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sexta-feira, outubro 15, 2004

DOGMAS (II) Com o tom habitual, o Barnabé escreve sobre a nomeação do comissário italiano:

"(...) José Manuel Fernandes [no Público de hoje] tenta fazer passar a ideia de que Rocco Buttiglione tem "impecáveis credenciais liberais" e que as suas opiniões àcerca da homossexualidade ou do casamento são meras opiniões, sem influência na execução política do senhor. Em primeiro lugar, vai ser complicado como é que alguém tem "impecáveis credenciais liberais" se faz parte de um governo Berlusconi. JMF pode passar pela redacção da Economist, que foi processada por Berlusconi por ter afirmado que este era pouco menos do que um mafioso inaceitável para o governo de qualquer estado de direito, e aproveitar para esclarecer os camaradas da tresmalhada publicação britânica. Em segundo lugar, JMF acha que as opiniões de Buttiglione não interferirão no seu trabalho como comissário. É, uma vez mais, uma opinião; mas foi exactamente disso que Buttiglione não conseguiu convencer uma maioria de eurodeputados no seu exame, após horas de conversa."

Isto é pura demagogia. Primeiro, porque o facto de pertencer ao governo Berlusconi não significa que o dito senhor não tenha convicções liberais, nomeadamente a respeito dos direitos individuais e das minorias. Além disso, o autor do texto devia saber que Buttiglione pertence ao partido da Democracia Cristã, e não à polémica "Forza Italia", de Berlusconi. Em segundo lugar, Buttiglione não conseguiu convencer apenas os eurodeputados da esquerda (que não são a maioria), que como sabemos não tem grande respeito por opiniões divergentes em relação ao seu "politicamente correcto", especialmente se quem as emite estiver ligado à Igreja.

No site da BBC lê-se o seguinte:

"Mr Buttiglione told his parliamentary hearing that homosexuality was a "sin", claiming that this would have no effect on his political activities so long as he did not think homosexuality was a crime. He conceded, however, that he would oppose any Commission proposal which ran foul of his moral principles."

Houve quem visse na última frase ("He conceded, however, that he would oppose any Commission proposal which ran foul of his moral principles"), uma prova de que o italiano obstaria a quaisquer medidas da Comissão a favor das minorias sexuais, de modo a não "incentivar o pecado". Sinceramente, não vejo o que é que esta frase tem de especial. Qualquer um a poderia proferir... o problema para a esquerda fundamentalista é que Buttiglione é católico e, logo, deve forçosamente esquecer as suas próprias convicções pessoais.

Além disso, o que é "incentivar o pecado"? Legalizar as uniões gay? Permitir a adopção de crianças por homossexuais? Ora, para além de serem questões a decidir pelos próprios Estados (e não pela Comissão), são assuntos que vão para além da religião ou dos valores morais. A adopção de crianças por gays, por exemplo, é contestada publicamente por ateus e agnósticos.

Para terminar, e convém não esquecer, o Comissário afirmou que não interferiria nos direitos das minorias sexuais. Deixem o homem ter a sua fé e agir de acordo com a sua consciência! Ou será isso um privilégio de apenas alguns?