respublica

quarta-feira, junho 08, 2005

CONTO: "O Capricho de César" (II)

Na manhã seguinte, bem cedo, Caius acordou com o chamamento do chefe dos caravaneiros. Ainda ensonado e entorpecido pela dureza do leito de rocha em que dormira, dirigiu-se até junto do riacho. Lavou a face e, por breves instantes, mirou o seu reflexo nas tépidas águas do ribeiro.

Viu dois meigos olhos castanhos, ainda semi-adormecidos. Viu também o seu despenteado cabelo negro, com os caracóis escorregando-lhe timidamente para a testa alta. “Ora aí estás tu, nem feio nem belo, nem vulgar nem excepcional”, pensou para consigo, admirando o seu próprio reflexo.

Duas levas de água para a face despertaram-no do seu torpor. De seguida, banhou-se calmamente nas mornas águas do riacho, não se deixando pressionar pela pressa dos caravaneiros em partir antes do sol se tornar demasiado quente. Finda a ablação, juntou-se aos caravaneiros que, ali perto, tomavam a refeição da manhã.

Enquanto mastigava um pedaço de pão seco, Caius atentou calmamente nos modos e nos jeitos dos seus companheiros de viagem. Eram todos númidas, habituados às agruras da vida no deserto, à secura e ao calor abrasador, bem como às frias noites que enregelavam os ossos e feriam de morte os mais incautos.

Contando com Caius, a caravana era composta por sete homens e dez dromedários. Do alto das suas bossas, as bestas carregavam os homens e os seus pertences. Não seria exagero dizer que os animais carregavam também a responsabilidade pelas vidas dos seus amos, ali perdidos naquele mar de areias escaldantes e rochas inóspitas.

Terminada a refeição da manhã, os homens desmontaram o acampamento e carregaram os animais. Um númida ajudou Caius a montar o seu dromedário, e a caravana pôs-se a caminho.

(Continua)