaça o resto do mundo. Além de que, como alguém disse em tempos, a política é a arte do possível.

GRAVES Vs. MASSIE Nas últimas semanas li dois romances históricos bastante conhecidos, ambos passados na Roma de antanho: "Eu, Cláudio", de Robert Graves, e "Augusto", de Allan Massie. As duas obras foram escritas na primeira pessoa, sendo que Graves e Massie tentaram "entrar na pele" dos imperadores Cláudio e Augusto, respectivamente.

Alguns críticos anglo-saxónicos consideram Massie "o" herdeiro de Graves. No site da Amazon, por exemplo, lê-se a seguinte recensão:

"There is no doubt that Allan Massie has incontrovertibly established himself as the master of Roman historical fiction and the heir apparent to Robert Graves. His narratives of intrigue in the Roman Empire are always totally compelling and the large readership they have acquired is no surprise whatsoever."

Não concordo com os que colocam Massie ao nível de Graves. Em primeiro lugar, este último utilizava uma linguagem muito mais elegante que a de Massie. Em segundo lugar, Graves tinha um maior conhecimento da história e cultura das civilizações do Mundo Antigo, o que lhe permitia enriquecer as suas obras de forma significativa.

Assim se explica que obras como "Eu, Claúdio", "Cláudio, o Deus" ou mesmo "Conde Belisário" sejam muito superiores, em meu entender, a "Augusto", "Tibério" ou "César".

E na minha opinião, a haver de facto um herdeiro de Graves, esse alguém será Steven Saylor.

RUBAIYAT

"É inútil a tua aflição;
nada podes sobre o teu destino.
Se és prudente, toma o que tens à mão.
Amanhã... que sabes do amanhã?

Além da Terra, pelo Infinito,
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.

Não vamos falar agora, dá-me vinho. Nesta noite
a tua boca é a mais linda rosa, e me basta.
Dá-me vinho, e que seja vermelho como os teus lábios;
o meu remorso será leve como os teus cabelos."*


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(*) - Dos "Rubaiyat" de Omar Khayyam (tradução de Alfredo Braga)

quinta-feira, novembro 10, 2005

MANIFESTAÇÕES (post publicado, primeiramente, no Tela Abstracta)


Foto retirada de urbi et orbi - jornal online da UBI

Desde há vários anos que me bato, mesmo enquanto dirigente associativo, por uma racionalização das manifestações estudantis. Ainda assisti, como estudante do secundário, às quedas de um ou outro ministro da educação, de certa forma provocadas pela revolta estudantil.
Mas sempre achei que o exagero de manifestações, com ou sem razão, iria levar a um descrédito generalizado (como já aconteceu com alguns dos sindicatos). Mais ainda, sempre achei que a opção correcta passava, primeiramente, pela via negocial, antes de se tentar partir para a mobilização de massas (em boa verdade, sempre prontas a umas passeatas a Lisboa, com uns berros pelo meio, quando não uns rabos ao léu, a troco de sandes, sumos e águas).
Mas veio mesmo o exagero, o tal referido exagero, e, várias vezes por ano, em diversos anos consecutivos, por qualquer motivo, as faculdades foram fechadas a cadeado, tivemos manifestações em todas as cidades com universidades do país que antecediam, inevitavelmente, uma geral, em Lisboa.
Agora, que a luta me volta a parecer justa, acontece o que se viu na manifestação de ontem. Algumas Associações Académicas não se aliaram aos sempiternos revoltosos de Coimbra. Em Lisboa, a confusão absoluta, com uma péssima capacidade de mobilização e organização, ao ponto de ninguém saber quem é que se ia manifestar, onde, contra o quê. A população, habituada a estas andanças estudantis, não lhes ligou nenhuma e alguns mostraram-se, inclusive, irritados por isto se ter tornado uma constante.
É o descrédito absoluto, adquirido por anos e anos de sucessivas asneiras, o tal referido exagero. É o descrédito absoluto dos futuros quadros deste país. Passaremos, agora, quando urgiam as tais medidas mais reaccionárias, à via negocial?

terça-feira, novembro 08, 2005

DESAFIO No que à imigração diz respeito, o grande desafio que se coloca à Europa é a integração plena de massas desenraízadas, excluídas e desiludidas. Trata-se de uma geração inteira de pessoas que não se sentem franceses, britânicos, alemães ou portugueses... mas que ao mesmo tempo também não se identificam com os países de origem dos seus pais e avós. O que é mais uma razão para rever o modelo social europeu, um sistema que dá garantias mínimas de sobrevivência a quase todos os cidadãos, mas que não permite pleno emprego e ascensão social.

segunda-feira, novembro 07, 2005

KATRINA Onde estão agora os que ainda há poucas semanas diziam que na Europa não era possível um cenário semelhante ao de Nova Orleães? Lá diz o ditado: "nunca digas que desta água não beberás".

Agora imaginem como seria se passasse um "Katrina" pela região de Paris...

NEO-LIBERALISMO? Acho curiosa a forma como alguns comentadores encontram explicação para os motins nos subúrbios parisienses, atribuindo as culpas ao "neo-liberalismo". Mas... trata-se da França, o país mais anti-liberal da Europa! Um país em que até os governos de Direita, embora acusados de liberalismo (esse nefando pecado mor, pelos Bovés e quejandos), são proteccionistas ao máximo e permanecem agarrados às supostas virtudes do apregoado "modelo social". Os subúrbios franceses, onde vivem milhares de pessoas à custa de subsídios, em grande parte devido à dificuldade em encontrar trabalho derivada da rigidez do mercado laboral francês, são fruto desse mesmo sistema social que muitos consideram superior.

Os jovens que incenceiam carros em França são uns eternos "coitadinhos", vivendo à custa de subsídios e de pequenos crimes, atribuindo as culpas para a sociedade "racista" que não os "integra" e que, pasme-se, ficam ofendidos quando lhes chamam "escumalha". Afinal, um indíviduo que incendeia carros e espanca indiscriminadamente cidadãos inocentes é apenas uma vítima do sistema, e não um canalha.

Já sabemos as receitas da esquerda: há que lhes dar mais subsídios, para os acalmar. É preciso "dialogar" e continuar a tratá-los como crianças, com esse paternalismo "social" do costume. O resultado está à vista.

A solução passa por devolver aos cidadãos a responsabilidade pelo seu próprio destino (não deixando de existir, evidentemente, algum grau de protecção social para os que realmente necessitem), ao mesmo que se lhes exige um determinado grau de compromisso social. Se os portugueses, os polacos, os italianos, os gregos, os russos, os turcos e outros estrangeiros se conseguiram integrar plenamente em França, foi talvez porque procuraram eles próprios integrar-se, não se limitando a ficar à espera que os integrassem.

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P.S.: Mário Soares já veio dizer que "não se pode combater a violência com a violência" e que é preciso "compreender" os vadios que matam, roubam e destroem. Mais uma razão para não votar nele.

quinta-feira, novembro 03, 2005

UM PAÍS DE MACGYVER'S O termo "saudade" não é a única palavra portuguesa a não ter tradução em outros idiomas. Reparem no que a Wikipedia diz da palavra "desenrascanço":

"«Desenrascanço» is a Portuguese word used in common language in Portugal, to express an ability to solve a problem without the adequate tools or proper technique to do so, and by use of sometimes imaginative resourcefulness when facing new situations. Achieved when resulting in a hypothetical good-enough solution. When that good solution escapes us we get a failure (enrascanço — entanglement). Most Portuguese people strongly believe it to be one of their most valued virtues and a living part of their culture. Obviously, they are aware that this subjective feature is not an exclusive of theirs.

However, some critics disagree with the association of desenrascanço to the Portuguese culture. They argue that this concept is related to the subjective evaluation of oneself, or of the Portuguese people, and that it belongs to the world of subjectivity and feeling. Some are of the opinion that the concept is related to the discoveries period and to student activities in the 15th century. But sceptics doubt there is any substantial proof of that relation.

Some say that in the 16th and 17th centuries it was very common for other exploring nations, such as the Dutch, to bring a Portuguese national along during the voyages, because the Portuguese were allegedly the most skilled and knowledgeable in the proper handling of the occasional emergency aboard the ship when the control of the vessel was given to them (what is known among the Portuguese as "desenrascanço"). Serious historians would disagree with the association between a 20th century idea and 17th century events. Apart from this myth, desenrascanço is in fact the opposite of planning: it's managing that any problem does not get completely out of hand and beyond solution."


E, mais adiante, a enciclopédia "livre" acrescenta:

"Although being a fictional American TV show character, MacGyver is a good example of 'Desenrascanço'. Whenever he finds himself in a jam (entanglement/'Enrascanço') he always manages to escape and to make the best of the situation using whatever items are at hand, e.g. using duct tape as a temporary solution to hold things together (things that usually would need welding or screwing) or using his pocket knife like a full toolset. Another fine example of "Desenrascanço" is the crude filtering apparatus the engineers come up with at NASA when Apollo 13 was faced with a dangerously high CO2 level due to a contingency where the lunar module was not designed to support three astronauts(instead of the usual two) for the extended period of time that it did (as depicted in the movie, "Apollo 13")..."

quarta-feira, novembro 02, 2005

CULPAS Muitas pessoas desejam a retirada do Iraque, porque no seu entender a guerra foi "imoral e ilegítima", esquecendo-se que seria muito pior a emenda que o soneto. Obcecados com as "culpas" e o passado - procurando "compreender as causas" -, acabam por esquecer-se de como é essencial lidar com presente e antecipar o futuro.

Sou cristão, mas reconheço que dois mil anos de mentalidade judaico-cristã impregnaram-nos (a nós, "ocidentais") de uma cultura de culpa permanente e de auto-flagelação nada sadias.