respublica

segunda-feira, setembro 13, 2004



O DIREITO À INDIVIDUALIDADE Com a sensatez a que já nos habituou, Mário Pinto escreveu o seguinte, num artigo publicado na na edição de hoje do "Público": (...) Num livro escrito pelo bispo Paul Cordes, presidente do instituto Cor Unum, conhecida instituição da Santa Sé, que reli neste Verão, recorda-se a posição de Kierkegaard, um prestigiado filósofo moderno: "O homem tem de aprender a tornar-se outra vez indivíduo", em ordem a defender-se da "supradeterminação social" (expressão de Philip Lersh). Quer dizer: a pessoa tem de libertar-se da pressão da moda, da pressão da televisão e mediática, da pressão do pensamento politicamente correcto, para poder ser pessoa autónoma. Kirkegaard defendia a necessidade de um esforço de autonomização pessoal perante a pressão colectiva até para ter "acesso ao cristianismo", até para ser verdadeiramente cristão.

Com efeito, o que são as massas, o que é uma multidão? É um grande número de indivíduos. E o que é a opinião de uma multidão? É apenas uma multiplicidade de opiniões individuais. Mas se a opinião de uma multidão, ou a opinião mediatizada, tiver maior importância do que a opinião do conjunto dos indivíduos, então de que origem procede esse acréscimo de força de opinião? A quem deve atribuir-se? A verdade é que esse acréscimo não pertence a nenhuma pessoa, não tem origem em nenhuma vontade nem em nenhuma liberdade pessoal. Portanto, não tem legitimidade democrática. Nas eleições, só conta a soma dos votos individuais.

É esta, contudo, a força da inorgânica opinião pública, ou de massas, ou mediática, com que alguns procuram jogar, na vida política e na defesa das ideologias. (...)

Em qualquer caso, essa tal força colectiva de opinião, que pressiona a opinião de cada um, não é uma entidade inequívoca. Poderá ser tudo o que se quiser, mas, em minha opinião, não tem legitimação verdadeiramente democrática porque não procede de um jogo comunicacional verdadeiramente personalista, e de facto pressiona as pessoas. Creio, por isso, que é um perigo para a democracia personalista e humanista. Os "media" deviam ter isto em atenção. Já que se consideram guardiões das liberdades individuais. A democracia que perde de vista este princípio torna-se na demagogia. Já o diziam os filósofos gregos há 25 séculos."


Mário Pinto tem toda a razão. Até que ponto conseguimos ser nós mesmos, perante a ditadura do "politicamente correcto" e das modas impostas pelos media? Até que ponto é possível sermos livres, sem chocarmos com a visão do mundo que nos é imposta pelos media e pela chamada "opinião pública"?