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quinta-feira, fevereiro 05, 2004

OS SAMARITANOS o termo "samaritano" tem sido utilizado nos mais diversos contextos. Por exemplo, generalizou-se a expressão "bom samaritano" para designar uma alma caridosa. Mas quem eram os samaritanos?

Quando o Reino da Samaria (também chamado de Israel, ou do Norte) foi conquistado pelos Assírios no ano 721 a.C., a maioria da população hebraica foi deportada para outras regiões do vasto império assírio. Quanto ao reino do Sul, composto pelas tribos de Judá e Benjamin, permaneceu independente até 586 a.C., quando o rei caldeu Nabucodonosor II conquistou Jerusálem e levou Judá para o exílio na Babilónia.

Com a queda da Samaria, nasceu o mito das dez tribos perdidas de Israel. Ainda hoje muitos se interrogam sobre o destino dessas dez tribos. Teriam conservado a sua identidade cultural e religiosa dentro do império assírio? Teriam regressado à Palestina aquando do édito de Ciro, que autorizou os judeus exilados a voltarem à pátria?

No entanto, nem toda a população foi deportada, e os que ficaram não tardaram em misturar-se com os povos que o rei da Assíria entretanto deportou para o antigo território do reino de Israel. E foi dessa mescla entre israelitas e outros povos pagãos que surgiram os Samaritanos, que os Judeus odiavam e desprezavam.

A rivalidade entre Judeus e Samaritanos não se devia apenas às diferenças políticas, culturais ou raciais. A religião era o que mais os dividia, pois os Samaritanos não prestavam culto em Jerusálem. Aliás, construíram mesmo um templo rival ao de Salomão, no Monte Garizim, local onde acreditam que teria ocorrido o sacrifício (que não chegou a consumar-se) de Isaac. A sua religião é um misto de judaísmo com crenças pagãs da Mesopotâmia. Apenas reconhecem como sagrados os livros do Pentateuco (Génesis, Êxodo, Números, Deuteronómio e Levítico), ou seja, a história dos Patriarcas e os livros da Lei de Moisés. Observam o sábado e praticam sacrifícios rituais.

Um viajante do século IV, conhecido como o "peregrino anónimo de Bordéus", visitou o monte Garizim por volta do ano 336. O peregrino escreveu o seguinte nos seus diários:

"Here is the Mount Gerizim. Here the Samaritans say that Abraham offered sacrifice (Mount Moriah) [ftn.3], and one reaches the top of the mountain by steps, three hundred in number. Beyond this, at the foot of the mountain itself, is a place called Sichem. Here is a tomb in which Joseph is laid, in the 'parcel of ground' (villa) which Jacob his father gave to him ( Jos 24:32). From thence Dinah, the daughter of Jacob, was carried off by the children of the Amorites (Gen 34:1-31). A mile from thence is a place named Sichar, from which the woman of Samaria came down to the same place in which Jacob dug the well, to draw water from it, and our Lord Jesus Christ talked with her ( John 4:1-42); in which place are plane-trees, which Jacob planted, and a bath (balneus - baptistry) which is supplied with water from the well." [versão inglesa]

Quase dois mil anos depois, existe ainda uma pequena comunidade samaritana, composta por algumas centenas de crentes. Na sua maioria, estes samaritanos modernos vivem na cidade palestiniana de Nablus, junto do Monte Garizim. Encontrei um site que fala desta comunidade perdida no tempo, e do seu antiquíssimo santuário:

"Sur le haut lieu où affleure la roche qu’elle vénère, la petite communauté samaritaine de Naplouse se réunit encore à l’occasion des fêtes. La pâque y est fêtée chaque année par les Samaritains, qui suivent mot à mot les prescriptions de l’Exode et adoptent un rituel sanglant.

Les Samaritains sont les adeptes d’une hétérodoxie juive née d’un syncrétisme entre la religion d’Israël et les cultes mésopotamiens, adoptée par les immigrants assyriens après la chute de Sichem, en 724 avant J.-C. La religion samaritaine fut rejetée par les juifs orthodoxes à leur retour d’exil. Les Samaritains ne reconnaissent que le Pentateuque comme texte sacré. Ces sectateurs ne seraient plus que quelques centaines en terre sainte, principalement concentrés à Naplouse.

Les Samaritains, écartés des chantiers du Temple de Jérusalem par les chefs de la communauté du Retour et rejoints par les rebelles à la législation sur le mariage avec les étrangères, ont décidé d’édifier sur le mont Garizim un temple rival de celui de Jérusalem."