STEPHEN HAWKING E OS LIMITES DO RISÍVEL O Gato Fedorento recebeu emails de alguns leitores indignados com uma post humorístico sobre a vida sexual de Stephen Hawking. Defendendo-se dos críticos, o autor do dito post escreveu o seguinte:
“Sejamos francos: à partida, todos nós temos tendência para ficar chocados quando alguém faz humor sobre deficiências profundas. Mas o que está por detrás dessa atitude protectora? É simples: a ideia de que os deficientes são uns coitadinhos. Poupá-los à pilhéria, eis a expressão suprema da piedadezinha. Ora, apesar de não podermos negar que eles de facto carregam um fardo muito pesado, uma das maiores dificuldades que os deficientes enfrentam é precisamente conseguir libertar-se desse modo que a sociedade tem de olhar para eles. Essa protecção que lhes reservamos é, ao mesmo tempo, uma perversa forma de os inferiorizar.
Quem, como eu, cresceu a ver dramalhões televisivos dos anos 80, sabe que há duas coisas que os deficientes abominam: que alguém os tente ajudar, quando eles não precisam (atenção, isto não é uma indirecta para os autores dos mails indignados); e que se tenha pena deles. Ninguém consegue suportar uma existência baseada na comiseração alheia. A pena não edifica. Pelo contrário, abafa, estiola, gera acomodação e desistência.”
Concordo com o autor. De facto, a “piedadezinha” é também uma forma de discriminação. Deixar de fazer humor acerca de uma pessoa por ela ser deficiente, ou por ter uma raça ou orientação sexual diferente, é uma forma de a considerar “coitadinha”, coisa que ninguém gosta de ser. O próprio Stephen Hawking desmonstrou isso mesmo, ao participar num episódio da série animada “Os Simpsons”, em que se parodia a sua voz “informatizada”.
Creio que existem, contudo, limites para o humor, embora não os da “piedadezinha”; são eles os do bom gosto, da sensibilidade pelo sofrimento alheio e pelos sentimentos das pessoas. Uma coisa será fazer crítica social e política, ou brincar inocentemente com uma determinada situação – a voz de Stephen Hawking, por exemplo -, outra será fazer troça dos defeitos físicos ou do sofrimento alheio. Por exemplo, as piadas do “Gato Fedorento” sobre Stephen Hawking são humor de qualidade, ao contrário das piadas brejeiras do Herman Sic", ou das "bocas" de mau gosto que o júri do concurso “Um Sonho de Mulher” lançava a certas concorrentes. Creio que é necessário estabelecer essa clara distinção entre o humor de qualidade – que permite desdramatizar certas situações, de modo a que as possamos encarar de uma forma mais saudável -, e o humor trocista e brejeiro que fere os sentimentos das pessoas.
O mesmo se poderia dizer da forma como o cinema e a televisão encaram as minorias raciais ou sexuais. Reparem que em quase todos os filmes ou séries televisivas norte-americanas, cujos principais protagonistas sejam brancos, existe obrigatoriamente a figura do “negro de serviço”. Na maioria dos casos, este negro é um tipo “porreiro” e divertido, que auxilia o protagonista ou que lhe dá excelentes conselhos. Além disso, costuma possuir mais bondade e generosidade que o humanamente possível, o que é uma forma de nos dizerem: “Estão a ver, é negro mas é porreiro. Não faz mal a ninguém e podia perfeitamente ser branco, ser mesmo um de nós”. A imagem politicamente correcta que o cinema nos transmite a respeito das minorias raciais ou sexuais é, no fundo, racista e paternalista.
“Sejamos francos: à partida, todos nós temos tendência para ficar chocados quando alguém faz humor sobre deficiências profundas. Mas o que está por detrás dessa atitude protectora? É simples: a ideia de que os deficientes são uns coitadinhos. Poupá-los à pilhéria, eis a expressão suprema da piedadezinha. Ora, apesar de não podermos negar que eles de facto carregam um fardo muito pesado, uma das maiores dificuldades que os deficientes enfrentam é precisamente conseguir libertar-se desse modo que a sociedade tem de olhar para eles. Essa protecção que lhes reservamos é, ao mesmo tempo, uma perversa forma de os inferiorizar.
Quem, como eu, cresceu a ver dramalhões televisivos dos anos 80, sabe que há duas coisas que os deficientes abominam: que alguém os tente ajudar, quando eles não precisam (atenção, isto não é uma indirecta para os autores dos mails indignados); e que se tenha pena deles. Ninguém consegue suportar uma existência baseada na comiseração alheia. A pena não edifica. Pelo contrário, abafa, estiola, gera acomodação e desistência.”
Concordo com o autor. De facto, a “piedadezinha” é também uma forma de discriminação. Deixar de fazer humor acerca de uma pessoa por ela ser deficiente, ou por ter uma raça ou orientação sexual diferente, é uma forma de a considerar “coitadinha”, coisa que ninguém gosta de ser. O próprio Stephen Hawking desmonstrou isso mesmo, ao participar num episódio da série animada “Os Simpsons”, em que se parodia a sua voz “informatizada”.
Creio que existem, contudo, limites para o humor, embora não os da “piedadezinha”; são eles os do bom gosto, da sensibilidade pelo sofrimento alheio e pelos sentimentos das pessoas. Uma coisa será fazer crítica social e política, ou brincar inocentemente com uma determinada situação – a voz de Stephen Hawking, por exemplo -, outra será fazer troça dos defeitos físicos ou do sofrimento alheio. Por exemplo, as piadas do “Gato Fedorento” sobre Stephen Hawking são humor de qualidade, ao contrário das piadas brejeiras do Herman Sic", ou das "bocas" de mau gosto que o júri do concurso “Um Sonho de Mulher” lançava a certas concorrentes. Creio que é necessário estabelecer essa clara distinção entre o humor de qualidade – que permite desdramatizar certas situações, de modo a que as possamos encarar de uma forma mais saudável -, e o humor trocista e brejeiro que fere os sentimentos das pessoas.
O mesmo se poderia dizer da forma como o cinema e a televisão encaram as minorias raciais ou sexuais. Reparem que em quase todos os filmes ou séries televisivas norte-americanas, cujos principais protagonistas sejam brancos, existe obrigatoriamente a figura do “negro de serviço”. Na maioria dos casos, este negro é um tipo “porreiro” e divertido, que auxilia o protagonista ou que lhe dá excelentes conselhos. Além disso, costuma possuir mais bondade e generosidade que o humanamente possível, o que é uma forma de nos dizerem: “Estão a ver, é negro mas é porreiro. Não faz mal a ninguém e podia perfeitamente ser branco, ser mesmo um de nós”. A imagem politicamente correcta que o cinema nos transmite a respeito das minorias raciais ou sexuais é, no fundo, racista e paternalista.
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