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quarta-feira, fevereiro 04, 2004




O ÚLTIMO DOS "ULTRAS" o general Kaúlza de Arriaga, falecido ontem, juntou-se à longa lista de personagens históricas que a classe política e a opinião pública dominante votaram à "damnatio memoriae".

Kaúlza de Arriaga junta-se assim a Oliveira Salazar, Américo Tomás, Marcelo Caetano, Óscar Carmona, Gomes da Costa, D. Carlos I, D. Miguel I, Afonso VI, D. Miguel de Vasconcelos, os três Filipes, D. Cristóvão de Moura, Vasco Porcalho, o Conde Andeiro, D. Leonor Teles e D. Teresa de Borgonha. Ou seja, juntou-se ao clube de personagens cujo retrato histórico dificilmente poderá ser elaborado de forma objectiva e isenta, por serem mal vistos pela opinião dominante.

Outros, como Pombal, foram odiados pelos respectivos coetâneos, mas apreciados postumamente por aqueles que lhes foram beber inspiração.

Penso que Kaúlza era um homem obstinado, autocrático e profundamente anti-democrata. Ou seja, tinha tudo aquilo que detesto num líder. Para mim, Kaúlza representa tudo aquilo que o Estado Novo tinha de abjecto.

Todavia, vejo que outros igualmente obstinados, autocratas e anti-democratas continuam a ser tratados de forma reverente por parte dos media e da classe política. A esses é-lhes elogiada a coerência e a determinação. A esses é-lhes louvada a resistência ao fascismo, quando sabemos que lutaram pela ditadura do proletariado e não pela democracia. E vejo outros que em tempos foram tão salazaristas como Kaúlza, mas que mudaram de casaca na altura certa, serem hoje recordados como heróis da revolução. É o politicamente correcto que impera...

O que faz falta em Portugal, e aqui faço minhas as palavras dos Meninos de Ouro, é que "(...) acontecimentos recentes da nossa história sejam analisados com serenidade, sem a lente desfocada das ideologias a toldar-nos a visão".