CONTO: "O Capricho de César" (III)
Estoicamente, a caravana caminhava entre as dunas ardentes, da mesma forma destemida e ousada que uma nave avança entre as turbulentas ondas do oceano. E após tantas horas de viagem, Caius já se habituara ao dorso do animal que o transportava, embora permanecesse algo dorido.
Não obstante o facto de não compreender a sua língua, Caius notou que os seus companheiros de viagem contavam piadas entre si – ou pelo menos assim parecia, pela forma como riam. Ele, todavia, permanecia em silêncio, pensando no passado…
Cerca de um mês antes, Caius fora assistir a um espectáculo teatral em Roma, no chamado teatro de Marcelo. Em cena estava “O Soldado Fanfarrão”, de Plauto. A assistência delirava com a farsa; entre os espectadores encontrava-se Caius, que então comentava com um seu amigo, Quintus Nonius, que a plebe romana adorava o estilo sarcástico e contundentemente crítico de Titus Maccius (*). O amigo acenou com a cabeça em sinal de concordância, asseverando que Plauto e Terêncio estavam ao nível dos melhores dramaturgos gregos. E acrescentou, não sem orgulho, que se era verdade que Roma não tinha grandes filósofos, também o era que se podia orgulhar dos seus excelentes homens de letras!
Caius concordou, rematando a conversa com um gesto de aprovação. O espectáculo estava no auge. Sentado bem perto de Caius e Quintus encontrava-se um homem gordo, dos seus cinquenta anos, que se fazia notar pelas suas gargalhadas estridentes e algo despropositadas. Mas não era o único.
(Continua)
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(*) - Tito Mácio Plauto, Comediógrafo romano (259-184 aC).
Estoicamente, a caravana caminhava entre as dunas ardentes, da mesma forma destemida e ousada que uma nave avança entre as turbulentas ondas do oceano. E após tantas horas de viagem, Caius já se habituara ao dorso do animal que o transportava, embora permanecesse algo dorido.
Não obstante o facto de não compreender a sua língua, Caius notou que os seus companheiros de viagem contavam piadas entre si – ou pelo menos assim parecia, pela forma como riam. Ele, todavia, permanecia em silêncio, pensando no passado…
Cerca de um mês antes, Caius fora assistir a um espectáculo teatral em Roma, no chamado teatro de Marcelo. Em cena estava “O Soldado Fanfarrão”, de Plauto. A assistência delirava com a farsa; entre os espectadores encontrava-se Caius, que então comentava com um seu amigo, Quintus Nonius, que a plebe romana adorava o estilo sarcástico e contundentemente crítico de Titus Maccius (*). O amigo acenou com a cabeça em sinal de concordância, asseverando que Plauto e Terêncio estavam ao nível dos melhores dramaturgos gregos. E acrescentou, não sem orgulho, que se era verdade que Roma não tinha grandes filósofos, também o era que se podia orgulhar dos seus excelentes homens de letras!
Caius concordou, rematando a conversa com um gesto de aprovação. O espectáculo estava no auge. Sentado bem perto de Caius e Quintus encontrava-se um homem gordo, dos seus cinquenta anos, que se fazia notar pelas suas gargalhadas estridentes e algo despropositadas. Mas não era o único.
(Continua)
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(*) - Tito Mácio Plauto, Comediógrafo romano (259-184 aC).
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