respublica

sábado, fevereiro 17, 2007

Bem vindos ao século XXI, com ideias do século XIX

O ridículo cartaz que o Bloco de Esquerda fez questão de apresentar na noite do referendo diz muito sobre a natureza mais profunda do movimento. A extrema Esquerda sempre acreditou, de forma quase messiânica, que a História caminha obrigatoriamente num determinado sentido... o dela, evidentemente. Veja-se o caso de Álvaro Cunhal, que tendo vivido décadas nos países do 'socialismo real' e conhecido os horrores do Estalinismo, nunca deixou de acreditar na vitória final.

Antigamente, a Esquerda acreditava que o culminar da História seria a sociedade sem classes e a ditadura do proletariado. Com a queda do Muro, e à falta de melhor, agarrou-se às 'causas fracturantes' e ditas progressistas, como o aborto livre, as uniões de facto, o casamento e a adopção gay, o eco-fundamentalismo, os direitos das 'trabalhadoras do sexo', os sinais de trânsito com figuras de ambos os sexos, etc, etc. A lista é quase infindável, mas ainda assim revela uma enorme falta de imaginação dos partidos e grupos de jotas que têm nestas causas as suas principais bandeiras. E revela, ainda, uma enorme sede religiosa. Sem fé num Deus pessoal, muita gente precisa desesperadamente de algo a que se agarrar. Por exemplo, a luta contra o aquecimento global é hoje, para muitos, uma forma de jihad*.

Concluindo, e voltando ao início, não creio que a Esquerda Libertária represente o futuro. Pelo contrário. O futuro - e a demografia vai tratar disso -, vai certamente pertencer a outros.


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(*) - no sentido que o Islão 'moderado' dá ao termo.

E eis que a máscara caíu

«Não faz sentido que reivindique a criação de um sistema de aconselhamento para que eventuais estruturas criadas pelo ‘não’ manobrem para impedir a liberdade de decisão das mulheres» (Odete Santos, deputada do PCP)

«[O aconselhamento] Não passa de uma manobra para impor, mais uma vez, a moral particular de alguns ao universo do direito dos cidadãos» (Francisco Louçã, o Savonarola da extrema-esquerda indígena)


É curioso que estas declarações apenas surjam já depois do referendo que deu a vitória ao Sim. Antes do plebescito, estes senhores fartavam-se de dizer que todos somos contra o aborto e que o objectivo do Sim não era facilitar a prática do dito. Diziam que o aborto é um mal, uma tragédia, um suplício para as mulheres, e que o que estava em causa no referendo era apenas o fim do aborto clandestino. Bull shit. Vieram com estas falinhas mansas porque sabiam que a maioria dos portugueses é contra o aborto livre. Era necessário conquistar os moderados, e daí o discurso soft.

Mas eis que agora, que a vitória foi alcançada e que «entramos no século XXI», estes senhores mostram a verdadeira face. Descobrimos agora que o que está realmente em causa não é o drama das mulheres forçadas a recorrer a parteiras de vão de escada. O objectivo desta gente sempre foi, pura e simplesmente, a conquista do direito ao aborto livre.

Eles não querem saber de aconselhamento nem tão pouco ouvir falar de apoio às mulheres grávidas, que as possa dissuadir de praticar o aborto. Para esta gente, instituições como a Ajuda de Berço (que ajudaram milhares de mulheres a criarem condições para terem os seus filhos, desde 1998), são instrumentos perversos que «menorizam as mulheres».

Uma mulher está indecisa quanto a fazer um aborto. Tem medo que o namorado a deixe, que a família não aprove a gravidez ou que o patrão a despeça. E qual é única solução defendida por estes paladinos do progressismo? O aborto. A morte da criança que traz no ventre. Nem uma só palavra de conselho ou de encorajamento no sentido de levar a gravidez por diante. A morte é a única solução.

E depois ainda têm a lata de chamar hipócritas aos 40% de eleitores que votaram Não…