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sexta-feira, janeiro 23, 2004




O JUDEU NOS PAINÉIS DE S. VICENTE o Almocreve das Petas não concorda com a Rua da Judiaria, quando esta identifica a figura vestida com tons escuros, no canto direito, como Isaac Abramavel, ilustre judeu português do século XV. A imagem faz parte dos painéis de S. Vicente, e há mais de cem anos que intriga os investigadores. Ou melhor, admite que possa tratar-se de Abramavel (15º avô do conhecido apresentador de televisão brasileiro Sílvio Santos), mas levanta sérias dúvidas.

Diz o Almocreve das Petas que "(...) pode ser que sim, mas a longa controvérsia em torno dos "mistérios dos painéis" desde a publicação do ensaio inicial de Joaquim de Vasconcelos em 1895 não permite, com toda a segurança, afirmá-lo. Aliás tudo à volta do políptico de S. Vicente é absolutamente extraordinário. (...) De facto, a questão não é pacífica e requer um cabedal de conhecimentos, desde o domínio da cultura da época e a leituras e saberes iconográficos, mitológicos, cabalísticos mesmo, que não estão ao alcance de qualquer um. Como exemplo da dificuldade existente, refira-se a arrumação primitiva das tábuas, o patrocinador do trabalho, ao debate sobre o menino do gorro (Painel do Infante), à suposta confusão entre o Infante D. Henrique (que ainda hoje é representado nos livros de historia como aquele homem do chapéu grande, que se vê no Painel do Infante) pela figura de D. Duarte, etc.

Como exemplo da controvérsia, diga-se que ao suposto judeu que a tese oficializada defendia há ainda poucos anos, o Dr. Belard da Fonseca há muito a resolveu a partir da leitura do texto que o homem gordo mostra, e de pesquisas feitas, e que diz tratar-se do borgonhês Olivier de la Marche. O texto decifrado pode ser lido na obra Os Mistérios dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de Portugal, de Belard da Fonseca, que depois o traduziu. A cruz referida na Rua das Judiaria seria a Cruz de Santo André, e a cor da loba e do barrete usado, verde escura, era a libré dos "pannetiers" da casa de Bergonha. Inútil explicar quem era Olivier de La Marche. Apenas se pretende referir que não é fácil ter certezas nesta questão. Ficaria assim posta de parte tratar-se da figura de Abravanel, alquimista, sábio, bibliófilo e conselheiro de D. Afonso V (...)"


O Almocreve disponibiliza de seguida uma vasta bibliografia sobre o tema, pelo que vale a pena consultar o blog.

Pessoalmente, não disponho de muita informação sobre esta questão, mas estou mais inclinado para a hipótese de se tratar realmente de Abramavel, ou outro judeu influente na corte de Afonso V. O que me leva a pensar assim é o facto de o livro que ele segura ter caracteres indecifráveis (hebraico?) e, principalmente, o facto de o folhear da esquerda para a direita, como se pode ver aqui:




O Almocreve referiu, no entanto, que Belard da Fonseca terá traduzido os caracteres e que não seriam hebraicos. Vou investigar.

A propósito, acrescentei link para este interessante Almocreve das Petas.