Volto a repetir: creio que o que está verdadeiramente em causa neste referendo é responder ao terrível dilema a que aludi no meu post anterior. O que é mais importante? A vida intra-uterina ou o bem estar físico e psicológico da mulher grávida?
Ora um dilema é um problema com duas soluções, sendo que nenhuma delas é 100% aceitável. Compreendo, no entanto, que muita gente que está consciente deste dilema vote 'Sim'. Eu voto 'Não'. O que não compreendo é que o «debate» seja dominado por questões laterais, algumas das quais bastante duvidosas do ponto de vista intelectual.
Os apoiantes do 'Sim' servem-se destes «argumentos» para conquistar o eleitorado 'moderado'. É o caso de frases como os estafados «estamos todos contra o aborto» e «ninguém é a favor do aborto», que de quando em quando são interrompidos por slogans do género «na minha barriga mando eu!».
Se os apoiantes do 'Sim' querem que a mulher seja livre de abortar simplesmente porque 'sim', assumam-no. Mas não venham com argumentos desonestos, que servem apenas para confundir e iludir as pessoas.
Importa, por isso, desmitificar as coisas:
1. O aborto clandestino não vai acabar ou tornar-se residual, caso o 'Sim' vença. Vão continuar a realizar-se aos milhares, por esse país fora, após as dez semanas.
2. O número de abortos vai provavelmente aumentar, à semelhança do que aconteceu no resto da Europa, porque se vai tornar uma coisa fácil e, quiçá, banal.
3. É possível despenalizar sem liberalizar (da mesma forma que o consumo de droga está despenalizado, mas não liberalizado). O que o Sim quer, na verdade, é que o aborto não só seja despenalizado, como passe a ser um direito e, ainda para mais, pago pelo Estado.