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quarta-feira, setembro 08, 2004



ESQUERDA Vs. DIREITA Há dias, um colega perguntou-me qual a minha área política. Franzindo as sobrancelhas, tentava encostar-me à parede: “Esquerda ou Direita”?

Há alguns atrás, ainda adolescente, considerava-me abertamente de esquerda. Para mim, era esta a trincheira dos defensores da liberdade e da democracia. Além disso, a compaixão pelos mais fracos parecia um privilégio exclusivo dos partidos de esquerda. Aliás, ainda hoje me identifico com o “socialismo católico” de Guterres, com excepção da sua exagerada vocação para o “diálogo”e da obsessiva tendência a querer agradar a gregos e a troianos…

Mais tarde, contudo, fui-me apercebendo da face menos agradável da nossa esquerda. Irrita-me a falta de respeito pelos outros, pelas instituições democráticas e pela vontade popular (basta ver o pouco respeito que a nossa esquerda tem pelo referendo sobre o aborto). Causa-me aversão aquela postura sempre militante e aguerrida, escudada numa arrogante pretensão de superioridade moral - eles têm razão, eles “sabem”, eles são altruístas, eles têm o direito de recorrer a todos os meios de luta para levar por diante os seus objectivos. Não compreendo aquela mania de protestar histericamente por tudo e por nada, como se fosse esse o verdadeiro espírito da democracia, e não a reflexão ponderada, a participação cívica bem-educada e o respeito pelos adversários e pela vontade expressa da maioria. Claro que existem causas porque vale a pena lutar – como sejam as melhores condições de trabalho, o respeito pelas leis laborais, etc -, mas há formas e formas de o fazer. E as melhores são aquelas que dignificam as causas que dizem defender. O que não é o caso das marchas “Gay Pride” e da traineira do aborto, por exemplo.

Além disso, a nossa esquerda ainda não digeriu o passado soviético. É corrente ouvir ainda insuspeitos “democratas” lamentar a derrocada do regime soviético e do Pacto de Varsóvia. Falam com saudade da “igualdade” que existia nos países do bloco de Leste, e desfazem-se em elogios ao sinistro Fidel Castro. Erguem o dedo acusador contra o “imperialismo americano”, mas passam uma esponja sobre a História de uma das nações mais imperialistas e agressivas de sempre, a União Soviética (URSS). Para estes senhores, a URSS (coitadinha…) era agressiva apenas porque precisava de se defender do Ocidente. Tal como, de igual modo, o terrorismo fundamentalista dos nossos dias é apenas uma consequência do imperialismo americano. Ver o mundo por essa óptica distorcida é, no mínimo, sofrer de miopia.

O que a extrema-esquerda não entende é que não existe nada que justifique a restrição das liberdades individuais e a instauração de um regime totalitário. Por mais nobres que sejam as causas, nada justifica a tirania, a opressão, o terrorismo e as violações dos direitos humanos.

Serei então uma pessoa de Direita? (continua)