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terça-feira, janeiro 27, 2004

OUTDOORS VANDALIZADOS o Barnabé referiu o facto de terem sido arrancados ou vandalizados muitos cartazes e outdoors a favor do referendo sobre o aborto.

Diz ele que "(...) A jornada de destruição massiva aconteceu ontem à noite e era já visível por toda a cidade. As letras que apelam à petição tapadas com tinta branca, a côr da pureza e da castidade. Já há dois anos acontecera o mesmo. A destruição de outdoors relacionados com a despenalização do aborto é já uma tradição e o crime segue sempre a mesma metodologia: na mesma noite, em quase toda a cidade, quase todos os cartazes são destruídos. É organizado e metódico, não é coisa de fedelhos inconscientes". E o Barnabé tem, em meu entender, toda a razão. Trata-se uma acção organizada e não de simples gandulagem. Tudo indica que se trate de um grupo organizado, constituído por pessoas que desonram a causa que dizem defender.

Mas a seguir diz ainda: "Que este bando de fanáticos viva mal com a liberdade de expressão e com a democracia, ora aí está uma coisa que não me espanta".

E é aqui me interrogo: quem é que "vive mal com a liberdade de expressão e com a democracia"? Os que arrancaram os cartazes, ou todos os adversários da liberalização? É que quando o Barnabé diz que isso é algo que "não o espanta", parece que acusa todos os "pró-vida" de serem anti-democratas organizados em milícias anti-propaganda abortista. Ao dizer que "não o espanta", quer dizer que já esperava que o tal "bando de fanáticos" vivesse mal com a democracia; e agora das duas uma, ou sabe quem são os elementos do referido bando, ou atribui as culpas a todos os opositores da liberalização que, forçosamente e em sua opinião, serão um "bando de fanáticos" que não sabe viver em democracia...

Ora esta atitude - insultar quem pensa de forma diferente - é tão anti-democrática como a dos indivíduos que andam a arrancar cartazes pela calada da noite.

Mesmo que fosse a favor da liberalização do aborto, seria contra este referendo. As consultas populares não podem ser utilizadas como arma política. Suponhamos que o referendo vai avante, e que desta vez vence o "sim". Que dirão os defensores do aborto quando os "pró-vida", por sua vez, recolherem as tais cem mil assinaturas e exigirem um novo referendo?