O ridículo cartaz que o Bloco de Esquerda fez questão de apresentar na noite do referendo diz muito sobre a natureza mais profunda do movimento. A extrema Esquerda sempre acreditou, de forma quase messiânica, que a História caminha obrigatoriamente num determinado sentido... o dela, evidentemente. Veja-se o caso de Álvaro Cunhal, que tendo vivido décadas nos países do 'socialismo real' e conhecido os horrores do Estalinismo, nunca deixou de acreditar na vitória final.
Antigamente, a Esquerda acreditava que o culminar da História seria a sociedade sem classes e a ditadura do proletariado. Com a queda do Muro, e à falta de melhor, agarrou-se às 'causas fracturantes' e ditas progressistas, como o aborto livre, as uniões de facto, o casamento e a adopção gay, o eco-fundamentalismo, os direitos das 'trabalhadoras do sexo', os sinais de trânsito com figuras de ambos os sexos, etc, etc. A lista é quase infindável, mas ainda assim revela uma enorme falta de imaginação dos partidos e grupos de jotas que têm nestas causas as suas principais bandeiras. E revela, ainda, uma enorme sede religiosa. Sem fé num Deus pessoal, muita gente precisa desesperadamente de algo a que se agarrar. Por exemplo, a luta contra o aquecimento global é hoje, para muitos, uma forma de jihad*.
Concluindo, e voltando ao início, não creio que a Esquerda Libertária represente o futuro. Pelo contrário. O futuro - e a demografia vai tratar disso -, vai certamente pertencer a outros.
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(*) - no sentido que o Islão 'moderado' dá ao termo.