respublica

quinta-feira, janeiro 22, 2004




INDIA SONG ao ler na Natureza do Mal um post a respeito deste filme de Marguerite Duras, veio-me à memória uma velha história que li algures num jornal universitário...

Há cerca de 20 anos, um cineclube bracarense passou este filme de Duras. A sala encheu com estudantes e professores universitários, para além dos habituais intelectuais que não perdem este tipo de eventos, ainda que seja apenas para ficarem bem vistos.

As luzes desligaram-se para dar início à sessão. As primeiras imagens suscitaram o espanto da assistência. Extasiada, a nata académica minhota delirava com India Song... que ousadia! Que audácia cinematográfica! Duras tinha montado o filme ao contrário, começando no que era suposto ser o meio da película. No intervalo - naquele tempo ainda havia disso - todos comentavam os métodos inovadores e pioneiros da realizadora. Não faltava quem dissesse que já sabia que o filme era assim, que já o tinha visto à Paris e que era grande admirador da escrita e do cinema de Duras. E todos, claro, estavam ansiosos por assistir ao início do filme... sim, porque se começou no que era suposto ser o meio, significa que foi para intervalo no final. E depois dos quinze minutos para café, o filme recomeçaria no que era suposto ser o início e aquela soirée terminaria precisamente no que era suposto ser o meio. Uma volta de 360 graus, all around the clock! Que genialidade... cinema francês é outra coisa!

No entanto, e já de regresso à sala, os ilustres académicos foram surpreendidos por um pedido de desculpas da direcção do cineclube, pelo lamentável erro do projeccionista que, trocando as bobinas do filme, começara a projecção a meio... devem imaginar a cara de certas pessoas...

Nunca vi "India Song", mas espero ainda ir a tempo de o fazer. Talvez experimente começar a meio... quem sabe?