respublica

quarta-feira, janeiro 21, 2004

SOFRIMENTO & ABORTO O Alex, estimado companheiro destas lides da blogosfera, citou e comentou dois posts meus, pelo que não posso deixar de responder às suas afirmações:

"Das duas uma: ou se é Cristão ou se é Papista, porque os papas anularam quase tudo o que de bom Cristo fez. A propósito do Sofrimento, desde quanto Cristo gostava dele? Cristo detestava o sofrimento. Quando via alguém doente, curava-o. Não fazia jejuns, comia e bebia bem, para grande escândalo dos fariseus. Gostava de se divertir e andava acompanhado de mulheres (incluindo Maria Madalena) para grande escândalo dos apóstolos, acostumados a que os homens não falassem com mulheres! Na cruz, é célebre a frase: - Pai, afasta de mim esse cálice. Quanto à igreja católica, mais afastada de Cristo não podia estar (pelo menos neste ponto)."

Claro que Cristo detestava o sofrimento, caro Alex. Tal como qualquer pessoa mentalmente sã. Mas quanto ao facto de Ele fazer ou não jejuns, deves com certeza lembrar-te dos quarenta dias de jejum no deserto, e de outras passagens bíblicas que referem os suas habituais jejuns e vigílias. Eram uma forma de estar mais próximo do Pai, desprendido de todas as questões terrenas.

Quanto à celebre frase "Pai, afasta de mim este cálice", não foi dita na cruz, mas sim na véspera da Sua morte, quando orava no jardim de Getsemani (salvo erro, é assim que se escreve...). O catolicismo não venera o sofrimento; simplesmente, aceita-o como algo inevitável e indissociável da condição humana. Se pudermos evitá-lo, tanto melhor, mas se tal não for possível, há que o aceitar e procurar aprender com ele. É a visão oposta ao hedonismo. Cristo pediu ao Pai para o livrar da morte; no entanto, submeteu-se-lhe, aceitando os tormentos que o esperavam. Mais uma vez se constata a vontade de querer escapar à dor, mas também a resignação perante um facto inevitável.

O Alex comentou ainda o meu post sobre o aborto, dizendo que "(...) ouvem-se pessoas ligadas à igreja a dizer que o "sim" significa a morte de todas as crianças e as pessoas, como na generalidade não usam o cérebro, acreditam piamente! Seria a matança dos inocentes!". Não sei quem ouviste dizer que seria a "morte de todas as crianças"; a mim não foi de certeza. Mas pela tua forma de dizer as coisas ("todas as crianças"), parece-me que admitiste inadvertidamente que um feto é uma criança, lendo-se nas tuas entrelinhas que com a liberalização do aborto morrem algumas crianças, mas não todas...

E já agora, porque não respondes às perguntas que coloquei aos defensores do aborto? Gostava de saber a tua opinião.