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quarta-feira, janeiro 21, 2004




GRANDES PATIFES DA HISTÓRIA (I): CRISTÓVÃO DE MOURA com esta nova rúbrica pretendo lembrar personagens históricas célebres pelas patifarias que empreenderam. Claro que corro o risco de chamar patife a alguém que outros consideram herói, mas considero isso inevitável, pois a História - que na maior parte das vezes é escrita pelos vencedores - tem inúmeros exemplos de personagens controversas, que ainda hoje dividem a opinião pública e os estudiosos.

Não pretendo fazer juízos moralistas sobre as personagens que retrato; quero apenas narrar as aventuras e desventuras destes fascinantes vilões (ou não...), de forma objectiva e isenta, de forma a que os estimados leitores formem a sua própria opinião.

A primeira figura desta nova rúbrica é Cristóvão de Moura (1538-1613), 1º conde de Lumiares e 1º marquês de Castelo Rodrigo, chamado o "demónio do meio dia". Pende sobre esta personagem a ignomínia de ter sido o principal agente de Filipe II de Espanha durante a crise dinástica de 1580, tendo tudo feito para que o seu amo castelhano subisse ao trono português.

Filho de D. Luís de Moura, Cristovão de Moura Corte Real foi para Espanha ainda muito jovem, no séquito da princesa D. Joana, mãe de D. Sebastião. O fidalgo viveu quase toda a sua vida de adulto na corte de Filipe II de Espanha, de quem era amigo e conselheiro pessoal. Aliás, só voltou a residir em Portugal em 1598, ano em que faleceu o monarca ibérico. Foi depois Vice-Rei de Portugal, residindo em Lisboa e em Queluz, entre 1600 e 1603 e entre 1608 e 1612, sendo-lhe reconhecida a extrema competência, habilidade e sagacidade.

Durante a crise de 1580, Cristóvão de Moura conseguiu que a alta nobreza aderisse à causa de Filipe II. Além disso, subornou alcaides e governadores de fortalezas com ouro espanhol. Os seus inimigos chamavam-lhe "o demónio do meio dia", sendo visto como um fidalgo renegado e traidor da pátria.

Com a Restauração, a populaça destruíu o seu palácio em Castelo Rodrigo, tal era o ódio que a sua figura ainda inspirava, não obstante ter falecido há quase trinta anos. Os bens da família foram confiscados e os seus descendentes fixaram-se para sempre em terras espanholas. Cristóvão de Moura era ainda recordado como um símbolo do domínio espanhol e da Casa de Áustria, a que, diga-se, era mais dedicado que a qualquer conceito de pátria. A sua fidelidade era para com os áustrias e não para com Portugal ou Espanha.

No século XIX, com o romantismo e a emergência do sentimento nacionalista, a memória de Cristóvão de Moura foi ainda mais estigmatizada, de modo que os poucos relatos que hoje existem lhe são extremamente adversos. Foi votado a um esquecimento completo, sendo mesmo difícil encontrar referências directas a esta personagem nos compêndios históricos. E por exemplo, não encontrei qualquer retrato seu na internet. A imagem acima é da sua residência em Queluz, que mais tarde se tornou Palácio Real.

Nota: já agora, recomendo uma visita ao Cristóvão de Moura, um excelente blog.