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segunda-feira, novembro 21, 2005

SISTEMAS DE ENSINO Há alguns dias, uma espanhola estudante de Literatura Portuguesa quis convencer-me que Portugal fez parte de Espanha durante sessenta anos. Além disso, queria também convencer-me que durante esse período o português não era falado e que, do Minho ao Algarve, se hablaba español. Fazia-o num tom condescendente, como se estivesse a ensinar-me algo que até uma criança saberia.

Tentei explicar-lhe que Portugal nunca fez parte do reino de Espanha. Existia uma união pessoal das coroas ibéricas nas pessoas de Filipe II e seus sucessores, mas Portugal nunca foi uma província espanhola (apesar de algumas tentativas de centralismo castelhano que surgiram durante o reinado dos Filipe III e IV). Aliás, tal como os Países-Baixos, certas regiões da França ou o Reino de Nápoles, que embora sob domínio da corte de Madrid, nunca foram integradas no reino de Espanha.

As Cortes de Tomar, que proclamaram rei de Portugal a Filipe II, estipularam entre outras coisas que os cargos públicos em Portugal e nas Colónias seriam ocupados exclusivamente por portugueses. Em Macau, por exemplo, a bandeira dos Filipes nunca foi hasteada durante esses sessenta anos, apesar da proximidade da colónia espanhola das Filipinas.

Procurei também fazer-lhe ver que o português já existia como língua mais de duzentos anos antes da criação do Estado espanhol, mas em vão. A espanhola estudante de Literatura Portuguesa continua convencida que Portugal é uma província renegada de Espanha e que o Português só começou a ser falado no século XVII. Decididamente, o nosso sistema de ensino não é o único que padece de graves problemas...